As expectativas para a experiência que se avizinhava eram altíssimas. Há mais de um mês fomos informados que tínhamos sido selecionados para participar no SummerCEmp, um evento que, já na sua terceira edição, coloca frente a frente 40 jovens Universitários Portugueses com diferentes formações académicas e figuras de destaque da política portuguesa e internacional. O objetivo é o de discutir e debater informalmente a União Europeia em todas as suas vertentes, desmistificando a sua inacessibilidade aos jovens. Ao longo de todo o mês de agosto fomos recebendo as instruções por parte da organização, sempre incansável, inteirando-nos dos detalhes do evento, recebendo avisos e recomendações. A revelação do programa final, com quatro dias de atividades metodicamente organizadas com mais mais 70 intervenientes, entre oradores e mentores, elevou o entusiasmo para níveis estratosféricos. Finalmente chegou o dia de dar início a esta aventura, e os participantes mostraram-se mais que prontos para aproveitar a oportunidade.

27 de Agosto – As surpresas do primeiro dia

Às 9:30h da manhã reunimo-nos na estação do Oriente em Lisboa para apanhar o autocarro que nos levaria até ao destino final: Monsaraz. Travaram-se os primeiros conhecimentos (para alguns), fizeram-se apresentações e recebemos novas instruções. A viagem até Monsaraz fez-se já em amena cavaqueira, com alguma timidez inicial a desaparecer lentamente e o entusiasmo a tomar conta do grupo. Ao longo das 3h que separam Lisboa e Monsaraz, houve tempo para conversar, para dormir e reunir energias para as intensas atividades que se avizinhavam, e ainda para antever a qualidade das sessões que íamos ter já durante a tarde deste 1.° dia.

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Créditos: UE/Bruno Pires

Chegados a esta caricata mas magnífica vila, foi tempo de distribuir aleatoriamente os alojamentos pelas várias opções, explorar as ruas de Monsaraz e ambientarmo-nos com aquilo que seria a nossa casa nos dias seguintes. Num grupo de participantes tão vasto é normal que leve o seu tempo para que todos se conheçam e criem laços. Mas nem neste aspecto a equipa de organização se descurou, e um jogo de Bingo humano foi o mote para explorarmos e conhecermos um pouco melhor os colegas que nos acompanharão nesta aventura.

Créditos UE/Bruno Pires

A sessão de apresentação do SummerCEmp foi mais um consolidar de informações e avisos que antecedeu a primeira sessão do dia e do evento. Aqui ouvimos as boas vindas da Sofia Alves (representante da comissão europeia em Portugal), da Raquel Patrício Gomes (incansável coordenadora da SummerCEmp) e do José Calixto (Presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz) que, com os respetivos colaboradores, fizeram acontecer o SummerCEmp.

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Sessão 1 – A Europa vista de Portugal

Mário Centeno (Ministro das Finanças e Presidente do Eurogrupo) abriu as hostilidades na belíssima igreja de Santiago. Aqui se falou do posicionamento de Portugal no projecto da UE 33 anos após a adesão do nosso país, naquele que foi classificado como um projecto em “eterna construção” e que muitas mais vezes é descrito e avaliado tendo em conta o que corre mal do que os projectos e mudanças que são e foram um sucesso. Falou-se também do Euro enquando moeda única, um projeto que fazendo todo o sentido na união, foi instituído à data sem que se considerassem todas as contingências e potenciais problemas que se viriam a registar posteriormente e que ainda hoje ecoam na economia da união.

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Sessão 2 – Onde chega a Europa

Maria do Céu Albuquerque (secretaria de estado para o desenvolvimento regional) falou da importância de um evento como o SummerCEmp num local remoto como Monsaraz para mostrar que a Europa está disposta a chegar a todos de forma igualitária, embora infelizmente essa percepção nem sempre seja clara para os habitantes locais. Monsaraz, como todo o interior do país, é uma porta de entrada para a Europa e não um beco sem saída econômico e cultural. Debateram-se ainda as vantagens das fronteiras abertas, da ausência de roaming, das oportunidades da comunidade como os projectos Erasmus, da igualdade de direitos, da ausência de conflitos, da convergência solidária entre países , de tudo aquilo que nos permite hoje ser mais competitivos internacionalmente e mais coesos internamente.

António Cuco deu o seu testemunho sobre o apoios comunitários que recebeu e que lhe permitiram transformar a sua empresa de Gin “Sharish Gin” de uma microempresa para uma pequena empresa, o que hoje lhe permite produzir mais Gin que 80% das outras empresas produtoras em Portugal. Por fim Marco Teles falou-nos do papel da EDIC na divulgação da informação sobre a UE entre a população e nas escolas que permite aproximar os chamados territórios ultraperiféricas de Portugal e seus cidadãos da Europa. Vincou-se , no entanto, que mesmo que estes territórios enfrentem desafios adicionais relativamente àqueles do continente, os seus cidadãos são também  europeus de pleno direito.

Eurovisões SummerCEmp, dia 2. O mini-debate entre a governante e o universitário

Sessão 3 – A Europa não vende jornais

Nesta sessão em que quatro jornalistas portugueses dividiram o palco e o debate, referiu-se o facto de ser difícil fazer as pessoas interessarem-se por assuntos que aparentemente não os afetam direta e imediatamente, vendendo menos que notícias nacionais  e perdendo espaço nas grelhas. O que por vezes não é explícito é que as notícias que vendem têm muitas vezes na sua génese questões europeias que não são bem exploradas de forma a facilitar o chegar de informação e a compreensão do público, havendo uma tendência para nacionalizar aquilo que é europeu. Ainda assim, houve uma concordância geral de que algumas notícias da UE ficam por contar. Ficou no ar uma questão: deverão os media dar às suas audiências aquilo que eles procuram e consomem mais facilmente (imediatismo) ou têm uma função social e educacional importante que lhes dá responsabilidade, sim, de informar e educar as populações para os temas prementes?

As sessões práticas foram interrompidas por uma surpresa cultural: uma arruada do incrível grupo de cante alentejano de Monsaraz, seguido de uma atuação do grupo com a Fadista Kátia Guerreiro (cantares alentejanos) e de uma emocionante performance da fadista interpretando a sua versão do hino da alegria. Um momento único que a beleza de Monsaraz magnificou.

Sessão “O Espaço visto da Europa”. Fotografia do Observatório do Lago Alqueva

Um jantar típico alentejano (sopa de gaspacho e produtos regionais) foi servido nas margens da barragem do Alqueva,  precedendo a última sessão do dia. Nesta ficamos a conhecer a novíssima agência espacial portuguesa pelas mãos da Chiara Manflete, a cooperação entre a UE e o telescópio ALMA que permitiu ao português Hugo Messias realizar um estágio de 3 anos no Chile e participar no projecto que permitiu obter a primeira fotografia de um buraco negro, e ainda Antônio Machado, um professor Universitário da Universidade do Minho que receberá em breve um supercomputador na sua instituição. Durante esta conversa explorou-se as portas que a cooperação internacional entre a UE e outras instituições mundiais permite abrir, nomeadamente na área da astronomia e da exploração aeroespacial e de todas as vantagens que aí advêm, posicionando a UE e também Portugal no topo da evolução tecnológica.

A última surpresa do dia aconteceu no mesmo local, no observatório do Lago do Alqueva onde pudemos observar, naquele que é considerado um dos céus mais escuros e límpidos da Europa, as constelações que embelezam o céu alentejano.

Sessão “O Espaço visto de Monsaraz”. Fotografia do Observatório do Lago Alqueva

A noite terminou com um momento de convívio entre participantes, oradores e mentores, uma Beer call sob as estrelas europeias. E amanhã é outro dia, começando bem cedo.”

28 de agosto – “We, the people”

Créditos UE/Bruno Pires

O dia começou cedo, mas o entusiasmo dos participantes para mais um dia de SummerCEmp escondeu qualquer cansaço. Com a primeira sessão a decorrer nos pátios do castelo de Monsaraz, Pedro Calado (alto comissário para as migrações) criou uma dinâmica de grupo  onde exploramos o conceito de “grupo”, de identidade e de pertença enquanto necessidades humanas e de autoconhecimento.

Créditos: UE/Bruno Pires

De seguida falamos sobre o texto “Fascismo Eterno” de Humberto Eco e dos sintomas que foram referidos em 1995 como indicadores de um regresso à intolerância e à segregação, todos eles presentes na nossa sociedade atual e que põem em causa a globalização que durante tantos anos foi o símbolo da evolução humana. Fica a mensagem de que a história é cíclica e que por isso mesmo temos hoje as armas necessárias para reconhecer o regresso destes sintomas e a necessidade de uma motivação para os combater. A sessão terminou ainda com uma conversa sobre a importância da multiculturalidade, da coexistência religiosa e da empatia enquanto força motriz das relações internacionais.

Sessão 2 – A Europa vence o populismo?

Créditos UE/Bruno Pires

Numa sessão dedicada ao populismo e aos seus efeitos, Bernardo Ivo Cruz (the London Brexit Monthly Digest) referiu que o populismo chega essencialmente ao seio dos cidadãos de países desenvolvidos com poucas armas para lidar com a globalização e com as migrações: pessoas com baixa escolaridade, pouca exposição ao mundo, com idades mais avançadas e com poucas posses económicas. O populismo tende a simplificar assuntos complexos e baseia-se no surgimento de “líderes” que de propõe a resolver esses problemas, dirigindo-se essencialmente a um grupo de pessoas que embora incluídas numa sociedade moderna, não conseguem usufruir de todos as vantagens que o desenvolvimento trouxe às suas sociedades. Também se referiu que a automação nos próximos anos poderá agravar estas questões e estender o populismo a outras classes sociais (empregos classificados, setores financeiros, artes, gestão…). Daniel Oliveira referiu que o populismo surge da dualidade entre o “nós e os eles” seja qual for a sua direção ideológica (o nós contra a elite, e o nós contra as minorias) e que surge da ansiedade dos cidadãos em relação à mudança rápida e desenfreada da sociedade atual e da crise de mediadores sociais que põe em causa a própria democracia.

Sessão 3 – Ser Europeu

A sessão iniciou-se com o pensamento de que a Europa e o seu projeto tem como grandes diferenciais a capacidade de se fazer prevenção e  antevisão, tornando a vida previsível e confortável para os seus cidadãos. Ana Paula Zacarias (secretaria de estado dos assunto europeus) referiu a existência de uma identidade europeia, a forma como o mundo olha para a UE e seus cidadãos, e que se baseia em dois pilares: diversidade e segurança. Existe, ainda assim, uma identidade nacional e regional de cada estado que se deve complementar com a identidade da união. Mónica Ferro (Fundo de População das Nações Unidas) falou sobre o perfil demográfico da Europa e as dificuldades em se manter o estado social atual da União vem também do facto de as migrações poderem ser encaradas como uma forma de manter os ratios demográficos atuais. Pedro Mota Soares (eurodeputado) reiterou que os valores de liberdade, igualdade e segurança se conjugam na UE como em nenhum outro estado do mundo. O choque entre dois mundos, um velho com tendência a desaparecer e um novo a crescer de forma exponencial, cria ansiedade de forma transversal na sociedade. A Europa está a ter dificuldades em acompanhar a nova revolução que se observa no mundo do ponto de vista tecnológico, com alguma inação por parte dos líderes para encarar as mudanças a agir em concordância com os novos desafios.

Créditos UE/Bruno Pires

O almoço chegou com uma nova dinâmica de interações, na qual participantes, mentores e oradores foram distribuídos aleatoriamente de forma a permitir a interação entre todos e conversas mais intimistas. Logo de seguida, uma sessão de Slow Talks permitiu que os participantes pudessem debater com os mentores, e em pequenos grupos, questões mais pessoais e personalizadas e com grande liberdade temática.

Patrícia Gaspar, da Proteção Civil: “2017 era o ano que nós gostávamos que não tivesse acontecido”

Sessão 4 – Inovação e Sociedade: “It’s complicated”

A conversa baseou-se no pressuposto de que as futuras mudanças no mundo serão de tal forma disruptivas que as global trendings para a UE nos próximos anos terão de passar obrigatoriamente pela inovação, tecnologia, e antevisão destas mudanças. Filipe de Almeida falou-nos da iniciativa publica Portugal e Inovação Social que tem como objetivo criar as condições para que a sociedade civil consiga encontrar respostas para problemas sociais específicos. Já Elvira Fortunato, galardoada investigadora portuguesa, fez lembrar que muito do conhecimento que se produz a nível das universidades europeias, ao ser gerado, passa a ser utilizado por outras potências mundiais, colocando a UE no centro de uma rede de investigação e conhecimento global.  Ficou no ar a ideia de que ainda existe um Portugal pouco investimento do setor privado na investigação: toda a inovação pressupõe risco e o risco pressupõe a ocorrência de possíveis fracassos. É necessário que haja abertura para que se aceitem estes possiveis fracassos decorrentes de investimentos tanto na inovação científica como nas ciências sociais.

Sessão 5 – Uma Europa que protege

Patrícia Gaspar (autoridade nacional de emergência e proteção civil) falou-nos do seu percurso dentro da carteira militar e a forma como chegou à posição que ocupa atualmente na proteção civil portuguesa. Relembrou-se que a UE faz tradicionalmente uma defesa de gestão de crises, mas que nos últimos anos surgiu a necessidade de se olhar com outros olhos para a defesa contra o terrorismo e nas fronteiras, tendo-nos sido explicados os mecanismo de solidariedade defensiva ativados na UE como resposta a situações de emergência de estado.

Ana Isabel Xavier esclareceu-nos em questões específicas relacionadas com a defesa da UE, o investimento que o estado membro aplica na sua defesa interna e as consequências de eventualmente termos de nos afastar estrategicamente de um aliado de defesa como o EUA. Por fim debatemos a possibilidade de se criar um exército europeu e um sistema de proteção civil europeu. No primeiro caso ainda não há previsão para que tal aconteça, mas têm sido dado passos para se criar uma cada vez maior articulação entre estados em situações de crise.

Patrícia Gaspar, da Proteção Civil: “Até a morte me desejaram”

Sessão 6 – A Europa da Segurança

O comissário Europeu Julian King falou-nos da sua experiência ao ter sido responsável pela segurança de uma visita de estado da rainha de Inglaterra à Irlanda em 2011 e dos desafios de segurança num evento desta magnitude. Referir-se que a UE é hoje mais segura que há 4 anos, aquando da sequência de eventos terroristas, mas a hipótese de novas ocorrências nunca deve ser descartado. King explicou como os desafios mudaram, e que os terroristas atuais são geralmente indivíduos segredados pela sociedade e atraídos por unidades terroristas e não tanto elementos organizados dessas mesmas unidades.

Créditos UE/Bruno Pires

Os fenómenos de radicalização e captação ocorre muitas vezes online, onde a segurança ganha novos contornos e desafios. Aquilo que o terrorismo tenta destabilizar é a segurança da UE, e é contra a perda desse elemento que se luta ativamente. Para esta luta é necessária uma intercomunicação entre os diferentes estados membro, no sentido de garantir uma defesa mais orgânica e eficaz. A insegurança online, a desinformação e as fake news também foram alvo de debate, ficando no ar a dúvida sobre a necessidade de se criminalizarem atividades online com regras idênticas aquelas aplicadas no mundo físico.

Créditos UE/Bruno Pires

As sessões práticas do dia foram interrompidas para um Sunset onde realizamos um passeio de barco pela lindíssima barragem do Alqueva sob um esplendoroso por do sol , onde ficamos a conhecer melhor a geografia e as paisagens da região.

Sessão 7 – Planeta A

A última sessão do dia foi didicado à sustentabilidade ambiental. Conhecemos Beatriz Silva, jovem co-fundadora do projecto Ocean Hope que que se dedica à recolha de lixo e limpeza das praias portuguesas e que nos levou a pensar sobre a força do exemplo na modificação de comportamentos nas diferentes gerações. Francisco Guerreiro, Eurodeputado, falou-nos da importância do aumento da família dos verdes no parlamento europeu e do impacto que isso poderá ter nas políticas ambientais da união nos próximos anos. Por fim Joana Balsemão (câmara municipal de Cascais) explicou-nos o papel das autarquias na proteção ambiental e educação social e também nos explicou  de que forma as questões ambientais e são trabalhadas a nível europeu e qual a sequência de eventos necessários para que haja aplicação em campo de medidas especificas.

Mini-debate sobre veganismo entre eurodeputado do PAN e estudante de Medicina no último Eurovisões SummerCEmp

Após um jantar nas margens da Barragem do Alqueva, a noite terminou com mais uma Beer talk, desta vez enriquecida com uma pequena tortulia onde Paulo Sande (Presidência da República) nos falou da sua experiência no parlamento europeu, da forma como acompanhou a criação e evolução do projecto UE ao longo do tempo, dando-nos a sua opinião sobre os desafios que se aproximam.”

Créditos UE/Bruno Pires

29 de Agosto – Jovens, democracia e um “roast”

Sessão 1 – Cultura sem Fronteiras

O terceiro dia mostrou-se o mais variado e complexo em termos de todas as temáticas exploradas. A jornada iniciou-de com uma sessão dedicada às artes, com três artistas de diferentes áreas e de diferentes gerações a darem o seu testemunho sobre a forma como a UE afetou positivamente as suas carreiras. Misette Nielsen detalhou o percurso inusitado que a trouxe à vila de Monsaraz para recuperar a arte da tecelagem, à data em declínio, e a forma como a UE a ajudou a rejuvenescer e a readaptar a arte aos novos tempos e desafios. Joana Barrios falou-nos da influência que o facto de ter crescido no Alentejo teve no seu percurso enquanto artista e a forma como as livres fronteiras lhe permitiram sair de Portugal para também beber da arte internacional e criar a sua própria posição no mundo artístico portugues. Por fim Clara Não, ilustradora, evidenciou não só a influência da sua proveniência socio-geografica na carreira que decidiu seguir, mas também o papel proponderante da sua experiência académica no exterior na construção do papel artístico que tem atualmente. Ficou claro a importância que a UE tem no panorama artístico atual, tanto na individualidade de cada estado membro (conservação de tradições) como a nível da união (criação de uma identidade artística).

Sessão 2 – Esta Europa não é para Jovens

Créditos UE/Bruno Pires

A segunda sessão tocou diretamente as expectativas dos 40 participantes uma vez que se  tentou responder à famigerada questão: a europa é para os jovens? Lídia Pereira, a mais jovem eurodeputada portuguesa, tornou claro exemplo de que é possível, sim, numa idade precoce, ter um papel de destaque na política nacional e internacional. Bernardo Gonçalves trouxe uma solução para estimular uma aproximação dos jovens do mundo político: a aplicação Mypolis, que pretende aproximar autarcas e cidadãos. Já Hugo Ferreira, um biólogo que de forma inesperada se viu como representante português no Youth Sibliu Summit, referiu a abertura que a UE tem para ouvir os jovens e as suas ideias, e que deve partir dos próprios cidadãos, independentemente da sua idade, a vontade de fazer ouvir a sua opinião e de contribuir para uma União de todos e para todos.

Sessão 3 – A Europa é Democrática?

Após um almoço e uma sessão de Slowtalks que seguiu as mesmas características do dia anterior, seguiu-se um interessante debate entre a Eurodeputada Marisa Matias e o deputado Duarte Marques onde se explorou o conceito de democracia e a definição da própria União como democrática ou não. Independente das opiniões divergentes, a conclusão final é de que a união europeia é, sim, um projecto democrático, mas com falhas onde ainda há muito caminho a trilhar.

Duarte e Marisa: um discípulo e uma cética numa igreja que acredita na Europa

Sessão 4 – Em Agenda

Com a presença da embaixadora da Finlândia em Portugal e da Representante da comissão europeia na Suécia, assistimos a um debate onde conseguimos ter uma visão de países diferentes sobre a UE e os seus ideais. Foram debatidos temas proponderante como a segurança fronteiriça da união, a forma como diferentes estados membro se relacionam com as grandes potências exteriores à Europa e o futuro das fontes de energia renováveis na UE. Henrique Burnay, socio sócio-gerente da Eupportunity, falou-nos desta agência  consultora especializada em assuntos europeus e que está numa posição privilegiada para acompanhar as iniciativas políticas e legislativas europeias e defender as posições dos seus clientes perante o legislador comunitário.

Amazónia, Elisa Ferreira e os prémios da semana no Café Europa, o novo programa da Rádio Observador

Sessão 5 – “Roast the EU”

Após uma prova de vinho regional, na ultima sessão do dia que contou com a moderação de Diogo Beja da rádio comercial e que primou por um ambiente descontraído, Carlos Moedas falou-nos do seu percurso profissional político, a forma como se tornou Comissário Europeu e da sua experiencia no parlamento europeu,  classificando a sua passagem pela UE como uma experiência de vida e profissional que não vai conseguir equiparar em trabalhos futuros.  Quando questionado sobre aquilo que mais se orgulha de ter feito enquanto comissário, referiu as conquistas que atingiu na ciência e investigação dentro da comunidade europeia e que o tornaram num porta voz inquestionável nesta temática.

Roast the UE. Quando o Carlos de Beja atacou o Wuant, salvou jaquinzinhos e disse que o PSD vai ter de esperar

Sessão 6 – A Europa em mim

A última sessão do dia decorreu ao por do sol e de novo no castelo de Monsaraz. Tiago Brandão Rodrigues, ministro da educação, teve uma conversa franca com os participantes do SummerCEmp, falando das suas origens na região minhota de Portugal, e como esse aparente isolamento geográfico e social lhe deu, na verdade, as armas emocionais necessárias para explorar a UE e para usufruir de tudo aquilo que a união trouxe aos seus cidadãos. Também foram exploradas questões relacionadas com o ensino em Portugal e com a meritocracia no acesso ao ensino superior.

Tiago Brandão Rodrigues disponível para continuar no Governo e adiar regresso à “Disneylândia dos cientistas”

Após o jantar decorreu mais uma tortulia no Jardim da Universidade, onde o médico local José Pepo partilhou com os participantes histórias e experiências que deleitaram todos os os presentes. Naquela que foi a última noite de Beer talk do evento, o convívio seguiu até altas horas num ambiente de cada vez maior companheirismo e amizade entre todos os participantes do SummerCEmp.”

30 de agosto – Diplomacia, Memes e as saudades (do futuro)

Sessão 1 – Memesaraz

Créditos UE/Bruno Pires

O último dia iniciou-se já com uma ligeira sensação de saudosismo. Na primeira sessão do dia debateram-se as recentes polémicas relacionadas com os artigos 13 e 17 e o desconhecimento do público relativamente ao seu conteúdo que culminou no pânico entre os utilizadores da internet. A representante da comissão europeia em Portugal , Sofia Colares Alves, foi essencial para fazer a ponte entre a UE e os utilizadores portugueses e também deu o seu testemunho. Na mesma sessão Ana Paula Amendoeira falou-nos um pouco sobre a vila de Monsaraz e a sua história, e tivemos a oportunidade de explorar elementos históricos e arqueológicos numa atividade onde se combinou história e o mundo popular online.

Sessão 2 – Nos Bastidores da Diplomacia

A conversa iniciou-se com o oradores a descreverem o seu percurso político e a forma como cresceram dentro e paralelamente ao projecto da UE.  Foi também evidenciado o número de portugueses que atualmente trabalham em instituições europeias, um ótimo indicador do sucesso da integração do nosso país na união. João Vale de Almeida (embaixador da União Europeia junto à ONU) falou da sua experiencia na ONU e também da forma como a UE é vista “de fora”: mesmo que por vezes o projecto seja ainda hoje difícil de definir, é sempre encarado e apontado como um exemplo e uma direção a seguir em diversas questões e pontos estruturais. O orador referiu ainda que as características que se esperam dos líderes de amanhã são a entrega, o empenho e a dedicação às causas importantes, e isso se espera também de todos nós. Fernando Frutuoso de Melo (Presidência da República) definiu a diplomacia como as ferramentas utilizadas para agilizar acordos e negociações internacionais, e vincou a mesma não pode nunca ser desvalorizada ou menosprezada e ser feita fora dos meios de negociação convencionais (redes sociais) como atualmente se vem a observar.

João Vale de Almeida, embaixador da UE na ONU: “A América não se esgota no Presidente”

Sessão 3 – Um olhar sobre o futuro

Ricardo Borges de Castro (centro Europeu de política estratégica) falou sobre a importância da prevenção e antevisão de risco na europa e a forma como a união pondera riscos, se prepara e se posiciona para atuar em caso de necessidade. No fim realizou-se uma atividade onde os participantes escreveram uma carta onde deveriam antever um evento a ocorrer em 2020, justificando essa antevisão. As mesmas cartas serão enviadas aos participantes dentro de um ano de forma que possam confirmar se as suas previsões se concretizaram ou não.

Sessão 4 – O que levo comigo

Créditos UE/Bruno Pires

A última sessão decorreu em tom de declarada emotividade. Telmo Baltazar (Gabinete do presidente Juncker) falou da sua experiência no Parlamento Europeu e contou histórias caricatas e situações inusitadas que vivenciou ali ao longo de tantos anos. De igual forma, terminou o seu discurso deixando um conselho importante aos participantes: a UE tem espaço para todos, e é importante que tenhamos vontade e o fervor de exercer uma atividade cívica e pública numa das muitas instituições europeias para onde fomos convidados a submeter candidaturas. De seguida dois alunos do SummerCEmp 2018 deram o seu testemunho sobre o quanto o evento mudou a suas vidas, como passaram a ter uma vida política muito mais ativa, e a importância de manter uma rede de contactos ativo e dinâmico que promova o debate, pensamento crítico e informação nos seus círculos pessoais. Já em tom de despedida, a equipa de organização foi ovacionada e ficou a promessa de manter uma rede de alunos Alumni do SummerCEmp de forma que a experiência não se limite a estes quatros dias e se perpetue no tempo.

A mentora La Salette Marques proporcionou um último momento diferenciado, com os seus mentorandos a terem uma experiência jornalística e a passarem em revista todas as sessões do SummerCEmp, resumindo as principais aprendizagens de cada uma. Este momento serviu como conclusão para o evento como um todos, encerrando com chave de ouro o conjunto de atividades diferenciadas e estimulantes. Num último momento de interação, os diplomas de participação foram entregues de uma forma original, com cada participante a receber o diploma de um colega e a ter de entregar-lho, diferenciando este momento de um encerramento convencional.

Abandonámos Monsaraz cansados, mas com a mente fervilhando de novos conhecimentos, ideias e opiniões. A quantidade de informações que recebemos nos últimos dias ainda ainda não foi adequadamente organizada e só nos próximos dias teremos a real consciência de tudo o que aprendemos e da oportunidade que nos foi proporcionada. Monsaraz recebeu-nos com uma hospitalidade inegável, e todas as figuras por trás da organização deste evento fizeram mais por nós durante estes dias do que poderíamos esperar ou pedir quando iniciamos a aventura. O SummerCEmp é um conceito revolucionário e pode representar um novo modo de se ensinar política, de se prender a Europa e de se fazer a diferença entre os jovens. Termino esta narrativa com aquela que foi o grito de guerra que nos acompanhou durante os últimos dias:

“SummerCEmp em Monsaraz: é assim que se faz”