A praça Marquês de Pombal pode ser lugar de festejos ou de muito trânsito, mas até outubro também é local para conhecer diferentes visões dos Estados Unidos, com uma nova exposição de fotografia. Andres Serrano, reputado e polémico artista norte-americano, propõe com a sua coleção Des Américains II. Várias imagens, carregadas de cor pop, que representam a crença no sonho americano e captafas após o trágico evento de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América. A exposição, com curadoria de Alexandra Conde, foi inaugurada na passada quinta-feira e estará patente até outubro.

52 rostos. 52 fotografias. Tiradas entre 2002 e 2004. Um sem-abrigo com um lenço com as cores da bandeira norte-americana a contrastar com o grande BB King. Um líder do Ku Klux Klan de frente para um emigrante mexicano. Enfermeiros. Militares. Pequenas lutadoras de esgrima. Body-builder’s. Padres. Gente desconhecida. Gente famosa. Todos fotografados da mesma forma, com um semblante imponente, quase como, em jeito provocador e irónico, estivessem todos em pé de igualdade para Andres Serrano.

Porque apesar da realidade demonstrar o contrário, com uma América cada vez mais dividida, o objetivo é que cada americano nesta exposição emane o verdadeiro sonho americano. O mais curioso é que falta um rosto. Talvez “o” rosto. Nesta coleção de Andres Serrano, onde cabem tantas outras séries, o artista norte-americano também fotografou Donald Trump, mas o retrato não fez a viagem até Portugal.

Rostos norte-americanos que contam o sonho americano de Andres Serrano.

Andres Serrano, que nasceu em Nova Iorque nos anos 50 e começou a dar nas vistas 30 anos depois, juntando o clássico com a cultura pop, já foi distinguido com a Ordem das Artes e das Letras de França em 2017, tendo ganho múltiplos prémios internacionais nos Estados Unidos, mas também na Europa. Durante uma entrevista, disponível no Youtube, o artista fala um pouco mais sobre esta coleção e alegou que, apesar de, nessa altura, os norte-americanos terem ficado obcecados em encontrar o inimigo — ou seja, o/os autores dos ataques às Torres Gémeas e ao Pentágono –, Andres Serrano preferiu fotografar quem esteve, de alguma maneira, envolvido no 11 de setembro. “Depois, quis fotografar a classe trabalhadora, pessoas não documentadas, emigrantes e logo passei para as celebridades como o BB King ou a Yoko Ono. Quanto a Donald Trump, acho que simboliza a personificação do sonho americano. Ou, pelo menos, é assim que ele se vê”.

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Faltou explicar porque é que Andres Serranos nem sempre é unânime. Exemplo: basta relembrar o que fez em 1987: o nova-iorquino submergiu um crucifixo de plástico num recipiente com a própria urina e fotografou o momento. Está explicada a controvérsia.

A coleção do Novo Banco tem vindo a expandir-se nos últimos vinte anos e tem sido mostrada um pouco por todo país, ilhas incluídas. Paulo Vaz Tomé, responsável pela comunicação e pela pasta da cultura da instituição, assegurou que, neste momento, o banco está presente em 41 museus nacionais. A mais recente troca de obras aconteceu no Centro Cultural de Ílhavo a propósito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Na coleção estão representados nomes como Helena Almeida, Marina Abramovic, Daniel Blaufuks, Thomans Demand, Julião Sarmento ou Pedro Cabrita Reis.