Aterragem. Qualquer uma terá de obedecer a algumas regras: alinhar o avião com a pista, abrandar na velocidade e ter cuidado com as rajadas de vento que podem abanar asas. Em Guimarães, os dragões tinham que “aterrar rapidamente”. A urgência foi dada pelo piloto Julen Lopetegui. Perdão, pelo comandante do FC Porto, com a cautela de quem augurava um “ambiente hostil” a rodear o relvado. E hostilidade foi coisa que os anfitriões ofereceram em abundância.

Como se prova isto numa frase? Assim: pela primeira vez esta época, o carrossel portista encravou. E muito. Em campo estavam Casemiro, Brahimi, Herrera, Rúben Neves e Quintero. Os do costume, portanto, os homens com os pés e a cabeça que Lopetegui tem habituado a pensar só em passe e circulação de bola. E eles tentaram. Mas o Vitória, durante a primeira parte, foi chato e insistiu em não deixar que a máquina funcionasse.

E se o conseguiu, muita da culpa veio de André André. Das suas corridas, dos lugares certos por onde andou, das bolas que roubou e das faltas que sacou quando tentava partir em contra ataques. Ladeado por Cafú e Bernard Mensah, foi deste trio que veio a maior parte da ferrugem que emperrou quase todas as jogadas que o FC Porto tentou até ao intervalo. “Estão a fazer um bom presente, o que dá uma boa expectativa para o futuro”, disse Lopetegui, quando antes do jogo falou dos jogadores adversários.

João Afonso quase deu ao treinador espanhol uma razão para dele dizer mal. Aos 18 minutos, após um canto, o defesa direito vimaranense desequilibrou-se no momento de rematar a bola, já na pequena área, e mais não fez do que passá-la para as mãos de Fabiano. No minuto seguinte foi Bernard, o ganês de 19 anos e três golos marcados na liga, a rematar desde o meio da avenida que os dragões lhe abriram no seu meio campo. A bola passou (pouco) por cima da baliza.

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E o FC Porto? Tentava jogar. Casemiro falhava passes, Herrera escondia-se mais do que aparecia e a Quintero, à direita, chegavam poucas bolas. A melhor coisa que os dragões fizeram apareceu aos 31’, quando Jackson Martínez cabeceou a bola vinda de um chutão, fê-la passar por cima dos defesas do Vitória e convidou Brahimi a persegui-la ao sprint. O argelino obedeceu, mas, à saída de Douglas, só conseguiu rematar a bola contra o guarda-redes. E pronto — não mais os portistas incomodaram a baliza alheia e, até ao intervalo, foram vivendo dos raides com bola de Brahimi.

O incómodo surgiu entre os 33’ e os 40 minutos: quando algumas dezenas de adeptos do Vitória, na bancada atrás da baliza de Douglas, entraram em confrontos com agentes da PSP e obrigaram o árbitro a tirar toda a gente do relvado. Uma amostra do tal “ambiente hostil” do qual falava Lopetegui.

O início da segunda parte nada trouxe de novo: o Porto tinham mais bola, o Vitória defendia muito e bem e, nos dragões, notava-se muita insistência em ter a bola no centro do relvado. Faltava levá-la para perto das linhas e tentar obrigar o adversário a esticar a defesa e abrir espaços entre os jogadores. Mas Brahimi e Quintero, ambos encostados ao lado contrário do se pé preferido, insistiam em levar a bola para o centro cada vez que ela chegava aos seus pés. E foi isso que o argelino fez aos 60’.

Recebeu a bola, ligou o turbo e arrancou rumo à baliza de Douglas. Ao entrar na área, Bruno Gaspar agarrou-o, o argelino deixou-se cair e o árbitro apitou. Penálti. E golo de Jackson Martínez, o sexto neste campeonato e o quinto marcado na segunda parte. 1-0 e, no meio de toda a turbulência, o Porto por fim aterrava. Sete minutos depois, porém, o Vitória obrigou-o a levantar voo, quando André André fez com que um penálti aparecesse do outro lado do campo — Paulo Batista, o árbitro, apitou assim que viu o médio cair após roubar a bola a Jackson.

Pouco depois, o 1-1. E o quarto golo de Bernard na liga. Logo depois, aos 71’, o homem do apito anulou um golo a Brahimi, após o fiscal de linha ver um fora-de-jogo (inexistente) e levantar a bandeira. Seria a última vez que o Vitória fez algo de perigoso perto da baliza de Fabiano. O Porto, porém, carregou. Empurrou tudo para o ataque e até estreou Aboubakar, avançado camaronês, nos minutos de desconto. Mas foi antes que teve duas oportunidades para marcar — ambas provocadas por Jackson Martínez.

Na primeira, aos 84′, o colombiano rematou a bola ao lado da baliza de Douglas, após a desviar num cruzamento. Dois minutos depois, um salto do avançado fez com que o guarda-redes do Vitória não agarrasse a bola. Mas Evandro, que ficou com a sobra, não conseguiu rematá-la para a baliza. Os vimaranenses, pelo meio, encolheram-se, fecharam-se mais a defender e foram aguentando para dali saírem com um ponto.

E saíram. Tal como os dragões, claro. Lopetegui bem avisara e confirmou-se: a viagem em Guimarães foi turbulenta. Coincidência ou não, o FC Porto perdeu os primeiros pontos e sofreu o primeiro golo no campeonato no encontro em que não contou com Óliver Torres (lesionou-se no ombro contra o Moreirense).

O empate deixa vimaranenses e portistas com dez pontos, os mesmos do Benfica e Rio Ave. Agora, portanto, há quatro líderes no campeonato. Só resta ver como os azuis e brancos lidar com a primeira aterragem na pista da Liga dos Campeões. É já na quarta-feira, no Estádio do Dragão, contra o BATE Borisov.