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Contagem de espingardas na IL. Rui Rocha tem apoio da elite e da bancada, Carla Castro aposta tudo nas bases

É no voto individual que se vão decidir as eleições internas da IL e o confronto está à vista: ganhará Rui Rocha pelo apoio público de Cotrim Figueiredo ou Carla Castro pelo apoio que tem nas bases.

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A Iniciativa Liberal está dividida entre dois elementos que aparentemente faziam parte da mesma equipa e da mesma linha de Cotrim Figueiredo. A saída do ainda presidente liberal abriu espaço para que as cisões se firmassem e o partido acabou dividido entre os apoiantes de Rui Rocha e os de Carla Castro. Neste momento, há um confronto entre a estrutura da IL e as bases do partido e a luta está mais renhida do que o esperado.

A sucessão de acontecimentos do dia 23 de outubro fazia prever umas eleições sem espinhas para Rui Rocha. João Cotrim Figueiredo anunciou um fim de linha à frente da Iniciativa Liberal; Rui Rocha chegou-se à frente como candidato; e, pouco depois, o presidente da IL assumia o deputado como o seu candidato, numa altura em que ainda não havia mais nenhum candidato.

Parecia simples: um candidato que seguia a linha de sucessão, que era sinónimo da continuidade do caminho seguido até então e que incluía os sucessos eleitorais, nomeadamente uma subida exponencial de deputados na Assembleia da República.

Não durou muito até que a corrida se tornasse numa luta interna com dois membros da Comissão Executiva que são também deputados. Uma luta entre a continuidade da linha de Cotrim Figueiredo, onde assenta grande parte da estrutura liberal, e a rutura, com Carla Castro a apresentar uma candidatura para mostrar que há uma alternativa ao que tinha sido seguido até aqui.

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Entre a continuidade e a rutura: a divisão interna que leva dois deputados a disputar a liderança da IL

Desde o primeiro dia que se fazem contas à IL e aos apoios que cada um reúne, aos pontos fortes e fracos e à forma como é possível ganhar votos na reta final antes das eleições — sendo que este também é um ponto: Rui Rocha quer adiar a Convenção para janeiro; Carla Castro prefere que o tema fique arrumado já em dezembro.

Até ao momento a corrida está renhida e há um pormenor fundamental dentro da IL: ao contrário dos partidos tradicionais, muito assentes nos apoios das distritais, os núcleos são pequenos e não consideram ter uma força suficiente para indicar o voto num dos candidatos. Ou seja, esta será uma luta voto por voto.

Ainda assim, há dois grandes fatores que podem ser decisivos (um para cada candidatura): o apoio declarado por João Cotrim Figueiredo, no caso de Rui Rocha, e o trabalho feito dentro do partido por Carla Castro, que há muito é um dos elementos mais queridos dos membros base da IL.

O trunfo chamado Cotrim

É aqui que os votos se começam a dividir. Os dirigentes nacionais e membros dos núcleos ouvidos pelo Observador não têm dúvidas de que ninguém tem as eleições ganhas e argumentam que há uma divisão clara de votos.

“Vou votar no Rui Rocha porque o João Cotrim Figueiredo aconselhou.” A frase é de um dos liberais da zona Norte ouvidos pelo Observador e a justificação é comum a muitos outros: “Enquanto a IL não falhar, não há razão para mudar de rumo.”

O apoio de João Cotrim Figueiredo é o grande trunfo de Rui Rocha e isso sente-se entre os membros liberais, principalmente os que estão fora da cúpula de poder. A equipa do candidato confia que os indecisos (que são ainda muitos) têm tendência a cair para o lado do deputado eleito por Braga pela confiança em Cotrim e no projeto que levou ao crescimento da IL. Conquistar os militantes que ainda não se decidiram é mais uma das razões que levaram Rui Rocha a querer eleições mais tarde.

“Têm-me ligado vários membros que procuram entender a situação e perguntam se já foi decidido alguma coisa”, realça um dirigente local ouvido pelo Observador, explicando que há quem esteja em busca de uma quase resposta conjunta para a eleição. Por outro lado, outro dos dirigentes liberais nota que existe uma “grande diversidade interna” e que, apesar de haver quem tenha antecipado apoios, muitos dos membros-base ainda não escolheram em quem votar.

“Vou votar no Rui Rocha porque o João Cotrim Figueiredo aconselhou”
Dirigente da IL

A indecisão é uma das palavras de ordem dentro da IL, principalmente entre os membros que não têm contacto com a direção e com os responsáveis dos núcleos. Sem posicionamentos formais destas estruturas, os votos individuais terão um peso bastante relevante e isso pode ser um obstáculo para o candidato que vem da linha oficial, Rui Rocha.

É o calcanhar de Aquiles do deputado: não ser conhecido das bases do partido. Famoso liberal no Twitter, cresceu muito rápido e chegou a deputado, mas os membros não o conhecem e essa é a principal preocupação da equipa que o acompanha. “Se as eleições fossem hoje acredito que podia não ganhar”, assume um dos apoiantes ao Observador, enquanto esclarece que o grande desafio é apresentar Rui Rocha aos membros.

Por outro lado, Rui Rocha conta com os votos de grande parte dos elementos da Comissão Executiva e do gabinete parlamentar. O Observador sabe que os principais membros da direção do partido estão alinhados com o candidato de Cotrim e que dificilmente se mantêm em estruturas diretivas caso o rumo do partido tenha Carla Castro como protagonista. Aliás, prova disso é que Ricardo Pais Oliveira, atual vice-presidente da Comissão Executiva, faz parte dos escolhidos por Rui Rocha, bem como Rui Ribeiro, que também faz parte da atual equipa de Cotrim Figueiredo.

Oficialmente, dos oito deputados, só dois ainda não se pronunciaram. As contas são fáceis: Rui Rocha e Carla Castro são candidatos; Cotrim Figueiredo apoia o deputado eleito Braga, bem como Bernardo Blanco, Joana Cordeiro e Patrícia Gilvaz. De fora colocaram-se Carlos Guimarães Pinto, ex-líder do partido, e Rodrigo Saraiva, líder parlamentar.

Rodrigo Saraiva, apesar de não se pronunciar, foi sempre o braço direito de Cotrim Figueiredo e estará ao lado de Rui Rocha na disputa interna. Aliás, fontes do núcleo duro da IL contaram ao Observador que a “fricção” entre Rodrigo Saraiva e Carla Castro era muitas vezes notória e que gerou discussões dentro do grupo parlamentar. Se a votação fosse feita no grupo parlamentar, não havia dúvidas: Rui Rocha ganharia a eleição.

O joker de Carla Castro: as bases

Ao contrário de Rui Rocha, as bases podem ser o joker de Carla Castro. O percurso da deputada é reconhecido dentro do partido e o trabalho que fez ao longo dos anos não só serviu para ser respeitada pelos membros, como lhe deu um conhecimento amplo do partido — e a tornou conhecida.

A prova de algodão não é de agora: foi uma das pessoas mais aplaudidas da Convenção liberal de 2021, num aplauso só comparável àquele que recebeu João Cotrim Figueiredo.

Durante mais de dois anos, Carla Castro era a maior responsável pelo gabinete de estudos. Era a liberal que coordenava toda a investigação do partido e que tomava as decisões sobre as pessoas certas para cada lugar. Não há espaço para dúvidas: entre os dois candidatos, Carla Castro tem um conhecimento muito maior do partido.

Porém, o Observador sabe que nem tudo correu de feição nos últimos tempos no que toca ao gabinete de estudos, com Carla Castro a incompatibilizar-se com algumas pessoas ainda antes de deixar de ser coordenadora. Este afastamento — que vários responsáveis do partido argumentam como sendo natural quando a liberal chegou a deputada — terá sido um dos grandes motivos de desconforto de Carla Castro e uma das razões para o crescimento da crispação entre membros do partido.

“A Carla Castro é amada pelas bases do partido; diria que as bases do partido quando não influenciadas votarão na Carla”
Dirigente da IL

Ainda assim, essa bagagem pesa (e muito) nas contas dos liberais, tendo em conta que Carla Castro, apesar de se ter incompatibilizado com alguns altos dirigentes, tem um nível de aceitação grande no seio das bases — uma narrativa que a equipa de Rui Rocha vai tentar mudar até às eleições.

“A Carla Castro é amada pelas bases do partido; diria que as bases do partido quando não influenciadas votarão na Carla”, sublinha um dos dirigentes da IL ouvido pelo Observador. Além dessas bases que não conhecem Rui Rocha e que veem em Carla Castro uma possível sucessora de Cotrim Figueiredo por todo o trabalho feito no partido, a deputada reúne ainda grande parte dos descontentes do partido.

Horas depois do anúncio, diversos membros começaram a colar-se à candidatura de Carla Castro, sendo que a maioria já vinha a criticar a liderança de João Cotrim Figueiredo. Rafael Corte Real e Vicente Ferreira da Silva, que fazem parte da atual Comissão Executiva, foram dois dos nomes a declarar apoio — o que prova que não havia um total alinhamento entre a direção.

Catarina Maia, um dos nomes mais relevantes da oposição, prefere por enquanto não revelar o apoio oficialmente a nenhum dos dois, mas é conhecida a divergência que tem com aquela que é a linha seguida pela atual direção (apesar de integrar a mesma).

Miguel Ferreira da Silva, antigo presidente da IL, também mostrou estar ao lado de Carla Castro. O mesmo aconteceu com Paulo Carmona, assessor parlamentar dos liberais, que é um dos nomes da lista, bem como diretor de campanha da candidata. O antigo candidato presidencial Tiago Mayan Gonçalves também já declarou o apoio à candidata, demonstrando que está desalinhado com o cotrismo-sem-Cotrim.

Nos núcleos, são também vários os apoiantes de Carla Castro. Sem arriscarem números pela incerteza do voto individual, dirigentes locais confirmaram ao Observador estar ao lado da ex-coordenadora do gabinete de estudos por ser a pessoa que “conhecem melhor”, a pessoa que “trabalhou com eles” e por “desconhecimento” de Rui Rocha.

Há ainda nomes que saltam à vista pela forma como se têm movimentado para possíveis listas ao Conselho Nacional e que podem acabar por apoiar Carla Castro, sendo Cristiano Santos (o cabeça de lista por Aveiro), José Cardoso e Rui Malheiro exemplos disso, sendo que os dois últimos já não são uma novidade nestas lides. Apesar dessa possibilidade, o Observador sabe que tanto José Cardoso como Rui Malheiro, publicamente críticos da atual direção, consideram que estas são duas candidaturas internas e de nomes que nunca se posicionaram contra a gestão do partido.

Um dos maiores apoios de Carla Castro surgiu ainda da lista B, uma lista que se apresentou como candidata ao Conselho Nacional ainda antes da decisão de Cotrim e que pretende chegar a um “entendimento” com a candidata. Nuno Simões de Melo é o protagonista do movimento, um grande crítico do atual funcionamento do partido e o homem que quer que os “liberais clássicos” tenham mais espaço dentro do partido.

Este é provavelmente o maior desafio de Carla Castro, que tem conseguido reunir o apoio de vários descontentes — grande parte deles da ala mais conservadora do partido — e que terá de se posicionar quanto a este facto: aceitar ou afastar.

A necessidade de votos dificilmente levará uma recusa desta corrente por parte de Carla Castro, que já admitiu que todas as linhas de liberalismo cabem dentro do partido, mas terá como desafio equilibrar a balança, pois publicamente já foi perdendo apoios quando surgiu ao lado de Claudia Nunes, conhecida no seio liberal como Cláudia Shandi, um dos nomes mais conservadores e criticados pelos progressistas do partido.

O Observador sabe ainda que vários jovens progressistas que apoiavam Carla Castro por acreditarem na importância da liberal para o partido recuaram com a presença e colagem de nomes mais conservadores à candidatura da deputada.

Entre a conquista das bases que foi sendo conseguida nos últimos anos por Carla Castro e um desconhecido que tem dado nas vistas desde que chegou ao Parlamento, a IL escolhe, não só entre uma rutura e uma continuidade, mas também entre a possibilidade de uma mudança no rumo do partido, já que Carla Castro levaria a uma revolução na estrutura do partido que está ao lado de Rui Rocha.

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