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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Como Montenegro tentou curar as feridas do PSD com o país em cinco receitas

O presidente do PSD elegeu Pedro Nuno Santos como inimigo principal, quer votos de "órfãos" do PS, exibiu a unidade e mobilização do partido e definiu um novo paradigma — o de aumentar rendimentos.

Luís Montenegro aproveitou o Congresso para definir a sua estratégia eleitoral. Rejeitando a imagem do PSD que Costa garante ter-lhe sido transmitida por uma “senhora da farmácia”, o líder da oposição aviou cinco receitas para conquistar o País. Uma delas é precisamente para resolver esse calcanhar de Aquiles eleitoral: a ideia de que um Governo PSD trará cortes e é uma ameaça para as pensões. Não só garante não ser, como promete aumentar o rendimento dos pensionistas.

Outra estratégia foi focar os ataques todos num único adversário: Pedro Nuno Santos. É ele que Luís Montenegro elege como uma espécie de príncipe de Belzebu que, com os amigos marxistas (a “cinderela Mariana [Mortágua] e o pró-Kremlin PCP), fará uma geringonça que deixará o país estagnado e empobrecido. Com isto, espera não só mobilizar a direita, como ir buscar votos ao centro do PS que teme o “lobo em pele de cordeiro” Pedro Nuno Santos.

Para explicar tudo isto, Montenegro puxou da notoriedade de barões e até foi ao baralho buscar a carta mais valiosa: Cavaco Silva. Um dia de Congresso deu para perceber como é que Luís Montenegro quer vencer o País com cinco receitas. Para as “senhoras da farmácia” e para todos os outros eleitores.

Receita 1. Diabolizar e ser uma muralha de aço contra o “camarada Pedro”

Luís Montenegro definiu um foco e elegeu um único adversário: Pedro Nuno Santos. Nem sequer houve a cortesia democrática de esperar que o PS resolvesse a sua liderança. O líder do PSD aproveitou ser dia 25 de Novembro para abrir o Congresso a dizer que Pedro Nuno Santos seria um novo Vasco Gonçalves, que poria em prática uma espécie de PREC II, com nacionalizações lesivas para o País. Montenegro não poupou nos adjetivos que associou ao “camarada Pedro”: chamou-lhe de imaturo, radical, fanático da geringonça. Também sugeriu que era príncipe, num sentido maquiavélico, acusando-o de ter uma “cinderela Mariana” —  numa referência à líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.

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O líder do PSD quis expor todas as “cicatrizes” de Pedro Nuno Santos: as declarações sobre a dívida e os banqueiros alemães, a indemnização de Alexandra Reis na TAP ou o novo aeroporto. Neste último acusou o candidato do PS de ser um misto de narciso e bruxa má da Branca de Neve e disse com algum acting: “Espelho meu, espelho meu, quem é que decide um aeroporto mais rápido do que eu?”.

Além do ataque, de conteúdo, ao pedronunismo revolucionário, Luís Montenegro ainda fez uma crítica de estilo, comparando o favorito à vitória no PS a José Sócrates, em “tiques ensaiados”, “doçura de plástico” e de um “falar mansinho” que esconde um “animal feroz”.

A estratégia de ataque a Pedro Nuno Santos foi seguida por toda a direção e barões convidados, como provaram as dezenas referências ao socialista: por Paulo Rangel (“entusiasta da geringonça que trouxe resultados negativos para o país”), Miguel Pinto Luz (“não posso aceitar a normalização de Pedro Nuno Santos”), Margarida Balseiro Lopes (“não levamos lições de quem a uma quarta-feira anunciou dois novos aeroportos e à quinta-feira pediu desculpa”), Miranda Sarmento (“vestes de social-democrata quando é um radical esquerdista”), José Pedro Aguiar-Branco (“o partido de Mário Soares foi tomado de assalto por radicais de extrema-esquerda”), Nuno Morais Sarmento (“uma coisa é a geringonça por necessidade, outra bem diferente é por opção”) ou Carlos Moedas (“quando davas a cara pela dívida, outros diziam, não pagamos”).

A estratégia de Luís Montenegro passa assim por alertar que existe um novo diabo esquerdista, e que, desta vez já, chegou: é Pedro Nuno Santos.

Receita 2. Ser porto de abrigo para o eleitorado moderado do PS

O PSD precisa de conquistar eleitorado que votou em 2022 no PS e quer aproveitar uma eventual debandada do eleitorado de centro assustado com o “radicalismo” de Pedro Nuno Santos. “Acredito que muitos socialistas, muitos votantes do socialismo moderado, europeu, de génese social-democrata se estejam a sentir órfãos com esta deriva radical e imatura”, disse Luís Montenegro. Ora, o presidente do PSD quer acolher votos até ao centro-esquerda moderado, pois acredita que só assim pode ultrapassar com conforto a barreira dos 30%.

O contributo dos outros congressistas, alinhados, foi passar a ideia de que Luís Montenegro é um estadista, responsável e ponderado, por oposição a um estalinista impulsivo e imaturo (Pedro Nuno Santos). O líder do PSD diz que esses potenciais desiludidos com o pedronunismo têm no PSD “um porto de abrigo”, um “porto seguro”, do seu voto.

Receita 3. Mostrar a unidade do partido

Mesmo quem quisesse fazer oposição (André Pardal ainda tentou) a Montenegro no Congresso, tinha o espaço muito limitado. O atual líder do PSD tinha a oportunidade de ouro para mostrar o partido unido. Havia duas alas a conter: a dos passistas pouco crentes e a dos rioistas inconformados. Apesar de não contar com Passos (foi ao Pontal em 2022 e já foi envolvimento qb), conta com várias figuras do passismo (a começar por ele próprio) nas suas fileiras.

No rioismo, a fação da bancada (com nomes como Carlos Eduardo Reis, Paulo Mota Pinto e André Coelho Lima) não fez movimentações. Salvador Malheiro disse estar com o líder, mesmo que discorde da estratégia. Nuno Morais Sarmento, rosto do rioismo (mesmo que não tenha apoiado Rio até ao fim) protagonizou um dos momentos do Congresso. Já na ala dos barões contou ainda com Manuela Ferreira Leite, José Pedro Aguiar-Branco e do homem forte do barrosismo, José Luís Arnaut. Teve ainda do seu lado Cavaco Silva, pelo que não pode ser acusado de não ter mobilizado o partido. Ninguém pode dizer que o PSD está balcanizado e isso é uma vantagem em período eleitoral.

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Receita 4. Ganhar notoriedade com notáveis (e símbolos)

O Congresso, como espetáculo, funcionou. A ida surpresa de Cavaco Silva à reunião magna do PSD foi o momento do dia, carregado de simbolismo. Luís Montenegro quis dizer às pessoas que o seu exemplo e inspiração não era o Governo de Passos Coelho (que foi de cortes por culpa do PS), mas sim os Governos de Cavaco Silva. “Vamos estar à altura do seu legado”, disse, enquanto olhava para Cavaco Silva. Ainda contou com mais apoio quando o primeiro-ministro que mais tempo governou em Portugal lembrou à saída que já há seis meses tinha dito que Luís Montenegro daria um bom chefe de Governo. O “momento Cavaco” mostra aos militantes que o PSD está unido e vai lembrar aos eleitores um tempo em que o PSD ganhava (nos últimos 28 anos só esteve seis anos e meio no poder). Isso ajuda Montenegro.

Outro ato cheio de simbolismo foi quando Nuno Morais Sarmento, afastado da vida pública por motivos de doença, subiu ao palco e chamou Montenegro para lhe colocar na lapela um pin do PSD que Francisco Sá Carneiro utilizou quando venceu as eleições de 1979. Com o amuleto de Sá Carneiro, Montenegro tem um segundo momento de associação a momentos vitoriosos da história do PSD.

Ainda em matéria de comparações, um outro notável, José Luís Arnaut, foi dar uma ajuda a Luís Montenegro contra a “máquina de branqueamento do PS”. O antigo secretário-geral de Durão Barroso fez um paralelismo entre o antigo primeiro-ministro e Luís Montenegro, dizendo que na altura também diziam que Barroso “não chegava lá”. E chegou. Até ao fim do Congresso ainda apareceu Leonor Beleza, o que não permite o pensamento geral de que o PSD já não tem as figuras de outros tempos. Montenegro exibiu-o e isso dá-lhe notoriedade, de que precisa.

Receita 5. Cortar com a ideia de austeridade e descansar os pensionistas

Luís Montenegro quer afastar-se da ideia de que um Governo PSD será como o último: com austeridade e cortes de rendimentos. Para isso, o líder do PSD disse até que agora as contas certas até têm “cristão-novos”, mais “fanáticos”. Leia-se o PS.

Para mostrar que não são só palavras, fez promessas concretas e que são uma antecipação do programa eleitoral. Luís Montenegro garante que, se governar, “até 2028, o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses será de 820 euros”. E mais: “Para futuro, vejo que o rendimento mínimo de um pensionista possa ser equivalente ao SMN atualizado. É um objetivo para cumprir em duas legislaturas”. Assim, Montenegro propõe-se a recuperar um eleitorado importante (os pensionistas) que foge ao PSD desde a troika.

Mas há outra franja importante a quem Montenegro procura corresponder às expectativas: os professores. Depois de o ter dito antes de sonhar que existiam eleições em breve, o presidente do PSD mantém que vai repor, de forma gradual (20% ao ano em cinco anos), o tempo integral de serviço aos professores.

Ao mesmo tempo, Luís Montenegro garante que não se vai opor (como fez Rui Rio) ao aumento do salário mínimo, não se importando de dizer que foi uma “boa medida do PS”. Não se compromete em continuar a subir, mas promete “valorizar os salários”.

É este novo paradigma (de dar, em vez de cortar), de cuidado financeiro (em vez de “fanatismo” das contas certas) que completa os cinco atos com que Montenegro se vai apresentar a votos.

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