Esta quarta-feira à noite, ao contrário do que aconteceu a 4 de janeiro, quando o presidente Bruno Fialho preferiu não entrar no debate com os demais partidos sem assento parlamentar, por RTP Açores e Antena 1 exigirem um teste de antigénio à entrada, o ADN – Alternativa Democrática Nacional vai mesmo participar no debate a 11 com transmissão na RTP 1 e na RTP 3.
Mas não é porque as regras tenham mudado e muito menos porque o representante do partido, cabeça de lista por Lisboa nestas legislativas, não vacinado contra a Covid-19, tenha aceitado fazer um teste de deteção do novo coronavírus.
Como explica Bruno Fialho por telefone ao Observador, o ADN, o mais recente partido político nacional, é contra “qualquer tipo de certificado que condicione a liberdade das pessoas”, “contra a vacinação obrigatória Covid-19” e “contra a ilegalidade que é partilhar dados médicos pessoais”, portanto fazer um teste para entrar no Teatro do Capitólio, onde vai decorrer o debate, está terminantemente fora de questão.
Como se isso não fosse argumento suficiente, acrescenta ainda o presidente e fundador do ADN, a partir do agora extinto Partido Democrático Republicano (PDR), iniciado em 2015 pelo antigo bastonário da Ordem dos Advogados António Marinho e Pinto, nem sequer reconhece qualquer validade aos testes em questão.
“Solicitam que façamos um teste, testes esses que, já está provado, até pelo criador dos mesmos, não servem para aferir se a pessoa tem Covid ou não. Aliás, nos Estados Unidos já foram banidos, mas os portugueses continuam a aceitar colocar um cotonete pelo nariz acima para uma coisa que não tem qualquer valor”, diz Bruno Fialho, que com o avançar da conversa há-de garantir que não tem, como o partido, o que quer que seja contra quem decida vacinar-se, testar-se ou usar máscara.
Como o Observador já tinha avaliado em outubro de 2020, este argumento, usado frequentemente por movimentos negacionistas da pandemia, diz respeito aos testes PCR e não corresponde de todo à verdade, não apenas porque Kary Mullis, o inventor do método, nunca fez tais declarações mas também porque até morreu antes sequer de a pandemia começar.
Nos Estados Unidos continuam, como em Portugal, a fazer-se testes PCR e testes rápidos de antigénio para detetar a infeção por SARS-CoV-2. Como Bruno Fialho recusa cumprir a medida imposta pela RTP — que tem sido igual em todos os debates, para candidatos e moderador, e nem sequer obriga à apresentação do resultado do teste ou do certificado de vacinação, explicou fonte oficial do canal público ao Observador, “sendo suficiente a palavra do candidato de que fez teste, com resultado negativo, ou tem certificado que o dispensa” —, o ADN vai participar no debate desta noite, mas não vai poder entrar no Capitólio, e entrará por Zoom. “A mesma solicitação foi feita para o debate com as 11 forças políticas que não têm assento parlamentar”, assegurou a mesma fonte. “A quem recusar, a RTP dará condições técnicas para participar no debate à distância.”
A ligação ao extinto movimento Médicos pela Verdade
Qualquer semelhança entre este novo partido, sancionado pelo Tribunal Constitucional no passado dia 28 de setembro de 2021, e os movimentos ditos negacionistas da pandemia não é coincidência. Quem o admite é o próprio Bruno Fialho, 46 anos, advogado, empresário e chefe de cabine da SATA, que em 2020 ainda chegou a anunciar a candidatura a Belém mas acabou por desistir para, explicou, evitar gastar “alguns milhares de euros no circo mediático” que seriam as eleições. Apesar de, ao telefone com o Observador, recusar o termo, o presidente do ADN concede que, neste momento, “em que a urgência é resgatar a democracia”, o partido está essencialmente focado na reposição dos “direitos, liberdades e garantias” que, diz, “foram estropiados a todos os portugueses” a pretexto da crise sanitária.
“Os movimentos não são negacionistas, são movimentos que apelam à liberdade. E faz todo o sentido associar-nos a todo e qualquer movimento que lute para que o estado de direito democrático seja cumprido, para que a Constituição da República seja cumprida, e para que seja desmascarada esta fraude mundial. Isto é uma fraude mundial e só pessoas que estejam de olhos fechados é que continuam a acreditar nisto”, diz, para logo a seguir passar ao tema da inoculação infantil. “Sujeitar crianças a futuras doenças, futuros efeitos secundários assustadores que se estão a descobrir, isto é um crime que vamos fazer com que muita gente pague e seja responsabilizado nos tribunais.”
Testes, certificados, vacinas, confinamentos e máscaras, “em particular nas salas de aulas”, são os principais alvos a abater identificados no programa eleitoral do ADN. Para a luta, Bruno Fialho arregimentou alguns dos rostos mais mediáticos dos ditos movimentos negacionistas — que por seu turno hão-de trazer para o partido a visibilidade mediática que alcançaram nas redes sociais, com várias dezenas de milhares de seguidores que se pretendem capitalizáveis em votos.
Gabriel Branco, co-fundador do extinto grupo Médicos pela Verdade e diretor do Serviço de Neuroradiologia do Hospital Egas Moniz que terá passado várias declarações isentando pelo menos 13 doentes, alguns deles menores, do uso de máscara, entrou no barco em dezembro de 2021, convidado, numa reunião através da aplicação Zoom, a ser mandatário da Saúde do partido. Apesar de não ser militante, aceitou ajudar o ADN, que, confessa um otimista Bruno Fialho, espera eleger pelo menos dois deputados à Assembleia da República nas eleições de 30 de janeiro.
Médico do Egas Moniz que é contra as máscaras passa declarações para doentes não terem de as usar
“Nessa reunião assumi posições extremamente claras e duras, reforçando os meus conhecimentos técnico-científicos, que colidem de facto com aquilo que é o discurso oficial, o que faz com que esteja a ser perseguido politicamente há um ano e meio”, diz ao Observador Gabriel Branco, que em fevereiro do ano passado foi punido pelo Conselho Disciplinar Regional do Sul da Ordem dos Médicos com duas penas de censura.
Maria Margarida de Oliveira, a médica anestesista também co-fundadora dos Médicos pela Verdade e também castigada pela Ordem — com uma suspensão de seis meses que em janeiro deste ano foi reduzida para metade –, por se manifestar publicamente contra o uso de medidas de proteção individual e por partilhar com os seus seguidores uma lista de procedimentos a adotar para, segundo a Ordem dos Médicos, evitar a deteção da presença do novo coronavírus na realização de testes PCR ou de antigénio, também está com o partido nestas eleições. “A Dra. Margarida de Oliveira que, como o Dr. Gabriel Branco, ousou falar a verdade e insurgir-se contra a Ordem dos Médicos, continua neste momento a ser perseguida por delito de opinião, portanto é uma honra tê-la como nossa mandatária para o Conhecimento”, congratula-se Bruno Fialho ao Observador.
Médica “pela Verdade” divulga receita para possíveis infetados testarem negativo ao coronavírus
Há mais: João Machado, o advogado que representou vários integrantes do movimento Médicos pela Verdade e defendeu também os proprietários do Lapo, o restaurante do Bairro Alto, em Lisboa, que em janeiro de 2021 se recusou a encerrar e a cumprir as medidas de confinamento decretadas pelo governo, e Paula Fatri, a mãe que em agosto de 2021 escondeu a própria filha, de 12 anos, para evitar que a criança fosse vacinada pelo pai, também é mandatária do ADN nestas eleições, para os Assuntos Constitucionais.
Marta Gameiro, outra das responsáveis pela fundação dos Médicos pela Verdade, é mandatária para a Cidadania. A médica dentista, que defende que o “protocolo PCR está a ser utilizado está a extrapolar os casos positivos e a conferir diagnósticos errados”, faz agora parte do PANDA, um coletivo internacional multidisciplinar que pretende, através da análise de dados e de um “debate racional”, “substituir a ciência defeituosa por boa ciência para resgatar a liberdade e prosperidade das garras de um ‘novo normal’ distópico”.
Sem pelouro atribuído, Fernando Nobre, o fundador da Assistência Médica Internacional (AMI) que em 2011 foi candidato às Presidenciais e que, no currículo, tem apoios a candidaturas de PS, PSD e Bloco de Esquerda, também já manifestou publicamente e em vídeo que, nestas legislativas, está com o ADN. Recorde-se que Fernando Nobre, 70 anos, foi igualmente alvo de um processo disciplinar por parte da Ordem dos Médicos, por se ter declarado contra a utilização de máscaras no combate à pandemia, ter sugerido terapêuticas que não estão aprovadas contra a Covid-19, ser contra a vacinação para esta doença e afirmar que os resultados dos testes PCR são falsos positivos.
“São tudo pessoas de reputação internacional que vão ajudar-nos quando formos eleitos a conseguir esclarecer o povo português. Porque é isto que falta: esclarecimento do povo português”, diz ao Observador o presidente Bruno Fialho.
Partido novo, as caras de sempre
Apesar de considerar importante participar no debate a onze desta terça-feira à noite, Bruno Fialho garante que não é a televisão que o vai deixar mais próximo do seu eleitorado. “O nosso palco já é muito mediático, o nosso eleitorado vê-nos todos os dias nas redes sociais. Neste momento ultrapassámos em 40% o PAN nas redes sociais, em termos de dados e procuras e etc. Em todas as redes sociais estamos muito à frente do PAN, e também do CDS, tudo partidos com representação parlamentar”, diz o presidente do ADN, que se assume como um partido humanista que se recusa definir pela “velha dicotomia esquerda-direita”.
Fundado oficialmente há menos de quatro meses, o ADN é uma evolução do PDR. Tudo foi alterado, diz ao Observador Bruno Fialho, “imagem, estatutos, nome, rumo” — “Decidi afastar-me do Marinho e Pinto, achei que o caminho seria outro. É um novo partido, ponto. Não vale a pena falar do PDR, não há Marinho e Pinto. É ADN, 28 de setembro”.
Ainda assim, muitas das pessoas que compõem o ADN são as mesmas que há uns meses faziam parte do PDR. A começar no próprio presidente, que sucedeu em janeiro de 2020 ao antigo bastonário dos advogados, que decidiu abandonar o partido por não ter conseguido alcançar os dois principais objetivos: “Ser eleito deputado para o Parlamento Europeu, nem para a Assembleia da República”.
Com Bruno Fialho, na Comissão Política Nacional do partido, estão Inês Tafula, a halterofilista e estudante de Direito em Coimbra que nas legislativas de 2019 foi cabeça de lista do PDR por Aveiro e nas autárquicas seguintes concorreu à Câmara Municipal de Coimbra; e José Mirra que em 2019 foi candidato pelo PDR ao Parlamento Europeu.
A artista plástica, gestora de clientes na área da publicidade e técnica certificada de laser de diodo (uma técnica de depilação definitiva) Susana do Ó, que nesse mesmo ano também fez parte das listas do partido mas às legislativas, é agora a vice-presidente da mesa do Conselho Nacional do ADN — e a sua mandatária para a Cultura.
Já no Conselho de Jurisdição Nacional do ADN está Pedro Pardal Henriques, também advogado e ex-vice-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), que nas últimas legislativas foi o cabeça de cartaz do PDR ao círculo eleitoral de Lisboa. A ligação entre ele e o presidente do novo partido é antiga e publicamente conhecida.
Bruno Fialho foi o “amigo” que Pedro Pardal Henriques apresentou como “mediador externo” do sindicato na reunião com o Governo na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho aquando da paralisação de 2019. Na altura, Bruno era o vice-presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil que manifestou solidariedade para com os motoristas de matérias perigosas na reivindicação por melhores condições de trabalho.
Anos antes, o advogado e chefe de cabine da SATA já se manifestava publicamente contra a privatização da TAP — tanto como porta-voz do movimento “Não TAP Os Olhos” (cujo manifesto foi redigido por António-Pedro Vasconcelos, Miguel Sousa Tavares, Daniel Deusdado e Ricardo Monteiro; e assinado por personalidades como Mário Soares, Manuel Alegre e Tony Carreira); como na qualidade de vice-presidente da Associação “Peço a Palavra”.
Presidida precisamente pelo realizador António-Pedro Vasconcelos, a “Peço a Palavra”, associação sem fins lucrativos que “promove a dinamização de uma cidadania ativa relativamente aos interesses nacionais, ajudando todos os cidadãos a ter uma maior participação democrática”, tem como presidente da mesa da Assembleia Francisco Louçã e Ricardo Sá Fernandes como vice-presidente.
Ryanair, TAP e Sporting. As lutas de Bruno Fialho, o “amigo” do sindicato dos motoristas
Bruno Fialho, que em 2018 também foi o principal rosto português dos trabalhadores da aviação civil em greve em toda a Europa contra a Ryanair, na tentativa de forçar a companhia irlandesa a seguir as leis laborais dos países onde está presente, ainda mantém a vice-presidência da associação. O que nunca chegou a alcançar foi o cargo de vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting, como integrante da lista liderada por João Benedito, o antigo capitão de futsal do clube que em 2018 perdeu para o médico Frederico Varandas; nem tampouco a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, a que se candidatou nas autárquicas do ano passado. Já na qualidade de presidente do PDR, Bruno Fialho foi o cabeça de lista do partido à principal autarquia do país. Teve 319 votos, 0,13% do total.
“Não podemos tolerar viver num estado de ditadura que é o que estamos a viver neste momento”
Ao todo, estima o presidente do ADN, serão cerca de “3.200 ou 3.400” os militantes que o ADN tem atualmente. No Facebook, o grupo do partido, que até ao ano passado congregava os simpatizantes do PDR, que se terão mantido depois da transição, tem 1.818 membros. Já o grupo “ADN – Um deputado faz a diferença”, criado a 9 de janeiro de 2022, conta neste momento com 3.962 seguidores.
Foi neste grupo que, esta terça-feira de manhã, o partido partilhou uma publicação a exigir a suspensão imediata da vacinação infantil. “Todos estamos a procurar digerir como chegámos a este ponto de crianças serem usadas como escudos humanos numa civilização, que valoriza o lucro, a politiquice e a ausência de pensamento crítico. Ficamos ainda com mais força para lutar pelas outras crianças, as nossas e as vossas”, pode ler-se na publicação, que em cerca de trinta minutos teve 50 gostos e mais de quatro dezenas de partilhas. O tom do discurso é em tudo idêntico ao utilizado pelos apologistas de teorias da conspiração: “Diversos pediatras avisaram, mas sempre foram silenciados ou ignorados. Todas as vozes que pediram para adiar a vacinação de crianças foram abafadas”, continua o texto.
Alfredo Rodrigues, o publicitário responsável pela página de Facebook “Quero Emigrar”, que foi também o principal impulsionador dos Médicos pela Verdade naquela rede social e que, de acordo com a Visão, será próximo do Chega, tem feito pelas redes sociais do novo partido aquilo que fez pelo movimento fundado por Gabriel Branco e Maria Margarida de Oliveira e conduzido entrevistas aos representantes do ADN, que depois são transmitidas online.
Apesar de garantir que o programa eleitoral do partido é “muito vasto” — ao longo das 14 páginas são traçadas as linhas gerais do ADN no que diz respeito a temas como humanismo, liberdade, ecologia, estado, separação de poderes, democracia, justiça, educação, laicidade, pluralidade, estado de bem-estar social e cultura —, Bruno Fialho reconhece que neste momento a prioridade é a pandemia.
“O nosso programa eleitoral assenta numa preocupação de cidadania, queremos promover as melhores ideias para o povo português, vamos afastar estes políticos profissionais que têm destruído a nossa democracia ao longo de 47 anos. Vamos desenvolver questões fraturantes na saúde, na justiça, na educação, na legislação laboral. Agora, o que acontece é que neste momento a urgência é resgatar a democracia. Resgatar a Constituição da República Portuguesa que tem sido espezinhada por todos os atores políticos. Não podemos tolerar viver num estado de ditadura que é o que estamos a viver neste momento”, diz ao Observador.
Aponta o dedo ao Governo, que acusa de perseguir os mandatários do ADN por “delitos de opinião”; alerta para os perigos inerentes aos confinamentos e isolamentos decretados pela Direção-Geral da Saúde — “Imagine o que é um namorado abusivo que trabalhe na DGS. Quer vingar-se da namorada e coloca-a em prisão. Isto é ridículo!” —; e denuncia os “milhares de euros que os laboratórios e farmacêuticas receberam sem passar pelo crivo do Tribunal de Contas” a pretexto do combate à pandemia.
Questionado sobre se a urgência da situação pandémica não poderá justificar os ajustes diretos a que se refere, Bruno Fialho volta a responder com argumentos que o Observador já antes deu como falsos, não apenas em Portugal mas no mundo. “Qual urgência? Está a falar da mortalidade que desceu? Está a falar de uma inoculação a que chamaram vacina e que não é vacina em termos técnicos? Ou está a falar das mentiras que foram propagadas? Uma vacina para ser considerada vacina pelos cientistas tem de imunizar a sociedade onde vai ser inoculada. Tem que garantir que não há transmissibilidade do vírus, coisa que estas inoculações não garantem. Portanto, isto não é uma vacina, foi chamado vacina para possibilitar e coagir as pessoas a aceitarem ordens até de pessoas que usurparam cargos de camaradas de armas”, diz, numa referência velada ao vice-almirante Gouveia e Melo, ex-responsável pela task-force de vacinação, atual Chefe do Estado-Maior da Armada. “Eu nunca falo de nomes, o povo português é muito inteligente, percebe perfeitamente que condutas é que outras pessoas tiveram durante o esquema dantesco da vacinação e que regalias é que tiveram.”
Na mesma linha de pensamento, o médico Gabriel Branco acusa o governo de escolher a dedo os especialistas com que se tem aconselhado ao longo da pandemia e revela uma das medidas que propôs ao ADN: a “criminalização do conflito de interesses”. “Já há teses de juristas, que estão na Internet, que defendem que seja equiparado ao crime de corrupção passiva. Estamos a falar de pessoas que vão falar à televisão, defender determinadas medidas sanitárias e farmacológicas e que são pagas pelas próprias empresas que vendem e lucram com esses produtos”, começa por acusar. “Estamos a falar das reuniões do Infarmed. A autoridade para aconselhar o governo é o Conselho Nacional de Saúde e o Conselho Nacional de Saúde Pública. Foram completamente subalternizados desde que um deles disse que era contra fechar as escolas. Nunca mais foram consultados e foram substituídos pelas reuniões do Infarmed onde estão presentes os grandes interesses das farmacêuticas.”
No que diz respeito apenas ao seu pelouro, o da saúde, o neurorradiologista diz que quer ajudar a reverter o “estado de degradação total” do Serviço Nacional de Saúde, por que responsabiliza aquilo a que chama “o Grande PS que está na Assembleia da República” — “É constituído pelo PS1, o PS2, o PAN e o Bloco de Esquerda, que são uma espécie de saco de rebuçados de cores diferentes que sabem todos à mesmíssima coisa”.
Nem à esquerda nem à direita, o ADN, diz o seu presidente, prefere assumir-se como um partido que pretende “as melhores soluções” para o País. Para além de defender que a justiça seja “especialmente implacável e excecionalmente punitiva de todos os abusos de poder por parte de dirigentes políticos”, no seu programa o ADN recusa que o estado social sirva “como justificação para privilegiar classes profissionais e grupos económicos” que “parasitam abusivamente o erário público em benefício privado” e diz ainda que “compete aos pais de menores o direito de escolher a orientação da educação dos seus filhos”.
Sobre este último ponto, em novembro de 2021, naquela que foi uma das primeiras tomadas de posição públicas por parte do recém-criado partido, o ADN exigiu ao ministro da Educação que deixasse transitar de ano os alunos de Vila Nova de Famalicão impedidos pelo pai de assistir às aulas de Educação para a Cidadania. “Tenha a decência de cumprir a Constituição da República Portuguesa (…) em vez de estar a tentar doutrinar crianças para introduzir na sociedade a normalização da ‘ideologia de género’”, escreveu em comunicado o partido, que diz repudiar “todas as violações dos direitos humanos e formas de discriminação social”.
No sábado passado, numa entrevista de cerca de 20 minutos publicada no Facebook, a médica dentista Marta Gameiro, mandatária para a cidadania do ADN, perguntou a Bruno Fialho qual é a primeira medida que tenciona levar “quando for deputado” e o presidente do partido voltou a recentrar a questão na pandemia. “É muito simples: acabar com o certificado digital, em Portugal e na Europa”. Nestas legislativas de estreia, o ADN candidata 191 nomes a 13 círculos eleitorais: Açores, Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Europa, Faro, Fora da Europa, Leiria, Lisboa, Madeira, Porto, Setúbal e Viseu. Bruno Fialho é o primeiro da lista em Lisboa.