Endrick só tem 17 anos. Mas o facto de ter nascido em julho de 2006 nunca o impediu de se tornar protagonista sempre que tem uma bola nos pés. Este fim de semana, o já futuro jogador do Real Madrid estreou-se a marcar pela seleção do Brasil, garantindo a vitória contra Inglaterra em Wembley e tornando-se um dos goleadores mais novos de sempre dos brasileiros.

A história de superação de Endrick, desde as dificuldades financeiras da família até à glória no Palmeiras e à consequente transferência para o Real Madrid que só se torna realidade no verão, é muito conhecida. Ainda assim, raramente foi contada na primeira pessoa: algo que acontece esta segunda-feira, no site The Players’ Tribune, onde o avançado brasileiro assina uma carta ao irmão mais novo, de apenas quatro anos, e recorda as provações que todos tiveram de atravessar até chegarem a águas mais tranquilas.

“Na nossa família, não nascemos em berço de ouro. Nascemos no berço do futebol […] Como sabes, na nossa família tudo sempre começa e termina com a bola. A Mãe diz que, quando era um bebé, nunca fiz ‘vvvrrooooom!!!’ como tu. Se me dessem um brinquedo, eu ficava com ele cinco segundos e depois colocava de volta na caixa. Tudo o que eu queria era ‘bola, bola, bola’. Uma bola de fita. Uma bola de meia. Uma bola de basquetebol. Pouco importava. Se fosse redonda ou até mesmo quadrada, eu queria mesmo é sair a chutar. Está no sangue, irmão”, explica o agora internacional brasileiro.

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Apesar de detalhar a vida simples que a família teve até há bem pouco tempo, Endrick garante que teve uma “infância incrível” e que tem saudades de ser “só uma criança e o futebol ser só um jogo”. Ainda assim, não esquece as dificuldades financeiras que foram uma realidade até aos últimos anos e sublinha que sempre olhou para o futebol como um veículo para ajudar os pais e os irmãos. “Nós sempre tivemos o essencial na nossa mesa. Mas nem sempre tínhamos o suficiente para tudo o que queríamos. Entende a diferença?”, atira.

“Colocar objetivos é algo importante na minha vida. É a minha maneira de conversar com Deus”, indica Endrick, revelando que já conseguiu cumprir dois dos grandes objetivos que tinha delineado, ajudar a família e estrear-se pela seleção do Brasil. O terceiro está preso por meses: jogar no Real Madrid.

“Dentro de alguns meses partirei para Espanha e tu vens comigo. Real Madrid… Esse era o meu terceiro objetivo e foi o único que nunca ousei escrever. Quando era pequeno, eu não tinha telemóvel ou qualquer coisa, então costumava usar o computador da mãe e assistir aos melhores momentos dos jogos do Real Madrid, desde os sete ou oito anos. Eu sei que és muito jovem para lembrar estes nomes, mas estava obcecado com aquela equipa de 2013/14 com Cristiano, Modric e Benzema. Foi a minha porta de entrada na história do clube. Comecei a entrar no YouTube e a aprender sobre os ‘galácticos’ e depois cada vez mais fundo, Puskás, Di Stéfano…”, refere o brasileiro, terminando com a ideia de que o quarto objetivo é conhecer o ídolo, Cristiano Ronaldo.

O futuro do Real Madrid esteve a um passo de ser o futuro do Chelsea: Endrick quase assinou pelos ingleses há um ano

Entre a longa carta, Endrick conta ao irmão vários episódios de sacrifício dos pais, agradecendo sempre a perseverança da mãe e a forma como o pai nunca desistiu de um sonho que também era o seu, e pede que este “aproveita a vida como quiser”. “É o meu presente para ti”, conclui, acrescentando a ideia de que “no momento em que nos esquecemos de onde viemos, corremos o risco de nos perdermos”.

“Durante três gerações, ou talvez mais, a nossa família teve de perseguir o sonho do futebol, tentando mudar as nossas condições. Mas agora tu podes fazer o que quiseres. Podes ser médico ou advogado. Ou talvez, já que vamos para Espanha, o país de Nadal e Alcaraz, podes ser tenista profissional. Já estás a correr atrás da bola, como eu. E podes ser jogador de futebol, se quiseres. Mas não tens de ser. Não há mais stress, graças a Deus, graças à Mãe e ao Pai, e graças ao futebol”, termina.