Nascido a 4 de junho (de 1970), Ekrem Imamoglu ainda está à espera da decisão final do processo que o condenou a prisão e o baniu politicamente por declarações feitas em 2019 quando ganhou as eleições autárquicas que, num primeiro momento, foram canceladas, para voltar a vencer uns meses depois.

Dois anos e sete meses de prisão e o inibição de continuar na política foram declaradas por um tribunal que ainda não teve a sentença de recurso. Foi julgado por alegada difamação por, nas eleições de junho de 2019, ter declarado que os decisores que determinaram a anulação da votação três meses antes eram “loucos”.

No primeiro ato, em março de 2019, foi eleito com 4,1 milhões de votos e ganhou por uma margem de 13 mil votos contra o partido de Erdogan, AKP. Governou a cidade de Istambul de 17 de abril a 6 de maio de 2019, quando as eleições foram anuladas, para ser reeleito a 23 de junho por uma margem de 800 mil votos face ao opositor Binali Yildirim. Aí reforçou a ideia de estrela em ascensão na política da Turquia.

Ekrem İmamoğlu. O tipo normal que derrotou o partido de Erdogan

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Um tipo normal que, nessa altura, era pouco mais que um desconhecido para a maioria dos turcos. Tinha, entre 2014 e 2019, sido autarca da cidade de Beylikdüzü, um município na parte europeia de Istambul, a verdadeira primeira aventura de Imamoglu que, em 2009, concorrera (e ganhara) a uma eleição interna do partido nessa localidade. Foi assumindo maior e maior protagonismo dentro do partido CHP até que conquistou a maior cidade da Turquia. E que, agora, volta a conquistar alargando a margem, o que reforça também a ideia de que se tornará um candidato futuro a disputar a Presidência da Turquia, contra, previsivelmente, Recep Tayyip Erdoğan que há um ano ganhou um terceiro mandato para o cargo máximo do país.

Em maio de 2023, com a vitória do atual Presidente o seu peso político brilhou, mas agora o brilho dissipou-se com as eleições locais que além de Istambul decretaram a derrota na capital Ancara e em várias importantes cidades, como Esmirna, Bursa, Adana e Antália. A nível nacional, a votação estava a apontar para a vitória do CHP, derrotando Erdogan pela primeira vez desde que chegou ao poder há 21 anos. Assumindo que o desfecho não foi o esperado, Erdogan declarou aos apoiantes em Ancara que, no entanto, “não marca o fim” do AKP, sendo antes um “ponto de viragem”, cita-o a BBC.

Oposição turca deixou escapar oportunidade histórica. Erdoğan ainda é o homem de ferro da Turquia

A derrota em Istambul é ainda mais pesada para Erdogan que se empenhou nessa campanha na tentativa de reconquistar um município que já liderou. “Posso dizer que Istambul, com 16 milhões de pessoas, deu-me novo mandato”, declarou Imamoglu pouco depois da meia noite em Istambul. Os últimos dados apontavam para uma diferença de 10 pontos percentuais na vitória de Imamoglu face ao concorrente Murat Kurum, do AKP (partido de Erdogan), garantindo 50% dos votos. É a maior margem de uma vitória para esta autarquia em quatro décadas. No Instagram, agradeceu a Istambul.

Ao Financial Times, Selim Koru, um analista do think tank Tepav, de Ancara, declarou tratar-se de “um não” a Erdogan, especialmente em Istambul”. A inflação galopante — em março atingiu os 70% — e o descontentamento em particular dos muçulmanos são apontados como a razão deste cartão vermelho a Erdogan.

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Imamoglu chegou à política como mero desconhecido, apesar do seu passado de empresário que também não o levou à ribalta mediática. Agora aos 53 anos é visto como o mais que provável candidato à Presidência, desafiando Erdogan e o seu poder de décadas. A Reuters aponta algumas semelhanças no caminho destes políticos. Além de terem, ambos, no currículo a liderança de Istambul, a maior cidade turca, são os dois de famílias com raízes na região este do Mar Negro. Além de que tanto Imamoglu como Erdogan jogaram, em jovens, futebol. Jogou como guarda-redes na Türk Ocağı Limasol, enquanto Erdogan foi avançado no Camialtı. Imamoglu ainda desempenhou, bem mais tardes, cargos na administração do Trabzonspor.

Imamoglu é de Akçaabat, a oeste de Trabzon, onde estudou até à faculdade. Em 1987 a família mudou-se para Istambul, onde continuou os seus estudos superiores, licenciando-se em gestão para depois assumir funções no negócio familiar ligado ao imobiliário e à construção. Quando se licenciou em 1994, Erdogan estava a conquistar a cidade de Istambul.

No ano seguinte casou com Dilek Kaya, com quem tem três filhos. “O amor e a gentileza ganharam”, escreveu Dilek no seu Instagram.

O homem que já derrotou pelo menos três vezes o todo-poderoso AKP, sendo mesmo o repetente nas derrotas infligidas a Erdogan, assume-se social democrata, mas os jornais, em 2019, apontaram a retórica política, denunciando gastos excessivos, como um dos trunfos. “Imamoglu é muito natural e fala facilmente com as pessoas”, apontou, então, Zilan Karakurt, que filmou vídeos de campanha para as redes sociais nesse ano. “Isto é algo que nem todos os candidatos conseguem”, declarou. As selfies que tira com a população em bazares ou cafés. Já então, tal como agora, era confrontado com o futuro político. “O tempo o dirá”, declarou à AFP antes de Erdogan ter voltado a vencer as eleições presidenciais em 2023.

Poder de Erdogan desafiado com vitória da oposição em Istambul e Ancara nas eleições locais