Lesados do Banco Espírito Santo (BES) assinalaram esta sexta-feira 10 anos de luta na Avenida dos Aliados (Porto), reivindicando 45 milhões de euros (ME) com faixas e cartazes onde se lê “Queremos Igualdade” ou “10 Anos Chega”.

Vários lesados do papel comercial do BES, alguns com t-shirts pretas onde se lia “Never give up” (Nunca desistir), invadiram esta manhã a Avenida dos Aliados com três faixas de 12 metros de comprimento e quatro faixas de seis metros onde se lia: “Lesados BES — NB Roubados”; e com cartazes, colocados em cima de um escadote, onde se lia “10 Anos Chega” e “Respeito. Queremos igualdade”.

Dos 2.100 lesados do papel comercial, há 258 lesados que não receberam os 75% [da indemnização parcial], ou seja essas pessoas querem receber os 75%, querem igualdade proporcional, e portanto são precisos 39 milhões de euros. E [para] os outros 20 a 25 lesados que não assinaram o acordo com o banco, são precisos seis milhões. Ou seja, no total, são precisos 45 milhões de euros”, explicou aos jornalistas Rui Alves, vice-presidente da Associação dos Lesados do Papel Comercial (ALPC).

Rui Alves, 71 anos, reiterou esta sexta-feira que há 258 lesados do papel comercial que reivindicam igualdade na devolução do dinheiro, porque ainda não receberam a totalidade dos 75% do dinheiro face a outros lesados.

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“O que nós pretendemos é que haja justiça na solução que foi encontrada, o que infelizmente não foi o caso”, afirmou.

Referiu ainda que também estão a defender os lesados que não assinaram a solução para a indemnização parcial, que corresponde a entre 20 e 25 lesados. Segundo o vice presidente da ALPC, ao todo, dos que assinaram a solução da indemnização e que querem igualdade proporcional são 258. Depois há 20 a 25 pessoas que não assinaram o acordo e que querem ser ressarcidas em 100%.

Rui Alves afirma que estes 10 anos de luta têm sido anos muito difíceis, com lesados “a matarem-se”. “Infelizmente isto foi uma tristeza. Só quem viveu isto é que tem a sensação de tudo o que passou”, lamenta, recordando que só entre 2022 e 2024 foram a “29 reuniões” com grupos parlamentares e com o Presidente da República e que em 2015 estiveram quatro meses na Avenida dos Aliados das 9h00 às 15h00 todos os dias.

Foram 10 anos muito duros, muito difíceis. Deve compreender que está aqui a nossa vida de trabalho. Eram as poupanças que nós pusemos no BES, um banco que era sólido, que já tinha 140 anos e, portanto, tinha a confiança dos portugueses e de um momento para o outro vimo-nos nesta situação. O Banco de Portugal sabia de tudo. O senhor governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, não devia ter feito aquilo que fez. Devia ter resolvido o problema dos lesados pelo papel comercial, porque foi considerado como venda enganosa e é por isso que eu não vou desistir”, declarou, referindo que não vão desistir enquanto não forem recompensados com os restantes lesados que receberam a indemnização total de 75%.

Jorge Novo, 67 anos, é um dos lesados do BES que não assinou o acordo e que esta sexta-feira esteve a reivindicar os 100% do dinheiro na Avenida dos Aliados.

“Eu não assino. Continuo aqui há 10 anos a reclamar tal situação de uma solução que me foi imposta e mais. Eu quero aquilo que me é devido: 100%. Aqui não há partes. Só há inteiras, porque eu depositei no banco 100%. Esses senhores que tenham vergonha e que resolvam este problema de uma vez por todas”, declarou Jorge Novo, criticando ainda os chamados “defensores de causas” que se infiltraram e que andam é a tratar da vida deles.

“Eu sou lesado do BES Novo Banco. Esses senhores que apareceram infiltrados, não são lesados. Eu com os meus colegas temos capacidade para resolver o nosso problema. Não precisamos desses senhores. Esses senhores não são bem vindos”, avisou, em voz alta, Jorge Novo.

Dez anos depois da queda do BES, o principal processo-crime contra Ricardo Salgado, que esteve mais de 20 anos à frente do BES e do Grupo Espírito Santo, sendo acusado de 65 crimes, deverá arrancar em 15 de outubro.

O BES desapareceu há dez anos, uma notícia que, no domingo 3 de agosto de 2014, caiu com estrondo, apesar da sucessão de escândalos com o grupo e levou a fortes críticas ao Banco de Portugal por atuação tardia.

Segundo cálculos feitos pela Lusa, até agora, a resolução do BES custou cerca de oito milhões de euros aos cofres públicos, resultando sobretudo da capitalização inicial do Novo Banco (banco de transição criado no mesmo dia da resolução do BES) e das recapitalizações feitas pelo Fundo de Resolução.