Luzes, cor, ação. Ainda a sala do desfile, no Museo Nazionale Della Scienza e Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão, estava num corrupio de técnicos e modelos a ensaiar, já os bastidores prometiam. Uma imagem pintada a verdes, rosas e laranjas ofuscantes, com tanto de surpreendente como de chocante. Afinal, nunca vimos Pedro Pedro fazer nada assim. “Nunca tinha feito, nunca tinha pensado fazer. E custou-me muito. Não é a minha zona de conforto, mas uma das motivações para criar é pensar no que ainda não fiz. No fundo, tentei pôr um bocadinho de mim numa coisa que não pertence ao meu universo”, afirma o designer em entrevista ao Observador.

Verde, azul, amarelo, laranja, vermelho – a paleta de cores de Pedro Pedro para o próximo verão não tem fim © Ugo Camera

O Pedro Pedro neutro ficou lá atrás. E se nas cores o criador rompeu com os códigos a que se manteve fiel até aqui, nos materiais, a coleção do próximo verão herda o mesmo encantamento pelos tecidos técnicos. Se pudéssemos resumir tudo num simples Facebook status, diríamos que Pedro está numa relação com os poliamidas. “Adoro. Eu faço as coisas um bocadinho por instinto e continuo a ir buscar esses materiais, apesar de serem uma dor de cabeça para as pessoas que trabalham comigo”, afirma.

Com o sportswear na base da coleção, o designer partiu para peças mais complexas. Aos franzidos, elásticos e torcidos juntam-se as silhuetas descoladas do corpo para garantir que, por mais disruptiva que a coleção seja, o cunho de Pedro Pedro continue lá. Os acessórios estiveram à escala, dos sacos aos brincos. “As formas são todas muito inspiradas em coisas quotidianas — o blusão de capuz, a saia com bolsos. São bastante simples, no desfile é que há todo este overload de informação visual. Isso também me dá alguma liberdade, porque há sempre peças muito versáteis que podem ser usadas com outra coisa e aí já não são nada disto”, afirma.

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Os acessórios, também eles oversized, do desfile de Pedro Pedro © Ugo Camera

Com o avançar do desfile, os tricots, as gangas e as musselinas foram ganhando terreno. Para quem tinha dúvidas, o designer português mostrou que a receita para o cool continua a ser feita de misturas e contrastes. Mas foi na volta final que o quadro ficou completo. Para Pedro Pedro, ver as modelos todas juntas foi como estar “noutro mundo”. Para quem assistiu, foi como ver desfilar o guarda-roupa perfeito para à próxima Love Parade, em Berlim, com o tema “Fuck the Pain Away”, de Peaches, a ajudar à festa. Pedro não precisava, mas acabou por se reinventar, sem perder o estilo que o caracteriza.

Não há nada errado nas coisas, é sempre o timing em que as fazemos. É esta a minha filosofia: tentar não ter preconceitos sobre as coisas porque tudo pode ser feito de uma maneira gira.

Até rendas. Numa fase em que querer explorar novos elementos, Pedro Pedro admite que a próxima aventura poderá ser pelo mundo das rendas. “É a graça de trabalhar nesta área, eu poder fazer rendas e conseguir que as pessoas me vejam nelas”, confessa.

Suzy Menkes, a desejada

Em Milão, a semana da moda é sinónimo de calendário apertado, com verdadeiras maratonas entre desfiles (a geografia plana ajuda, mas o trânsito caótico nem por isso). Ainda assim, Pedro Pedro não ficou sem a sua convidada especial. Suzy Menkes, jornalista e crítica de moda britânica e editora internacional da Vogue, assistiu aos desfile na primeira fila, como não poderia deixar de ser. “A Condé Nast vai realizar uma conferência em Lisboa, por isso é muito importante ver o que os designers portugueses estão a fazer”, contou a editora ao Observador. Com o aproximar da Condé Nast International Luxury Conference, que acontece nos dias 18 e 19 de abril, no Pátio da Galé, Menkes admite estar cada vez mais atenta à indústria criativa na área da moda, não em Portugal, mas em todos os países de língua portuguesa.

Pedro Pedro ao lado de Suzy Menkes, nos bastidores do desfile © Ugo Camera

Editora internacional desde 2014, Suzy Menkes é responsável por conteúdos de moda em 19 edições online da Vogue, em todo o mundo. Isto faz dela uma presença assídua nas salas dos desfiles das grandes marcas. Conhecida por mostrar os bastidores dos principais desfiles no Instagram, por estes dias, em Milão, já viu Gucci, Fendi, Prada, Moschino e Giorgio Armani, entre muitos outros. O desfile de Pedro Pedro no Museo Nazionale Della Scienza e Tecnologia Leonardo da Vinci não foi exceção. Apesar de ter entrado pela porta da frente, Menkes conversou com o criador nos bastidores, minutos antes do início do desfile.

Milão e os bons negócios

Parece que já há muita gente a conhecer o estilo de Pedro Pedro. Em Milão, vários convidados estiveram no desfile com peças de coleções anteriores, um reflexo da popularidade que a marca está a ganhar além fronteiras. A desfilar pela terceira vez em Milão e com as peças expostas no showroom White Milano, onde também estão presentes os designers Katty Xiomara, Carla Pontes, Luís Buchinho e as marcas TM Collection by Teresa Martins e Pé de Chumbo, o balanço das ações promovidas pelo Portugal Fashion na cidade italiana já começam a dar frutos. “O número de clientes na feira está a aumentar e isso permite-me apostar mais em materiais e fazer coisas diferentes. O meu objetivo é sustentar financeiramente a marca e torná-la viável e, devagar, isso está a acontecer”, admite o criador.

Carlos Gil desfila na mesma sala, ainda esta sexta-feira. No dia 14 de outubro, Pedro Pedro volta a apresentar a coleção primavera-verão 2018, desta vez em Lisboa. Antes disso, o Portugal Fashion vai à Semana da Moda de Paris e leva Susana Bettencourt, Carla Pontes, Luís Buchinho e Alexandra Moura. Não há desfiles, mas há um showroom para fechar bons negócios.

O Observador viajou para Milão a convite do Portugal Fashion.