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Mesmo fora do próprio quintal, continua a ser um Horta a ditar as leis (a crónica do Sp. Braga-Benfica)

Este artigo tem mais de 3 anos

Marcou contra o Sporting na meia-final de 2020, fez o golo contra o FC Porto que deu a última Taça da Liga ao Sp. Braga. Com o Benfica, Ricardo Horta fez duas assistências e pôs os minhotos na final.

SC Braga v SL Benfica - Taca da Liga
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O avançado português foi crucial no triunfo que colocou a equipa de Carlos Carvalhal na final do próximo sábado

Getty Images

O avançado português foi crucial no triunfo que colocou a equipa de Carlos Carvalhal na final do próximo sábado

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Existe um chavão muito dito e repetido por jogadores, treinadores, comentadores e especialistas. “O futebol não é uma ciência exata”, ouve-se tantas vezes, para explicar que nunca se pode fazer uma antevisão perfeita, uma antecipação sem falhas ou um planeamento sem ponderar todas as condicionantes. Um mais um pode não ser dois, uma multiplicação pode não ter um resultado certo, uma divisão nem sempre é simples. O futebol não é matemático, não é exato e está longe de ser previsível. E é por tudo isso que a pandemia que todos vivemos e que dia após dia regista as 24 horas mais negras desde que chegou veio tornar o futebol ainda mais cru. Ainda menos uma ciência exata.

Perder um jogador não é apenas perder um jogador. Não é como perder uma peça do dominó que é facilmente substituída por outra que cumpre o mesmo papel, com as mesmas tarefas e responsabilidades. Perder um jogador titular a escassas horas do apito inicial devido a um teste positivo para a Covid-19 não é apenas perder um nome, um elemento, uma peça de dominó — implica mudar tudo o que está à volta desse jogador. E nem se trata apenas da qualidade de um ou de outro, do que faz com que um seja titular e o outro suplente. Trata-se das diferenças que distinguem todos os ser humanos: a velocidade de um ou de outro, a intensidade de um ou de outro, a capacidade de passe de um ou de outro. Até o momento de forma, o cansaço, a disponibilidade psicológica. Um extraordinário sem fim de características que fazem com que perder um jogador a horas de um jogo não seja apenas trocar uma peça.

Ficha de jogo

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Sp. Braga-Benfica, 2-1

Meia-final da Taça da Liga

Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Sp. Braga: Matheus, Ricardo Esgaio, Tormena, David Carmo, Sequeira, Al Musrati, Castro (João Novais, 78′), Ricardo Horta (Piazon, 83′), Fransérgio, Galeno (Iuri Medeiros, 90+1′), Abel Ruiz (Paulinho, 78′)

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Rolando, Raúl Silva, André Horta, Schettine

Treinador: Carlos Carvalhal

Benfica: Helton Leite, João Ferreira, Todibo (Ferro, 69′), Jardel, Cervi, Weigl, Pizzi (Gonçalo Ramos, 90+1′), Taarabt, Rafa (Everton, 69′), Seferovic (Pedrinho, 69′), Darwin

Suplentes não utilizados: Vlachodimos, Gabriel, Chiquinho, Samaris, Ferreyra

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Abel Ruiz (28′), Pizzi (gp, 45′), Tormena (59′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Castro (20′), a Sequeira (34′), a Todibo (38′), a Weigl (52′), a Ricardo Esgaio (66′), a Jardel (83′), a Fransérgio (90+4′)

Esta quarta-feira, o Benfica tinha a tarefa hercúlea de mudar quase todos os jogadores de uma equipa, adaptar um sistema tático e entrar em campo com poucos dos elementos habitualmente titulares. Um extenso surto de Covid-19 no plantel deixou Jorge Jesus sem os colegas da equipa técnica, todos infetados, e ainda sem sete jogadores no espaço de três dias: Waldschmidt, Gilberto, Vertonghen, Diogo Gonçalves, Grimaldo, Otamendi e Nuno Tavares. Ou seja, e em resumo, Jorge Jesus não tinha uma opção óbvia para lateral direito, não tinha uma opção natural para lateral esquerdo e as três opções que tinha para o centro da defesa limitavam-se a um jogador que tem estado a braços com lesões nos últimos anos, um jogador que está à beira de sair do clube e um outro que fez um único jogo pelo Benfica.

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Os encarnados chegaram a ponderar não jogar esta quarta-feira, chegaram a ponderar parar toda a atividade durante 14 dias e esperaram pelos conselhos das autoridades de saúde. Confrontados com a demora da resposta, decidiram ir a jogo. Jorge Jesus ainda esteve em risco, depois de ter sentido alguns sintomas, mas testou negativo e era o único elemento da equipa técnica encarnada a marcar presença na meia-final da Taça da Liga, contra o Sp. Braga. Uma meia-final em que a equipa da Luz encontrava um adversário com quem já tinha perdido em casa esta temporada e onde entrava já ciente de que uma eventual passagem à final significava encontrar o Sporting no próximo sábado.

Uma defesa (ainda mais) dizimada: Otamendi e Nuno Tavares dão também positivo e Benfica tem nove jogadores de fora

A mais de uma hora do apito inicial no Dr. Magalhães Pessoa, as dúvidas sobre o onze inicial encarnado foram dissipadas — e acabaram por confirmar as antecipações que haviam sido feitas. João Ferreira, de apenas 19 anos, era a solução para a direita da defesa; Cervi era a adaptação na lateral esquerda; Todibo e Jardel formavam a dupla no eixo defensivo. Daí para a frente, tudo mais ou menos normal, com Pizzi, Weigl, Taarabt e Rafa no meio-campo e Seferovic em conjunto com Darwin no ataque. Everton Cebolinha, que chegou a estar afastado da partida quando a mulher testou positivo, foi autorizado a estar na partida e começava no banco de suplentes, tal como Helton Leite era o guarda-redes. Do outro lado, o grande destaque era a ausência de Paulinho, que não recuperou por completo da lesão muscular sofrida contra o Sporting, era suplente e cedia o lugar no onze a Abel Ruiz.

O Benfica chegava a esta meia-final depois de um empate no Dragão com o FC Porto em que foi superior, o Sp. Braga chegava a esta meia-final depois de uma derrota em Paços de Ferreira em que se afastou dos rivais diretos — mas ainda como detentor do troféu, depois de derrotar os dragões na final de 2020, ainda com Rúben Amorim ao leme da equipa. Os primeiros instantes permitiram desde logo perceber qual era a solução tática que Jorge Jesus tinha encontrado para a partida: a defender, os encarnados apresentavam uma linha defensiva de cinco jogadores, com Weigl a atuar como terceiro central no meio de Jardel e Todibo, para oferecer mais segurança a um setor totalmente renovado. Quando a equipa tinha a bola, o médio alemão avançava ligeiramente para dar apoio à primeira fase de construção e Cervi e João Ferreira também subiam nos corredores. Mais à frente, Pizzi e Taarabt ocupavam um espaço intermédio, Darwin tombava na esquerda e Rafa na direita, com Seferovic a ficar numa posição mais central e destacada no ataque.

O primeiro lance de perigo apareceu logo nos segundos iniciais, com Helton Leite a recolher um cruzamento que já tinha destinatário na grande área (1′). O Benfica reagiu rapidamente a uma entrada positiva do Sp. Braga e deixou perceber que Darwin era o homem a ter em conta no ataque. O avançado uruguaio fez o primeiro remate da partida, ao atirar ao lado depois de um passe de Cervi (4′), e falhou por pouco dois desvios que seriam letais, primeiro a um cruzamento de Seferovic (13′) e depois a outro do mesmo Cervi (23′). A movimentação de Darwin era mesmo a chave do processo ofensivo dos encarnados: o avançado, descaído na esquerda, aproximava-se frequentemente da faixa central e de Seferovic e não só duplicava as opções na grande área como oferecia por completo o corredor esquerdo a Cervi. O argentino, adaptado à posição de ala esquerdo, ia sendo o principal motor da equipa — ainda que motivando muita preocupação a Jorge Jesus, que corrigia insistentemente a posição defensiva do jogador a partir da linha técnica.

O maior exemplo do desenho ofensivo do Benfica surgiu na melhor fase dos encarnados, pouco de serem cumpridos os 20 minutos iniciais, com Pizzi a rematar ao lado depois de um passe atrasado de Cervi a partir da esquerda (26′). A equipa de Jesus estava a conseguir encurtar o espaço que permitia ao Sp. Braga e os minhotos atuavam em pouco mais de 40 metros, algo surpreendidos pela intensidade da pressão adversária. Tudo mudou, porém, com um rasgo de Ricardo Horta. Num lance de insistência na esquerda, o avançado tirou um cruzamento largo e viu a bola ser ligeiramente desviada de cabeça por Abel Ruiz (28′), com o espanhol a fazer o quinto golo da temporada.

Depois de aberto o marcador, o jogo entrou numa fase de dez minutos pouco característicos, em que o Benfica não conseguiu reagir de imediato à desvantagem e o Sp. Braga não conseguiu capitalizar desde logo a vantagem. A partida voltou a acelerar nos instantes que antecederam o intervalo e Fransérgio esteve muito perto de aproveitar a passividade da defesa encarnada — que não conseguia esconder, pelo menos na zona central, a falta de competitividade — com um cabeceamento em salto de peixe que saiu ao lado (40′). A ameaça do segundo golo espicaçou o Benfica, que nos últimos três minutos da primeira parte conseguiu criar duas enormes oportunidades e marcar um golo. Darwin acertou no poste com um pontapé com muita força (42′), Matheus defendeu um cabeceamento de Seferovic (43′) e o avançado uruguaio acabou por ser carregado em falta por David Carmo na grande área, abrindo a porta ao golo de Pizzi na conversão da grande penalidade (45′). Ao intervalo, Sp. Braga e Benfica iam para os balneários empatados depois de 45 minutos equilibrados mas bastante mexidos.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Sp. Braga-Benfica:]

Na segunda parte, sem que nenhum dos treinadores tivesse feito qualquer alteração, a primeira oportunidade pertenceu desde logo ao Benfica, com Pizzi a aparecer à entrada da grande área a rematar em jeito para uma enorme defesa de Matheus (46′). O lance do internacional português foi a primeira prova de que os encarnados tinham regressado melhor do que os minhotos, com maior mobilidade e intensidade, mas a verdade é que tudo se complicava para a equipa de Jorge Jesus sempre que o Sp. Braga conseguia passar do meio-campo.

A equipa de Carlos Carvalhal conseguiu responder à melhor entrada do Benfica na segunda parte, conquistando metros à medida que o relógio avançava e explorando as fragilidades defensivas do adversário, que se acumulavam na zona central. Fransérgio foi o primeiro a avisar, com um cabeceamento à trave na sequência de um livre a partir da esquerda (58′), e o golo não demorou mais a chegar. Numa jogada de insistência, Ricardo Horta voltou a cruzar da esquerda e viu Tormena a aparecer sozinho nas costas de Todibo para cabecear e colocar o Sp. Braga novamente a ganhar (59′). O central francês ficou mal na fotografia e parecia claramente longe das melhores condições físicas, sem ritmo nem intensidade.

O Benfica tinha bola mas não tinha dinâmica ofensiva, escasseando os movimentos de rotura nas costas da defesa. Cervi e Darwin, na esquerda, continuavam a ser os principais inconformados mas raramente conseguiam ser solicitados em condições, tanto por passes errados dos colegas de equipa como pela insistência que os encarnados aplicavam num preenchido corredor central. Nesta fase, Rafa ainda obrigou Matheus a uma boa defesa (68′), Fransérgio marcou mas o golo foi anulado por fora de jogo (69′) e Jorge Jesus reagiu à desvantagem com uma tripla substituição, tirando Todibo, Rafa e Seferovic para lançar Ferro, Everton e Pedrinho. Nesta altura, uma nota de reportagem: Jesus, desprovido da restante equipa técnica, era auxiliado por Samaris na hora de explicar aos jogadores que iriam entrar a função que teriam em campo.

Taarabt entrou para o lugar de Chiquinho e Carlos Carvalhal mexeu pela primeira vez a pouco mais de dez minutos do fim, trocando Abel Ruiz e Castro por Paulinho e João Novais. O Sp. Braga recuou por completo na fase derradeira da partida, com o objetivo de blindar a valiosa vantagem e passando a atacar apenas em transição rápida e depois de recuperações de bola, tentando aproveitar a frescura dos dois elementos recém-entrados. O Benfica estava totalmente acampado no meio-campo adversário mas não conseguia criar verdadeiras oportunidades de golo, alternando entre cruzamentos demasiado largos e incursões individuais pelo corredor central que terminavam sem consequências.

Até ao fim, Piazon, Iuri Medeiros e Gonçalo Ramos ainda entraram, Paulinho atirou ao lado depois de um erro de Ferro (89′), Everton rematou para Matheus encaixar (90+1′) mas o resultado não voltou a alterar-se. O Sp. Braga venceu o Benfica pela terceira vez consecutiva e vai disputar contra o Sporting a final da Taça da Liga pelo segundo ano seguido e como detentor do título. Ao fim de três temporadas, a terceira competição nacional saiu de Braga e deixou a Pedreira: mas Ricardo Horta parece nem ter sentido a diferença. Depois de ter marcado na meia-final da época passada contra o Sporting, de ter feito o golo da vitória na final da época passada contra o FC Porto, o avançado fez as duas assistências para os golos do Sp. Braga para o Benfica e foi a peça fulcral do triunfo da equipa de Carlos Carvalhal.

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