O vice-presidente do governo regional dos Açores, Artur Lima, defendeu nesta segunda-feira que a base das Lajes, na ilha Terceira, utilizada pela Força Aérea norte-americana, não pode ser uma “base adormecida, para acordar só quando é preciso”.

Já se provou que os Açores quando é necessário cá estão. Agora o que não podemos ter aqui e não podemos aceitar é uma base adormecida para acordar só quando é preciso. Isso nós não queremos aceitar, nem vamos aceitar. É um dos pontos que os Açores têm de fazer sentir ao Governo da República e o Governo da República tem de fazer sentir, no âmbito das suas competências, ao Governo norte-americano e à NATO”, afirmou, em declarações aos jornalistas.

Artur Lima falava, na vila das Lajes, na ilha Terceira, à margem de uma conferência com o título “Portugal é os Açores — EUA e Açores na Guerra Fria (1945-1965)”, proferida pelo professor da Universidade Estadual do Ceará, no Brasil, Tácito Rolim, doutorado em História.

A iniciativa foi organizada no âmbito do plano de estudos e trabalhos para a criação do Centro Interpretativo da Base das Lajes, desenvolvido em colaboração com o Instituto Histórico da Ilha Terceira (IHIT), desde finais de 2023.

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Na abertura da conferência, o vice-presidente do executivo açoriano lembrou a redução militar dos EUA na base das Lajes, em 2015, e a contaminação dos solos e aquíferos, que tem exigido “demonstração de força, firmeza e diálogo para que o assunto seja tratado com o cuidado que merece”, ainda que destacando “alguns passos significativos”.

Por outro lado, defendeu que, apesar de se ter questionado o valor estratégico da base das Lajes, devido aos avanços tecnológicos e à competição crescente entre EUA e China, os Açores “jamais deixarão, de ser um ativo fulcral para a política de defesa e segurança do Ocidente”.

“A geopolítica não é estática e as conjunturas evoluem e alteram-se. O que vemos atualmente é um recentrar de atenções no Ocidente e, por acréscimo, no Atlântico, em virtude da proliferação de conflitos militares, seja na Ucrânia, seja no Médio Oriente”, apontou.

Artur Lima reivindicou, no entanto, contrapartidas para os Açores.

Esta base não é uma peça de museu, mas um reabilitado ativo para o país, para os EUA e para a NATO, que os Açores deverão tirar o devido partido para o seu desenvolvimento regional e local. Porque não haja dúvidas de que queremos servir e também queremos, todavia, ser servidos com justas e merecidas contrapartidas”, vincou.

Para o governante, é preciso “colocar na agenda internacional a importância geoestratégica da base das Lajes” e o centro interpretativo, que está a ser planeado, pode dar um contributo.

Artur Lima sublinhou que não se trata apenas da criação de um espaço físico, mas de um espaço “dedicado à investigação e à produção científica de novos conhecimentos sobre o papel geoestratégico da região”.

Em novembro de 2023, o governo regional assinou um protocolo com o IHIT, no valor de 40 mil euros, que vigorava até dezembro de 2024, mas o trabalho terá continuidade, segundo o vice-presidente.

“Este ano termina esta parte do estudo, mas continuará durante o ano de 2025 e eu presumo que no final do ano esteja terminada a parte teórica. Depois será desenvolvida toda a informação teórica recolhida pelo instituto histórico e depois espero que se passe à prática e se materialize então”, explicou.

A comissão científica do centro interpretativo será constituída por António José Telo, professor catedrático de História na Academia Militar, Luís Andrade, professor catedrático de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade dos Açores, e Tácito Rolim, orador da conferência.

O historiador brasileiro, que descobriu os Açores, por acaso, numa investigação sobre o arquipélago de Fernando Noronha, destacou a importância da base das Lajes na Guerra Fria, enquanto “barreira de proteção da costa leste dos EUA de um eventual ataque soviético” e na monitorização de uma operação militar norte-americana que testou “a explosão de artefactos nucleares na alta atmosfera”.