Quando entrou pela primeira vez no relvado do Metropolitano com a camisola do Barcelona, ainda durante o período de aquecimento, João Félix teve um particular cuidado em não pisar o símbolo do Atl. Madrid que está desenhado junto à linha lateral. Apesar disso, foi alvo de um enorme coro de assobios, numa situação que se foi repetindo no anúncio das equipas nos altifalantes, sempre que tocava na bola, quando marcou o primeiro golo e na altura da substituição durante a segunda parte. Antes, aquele que há não muito tempo era visto como um símbolo, à luz do valor pago ao Benfica para ter um impacto como um dia conseguiu lograr Paulo Futre, tinha sido “pisado”. Na placa com o seu nome nos arredores do recinto, foi queimada uma camisola, várias pessoas deitaram lixo e muitos cuspiram. A “resposta” foi servida de forma fria.

Quanto mais lhe batem, mais têm de gostar dele: João Félix volta aos golos e inicia “passeio” do Barcelona em Madrid

Apesar do período mais irregular no Barcelona depois de uma lesão e na sequência de um grande arranque que fez com que muitos questionassem onde andava “este” João Félix, o português foi titular, voltou aos golos três semanas depois e voltou a ter interferência direta num resultado a favor dos catalães como tinha acontecido na primeira volta em Montjuïc. E se o facto de marcar quase sem festejar foi comparado ao que fazia Lionel Messi, os pontos de contacto com o argentino não ficaram por aí: desde 2019/20 que um jogador não marcava aos colchoneros nos dois jogos da Liga, algo que acontecera pela última vez com o número 10.

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Ainda assim, e apesar dessa reação mais comedida nesse 1-0 que abriu o “passeio” do conjunto catalão no Metropolitano até ao triunfo por 3-0 com um golo e duas assistências de Robert Lewandowski, o avançado soltou todas as emoções na chegada ao balneário, em imagens passadas pelas redes sociais dos culé que não caíram nada bem nos adeptos do Atl. Madrid, que pedem cada vez mais a saída do português do clube.

“Tentei desfrutar ao máximo do jogo. Gosto destes jogos contra equipas grandes, estes jogos picantes, em que os adeptos te provocam um bocado mais. E isso só me dá mais vontade de jogar, mais vontade de brilhar e ajudar a equipa. Foi isso que tentei fazer. Ajudar a equipa e conseguir os três pontos, que é o mais importante”, apontou o internacional português no final da partida, em declarações à ESPN Brasil.

“Assobios dos adeptos do Atl. Madrid? A malta que está na bancada não sabe das coisas que se passaram aqui durante o tempo que cá estive. O que pintam de fora é que me dou mal com os meus ex-companheiros, mas como puderam ver isso não é verdade. Estava aí a falar com o Samuel [Lino] e com o Lemar, e todos os que passaram vieram falar comigo, abraçar-me, perguntar como estava a família e tudo mais. Podem ver que não temos nada uns contra os outros. As pessoas de fora não sabem o que se passou cá dentro. Entendo perfeitamente as reações deles, mas talvez não seja eu o mau da fita nisto”, acrescentou o jogador.

“Fizemos um jogo quase perfeito, com três golos fora num estádio difícil e contra uma equipa que defende bem. O João fez um jogo muito bom, foi muito importante, sobretudo quando nós não tínhamos a bola. Era um encontro feito para ele e voltou a marcar diferenças”, destacou o técnico Xavi Hernández.

Apesar desse jogo positivo, que permitiu que o Barcelona subisse ao segundo lugar da Liga à frente do Girona e a oito pontos do líder Real (deixando também o Atl. Madrid a uma distância de nove pontos), o futuro de João Félix continua a ser uma incógnita. O encontro deste domingo mostrou que a possibilidade de voltar ao Metropolitano, sendo aceite pelos adeptos e pelo próprio treinador parece algo muito remoto a não ser que uma grande operação de cosmética conseguisse disfarçar estes episódios. No entanto, e até agora, nenhum clube se mostrou disponível para avançar com uma proposta suficiente para que o Atl. Madrid libertasse o jogador e, segundo o Mundo Deportivo, já existe uma garantia: caso ficasse na Catalunha por empréstimo, essa cedência por mais uma temporada obrigava a ter uma cláusula obrigatória, algo que no atual contexto dos catalães surge como uma opção complicada pelos problemas financeiros que atravessa.