895kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A "gerinponcha" que pode inspirar Montenegro para o futuro. Albuquerque tenta coligação com IL (mas com PAN à espreita)

PSD/Madeira tenta acordo com a IL que seria balão de ensaio para o continente. Albuquerque privilegia ter mais de uma alternativa e PAN está disponível. Vitória de sabor amargo pode dar em gerinponcha

Os semblantes ficaram pesados e o pátio da sede PSD/CDS começou a gelar, apesar do calor tropical: Miguel Albuquerque ia vencer as regionais, mas sem maioria. A confirmação (da eleição de apenas 23 deputados, a um da maioria) caiu quando Luís Montenegro se preparava para falar na base da coligação ‘Somos Madeira’. O presidente do PSD só apareceria quase uma hora depois. E há uma razão para isso: Montenegro e Albuquerque combinaram, nesse tempo, excluir o Chega de qualquer solução governativa e orientar o discurso para a continuidade do atual presidente do governo regional. Nada de demissões.

Ainda antes de Miguel Albuquerque chegar à sala, no Instituto do Vinho, no Funchal, o Observador sabe que houve telefonemas entre Luís Montenegro e Rui Rocha e também entre Miguel Albuquerque e Nuno Morna, por quem a estrutura do PSD não morre de amores. “Houve contactos a vários níveis”, confirmaram fontes de ambos os partidos. Para não ficar excessivamente dependente da IL, o PSD encetou também contactos com o PAN, que, pelo seu lado, abriu as portas à “negociação”. Pode, assim, estar a caminho uma “gerinponcha” na Madeira, que pode ter as seguintes configurações: PSD/CDS+IL; PSD/CDS+PAN; ou PSD/CDS+IL+PAN. Há aqui um detalhe: o CDS terá informado o PSD que, em princípio, vetará um acordo com a IL, o que dá força à solução PAN.

O primeiro a delinear a estratégia foi Luís Montenegro, que parecia querer vender a ideia de que perder a maioria era quase melhor do que ter cumprido o objetivo eleitoral de a manter. O presidente do PSD começou por dizer que não se metia na autonomia, mas deu uma garantia ainda antes de Albuquerque: “Não haverá nenhuma solução governativa na Madeira que tenha a contribuição do Chega.” E foi mais taxativo do que alguma vez tinha sido a nível nacional: “Não vamos governar nem a Madeira, nem o país, com o apoio do Chega”.

Segundo passo: enaltecer a vitória de Albuquerque com o resultado de Costa nas legislativas. Afinal, explicou Montenegro, o PSD e o CDS tinham obtido 43,1% dos votos, mais do que os 41,37% que deram a maioria absoluta a António Costa. Ou seja: na leitura de Montenegro foi uma “vitória em toda a linha” e não haver maioria é um capricho do método d’Hondt. Nacionalizando e puxando a si a vitória, o líder do PSD dizia mesmo uma espécie de resultado ao intervalo: “”Montenegro-1; Costa-0“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A vez de Albuquerque: um mortal que dá vida

Minutos depois, era a vez Miguel Albuquerque, dar um pequeno mortal à retaguarda, tentando convencer toda a gente que o que tinha dito não era que se demitia caso não atingisse a maioria, mas apenas que se demitia caso não conseguisse negociar uma maioria para governar após as eleições. Foi um mortal que, no entanto, o manteve vivo.

Na entrevista ao Observador e em dezenas de outras intervenções Miguel Albuquerque tinha dito: “Ou tenho maioria ou não tenho condições para governar.” Na quarta-feira, o candidato do PSD foi questionado diretamente pelo Observador sobre se não faria acordo com a Iniciativa Liberal, ao que Albuquerque respondeu: “Tenho muitas dificuldades num quadro desses porque não posso fazer Governo neste momento, a negociar orçamento a orçamento, proposta a proposta. É um inferno. Depois, não conseguimos concretizar aquilo que propomos aos eleitores. Portanto, é um pouco difícil.”

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre se há leituras nacionais a fazer das eleições na Madeira.

Montenegro ganha alguma coisa com a Madeira?

Como parte da estratégia, Miguel Albuquerque enalteceu ainda a sua vitória, lembrando que teve mais percentagem que Costa nas legislativas e também que venceu “em todos os 11 concelhos da Madeira” e em “52 das 54 freguesias” do arquipélago. Depois garantiu que “amanhã ou depois de amanhã” irá apresentar uma solução de governação, mas que “está excluída em qualquer circunstância o Chega”. Na sala muitos militantes e dirigentes regionais do PSD falavam mais na hipótese PAN do que na Iniciativa Liberal, embora o Observador saiba que os contactos vão neste momento mais avançados com os liberais.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

IL um parceiro mais natural, mas PAN também disponível

Se Miguel Albuquerque não quis apresentar logo o nome dos partidos com quem estava a negociar, estes acabaram por se denunciar. Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, disse que o partido tem “total disponibilidade” para se sentar à mesa com a coligação PSD/CDS e que “não será pela IL que Madeira não terá uma solução de estabilidade governativa para os próximos tempos”. O Observador confirmou depois que, quando Rocha falou, as negociações entre sociais-democratas e liberais já tinham sido iniciadas.

Luís Montenegro deixou pistas de que este acordo com a IL pode ser um balão de ensaio para o Governo da República. “Quem me dera ter este resultado nas legislativas”, confessou o presidente do PSD. O líder social-democrata disse que se ia “inspirar” na vitória da Madeira na sexta-feira, quando a maioria absoluta era provável. Agora, Montenegro parece testar as relações com a IL ao afastar de vez o Chega e dizer que até não se importava de depender da IL para governar a nível nacional. O almoço do Campo Grande, que juntou os líderes de PSD e IL em maio num restaurante no Campo Grande pode ter agora o seu primeiro teste de stress.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mas Albuquerque pode não querer ficar apenas nas mãos dos liberais (lá vem, de novo a desconfiança do PSD com o ex-CDS, Nuno Morna). Mais do que isso: o próprio CDS está a colocar entraves a este cenário. Apesar de a IL ser um parceiro mais natural, o PAN está à espreita para influenciar a governação e ser a (ou uma das) soluções. A líder do PAN, Inês Sousa Real, disse em declarações ao Observador que está “disponível para ouvir” o PSD sobre soluções que deem “estabilidade” à região. Inês Sousa Real considera que uma maioria absoluta “não é saudável” e o PAN está disponível para aumentar a pluralidade “no contexto de reuniões entre partidos que são normais em democracia após resultados eleitorais”.

Também a deputada eleita do PAN, Mónica Freitas, disse ao Observador que para o partido “é importante não haver maioria absoluta”, mas que o PAN está disponível para o “normal diálogo e negociação” a partir de amanhã. Revelou ainda que Miguel Albuquerque (ainda) não lhe tinha ligado.

Costa perdeu a obsessão, mas acabou de camarote

O PS desceu de 35,8% dos votos para 21,3% nas regionais da Madeira, o que representa uma perda de 22.363 votos e a redução da bancada de 19 para 11 deputados. Está assim cada vez mais longe aquela que foi a confessa “obsessão” de António Costa: ver os socialistas governar a Madeira. Mas a derrota estrondosa do PS  acabou por passar despercebida. O líder do PS/M, Sérgio Gonçalves, que nem sequer respondeu a perguntas de jornalistas, não se demitiu do cargo e pediu a demissão de Albuquerque.

António Costa, que em 2019 tinha feito declarações públicas com pompa a falar do “resultado histórico” de Paulo Cafôfo, agora fugiu das câmaras e colocou o secretário-geral adjunto do PS a reagir aos resultados. João Torres admitiu um resultado “aquém do desejado” e prometeu que “o PS não volta as costas à Madeira”.

A perda de maioria absoluta por parte de PSD e CDS acabou por mascarar a derrota socialista e António Costa acabou de camarote a gozar o prato a partir de São Bento, com uma nota repleta de ironia política: “O primeiro-ministro felicitou o Presidente do Governo Regional da Madeira pelo resultado eleitoral hoje alcançado, com votos de continuação de bom trabalho em prol da Região e do País.” Não deu a cara pela derrota, mas mandou uma farpa cheia de habilidade semântica.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ventura completa implantação nacional, mas torna-se irrelevante na governação

O que fica claro é que ninguém quer mesmo nada com o Chega. O partido teve uma vitória relevante, mas com um travo amargo. O crescimento face a 2019 (quando tiveram apenas 619 votos) é fulgurante, mas apesar de eleger quatro deputados para o parlamento regional e ser a quarta força fica de fora de qualquer solução governativa (ao contrário do que aconteceu nos Açores) e vê o seu adversário do espaço não-socialista (a Iniciativa Liberal) a assumir essa relevância.

André Ventura pode, no entanto, reivindicar o mérito da vitória para ele já que — ao contrário de todos os outros partidos — o Chega era o único que tinha a cara do líder nos outdoors e cartazes na região. Na campanha nas ruas, os eleitores também mostraram nem sequer saber quem era o candidato do Chega, Miguel Castro, mas muitos abordam o presidente do Chega quase como uma estrela.

Apesar disso, Ventura cimenta a ideia do Chega como um partido com implementação nacional, presente, como ele referiu, nos três Parlamentos do País: Assembleia da República, Madeira e Açores. Isto depois de já se ter afirmado como quarta força nas regionais dos Açores e nas autárquicas. Apesar de serem eleições com um cariz localizado, o resultado ajuda a contrariar a ideia (muitas vezes vinculada entre dirigentes de PSD e IL) que o Chega está a perder gás e perto de atingir o seu máximo eleitoral.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Conquista ‘Morna’ pode pôr coligação PSD-IL a fervilhar

Os liberais vivem de resultados, mas na Madeira o problema foi de expectativas. Seria sempre uma vitória histórica um partido que começou por ser o “partido do Twitter” e se tornou num partido urbano-chic eleger num parlamento regional numa região autónoma (mesmo que à boleia do muito urbanizado Funchal). Completar o tríptico AR-Açores-Madeira também seria sempre motivo de regozijo de um partido com tão poucos anos de existência. E é.

Na moção de estratégia que apresentou à liderança, Rui Rocha definiu um objetivo muito claro: eleger uma bancada parlamentar (leia-se, dois deputados). Com a eleição de apenas um, pela bitola de um liberal, os objetivo aparentemente tinha falhado. O próprio presidente da IL disse ao Observador que este “seria um objetivo de menor alcance”. Nuno Morna falou em “serviços mínimos”. No entanto, a dependência do PSD de um acordo com os liberais faz dos 3.555 votos da IL mais relevantes para a governação que os 12.028 do Chega. A IL passou de uma vitória Morna a um player na governação.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Comunistas dão prova de vida na Madeira

Os militantes e dirigentes comunistas costumam afirmar — mesmo perante a crise — que o PCP sobrevive mesmo que não tenha representatividade, pois tem no seu ADN um histórico de atividade e influência mesmo na cladestinidade. Já lá vão os tempos em que os comunistas ganhavam sempre, mesmo quando não ganhavam. Depois da quebra eleitoral nas legislativas de 2022, o partido afundou ainda mais — de acordo com as sondagens — devido à posição mais próxima da Rússia que tem na Guerra da Ucrânia. Estas foram as primeiras eleições depois do “fator-Ucrânia” e a CDU passou no teste. Ao mesmo tempo, a CDU consegue a vitória na mini-liga que tem com o Bloco: as sondagens davam os bloquistas à frente, mas esse cenário ficou longe de acontecer.

O Bloco de Esquerda cumpriu o objetivo eleitoral de regressar ao Parlamento regional, mas ficou atrás de PAN, IL, CDU e JPP.  Há ainda uma outra leitura em que a Madeira pode servir de balão de ensaio para o continente. Há quatro anos, a bipolarização Albuquerque-Cafôfo fez o Bloco de Esquerda e o PCP perderem quase metade dos seus eleitores para o voto útil nos socialistas. O resultado deste domingo comprova que, perante a desilusão da não-mudança, o eleitorado não teve problemas em regressar à origem. Saiu-se melhor o PCP neste particular do que o BE.

Apesar da guerra de irmãos, o JPP recuperou os cinco deputados que tinha conquistado na estreia em 2015. Foi não só uma vitória do partido que tem o seu bastião em Santa Cruz, mas também de Élvio Sousa sobre o irmão Filipe. O autarca de Santa Cruz achava que o quinto lugar não era digno, mas o irmão provou que não só era digno, como elegível. Os gauleses prosseguem fortes, mas sem relevância para efeitos de governação. Albuquerque fartou-se de avisar que nada estava ganho. E acertou.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.