No dia em que se despediu da presidência da Câmara Municipal de Lisboa com uma curta declaração seguida de efusivos aplausos, António Costa não recebeu só elogios. Toda a oposição falou a uma só voz para criticar a liderança de Costa na autarquia enquanto para o Partido Socialista o acontecimento encerra um misto de sentimentos.

“Há um antes e depois de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa”, disse o vereador Duarte Cordeiro, eleito pelo PS. Esse antes e depois é assumido por todos os vereadores, mas se para os socialistas o balanço é positivo, para a oposição não podia ser pior.

“É impossível olhar hoje para a cidade de Lisboa e não ver o legado do dr. António Costa”, referiu Duarte Cordeiro, salientando o trabalho nos espaços verdes, o “trabalho ao nível turístico” que permitiu à capital portuguesa entrar em dezenas de rankings mundiais e ainda a renovação de equipamentos, como o Arco da Rua Augusta.

Ora João Ferreira, vereador comunista, em sentido contrário, considerou que a gestão de Costa fica marcada por, muitas vezes, “interesses particulares prevaleceram sobre o interesse público” e deixou o aviso a Fernando Medina, sucessor do secretário-geral do PS na autarquia: a maioria socialista na câmara continuará “a merecer a oposição do PCP, a denúncia e a proposta”.

Pedidos de eleições antecipadas, ninguém fez. Tanto PSD como CDS e PCP preferem, para já, dar o benefício da dúvida a Fernando Medina, um homem que só chegou ao executivo camarário nas últimas autárquicas e que, para o vereador social-democrata António Prôa, não tem deixado boa marca. “O que ele neste momento tem para apresentar: um orçamento fora de prazo”, no qual está inscrito “um brutal aumento de taxas”.

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Prôa sublinhou ainda, à semelhança do vereador centrista João Gonçalves Pereira, que Medina tem “uma legitimidade inferior” para governar Lisboa, uma vez que “não foi efetivamente escolhido pelos lisboetas para ser presidente”. O social-democrata acredita que Medina terá de se afirmar perante os lisboetas, que pouco o conhecem, e “perante uma equipa que ele não escolheu”, porque foi escolhida por Costa.

Gonçalves Pereira destacou igualmente aquilo que considera ser a falta de legitimidade política de Medina para a câmara de Lisboa, mas disse que não defende eleições antecipadas, “nem na câmara nem no país”.

Já Duarte Cordeiro preferiu falar do sentimento que domina agora a maioria socialista. “É obviamente com um misto de satisfação” que os vereadores veem partir Costa, pois “esta decisão também pode ser muito positiva para o país”. Por outro lado, frisou, também sentem “tristeza”. “Deixamos sair um líder com quem todos temos prazer em trabalhar”.