Foi “seduzido”. Ao fim de três dias, Setúbal já era “tudo o que queria”. O calor, o mar ali ao lado, os minutos na baliza garantidos e uma equipa saída de um 7.º lugar no campeonato. “Vai ao encontro do que ambicionava”, resumiu. E pronto, negócio fechado: Lukas Raeder chegou ao Vitória de Setúbal. De pequeno passou a grande. Afinal, o guarda-redes de 20 anos, mesmo só com dois jogos feitos, passara a época anterior na sombra de um gigante — Manuel Neuer.

Agora chegavam os holofotes para dar nas vistas. O Benfica vinha a Setúbal. Mas, logo aos 10 minutos, gigante foi coisa que Raeder não foi. Ou não conseguiu ser. Mesmo com 1,94 metros dos pés à cabeça, mais uns quantos centímetros com o braço esticado, o alemão não conseguiu chegar à bola que Salvio rematou à entrada da área sadina. O argentino recebeu um passe de Gaitán — que já recebera um vindo de Enzo — deu dois toques na bola, meteu-a para o pé esquerdo e sacou um remate em arco que escondeu a bola dentro da baliza.

O 1-0 madrugava. Culpa da ligação argentina que fazia por mexer com o jogo dos encarnados. Sobretudo Nico Gaitán que, durante a primeira parte, mais parecia um sprinter que aprendeu a dominar uma bola no pé esquerdo — o argentino recuava até à área do Benfica, pedia a bola, davam-na, e com ela galgava metros até deixar adversários para trás e a poder soltar para alguém que estivesse com espaço. Fez isto uma e outra vez, além de ajudar Eliseu a lidar com Manu ou Zequinha, os extremos setubalenses.

Foram estes que, com Giovani, o avançado, conseguiram ir pressionando a defesa e os médios do Benfica até à meia hora de bola a rolar. E isso via-se: Luisão errava passes, Enzo era obrigado a avançar para descobrir espaços e nem Eliseu nem Maxi tinha tempo para levantar a cabeça à procura do melhor passe. Mas lá está, a tentativa de asfixiamento do Vitória de Setúbal só durou até aos 30’.

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A partir daí, foi tudo do Benfica. A bola ia, voltava, era tocada e multiplicava-se em passes entre os jogadores. Gaitán mexia, Enzo controlava, Salvio cruzava e Lima tentava fazer tudo sozinho. E aqui no meio estava Andreas Samaris. O reforço vestiu a camisola ‘7’, a que era de Cardozo e estreou-se à frente da defesa sem inventar. Recebia a bola, não a perdia, e passava-a sem inventar. Aos 34’ e 35’, seriam Gaitán e depois Lima a inventarem cruzamentos para a área aos quais Anderson Talisca, nas duas vezes, não chegou.

Aos 38’, o pé direito do brasileiro também não chegou para dominar uma bola que pingou na área — mas assim que ela bateu na relva, usou o esquerdo para a rematar de primeira para a baliza. 2-0 e Talisca marcava o primeiro ao serviço dos encarnados. Cinco minutos depois apareceria o 3-0. Por quem? Outra vez Talisca. Como? De livre direto, a tal especialidade que se dizia que trazia do Brasil. Era o 3-0 e a confirmação de várias coisas: de uma noite até então descansada para o Benfica; de que Lukas Raeder poderia fazer melhor; e de que, no dia da confirmação de Jonas como reforço para o ataque da equipa, Talisca começara a dar nas vistas.

E de mais uma — do fim da boa série que Domingos Paciência tinha como anfitrião do Benfica. Das últimas três vezes que recebera os encarnados em casa (todas quando ainda estava no Sporting de Braga), o hoje treinador do V. Setúbal vencera sempre (2-0, em 2009, e 2-1 e 1-0 em 2011). Aos 56’ apareceu uma balança — que piorou ainda mais o cenário para Domingos e, ao mesmo tempo, melhorou o retrato de Talisca. Num contra ataque do Benfica, a bola chegou a Lima que, à esquerda, cruzou a bola rasteira para a área. Gaitán abriu as pernas, deixou-a passar e Talisca vinha embalado, pronto para disparar. Mas não.

Salvio quis a bola para si. Apanhou-a, virou-se e rematou-a para a baliza. Raeder defendeu, mas só a desviou para o seu lado esquerdo, onde apareceu Talisca. No momento em que o brasileiro pontapeou a bola com o pé direito, o guardião da casa deu um saltinho com as pernas fechadas e nada fez que se parecesse com uma defesa. Resultado: 4-0. Por enquanto.

A partir daqui, os jogadores do Benfica pareciam ter um objetivo: dar atenção a Lima. Ou melhor, dar-lhe passes. Feito o resultado, era altura de o brasileiro marcar um golo — algo que já não fazia há dez jogos oficiais seguidos (desde o Benfica-Juventus de 24 de abril). Este seria o 11.º, já que o avançado falhou pelo menos quatro oportunidades das boas para bater Lukas Raeder. De costas voltadas ao golo, Lima lá se virou para Ola John, aos 75’, e cruzou-lhe a bola rasteira para o holandês fazer o 5-0, de baliza aberta.

Por esta altura já Bryan Cristante pisava o relvado (por troca com Enzo Pérez). Nos quase 20 minutos de estreia, mostrou mira certeira no passe longo e preocupação em não se afastar muito de Samaris — o internacional grego (sete jogos e um golo) errou muito pouco e mostrou que, para o tamanho que tem (1,90 m), carrega dois pés que sabem tratar a bola. Foi ele, porém, que aos 79’ ainda derrubou Zequinha na área e ouviu o Estádio do Bonfim a gritar ‘penálti’.

O Vitória de Setúbal não mais chegou perto da baliza do Benfica. O jogo terminou, a vitória confirmou-se, o clube da Luz somou dez pontos e acordará no sábado como líder do campeonato (Rio Ave e Braga apenas entram em campo às 16h e 18h). Talisca fez um hat-trick e roubou as atenções. Mas, no final, disse que Jonas chega “para fortalecer o golo” e respondeu com um “não e não” ao jornalista que afirmou que, a jogar assim, o lugar no onze é seu. Sim ou não, estes três golos já ninguém lhe tira.

Como ninguém tirou a Lima, o último homem do Benfica a marcar um hat-trick longe de casa — a 30 de março de 2013, no 6-1 ao Rio Ave.