O cabeça de lista da IL às europeias diz querer “desinstalar interesses” em áreas como pensões, legislação laboral ou rendas congeladas e defendeu mais transparência na eleição de procuradores europeus e restrições a Estados-membros com “tiques autoritários”.

“Eu, que sou de outra geração mais velha, tenho de vos dizer isto com clareza: estamos a assistir a uma brutal transferência de riqueza dos mais jovens para os mais velhos, porque os interesses instalados não querem mudança”, afirmou João Cotrim Figueiredo na apresentação do manifesto da IL às europeias de 9 de junho, que decorreu no Jardim da Estrela, em Lisboa, e que contou com a presença do presidente do partido, Rui Rocha.

O ex-líder e candidato a eurodeputado defendeu que não é aceitável que “não se mexa no sistema de pensões” que considera “hipotecar as pensões futuras” ou que “não se mexa na legislação laboral que protege os que têm emprego e ignora quem não tem, em especial os jovens”.

“Não podemos aceitar que não se mexa nas rendas congeladas da habitação antiga, de quem já tem casa, quando isso levado rendas mais altas para quem não tem casa”, disse, defendendo também que não são aceitáveis subsídios e burocracia “que protegem as grandes empresas que já existem, quando isso impede o nascimento das que ainda não existem ou o crescimento das mais pequenas”.

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“É preciso pôr a Europa a mexer. É preciso não ter medo de reformar. É preciso não ter medo de desinstalar os interesses instalados”, apontou, considerando que só desta forma a Europa poderá voltar a ter mais crescimento económico.

Para aumentar a criação de riqueza na UE, a IL defende a conclusão do mercado único, a revogação de duas normas por cada nova aprovada e a aposta nas ligações de energia e ferroviárias, “para que a Europa esteja toda ela ligada de comboio”.

Além da ausência de criação de riqueza, Cotrim Figueiredo apontou transparência e a garantia de liberdades como os principais desafios da União Europeia.

“Portugal tem de ambicionar ser um país que não está dependente de fundos europeus. E com o alargamento esse momento pode ficar mais próximo e Portugal não está preparado. Décadas de fundos estruturais, mais de 160 mil milhões de euros recebidos e não estamos preparados”, lamentou.

“Os socialistas não aprendem. Sem avaliação não pode haver boa gestão. Temos de avaliar a utilidade e reprodutividade dos gastos públicos que fazemos”.

E por isso considera importante que os “parlamentos nacionais e autarquias participem mais no planeamento. É preciso descentralizar”, e “lutar pelo reforço dos meios da procuradoria europeia” e “garantir que não há interferência política na seleção, como aconteceu quando nomeamos no tempo do PS”.

Cotrim Figueiredo considerou que atualmente “as liberdades não estão garantidas” no espaço europeu e anunciou que a IL apoiará o Mecanismo de Condicionalidade.

“Se um Estado-membro não respeita as regras, se tem tiques autoritários, não deve poder exercer os seus plenos direitos enquanto Estado-Membro, nem receber dinheiro europeu. Ainda mais claro: as ameaças ao Estado de direito e da separação de poderes na Hungria e as violações de direitos fundamentais de pessoas LGBT não são aceitáveis na União Europeia”, criticou.

Sobre migrações, defendeu que “não pode ser um tema tabu, nem ser um exclusivo dos populistas que querem fazer política à custa da desgraça alheia”.

“Temos de ter uma política migratória: humana e justa com quem for elegível, firme com quem não for elegível e – intransigente com as redes de tráfico que se aproveitado desespero dos migrantes”, disse, reiterando o “apoio incondicional à Ucrânia”.

O reforço na segurança e defesa europeias e da autonomia estratégica da Europa foram outras das ideias que constam do manifesto eleitoral da IL e sublinhadas pelo cabeça de lista.

“Vamos ter de reformar economicamente para não ter fuga de talentos, e politicamente para não termos forças extremistas a influenciar a política europeia de forma absolutamente inadmissível. Há demasiados poderes instalados na Europa que não querem nem mudanças nem reformas. Se queremos devolver esta ideia da Europa livre, em paz, e próspera, se queremos voltar a trazer essa grandeza temos de libertar dos interesses instalados”.