“Não é um ‘making off’ sobre os trabalhos de Sebastião [Salgado], nem um filme sobre um fotógrafo. É sobre uma das grandes testemunhas dos últimos 40 anos”, disse Juliano Salgado, correalizador da obra e filho do fotógrafo, em entrevista à Lusa, na estreia do documentário no Brasil (em Portugal a estreia é a 09 de abril).

O filme, codirigido com o realizador alemão Wim Wenders, teve estreia mundial no ano passado, no Festival de Cannes, onde recebeu uma menção especial do júri, e foi nomeado para o Óscar de melhor documentário, título que conquistou nos “Césares” do cinema francês, assim como o prémio do público em San Sebastian.

A estreia do filme em Portugal vai coincidir com a inauguração da exposição “Génesis”, de Sebastião Salgado, com curadoria de Lélia Wanick Salgado, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa. A mostra é composta por 245 fotografias, feitas entre 2004 e 2011, em ambientes mantidos naturais, no planeta.

Juliano Salgado considerou “genial” o lançamento conjunto, para o público português, mas não arriscou recomendar uma sequência para ver as obras – se primeiro o filme ou a exposição. “Tem de se ver tudo, o filme e a exposição”, disse à Lusa, em São Paulo.

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Os primeiros passos para que a ideia do filme surgisse foram dados durante o projeto “Génesis”, quando o fotógrafo convidou o filho para o acompanhar numa expedição à Amazónia brasileira, para fotografar os índios Zo’és, que vivem de maneira preservada.

Juliano Salgado recordou à Lusa como até então era “distante” do pai, do ponto de vista pessoal, e como temeu viajar ficar isolado com ele, no meio de uma tribo, em plena Amazónia. Mas o ambiente pacifista dos Zo’és contaminou a relação de ambos.

“Quando ele [Sebastião Salgado] viu as imagens que fiz, a forma com que eu o enxergava, se emocionou muito. Isso abriu portas para o filme”, contou o realizador.

As imagens gravadas por Juliano Salgado nessa e noutras expedições de “Génesis” fazem parte do filme. As histórias sobre os projetos anteriores do fotógrafo são retratadas por meio das próprias fotografias e de entrevistas ao fotógrafo feitas por Wim Wenders.

O realizador de “Paris, Texas” e “Viagem a Lisboa”, que já era amigo e admirador de Salgado, enfrentou a dificuldade de gravar alguém que ficava desconfortável com a câmara e com a equipa. Juliano contou à Lusa que o realizador alemão solucionou o problema ao colocar o fotógrafo numa câmara escura, fechada com cortinas pretas, de onde ele só podia ver as fotos e Wenders, mais ninguém.

Sebastião Salgado revela-se um contador de histórias, que dão vida às imagens, desde o garimpo de ouro, em Serra Pelada, no Brasil, até à fome na Etiópia ou a diáspora e o sofrimento no Ruanda.

O filme retrata também a migração do interesse do fotógrafo – o seu olhar privilegiado – para a natureza e as questões ambientais, e a criação do Instituto Terra, após uma ideia de sua mulher, Lélia Salgado, de replantar “mudas de mata atlântica” na fazenda do pai de Salgado, em Minas Gerais, que estava seca.

A iniciativa fez com que a natureza e a água voltassem ao local, e o exemplo está a ser repetido na região.

Atualmente com 71 anos, Salgado está a trabalhar com povos indígenas brasileiros, unindo a fotografia de natureza com a de questões sociais, como o direito à terra.

Fernanda Barbosa, da agência Lusa, em São Paulo