A pergunta impunha-se: estaria o Sporting numa crise de resultados? A verdade é que os verde-e-brancos, e olhando a todas as provas que disputam, só haviam vencido uma vez nos últimos oito encontros antes de receber este domingo em Alvalade o Chaves: foi contra o modesto Oleiros na Taça de Portugal. O Sporting empatou com Moreirense, FC Porto e Marítimo, este último na Taça da Liga, sendo derrotado por Barcelona e Juventus na Liga dos Campeões.

Jesus não gostou na pergunta na antevisão do jogo. E responderia, irritado: “Há interesse [por parte do Benfica] em criar focos de instabilidade nos rivais. Dois estão lá em cima… e convém ir buscar qualquer ‘coisa’. Nada temos a ver com a crise dos outros. No campeonato temos oito jogos, seis vitórias e dois empates”. O Sporting venceria esta noite com uma “sacada” de golos (e podiam ter sido bem mais…) e o treinador tinha realmente razão: não havia crise alguma para os lados de Alvalade.

Outra pergunta se fez insistentemente na última semana. Mas esta envolvia Bas Dost: estava ele a trabalhar em demasia para o todo (e faturava menos por causa disso, afastando-se da área e da zona de finalização) ou o todo não o estava a servir e a trabalhar para ele como na última época?

O holandês não “molhava a sopa” há seis encontros, coisa que nunca antes lhe havia acontecido desde que chegou ao Sporting.

Também essa pergunta teve uma lacónica resposta este domingo. Dost faria um hat-trick ao Chaves. E trabalhou para o todo, estando diretamente envolvido nos dois golos que não foram seus. E o todo (sobretudo Podence, hoje seu parceiro na frente) trabalhou para ele.

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Sporting-Chaves, 5-1

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Rui Costa

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu e Fábio Coentrão (Bruno César, 80’); William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins (Doumbia, 76’) e Acuña; Podence (Battaglia, 66’) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Ristovski e Matheus Oliveira

Treinador: Jorge Jesus

Chaves: Ricardo; Paulinho, Anderson, Nikola Maras e Djavan; Tiba, Jefferson (Filipe Melo, 70’) e Bressan (Thiago Galvão, 56’); Perdigão (Elnouni, 56’), Platiny e Davidson

Suplentes não utilizados: António Filipe, Pedro Queirós, Massaia e Jorginho

Treinador: Luís Castro

Golos: Bas Dost (7’, 15’, 75’), Acuña (40’, 58’) e Davidson (92’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gelson Martins (31’) e Pedro Tiba (89’)

Um quarto de hora foi suficiente para o holandês bisar. No primeiro remate com a direção certa, o primeiro golo da noite em Alvalade. Canto de Bruno Fernandes à direita, a bola é batida na direção de Dost, o holandês saltou (na verdade, quase não precisou de saltar; esticou-se um pouco…) sozinho, Nikola Maras chegou atrasado ao corte e Ricardo foi batido sem apelo nem agravo. Quando o cabeceamento é feito de cima para baixo como Dost o fez, pouco ou nada um guarda-redes pode fazer. Isto foi aos sete minutos. Aos 15, e ao segundo remate com direção, o segundo golo. Desde a defesa, num passe longo, Bruno Fernandes desmarca Podence na direita, nas costas de Djavan. Depois de deixar a bola tocar o relvado e voltar a subir, Podence cruzou-a em “vólei” para a grande área, Dost escapou-se lá dentro à marcação de Anderson Conceição e bateu Ricardo num cabeceamento preciso.

Bas Dost ainda só tinha marcado um golo em Alvalade esta época. E foi há mais de dois meses, contra o V. Setúbal.

O Sporting insistia, a entrada fora a todo o gás — e por “gás” leia-se Podence e Gelson Martins –, e esteve perto, muito perto do terceiro golo. Aos 29′, à entrada da área, descaído para a direita, Acuña recebeu um passe de Gelson e rematou em jeito, na direção da base do poste esquerdo do Chaves. O remate, forte, ainda desviaria em Anderson Conceição e passou um palmo ao lado da baliza à guarda de Ricardo.

Poucos depois, aos 31′, algo estranho aconteceu. Gelson vê cartão amarelo de Rui Costa por simular uma grande penalidade. O problema é que não simulou nada e, depois de driblar Bressan, foi realmente tocado pelo médio brasileiro. Depois de looooongos minutos a consultar o vídeo-árbitro na linha de fundo, o árbitro manteve a decisão inicial.

Não foi preciso uma grande penalidade para o Sporting chegar ao terceiro. Chegaria antes mesmo do intervalo. Mas até chegar ainda voltou a falhar. Aos 36′, outra vez Podence e Dost a entenderem-se às mil maravilhas — e a fazer com que a defesa transmontana se desentendesse. O português desmarcou, num passe picado para a área, Dost e o holandês, à saída de Ricardo da baliza, picaria igualmente a bola por cima do guarda-redes. O desvio saiu pouco ao lado do poste direito. Quatro minutos depois, três toques, apenas três, rápidos e precisos, até terceiro golo do Sporting. Dost aguenta a pressão da defesa do Chaves e desmarca Gelson nas costas desta. O extremo cruza para a grande área (parte da defesa ainda estava adianta e próxima de Dost), surgindo lá dentro Acuña a encostar, isolado.

O Chaves não tinha uma desvantagem de três golos ao intervalo desde a última jornada do campeonato passado, precisamente contra o Sporting.

Não estranhe não ter lido até aqui sobre qualquer ocasião de golo dos visitantes vindos de Trás-os-Montes. É que não houve qualquer ocasião de golo. A primeira foi logo, logo no recomeço. Mas apelidá-la de “ocasião” é ser cortês em demasia. Platiny isola-se, fica cara a cara com Patrício na grande área, dribla o guarda-redes do Sporting mas não consegue rematar. E não consegue porque Coates cortou a bola para canto in extremis. Voltaremos a conversar sobre o Chaves no final desta crónica.

A velocidade na segunda parte não era vertiginosa como na primeira. Mas a chegar alguém ao golo seria sempre o Sporting. Aos 52′, Gelson fez quuuaaaaase tudo bem. Foi desmarcado por Podence à direita, no interior da grande área, driblou Anderson e deixou-lhe os rins mal-tratados, levantou a cabeça e cruzou/rematou. Não saiu a Gelson nem uma coisa nem outra: Dost não estava lá para desviar (o cruzamento foi para o segundo poste quando o holandês se aproximava do primeiro) e a bola saiu sem a direção da baliza, atravessando toda a área até à linha lateral do lado contrário.

Seis minutos mais tarde, Piccini recuperou a bola, arrancou na direção da grande área e só abrandou quando a entregou em Dost. O holandês estava de costas para a baliza, rodou (algo atabalhoadamente mas rodou, atabalhoando também o central Anderson) mas não remataria. Antes, desmarcou Acuña mais à esquerda e o argentino, num remate forte e colocado, bisou: 4-0 em Alvalade. O quinto golo, terceiro de Bas Dost, chegou a quinze minutos do fim. Gelson acelera em direção à área, não cruza, entregando a bola mais à direita em Piccini. O italiano cruza para o poste mais distante, a bola sobrevoa o guarda-redes Ricardo e caiu rendondinha em Dost, que sem a marcação de Anderson (ganhou quase todas as disputas com o central dos flavienses) só teve que encostar à boca da baliza.

Foi o primeiro hat-trick da época para Bas Dost, o quinto desde que está no Sporting. O último, curiosamente, havia sido contra o… Chaves.

Até final, e no derradeiro minuto de dois de tempo extra que se jogariam, Davidson fez o primeiro remate dos flavienses em todo o encontro. E fez igualmente o golo de uma vida. Entrou na área pela direita, driblou Bruno César, driblaria também Mathieu como faca quente em manteiga derretida, e à saída de Patrício picou a bola por cima do guarda-redes do Sporting.

Jesus ficou enfurecido no banco.