O Benfica de hoje não fez jus à sua história com os alemães de Leverkusen. Se, há vinte anos, conseguiu ser histórico, hoje pareceu ter homens e rotações a menos dentro de campo.

É irresistível. Sempre que o Leverkusen se atravessa no caminho do Benfica, é impossível não lembrar aquele 4-4 em 1994. O empate a uma bola no velhinho Estádio da Luz não permitia entradas a meio gás. Mas Ulf Kirsten, escudado por Bernd Schuster e Andreas Thom não estavam para brincadeiras.

Foi um jogo de loucos. Os alemães estiveram a vencer por 2-0 (Kirsten e Schuster). O Benfica empatou em dois minutos, cortesia de Abel Xavier e João Pinto. Kulkov virou pouco depois, mas Kirsten colocou tudo na mesma a seguir. Hapal fez o quatro-três e temeu-se o pior. Mas, a cinco minutos do fim, a trivela de Kulkov fecharia a contagem: 4-4. Os cerca de dez mil benfiquistas na bancada fizeram-se ouvir. João Pintou estava emocionado. Toni, o treinador, explicou que aquela atitude resultou de uma coisa: “não ter medo de um povo arrogante como é o alemão”.

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Imagine um TGV a competir com um rapaz num skate. Foi isto que aconteceu durante a primeira parte. O Leverkusen atropelou o Benfica. A pressão dos alemães nem deixava os craques das águias respirar. O ataque do Bayer trocava as voltas à defesa lusa cada vez que investia em direção à baliza de Júlio César. Pareciam baratas tontas, os portugueses.

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E não se pode dizer que Jorge Jesus não estava avisado. O Leverkusen segue em terceiro na Bundesliga, apenas a três pontos do super Bayern de Pep Guardiola. Na primeira jornada venceu em Dortmund (2-0). O Bayer é a terceira equipa com mais remates no campeonato (17.2 por jogo) e é a mais agressiva, com 14 amarelos e dois vermelhos em seis jornadas. A defesa, essa, tem sido o calcanhar de Aquiles: nove golos sofridos. Solução encontrada por Roger Schmidt? Pressão alta. Foi isso que se viu na BayArena. Enzo, Talisca, Gaitán, Salvio e companhia nem gozavam de dois segundos para pensar. Na verdade, os alemães fizeram o que muitas vezes vemos o Benfica fazer: pressão e ataque rápido.

Jesus decidiu lançar no onze Derley, André Almeida e Cristante. Este último, um italiano de 19 anos, não deixou água na boca de ninguém. Este médio ex-Milan jogou a 6, a trinco, mas ou não está para isso, ou está num estado de forma péssimo. Lento, de movimentos e pensamento. Verdade seja dita também que não tem jogado e que, de repente, aparece na Liga dos Campeões contra um adversário muito complicado.

Dava gosto ver o Bayer. Até ao intervalo viu-se apenas dois golos, mas foi pouco. Os alemães colocavam sempre muita gente na frente e, depois de um ataque rápido aos 25′, chegou ao primeiro golo. Son testou Júlio César com um remate de longe. O brasileiro comprometeu e defendeu para a frente, para gáudio de Kießling, que encostou para a baliza deserta, 1-0.

O dois-zero chegou nove minutos depois. Uma tabela entre Bellarabi e Bender culminou com um cruzamento para Son, que empurrou e enganou Júlio César, que estava em contrapé. Vida difícil para o frágil Benfica, um estado de alma que parece ganhar expressão na Champions. O primeiro remate dos portugueses surgiu aos 39′, o que ajuda a compreender o que foi este jogo — a bola de Enzo foi desviada por um defesa e deu canto.

Intervalo em Leverkusen. Os jogadores do Benfica jogavam muito longe um dos outros, nomeadamente o meio-campo, que foi engolido pela fome e ambição alemã. E assim continuou, embora o segundo tempo tenha começado com um ritmo mais baixo. Mas foi o Bayer quem quase marcou logo a abrir. Bellarabi entrou na área pelo lado direito e cruzou para o segundo poste, onde estava Çalhanoglu à espera da glória. Mas o número 10 turco falhou de baliza aberta e deu uma folga ao Benfica.

Salvio ainda deu um ar da sua graça aos 62′, com um belo golo. Entrou na área inimiga pelo lado direito, trocou as voltas a um defesa, e rematou com o pé esquerdo. A memória de 1994 estava bem viva… Mas desengane-se quem pensava que haveria uma recuperação épica. Um minuto depois o árbitro de baliza, ao contrário do árbitro e do fiscal de linha, indicou que Jardel derrubou Kießling na grande área. O homem que falhara o terceiro de baliza aberta, corrigiu o lapso: Calhanoglu assumiu e marcou com classe, 3-1.

Apito final. Noite desastrada para o Benfica, que pareceu ter menos jogadores do que o adversário durante os 90′. Pouca energia, zero ideias e intensidade nem vê-la. Talvez tenham faltado João Pinto e Kulkov, os heróis de 1994. O fado habitual do Benfica na Liga dos Campeões está a encaminhar-se. Dois jogos, duas derrotas. Começa a ficar difícil sonhar com o apuramento. No outro jogo deste Grupo C, o Mónaco de Leonardo Jardim arrancou um empate na Rússia contra o Zenit de André Villas-Boas. A terceira jornada está agendada para 22 de outubro. Os campeões nacionais vão deslocar-se ao sul de França, para defrontar Ricardo Carvalho, Moutinho e companhia.