A pintura Descida da Cruz, de Domingos Sequeira (1768-1837), foi comprada por uma “entidade privada nacional” e vai ficar exposta num museu em Portugal. A informação é avançada pela Museus e Monumentos de Portugal (MMP), num comunicado enviado às redações na manhã desta terça-feira. Não se sabe, por enquanto, quem é o novo proprietário, por quanto adquiriu a pintura, nem em que museu ficará exposta ao público.

A compra aconteceu no dia 10 de março, em Maaastrich, nos Países Baixos, informa a empresa encarregada de negociar em nome do Estado, que falhou a aquisição desta pintura do século XIX. A empresa pública fez uma proposta de 850 mil euros à Galeria Colnaghi, que expôs Descida da Cruz na Feira de Arte e Antiguidades da European Fine Art Foundation (TEFAF), em Maastricht. A oferta foi rejeitada.

“A aquisição foi, em seguida, concretizada por uma entidade privada nacional, em concertação com a MMP e visando, desde a primeira hora, o regresso da obra ao país, correspondendo assim ao desejo enunciado pelos seus proprietários”, lê-se no comunicado, que remete para um “momento próximo” a revelação dos detalhes do acordo e a identidade do comprador.

A saída da obra de Portugal está envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-Geral do Património Cultural (entidade entretanto extinta) decidiu autorizar a saída do país, contrariando pareceres de especialistas. Os proprietários portugueses entregaram a pintura para venda no final do ano, depois recebida uma autorização de saída de Portugal, justificada pela “inexistência de qualquer ónus jurídico”. Especialistas da área do património escreveram uma carta aberta à tutela manifestando repúdio pela condução do processo.

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Descida da Cruz faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira, feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837. A saber: Ascensão, Juízo Final e Adoração dos Magos, esta última já na posse do Museu Nacional de Arte Antiga, aquisição através da campanha pública “Vamos por o Sequeira no lugar certo“. Contactado pelo Observador, Joaquim Oliveira Caetano, diretor do MNAA, diz não ter sido envolvido em negociações nem saber de quaisquer intenções de expôr a obra Descida da Cruz no museu que dirige, tendo tido conhecimento dos mais recentes desenvolvimentos na manhã desta terça-feira, através da comunicação social.

Também António Ponte, diretor do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, garante não ter conhecimento de qualquer negociação, adianta ao Observador o gabinete de comunicação daquele museu. Odete Paiva, diretora do Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, afirma desconhecer onde ficará a obra, sublinhando que haveria todo o interesse em tê-la no museu que dirige desde 2018 e que, de resto, tem dois estudos de Domingos Sequeira.

Notícia atualizada às 14h para incluir informações sobre o Museu Nacional Soares dos Reis e o Museu Nacional Grão Vasco.