A vegetação muda-nos. Acalma-nos a frequência cardíaca, baixa-nos a temperatura e deixa-nos relaxados. É isto que pensamos assim que, num dia tórrido de verão, nos sentamos na esplanada do pátio interior do Hotel Hotel. É uma espécie de oásis urbano: tem um jardim vertical e está repleto de plantas. O espaço é complementado por uma piscina que se esconde por detrás do verde das folhas, onde, relata-nos Alexandre Martins, um dos proprietários da unidade de quatro estrelas, outrora existia um parque de estacionamento. O sítio estava antes fechado com telhas, cuja estrutura ainda é hoje visível, ainda que o céu esteja agora a descoberto. “Quisemos partir o betão que caracteriza as cidades e trazer o verde para a Avenida liberdade.”
Parte do grupo Design Hotels, é aqui, na Travessa da Glória, que vai abrir a 7 de junho o Animal, primeiro restaurante do Hotel Hotel. Apesar da unidade já estar a funcionar desde 2021, Alexandre preferiu respeitar a lógica do espaço e manter a calma. Alinhar bem as ideias e criar um projeto que fizesse match com a filosofia do Hotel Hotel. “Pausado é uma palavra importante. Não queremos perder a calma. Queremos que este seja um lugar onde as pessoas vêm respirar.”
Um casual dining cuidado, que partilha do mesmo DNA do local em que se insere. Um DNA que não se esconde por detrás de conceitos fechados e que põe a tónica nas pessoas, no cruzamento das experiências de cada uma delas, a fórmula certa, considera, para um projeto que seja dinâmico, fluído, fértil e nunca o contrário disso.
Uma carta inclusiva e que é “presente e futuro”
O chef deste Animal é Carlos Soares, que veio do restaurante Praia no hotel Vila Joya, no Algarve. Da equipa fazem parte também os japoneses Saito Kosuke, encarregue da barra de sushi, assim como Kozue Morimoto, chef de pastelaria aos comandos das sobremesas. Com a aposta na diversidade da equipa, surge assim uma oferta em que se cruzam “influências gastronómicas”, que bebe da tradição portuguesa, da japonesa e que vai ainda buscar inspiração à América do Sul.
Com 80 lugares (40 no exterior e 40 no interior), a construção da carta, revela Carlos Soares, partiu de quatro pilares: o cru, o vegetal, o animal e o fogo. “O resultado é o de uma cozinha muito fresca, que utiliza o que é na local e sazonal”, conta.
Percorrer o menu revela-nos que também aqueles que não consomem proteína de origem animal têm aqui uma série de alternativas pensadas de raiz para eles — estão devidamente assinaladas com uma pequena folha. “Temos 20 opções vegan e outras vegetarianas”, destaca Alexandre Martins. “Não queremos ser fundamentalistas. Somos inclusivos e por isso temos opções para toda a gente. É muito comum sentarmo-nos com os nossos amigos e um ser vegan, outro adorar carne, um querer um cocktail e outro um sumo detox. Queremos respeitar esta diversidade. Por isso, a nossa carta reflete uma oferta presente e futuro”.
Os pratos que nos chegam à mesa refletem aquilo de que temos estado a falar: primeiro, um sashimi fresquíssimo, que mistura atum, salmão, carapau e lírio. Depois, no campo das entradas, uma burrata cremosa com texturas de beterraba. Para o prato principal, um couscous pensado para veganos, com bróculos, espargos e lim — calhou bem, não fosse a sua frescura ideal para saborear num dia de calor. O ceviche de peixe, maracujá e abacate vem depois e volta a cumprir os requisitos da leveza de verão.
O semifrio de maracujá e coco vem para adoçar e fechar a refeição e reflete o perfeccionismo japonês de Morimoto. A somar ao sabor, cremosidade e variedade de texturas, é de sublinhar também a criatividade.
Uma loja de tatuagens, um estudio de yoga e decoração da Underdogs
Criatividade é, aliás, uma palavra importante quando falamos do Animal e do Hotel Hotel. Uma competência valorizada e que, na opinião de Alexandre Martins, quando partilhada, funciona como uma espécie de impulsor. Essa ideia está presente na cozinha e na carta, com todas as suas influências, mas também no resto da unidade hoteleira.
Wasted Rita, Andre la Loba, Akacorleone são alguns dos artistas que marcam presença, através da sua obra, no Hotel Hotel — os quartos da unidade contam ainda com peças da Underdogs Editions. Alexandre Martins revela-nos que no espaço é possível encontrar uma tattoo store, que conta com a curadoria da Queen of Arts que traz ao Hotel Hotel tatuadores de diferentes partes do mundo, que aqui podem ficar hospedados e ocupar a loja. É uma espécie de residência, num modelo que deverá, em breve, ser aplicado também a um estúdio de yoga. “Isto é um projeto vivo. Um projeto em movimento. Queremos que a nossa tribo cresça e queremos um espaço habitado.”
Um hotel pensado para quem vem visitar Lisboa (embora não exclua ninguém), e um restaurante pensado para todos, mas sobretudo para os que querem desfrutar de uma relação sem pressa num oásis urbano.
O Animal do Hotel Hotel fica no número 22 da Travessa da Glória. A carta do restaurante é servida do 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h30.