O antigo líder de guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Timosse Maquinze, exigiu esta segunda-feira, na Beira, a realização de um congresso e a saída do atual líder, Ossufo Momade, entre fortes críticas à sua liderança.

Em declarações à Lusa, Timosse Maquinze acusou Ossufo Momade de ter prometido “muita coisa” que não cumpriu. “Nós já não o queremos na liderança do partido, junto com a sua cúpula. Estão a evocar lei que não existe, eles estão errados e estão a estragar a democracia. O que eles temem nos outros manifestarem a sua candidatura? Isto é democracia”, disse o antigo líder de guerrilha no braço armado da Renamo, principal força de oposição.

A posição surge poucos dias depois de o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo ter dado provimento à providência cautelar do deputado Venâncio Mondlane, da Renamo — que anunciou a intenção de concorrer a presidente do partido —, e proibido o líder do maior partido da oposição moçambicana, Ossufo Momade, de praticar “atos estruturantes”, enquanto está a decidir sobre o processo. A Lusa tem tentado uma reação da direção da Renamo, sem sucesso até ao momento.

A decisão do tribunal surge numa altura de forte crispação interna na Renamo sobre o processo de escolha da nova direção, cujo mandato terminou em janeiro passado sem que tenha sido convocado um congresso eletivo até ao momento e quando os partidos já preparam as eleições gerais de outubro em Moçambique, incluindo presidenciais.

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“Ordena-se que seja o requerido intimado a suspender todos atos estruturantes por si praticados, por um lado e, abster-se de exonerar os delegados e outros membros em exercício de funções e de nomear substitutos dos exonerados, fora do período de vigência de mandato dos órgãos do partido”, lê-se na decisão sobre a providência cautelar, com data de 5 de março.

Timosse Maquinze, antigo Chefe do Estado-Maior General da Renamo e forte crítico da liderança de Ossufo Momade, insistiu que desde a entrada da atual liderança, após a morte do líder histórico Afonso Dlhakama (1953-2018), muitos dos seus guerrilheiros foram mortos, presos ou perseguidos. “Nós, os militares, já descartámos este homem da direção da Renamo, isto no dia 15 de abril do ano passado, já o tirámos e não precisamos dele para nada”, afirmou.

Segundo Timosse Maquinze, o presidente do maior partido da oposição moçambicana tem violado “sistematicamente” os estatutos da Renamo e, por isso, é necessário que se convoque um congresso para eleger um novo líder, de forma pacífica: “Eles sabem muito bem que se concorrerem com os outros vão perder, por isso é que estão com medo. Em democracia as pessoas não são proibidas de concorrer (…) Não é isso que eles estão a dizer e ele ser o único candidato. Quem é ele para concorrer sozinho? Com o Dhakama vivo e nas matas o congresso era sempre realizado e lá havia outros militares que manifestavam interesse ao cargo, mas não eram impedidos”.

Maquinze acusou ainda Ossufo Momade de criar um grupo para anunciar artigos e outros elementos dos estatutos do partido alegando que quer impedir que haja congresso na Renamo. “Dhlakama, é ele que teria o direito de negar o congresso porque ele era um dos fundadores deste movimento, e não o negava. Agora, Ossufo quer acabar com isso e matar a democracia? Aliás, até já matou a democracia porque não quer que os outros concorram ao seu lugar”, disse.

Ossufo Momade é a escolha da Renamo para as eleições presidenciais de 2024

Esta é a terceira vez que o influente membro do braço armado do maior partido de oposição no centro de Moçambique pede a saída de Ossufo Momade desde a sua eleição, em 2019, após a morte de Afonso Dhlakama.