Há três anos, Anders Lind não imaginava que estaria nos Jogos Olímpicos 2024 em Paris. O mesatenista tem passado por uma verdadeira prova de resistência, depois de um aparatoso acidente de carro que levou médicos a vaticinarem-lhe o fim da carreira.

Chorei durante uma semana sem parar“, conta agora o atleta de 25 anos, citado num site de notícias interno dos Jogos Olímpicos. O acidente, em março de 2021, partiu-lhe as costas em várias zonas e o futuro parecia-lhe traçado. “Todos [os médicos] disseram que nunca voltaria a jogar. Eles viram como os ossos tinham partido. Normalmente com aqueles ossos partidos fica-se paralisado nas pernas, mas como não tocaram na medula espinhal, conseguiam ver desde o início que eu iria conseguir andar”, lembra. O futuro teria sido bem mais incerto caso tivesse tido alguma lesão nos nervos. “Ninguém sabia” o que iria acontecer.

Mas Anders Lind trocou as voltas a esses augúrios. “O ténis de mesa era a minha vida. Não tinha escolha“, afirma. Fez muita reabilitação, “passou muito tempo até conseguir fazer qualquer coisa fisicamente difícil”. “Comecei a conseguir lentamente andar 20 metros por dia, depois 40 metros por dia, depois 60. Após alguns meses, já conseguia correr lentamente”, acrescenta. Seis meses depois do acidente, já fazia parte da equipa dinamarquesa que venceu uma medalha de bronze nos europeus de 2021.

Hoje, tem uma peça de metal nas costas. Perdeu alguma flexibilidade e tem cautela quanto a viagens longas e treinos intensivos que podem provocar tensão e dores. Lind ocupa a 62.ª posição no ranking da modalidade.

Há três anos, passava pelo que apelida como o período mais depressivo da sua vida, mas que também lhe deu outra perspetiva para a vida, outros objetivos: tornar-se um melhor jogador de ténis. “Antes do acidente, os treinos pareciam um fardo. Eu não era sério, era estúpido e imaturo. Depois aconteceu o acidente e apercebi-me que queria fazer isto e se queria fazer isto para o resto da minha vida, precisava não só de ser um melhor jogador, mas de mudar a minha personalidade”, conta.

Lind diz que não só atingiu o nível em que estava antes do acidente, como o ultrapassou. Esta segunda-feira, derrotou o português Marcos Freitas, atualmente no 17.º lugar do ranking mundial, por 4-0. “Tem sido difícil, mas com um jogo como o de hoje, valeu tudo a pena. Sem arrependimentos.”

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