A Wikipédia diz que Branko é um “DJ e produtor” musical português, mas todos sabemos que a Wikipédia não é a melhor fonte de informação exata. Sim, Branko é um DJ e produtor musical. Sim, produzir, compor e tocar música ao vivo é o que o torna mediático. E no entanto, Branko, que tem como nome de batismo João Barbosa, não é só um DJ e um produtor musical, se calhar não o é sequer principalmente.
Tão importante quanto a faceta de criador é a faceta de investigador porque dificilmente a primeira existiria sem a segunda. São os ouvidos atentos e o olhar de analista que o levaram a propor e fazer uma série documental para a RTP sobre correntes musicais originais que estão a emergir em vários pontos do globo, das ruas de Lisboa às de Cabo Verde, das favelas e bairros de São Paulo aos recantos de Lima e Montreal, da metrópole do Gana (Acra) a cidades como Paris, Bombaim e Goa. São eles que o levam a ser uma espécie de “ajudante na comprovação de factos relativos à língua portuguesa e até a outros assuntos musicais a nível global” de Elias Leight, jornalista da revista musical norte-americana Rolling Stone. São eles que o levam a dizer o seguinte, questionado pelo Observador sobre as suas referências musicais: “Existem canções que fazem com que uma sonoridade passe a fazer sentido na vida de uma série de gente que nem sabia que aquilo existia. São portas de entrada para algo. Esses momentos de transição que fazem com que de repente uma coisa passe a ser normal para uma série de pessoas são músicas a que volto sempre para ouvir e tentar perceber como é que aquilo funcionou”.
Branko correu o mundo com os Buraka Som Sistema, grupo de que fez parte e que fez o seu último espetáculo em 2016, estando numa pausa prolongada sem data de regresso prevista. Hoje, apesar das diferenças musicais entre o que fazia com a banda e o que faz agora em nome próprio, aquilo que o move é ainda o mesmo: “a celebração da diversidade da cidade de Lisboa”, a transposição dessa diversidade para “a cultura, a música de dança, tudo e mais alguma coisa” e a mistura de estilos musicais das “zonas urbanas dos países que falam português em todo o mundo”. Essa mistura, que põe num caldeirão sofisticado o baile funk, o kuduro e o afro-house — só a título de exemplo –, é notória em Nosso, álbum que editará esta sexta-feira, 1 de março, e que começará a antecipar já esta quinta-feira, 28 de fevereiro, no clube B.Leza, em Lisboa. É uma mistura de Branko, só de Branko, e isso é importante.
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