Antes de uma paragem durante a Páscoa e na antecâmara de mais uma semana com presenças praticamente diárias em várias Casas do FC Porto a começar pelos Açores e com passagem por Lisboa onde irá apresentar o projeto que tem para a construção da Academia em Gaia, André Villas-Boas somou mais umas centenas de quilómetros no cartão de milhas que tem feito a percorrer o País e esteve na noite desta quinta-feira com os sócios e adeptos dos azuis e brancos em Albufeira. Aí, entre várias perguntas que foram sendo repetidas em relação ao que tem sido questionado nos eventos em que tem comparecido, o antigo treinador voltou a colocar o enfoque na importância do ato eleitoral não só para uma mudança mas para o próprio clube.

“Vou ser um presidente não remunerado”: a garantia de Villas-Boas no dia em que oficializou candidatura com 2.170 associados

“O que é que preferimos? Que houvesse 50% ou 49% de votos em branco e 51 % para o presidente? Não, queremos é precisamente isto. Isto é unidade, isto é FC Porto. Aconteça o que acontecer, o FC Porto sai valorizado porque finalmente caminha agora, pelas duas candidaturas [n.d.r. que são três, contando com a de Nuno Lobo], no sentido de haver uma boa governança, como se fosse uma novidade que já tivesse que ter acontecido, no sentido da transparência, como se fosse uma novidade que nunca tivesse que estar presente. Portanto, quem viveu o verão quente de 1982? Eu tinha cinco anos, não tenho memórias desse momento, mas quem o viveu foi o pior que este momento”, começou por dizer o ex-técnico campeão pelo clube.

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“Este é um momento onde o FC Porto está mesmo a debater. Em 1982 havia jogadores raptados e treinadores raptados. É uma coisa, um universo totalmente diferente. Agora, aqui quando há duas candidaturas tão fortes, naturalmente há uns que preferem uma coisa, outros que preferem outra. O bem comum é o bem do FC Porto, que se unirá em torno do seu presidente para o futuro. Se assim não for, acho que não é bom para ninguém, porque nós temos que ter capacidade competitiva, temos que estar unidos e tem que haver defesa dos interesses superiores do FC Porto”, acrescentou, citado pelo jornal Record.

“Não podemos aguentar mais quatro anos por gratidão. Este FC Porto não tem a ver com o FC Porto de Pinto da Costa”, diz Villas-Boas

“Como se pode depois unir? Não é o André que tem que estar preparado, vocês é que têm que estar preparados. Ou seja, o caminho da união é o bem comum do FC Porto. Os adeptos do FC Porto não são adeptos do André Villas-Boas presidente. São adeptos do FC Porto que acreditam nas suas ideias e no seu programa. Eu acho que o caminho da união, evidentemente, o caminho que levará a que tudo se processe de forma mais suave no futuro, claro está, é o rendimento desportivo. Além do rendimento desportivo, o projeto, a sustentabilidade financeira, a transparência, a comunicação com os sócios, tudo bens e valores que desapareceram do FC Porto. Eu acho que este é um universo novo que estamos a viver, onde há duas candidaturas muito fortes”, reforçou André Villas-Boas, ainda sobre uma questão que tem sido cada vez mais levantada em todos os encontros dos candidatos nas Casas do clube a propósito do pós-27 de abril.

“FC Porto está numa situação limite. Não queria fugir às responsabilidades mas 2028 já não é para mim”, admite Villas-Boas

Sem grandes comentários sobre a “Operação Pretoriano”, a prisão preventiva de Fernando Madureira ou as considerações a propósito da Academia anunciada por Pinto da Costa na Maia, Villas-Boas voltou a deixar muitos elogios a todos os sócios e adeptos que não são da região norte (“Somos um clube fortíssimo, com muitas conquistas, mas que não se expressa a nível de associativismo porque fora de Porto, Braga e Aveiro somos muito poucos. Esses 12% são os bravos”, referiu) antes de falar da importância de outro trabalho a nível de todo o edifício do futebol que seja capaz, por exemplo, de evitar saídas de jogadores a custo zero.

“O 13 de novembro é triste mas acordou portistas para a realidade e pode levar clube para outra via”, destaca Villas-Boas

“Tem que ver com maus investimentos e perda de rigor orçamental. Apenas em alguns jogadores como o Mbemba, o Uribe, o Herrera, o Marcano, o Corona, o Taremi ou o Brahimi, estamos a falar de investimentos de 55 milhões de euros que tiveram zero de retorno. Desde 2015, entre o contrato da Altice e vendas de jogadores, o FC Porto arrecadou 1,3 mil milhões de euros. Se recuarmos ao início do século XXI, fez três mil milhões de euros em receitas e encontra-se em 2024 com uma dívida e um passivo de 500 milhões. Hoje em dia, o FC Porto tem de recorrer a antecipação de receitas para gerar fluxo de caixa para pagar salários aos jogadores. Estamos em rotura financeira, fruto de uma má gestão financeira e dos recursos e ativos do clube. O problema é o errar frequentemente na contratação dos jogadores, dispêndios absurdos. Desde 2018, onde vendemos cerca de 400 milhões de euros em jogadores, o FC Porto apenas encaixou, reduzindo todos os custos, 11 % desse valor”, apontou, numa ideia que já tinha partilhado noutras Casas.

“Ganhámos três títulos. Rompemos, sim senhor, com o pentacampeonato do Benfica, que era muito, muito, muito importante. Um momento histórico desde a chegada do Sérgio Conceição, um treinador que com a sua sagacidade e amor pelo FC Porto tem mantido e criado equipas competitivas que nos permitem lutar por títulos e estar sempre na Liga dos Campeões. Tem sido um grande obreiro destes resultados. O problema é que o declínio financeiro do FC Porto é cada vez mais evidente. Daí que é fundamental haver uma nova direção desportiva que sustente todo o projeto desportivo. É aí que não podemos falhar, porque é aí que vamos criar valor. Há muitos clubes de futebol que têm esta filosofia desportiva instalada, desde o Ajax ao Brugges, ao Barcelona, aos nossos próprios rivais”, apontou ainda o antigo sobre o atual treinador.

“Enviei carta à Direção do FC Porto. Têm oito dias para responder ou reúno acionistas”, avisa Villas-Boas

“Pusemos no programa eleitoral, que será um dos momentos de abril, uma iniciativa tão simples como as Casas do FC Porto que se encontram num raio de 50 quilómetros, os pavilhões onde o FC Porto joga devem ter mais facilidade de acesso à bilhética. Para isso, o FC Porto tem que reter a bilhética e não distribuí-la como anda a fazer apenas em grupos organizados de adeptos. Tem que reter, dar às Casas, para que as Casas depois possam dinamizar as regiões e as localidades à volta deste espaço. Acho que o que ficou evidente e o que fica evidente aqui entre o FC Porto e as Casas era a comunicação inexistente. E não havia preocupação por parte do FC Porto, tirando agora, de estar próximo das Casas e de dinamizá -las de forma coerente. Isto é um conceito que é preciso mudar, que é preciso profissionalizar, não só do ponto de vista do associativismo, mas também do ponto de vista comercial”, concluiu André Villas-Boas.