“Uma paz justa para nós é o entendimento de que estamos na União Europeia [UE] e o entendimento de que temos poderosas garantias de segurança”. O Chefe de Estado ucraniano admite estar a lutar pela soberania e o futuro do país e, para ver este objetivo concretizado, acredita que a adesão à “NATO é a melhor opção”.
Em declarações ao canal United News, criado no início do conflito há quase três anos, Volodymyr Zelensky defende que qualquer garantia de segurança que não passe pela mão dos Estados Unidos da América é “fraca”. “Estas são garantias sérias, que previnem Putin de voltar com esta agressão”, adianta. Apesar de não saber se teria o apoio de Washington, o Presidente diz que apoia a iniciativa apresentada por Emmanuel Macron, que envolveria a presença de militares da Aliança Atlântica em solo ucraniano, no combate contra a Rússia.
Para além de Paris, também Londres deverá apoiar o destacamento de um reforço militar para a Ucrânia, juntamente com “outros países” que Zelensky não quer revelar devido a “preocupações sobre o que se diz na comunicação social, uma vez que têm medo da influência russa”. Com esta medida, o Chefe de Estado esclarece que continua a priorizar a adesão à NATO, e que os dois cenários não devem ser mutuamente exclusivos.
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“Forte” e “imprevisível”, Zelensky acredita que Donald Trump também “pode ser decisivo” na resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Nas suas declarações, o Presidente ucraniano revelou querer que o seu (futuro) homólogo dos Estados Unidos da América utilize a sua “imprevisibilidade” contra a Rússia e, com isto, “ajudar a Ucrânia a derrotar Putin”.
Volodymyr Zelensky admite nunca ter tido uma “experiência negativa” de diálogo com Trump e indica que as duas administrações mantêm o contacto regularmente, remetendo para as várias reuniões entre membros do seu gabinete, governantes e os representantes norte-americanos.
Sobre a possibilidade de ceder território provisoriamente, o Presidente da Ucrânia acredita que têm de “fazer tudo para garantir um paz justa”, de modo a impossibilitar o regresso das forças russas para solo ucraniano e, com isto, “tudo será devolvido diplomaticamente”. No entanto, não acredita que esta via diplomática esteja nos planos de Vladimir Putin.
“Ele [Putin] agarra-se a qualquer oportunidade para não se sentar à mesa das negociações comigo. E é essa a história – resumidamente, ele não quer qualquer diálogo”, explica Zelensky, sublinhando que a comunicação direta entre as duas frentes seria uma derrota para Moscovo, uma vez que demonstraria ter falhado nos seus objetivos.
Uma das questões levantadas pelo Kremlin como justificação para não participar em conversas com Kiev é a legitimidade do mandato presidencial atualmente em vigor na Ucrânia. Putin, em diversas ocasiões, reiterou que Zelensky não deveria estar ainda ao leme do país, visto que ainda não convocou eleições desde que foi eleito em 2019. Em resposta, o Presidente ucraniano diz que o foco está em acabar a guerra e que, quando a paz tiver sido alcançada, pensa sobre uma possível segunda candidatura.
“Não sei como é que esta guerra vai acabar. Se eu fizer mais do que posso, então provavelmente olharei para esta decisão de forma mais positiva. Atualmente, não é um objetivo meu”, acrescenta, depois de esclarecer que, sob lei marcial, não podem decorrer eleições. “Todos compreendem que se a fase quente da guerra terminar, deixará de haver lei marcial”, continua Zelensky, confirmando que, até ao dia em que seja levantada, “o Presidente e o Parlamento são autoridades legitimas” até que o voto popular o contradiga.