Quatro anos após a entrada em Portugal, a Mercadona não perdeu dinheiro. Em 2024 já conta ter lucros. A garantia foi dada esta terça-feira pelo presidente da retalhista espanhola, Juan Roig, durante a apresentação dos resultados de 2023. No ano passado, as vendas da Mercadona em Portugal dispararam 90% para 1.403 milhões de euros, período em que abriram 10 lojas.

A primeira pergunta dirigida a Juan Roig na conferência de imprensa foi sobre a possibilidade de a retalhista rumar a um terceiro destino, depois de Portugal e Espanha. O líder da Mercadona sublinhou que a entrada em Portugal está a ter “êxito”, mas está a ser “difícil”. Formar diretores, por exemplo, “dá muito trabalho”, porque a empresa segue a prática da promoção interna. A empresa só entrará num terceiro mercado “quando dominarmos tão bem Portugal como Espanha”. “Estar em dois países é muito difícil”, admitiu.

A rede de supermercados fechou 2023 com 49 lojas em Portugal e prevê abrir mais 11 em 2024, duas delas em distritos novos: Évora e Guarda. Além das lojas está prevista para junho a inauguração do centro logístico de Santarém, o maior de toda a cadeia. “Queremos ser mais portugueses. Fomos bem recebidos mas ainda temos de ser ainda mais portugueses do que somos”. Segundo Roig, a Mercadona conta neste momento com uma quota de mercado em Portugal de 8% (em Espanha é de 27,6%). “Em 2024 estamos certos de que vamos ganhar dinheiro” em Portugal, avançou. As vendas, segundo as previsões, deverão chegar aos 1.900 milhões.

No seu conjunto, a Mercadona encerrou o último ano com vendas de 35,5 mil milhões de euros, mais 15% face ao ano anterior. A empresa teve lucros de mil milhões de euros. Deste valor, detalhou Roig, 800 milhões serão reinvestidos e 200 milhões serão distribuídos pelos acionistas.

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Para 2024 o grupo espera aumentar as vendas totais em 6% para 37,8 mil milhões de euros, contratar mais mil pessoas e alcançar um lucro líquido semelhante ao de 2023. O investimento será de 1,1 mil milhões de euros este ano e até 2028 deverá cifrar-se em cinco mil milhões. “Temos êxito porque temos um grande modelo. Temos um futuro espetacular”, afirmou Juan Roig.

O grupo faz 85% das suas compras em Espanha e Portugal. Por cá tem mais de mil fornecedores e conta aumentar esse número nos próximos anos. “Ainda nos falta conhecer melhor a rede de produtores em Portugal, compraremos mais produtos em Portugal no futuro”, afiançou. “Queremos comprar onde vendemos, é mais barato e socialmente responsável”. No entanto, “é preciso ter condições” para produzir, o que nem sempre tem acontecido. “As melhores laranjas são as portuguesas e espanholas”, exemplificou, mas se o produto não existe no mercado, no caso das laranjas em parte devido à falta de água, o grupo não se coíbe de ir comprar noutras latitudes.

Questionado sobre as perspetivas no que toca a preços, Roig adiantou que já é notória uma diminuição em algumas matérias-primas, mas junto dos produtores “custa sempre mais baixar preços do que subir”. No entanto, defende, “está a haver baixas nas matérias primas que cremos” vão ter efeito junto do consumidor.

Nos últimos oito anos a Mercadona investiu 10 mil milhões de euros, sobretudo na transformação e abertura de lojas e na digitalização. Quando arrancou com a plataforma online, perdia 15 euros por cada venda, hoje ganha cinco, garantiu Roig. O online representa 2% da faturação total da empresa. “Já ganhamos dinheiro com o online, estamos a fazê-lo bem. Estávamos muito mal digitalizados”, admitiu.

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A Mercadona distribuiu neste mês de março 600 milhões de euros pelos trabalhadores, mais 50% do que no ano anterior. Um prémio “pelos bons resultados”, explicou o presidente. O grupo tem como política subir salários em linha com a inflação de cada país. Em Portugal, os vencimentos subiram 2,7% em 2022, 9,6% em 2023 e 1,4% em 2024. Juan Roig deu o exemplo de um salário de gerente “A” em Espanha, que ganha 30 mil euros brutos anuais, o que se traduz em “dois mil euros limpos por mês. É um orgulho. Achamos que são bem pagos, e estamos a trabalhar para que sejam ainda melhor”.

O presidente da Mercadona foi ainda desafiado a comentar os resultados das eleições em Portugal. Considerando que “o melhor foi o aumento da participação de votantes”, Roig destacou apenas que o grupo não tem decisões de investimento pendentes que possam ser afetadas pelo desfecho das eleições. “Respeitamos a democracia e aceitamos os resultados, parece-nos bem qualquer resultado”.

Já sobre a situação em Espanha, o presidente da Mercadona também não se alongou. “Se apoiam mais as empresas estamos mais contentes, se apoiam menos estamos menos satisfeitos. A riqueza de um país depende do número de empresários honrados que há. É o que dizemos a todos”.

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