Primeiro Weigl, depois Darwin Núñez, por fim Taarabt. O Benfica não tinha propriamente registado muitos casos de jogadores infetados no plantel, tendo até ao início da temporada um único teste positivo do jovem David Tavares e já com a época a decorrer o de Svilar. Na paragem das seleções, o cenário mudou e Jorge Jesus acabou por ficar ainda mais condicionado nas opções sabendo que não podia contar com o castigado Otamendi, com os lesionados André Almeida, Todibo, Nuno Tavares e Pedrinho e com o não inscrito Samaris. A manta, até pelo que se percebe nas negociações dos encarnados com o Santos para a contratação de Lucas Veríssimo para janeiro, não era do tamanho desejado pelo técnico. Ficou mais curta. Uma crise que podia tornar-se uma oportunidade.

Benfica volta a ter dois golos de desvantagem mas empata em Glasgow com o Rangers (2-2)

“Fui habituado muito cedo, no Brasil, a ter de trabalhar em cima de jogadores contagiados e comecei a conhecer essa realidade. Pode ser muito complicado para muitas equipas. Por muito cuidado que tenhamos, as viagens são um perigo. Fico com o coração nas mãos quando os jogadores vão às seleções. Mas às vezes alguns jogadores que não são a primeira opção passam a ser e surpreendem-nos. Há males que vêm por bem”, comentou o treinador na conferência de antevisão do jogo em Glasgow frente ao Rangers, que prometia trazer outras complicações ao já complicado cenário que se percebeu na Luz, quando as águias resgataram um empate apenas nos descontos.

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“O Rangers é uma equipa conhecida não só pelo Benfica mas também pelo futebol português. Jogou contra o Sp. Braga, contra o FC Porto. Já demonstrou todos os créditos. O treinador é o mesmo, os jogadores praticamente são os mesmos. Trabalha sob uma ideia de jogo agressiva, não é fácil parar defensivamente o jogo do Rangers. Face à nossa organização defensiva e o que conhecemos desta equipa, estamos preparados para as dificuldades mas não apenas para o aspeto defensivo. Estamos preparados para ser fortes ofensivamente. O que queremos é fazer um jogo equilibrado mas sabemos que vamos ser apertados. Do ponto de vista defensivo temos de estar muito bem, O Rangers joga com muitos jogadores em cima da ultima linha”, apontou Jorge Jesus no lançamento da partida.

Mais uma vez, a parte defensiva numa equipa que consegue criar oportunidades e marcar com relativa facilidade mas que nos últimos encontros antes da paragem para as seleções voltou a mostrar as debilidades não apenas do setor mais recuado mas de toda a equipa sem bola quando a primeira zona de pressão é ultrapassada. Mais uma vez, e depois de várias experiências, Gabriel era a opção para uma posição 6 (que Jesus entende no seu plano ser um 4) que ainda não estabilizou – até pelas ausências de Weigl e Samaris. E este seria outro “teste” para um jogador com mais capacidade até para cumprir essa função mas que não tem rendido como o técnico esperava.

“Ele tem todas as características para ser o médio defensivo de muita qualidade. É rápido, quando defensivamente a equipa precisa de organização defensiva ele faz isso. Tem muito mais condições para ser um primeiro médio do que um segundo médio. Nos primeiros jogos do Benfica esteve muito bem. Quando demos alguma rotatividade, foi aí que comecei a modificar entre ele e o Weigl. Foi mais por esse motivo, um ou outro jogo não esteve ao nível de outros jogos. Satisfez-me sempre o comportamento dele. Aquela posição é sempre uma daquelas onde mais exigo, em termos táticos”, explicou, antes de fintar uma pergunta que colocava a hipótese de Weigl poder sair em janeiro e de William Carvalho, internacional português e ex-jogador no Sporting, ser opção no próximo mercado.

Na primeira parte, foi daí que surgiu grande parte dos problemas, até porque a opção em Chiquinho como 8 foi uma tentativa falhada. E se o “novo” guarda-redes, Helton Leite (que voltou a deixar Vlachodimos no banco), e os centrais não tiveram um mau jogo, a dinâmica de transições voltou a ficar muitas vezes gripada. Depois, já com uma desvantagem de 2-0, Jesus lançou Gonçalo Ramos, o jovem avançado de quem assumiu esperar mais no último jogo frente ao Paredes. Foi com ele que os encarnados melhoraram, foi com ele que o empate surgiu no derradeiro quarto de hora. Hoje os papéis inverteram-se e foi o dianteiro que esperava mais do técnico.

Ficha de jogo

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Rangers-Benfica, 2-2

4.ª jornada do grupo D da Liga Europa

Ibrox Stadium, em Glasgow (Escócia)

Árbitro: Radu Petrescu (Roménia)

Rangers: McGregor; Tavernier, Goldson, Balogun, Barisic; Steven Davis, Arfield, Kamara; Roofe, Ryan Kent e Morelos

Suplentes não utilizados: McLaughlin, Bassey, Helander, King, Hagi, Barjonas, Dickson, Itten, Barker e Stewart

Treinador: Steven Gerrard

Benfica: Helton Leite; Gilberto (Gonçalo Ramos, 69′), Jardel, Vertonghen e Grimaldo; Gabriel, Chiquinho (Pizzi, 56′); Rafa, Everton Cebolinha, Waldschmidt (Diogo Gonçalves, 56′) e Seferovic (Ferro, 90+2′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Vlachodimos, João Ferreira, Paulo Bernardo, Cervi e Tiago Araújo

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Artfield (7′), Roofe (69′), Tavernier (78′, p.b.) e Pizzi (81′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gabriel (16′), Chiquinho (42′), Kamara (80′) e Vertonghen (83′)

Everton Cebolinha até teve a primeira tentativa de aproximação do encontro mas bastou o Rangers ser objetivo na abordagem ao último terço dos encarnados para inaugurar o marcador, numa jogada onde toda a equipa das águias não esteve bem mas a “culpa” recaiu na defesa: Grimaldo foi macio na forma de defender no lado esquerdo, esse cruzamento longo foi parar ao flanco contrário onde Rafa não acompanhou o lateral contrário, Helton Leite ainda evitou com uma grande defesa o primeiro cabeceamento, Tavernier desviou à trave e Arfield rematou forte para o 1-0 quando os dois médios centrais estavam mais a olhar do que a ganhar posição na área (7′). Sem ter feito muito por isso, o conjunto escocês estava na frente; com muito demérito próprio, os lisboetas partiam em desvantagem. E com esse lance de total adormecimento coletivo a equipa teria de combater uma estatística em nada positiva na presente temporada: sempre que começou a perder, o Benfica nunca conseguira dar a volta.

Everton, mais uma vez, agora após combinação com Grimaldo, ainda fez uma boa diagonal com remate por cima da baliza de McGregor. E, mais perto do intervalo, Rafa apareceu bem na área após assistência do brasileiro mas o remate acabou por ser cortado para canto. A perder, o Benfica não conseguiu enquadrar nem um remate, jogando quase sempre pelos corredores laterais mas sem conseguir depois criar situações de finalização no meio. Mais do que isso, apresentava outros pormenores como o facto de quatro jogadores chegarem quase ao intervalo sem qualquer ação defensiva. Se os centrais, dentro da dificuldade que é travar avançados como as características de Morelos, iam dando conta do recado, a experiência de Chiquinho no meio-campo foi um ato falhado e o jogo entre linhas mais na frente que pedia Waldschmidt foi sempre uma ideia teórica sem efeito prático.

Jesus acreditou ao intervalo que, corrigindo posicionamentos e não jogadores, poderia chegar ao empate e houve até um ameaça inicial de Luca Waldschmidt a desviar ao lado numa entrada ao primeiro poste (48′). Continuava curto, apesar das investidas individuais de Rafa (de novo o mais inconformado da equipa). E curto ficou com as primeiras substituições, que colocaram Pizzi a 8 ao lado de Gabriel e Diogo Gonçalves como ala à frente do lateral Gabriel. Seferovic, num remate de fora da área que saiu muito fraco e ao lado, arriscava outras formas de chegar à baliza (59′). Do outro lado, bastou o Rangers conseguir fazer uma boa transição e chegar ao segundo golo, com Roofe a receber a bola entre linhas e a rematar ao ângulo sem hipóteses para Helton Leite (69′).

No mesmo minuto, Jorge Jesus lançou Gonçalo Ramos no lugar de Gilberto, recuando Diogo Gonçalves de novo para lateral. O jovem avançado não marcou mas foi um dos impulsionadores do melhor período do Benfica no jogo mesmo com um percalço pelo meio: Tavernier fez um autogolo após remate prensado de Seferovic na área com Gonçalo Ramos a fazer a recarga para defesa de McGregor (78′), Helton Leite teve uma intervenção num tiro à queima roupa que ainda bateu na trave de forma caprichosa (80′) e Pizzi fez o empate no seguimento de uma jogada de combinação entre Rafa e Gonçalo Ramos com um remate de pé esquerdo na área (81′). Tal como já tinha acontecido na Luz, os encarnados recuperaram de uma desvantagem de dois golos e resgatou um empate que foi importante para manter as hipóteses de chegar ao primeiro lugar mas que voltou a mostrar as mesmas carências que tinha antes da última paragem para os compromissos das seleções nacionais.