Mais de 45 mil voos, entre os quais muitos que transportavam cidadãos britânicos de férias, foram afetados por ataques eletrónicos com origem na Rússia nos últimos oito meses, revelaram fontes do sistema de aviação ao jornal The Sun. Os ataques, considerados “extremamente perigosos” afetaram o sistema de comunicações dos aviões e prejudicaram a perceção dos pilotos em relação à localização real.

Os ataques afetaram severamente o sistema de navegação por satélite (conhecido por satnav), interferindo com as rotas, e usaram falsos sinais para criarem a perceção errada nos pilotos de que o avião se encontrava numa localização diferente da realidade. Dados falsos forçaram ainda os aviões a desviarem-se para evitar obstáculos que não existiam.

Os ataques terão começado em agosto do ano passado e afetaram cerca de 46 mil voos, dos quais quase 3.800 voos com origem no Reino Unido, operados por cinco empresas de aviação. As mais afetadas foram a Ryanair (2300 voos) e a Wizz Air (1370). Os aparelhos faziam a ligação entre várias cidades do Reino Unido e vários países do leste da Europa e também à Turquia e Chipre. Segundo o The Sun, os pilotos começaram a reportar problemas quando atravessavam a região do Báltico, o Mar Negro e a zona do Mediterrâneo oriental.

“Os russos há muito que utilizam o bloqueio do sinal GPS como ferramenta de intimidação, projetando-o através das fronteiras da NATO”, disse o especialista em guerra Jack Watling, ao think tank Royal United Services Institute. Segundo Watling, Moscovo utiliza o enclave de Kaliningrado para interferir com os voos na zona do Báltico.

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A interferência russa nos voos aumentou em 2024. Se no ano passado, foram registados cerca de 50 por semana, em março esse número multiplicou-se por sete: 350 ataques eletrónicos semanais.

Em janeiro a Agência Europeia para a Segurança da Aviação tinha identificado um “aumento acentuado” de ataques que causaram interferência nos voos no espaço europeu, mas não identificou que grupo ou entidade estava por detrás desses atos.

Para além de voos comerciais, a estratégia russa afetou também pelo mês um voo militar. Em meados de março, um avião da Força Aérea Britânica — que transportava para o Reino Unido o ministro da Defesa Grant Shapps, que tinha estado na Polónia a propósito de um exercício militar da NATO — foi alvo de um ataque eletrónico russo e perdeu as comunicações via internet e também o sistema de navegação por satélite. Para além disso, segundo o Daily Mail, ficou sem capacidade para se defender e para responder de um ataque com mísseis.