Os subscritores do manifesto que pede uma reforma na Justiça dizem não ter como objetivo substituir a Procuradora-Geral da República e que o Ministério Público não está acima do escrutínio público, não podendo sobre isso “haver medo nem tabus”.

À entrada para o primeiro encontro de subscritores do “Manifesto por uma Reforma da Justiça em Defesa do Estado de Direito Democrático”, que junta uma centena de personalidades de diversas áreas, a ex-ministra da Educação e membro da comissão organizadora do movimento cívico, Maria de Lurdes Rodrigues, disse aos jornalistas que substituir a Procuradora-Geral da República (PGR), Lucília Gago, “não está” nem “nunca esteve” no manifesto.

“Não está porque não é essa a orientação do manifesto. A mudança de uma PGR não constitui uma reforma da Justiça. A reforma da Justiça para considerar as questões do Estado de Direito, das liberdades e garantias dos cidadãos é muito mais do que a substituição de um rosto. Trata-se sim de um modo de funcionamento do Ministério Público, que é uma coisa diferente, e, aí sim, há muitas preocupações”, disse a responsável.

Questionada sobre se é intenção do manifesto causar algum incómodo ao Ministério Público, Maria de Lurdes Rodrigues disse: “Incomoda-se quem não se sente bem”.

“Nós tratamos de manifestar aquilo que são as nossas preocupações e as preocupações dos cidadãos não podem nem devem ser silenciadas. Não pode haver medo, nem pode haver tabus, todas as instituições da democracia são passíveis de escrutínio. (…) O Ministério Público é como as outras instituições, que tem que prestar contas, sobretudo pela qualidade do serviço que presta”, disse.

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A morosidade da Justiça, uma das nove grandes preocupações dos subscritores do manifesto, “penaliza o próprio Ministério Público”, referiu Maria de Lurdes Rodrigues, apontando um despacho da PGR sobre articulação entre autonomia e hierarquia no Ministério Público travado por uma providência cautelar sindical, que há quatro anos aguarda decisão nos tribunais administrativos.

“Isto diz tudo sobre a morosidade que não afeta este ou aquele, respeita a todo o sistema de justiça, paralisa os próprios órgãos de justiça, o que é muito importante ser olhado”, disse.

Rejeitou ainda qualquer falta de transparência no encontro desta segunda-feira por decorrer à porta fechada, sublinhando que o grupo de reflexão não tem qualquer “dever de comunicação”, ao contrário do Ministério Público, que “tem o dever estatutário de enviar um relatório à Assembleia da República e isso não é feito”.