O cancro resulta da divisão desregulada de células e da sua transformação em células diferentes das originais. Normalmente são as próprias células do doente que sofrem estas alterações, mas agora os cientistas descobriram um caso em que são as células de uma ténia que se transformaram em células cancerígenas e provocaram um tumor na pessoa. É certo que é só um caso, mas os investigadores estudaram-no a fundo antes de afirmarem que era cancro e de publicarem os resultados na conceituada revista médica New England Journal of Medicine.

A ténia Hymenolepis nana é a mais comum em humanos, mas normalmente fica restrita ao trato digestivo, onde consegue completar o ciclo de vida. Se foi estranho que neste caso tivesse sido encontrada nos nódulos linfáticos e nos pulmões do doente, mais estranho foi que as células não mostrassem a estrutura normal das células desta espécie. Pior ainda foi as células indiferenciadas deste organismo terem iniciado um processo de transformação maligna – crescimento desregulado e invasão de tecidos adjacentes.

O doente, um homem de 41 anos na Colômbia, deu entrada no hospital em janeiro de 2013 com sinais de fadiga, febre, tosse e perda de peso que durava há vários. Ao homem já tinha sido diagnosticado uma infeção com o vírus da imunodeficiência humana (VIH) em 2006 para a qual não estava a ser tratado, mas os médicos encontraram algo mais – os nódulos linfáticos estavam alterados, tinham células diferentes das humanas com um comportamento maligno. Apesar de terem sido encontrados ovos da ténia nas fezes, uma infeção com este organismo noutras partes do corpo não foi considerada inicialmente. Só a biopsia e a análise genética das células permitiu perceber do que se tratava. Mas já foi tarde – o homem morreu em menos de seis meses depois de ter sido visto no hospital.

Apesar de as infeções fora do intestino com Hymenolepis nana serem raras, a presença de cistos (uma forma larvar protegida da ténia) é comum em crianças tratadas com glucocorticoides – um grupo de medicamentos usados, por exemplo, para diminuir a atividade do sistema imunitário. Os autores concluem assim que “a transformação maligna de Hymenolepis nana pode estar mal diagnosticada como causa de cancro em humanos, em especial nos países em desenvolvimento onde as infeções com VIH [que faz com que as pessoas tenham o sistema imunitário em baixo] e com a ténia estão disseminadas.”

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