O Metro de Lisboa tem em curso um plano de investimentos de 1,4 mil milhões de euros, a executar entre 2023 e 2026, e espera receber um apoio do Estado de 449 milhões de euros no ano em curso. A informação consta do relatório da agência Standard & Poor’s que reviu em alta a nota da dívida da empresa de transportes — de BBB+ para A- — na sequência de revisão em alta feita também à nota da dívida pública.

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Num relatório sobre a situação financeira da empresa pública de transportes, divulgado esta quarta-feira, a S&P revela ainda que o Metro terá de pagar este ano em serviço da dívida cerca de 368 milhões de euros, dos quais a maior fatia, de 300 milhões de euros, é explicada pelo vencimento de um empréstimo feito ao abrigo de um produto de dívida alemão. No ano passado, os custos com o endividamento foram muito inferiores, de 68 milhões de euros. As necessidades financeiras da empresa para este ano estão quantificadas em 512 milhões de euros, mas há uma parte que será coberta pelo próprio Metro de Lisboa, cuja situação financeira melhorou no ano passado.

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Este volume de necessidades financeiras corresponde também a um período de elevado investimento do Metro de Lisboa, sobretudo na expansão da rede, mas também na sua modernização. Segundo a informação prestada pela empresa à S&P, o grosso dos investimentos na casa dos mil milhões de euros será para executar entre 2025 e 2026. Os números usados pela agência para o custo dos investimentos refletem já a revisão em alta dos preços justificada pela inflação. Entre os projetos destacam-se:

  1. A extensão entre São Sebastião e Alcântara (linha vermelha) que irá melhorar a ligação entre os passageiros da linha de Cascais e o centro da cidade e que tem um custo estimado de 400 milhões de euros.
  2. A construção de uma nova linha de metro ligeiro entre Odivelas e Loures, estimada em 388 milhões de euros.
  3. A compra de 24 novas carruagens por 112 milhões de euros. Este concurso já foi adjudicado, mas entretanto foi lançado um outro, para 24 unidades triplas, por um valor base de 138 milhões de euros.
  4. Modernização das linhas Amarela, Azul e Verde por 78 milhões de euros.
  5. A melhoria das acessibilidades às estações, como a requalificação/substituição das escadas rolantes tantas vezes inoperacionais num montante de 39 milhões de euros.

Em curso e com abertura prevista para 2025 está a execução do projeto da linha circular que ligará o Cais do Sodré ao Rato com duas novas estações — Santos e Estrela. Este projeto está orçado em mais de 300 milhões de euros.

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Para financiar estes projetos, a empresa espera receber fundos de 740 milhões de euros do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), tendo já tido uma dotação de 72 milhões deste pacote. Há também financiamento do Orçamento do Estado, via Fundo Ambiental, sobretudo para a compra de material circulante.

O Estado cobre as necessidades financeiras do Metro de Lisboa, tendo injetado no ano passado cerca de 67 milhões de euros entre aumentos de capital e empréstimos, valor que deverá disparar este ano para os tais 449 milhões de euros. O Estado, para além da acionista, é o principal credor com 2,1 mil milhões de euros, mas a empresa ainda tem mais de mil milhões de dívida em mãos privadas.

O Metro de Lisboa atingiu uma margem bruta (EBITDA) positiva de 0,4 milhões de euros que compara com 13,7 milhões de euros negativos de 2022. O volume de viagens e as receitas cresceram em 2023 para 151 milhões e 113 milhões de euros de euros, respetivamente, mas ainda estão abaixo dos valores registados no último ano antes da pandemia.

A S&P destaca a inflexibilidade dos custos sobretudo por causa dos gastos com pessoal, mas assinala um travão no aumento dos custos com eletricidade, que só subiram 6% em 2023 para 14 milhões de euros, aquém da estimativa feita pela empresa e muito baixo do disparo de 89% na fatura energética registado em 2022.