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Manuel Monteiro recebeu o cartão de militante do CDS das mãos de Francisco Rodrigues dos Santos na última segunda-feira
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Manuel Monteiro recebeu o cartão de militante do CDS das mãos de Francisco Rodrigues dos Santos na última segunda-feira

Pedro Granadeiro / Global Imagens

Manuel Monteiro recebeu o cartão de militante do CDS das mãos de Francisco Rodrigues dos Santos na última segunda-feira

Pedro Granadeiro / Global Imagens

Entrevista a Manuel Monteiro. Ex-líder do CDS voltou e quer devolver "decência" à política: "Perdeu-se a vergonha"

Manuel Monteiro está de volta à política mas garante que não é hipótese para presidenciais. Quer devolver a decência à política, e diz que o CDS tem mais espaço do que nunca para se afirmar.

Sempre que diz a sigla CDS, acrescenta-lhe “Partido Popular”. Na semana em que recebeu o novo cartão de militante do CDS no Largo do Caldas das mãos do líder do CDS-PP, Manuel Monteiro veio  ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, fazer vários elogios a Francisco Rodrigues dos Santos, de quem não é “conviva permanente”, mas que diz ser alguém “independente” e resistente a servir “vários senhores”. Aconselha-o a “saber ouvir” e a não cometer os mesmos erros que ele cometeu quando era novo e líder do CDS-PP.

Manuel Monteiro garante que não será candidato à Presidência da República — “Não sou hipótese. Isso está completamente fora de questão” — e admite que o CDS possa estar condenado a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, sendo que nunca o poderá fazer sem crítica.

Manuel Monteiro rejeita candidatura presidencial. “Não sou hipótese”

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Nesta que é a primeira entrevista desde a refiliação, Manuel Monteiro diz que “se perdeu a vergonha” e a “decência” na política e que a direita liberal de hoje não é a direita em que se reconhece. Apesar disso, acredita que “nunca como agora houve tanto espaço para a afirmação do CDS-PP”, mesmo com o surgimento de partidos como o Chega no cenário político. “Antes do debate ideológico esquerda-direita, liberal-conservador, tem de existir um princípio fundamental que é o princípio da decência e do bom senso”, defende ainda. A sua “direita”, avisa, não inclui a defesa de casamento de pessoas do mesmo sexo, nem a eutanásia, nem a interrupção voluntária da gravidez.

[Ouça aqui o podcast Vichyssoise, com Manuel Monteiro:]

O regresso de Manuel Monteiro

Está entusiasmado com este regresso à vida política? Tem planos para uma intervenção mais regular a partir de agora?
Estou muito sereno. Eu tinha solicitado esta readmissão em setembro, e portanto fiquei muito contente. Mas não tenho nenhum plano de intervenção a não ser aqueleque decorra da vontade do presidente do CDS e da própria direção do CDS. Não mais do que isso.

Porque é que era importante a refiliação? 
Estive ligado ao CDS desde os 14 anos de idade. Fiz um percurso de intervenção política muito ativa a partir do movimento associativo estudantil, primeiro no liceu Passos Manuel, depois na Juventude Centrista, a que presidi, e depois obviamente no próprio CDS-Partido Popular, expressão que de resto foi acrescentada quando eu fui presidente do CDS. Depois, a determinada altura, por razões várias, sai do CDS porque entendia que a linha que era seguida pelo Partido Popular não estava a ser seguida pelo CDS, e porque sentia que não tinha espaço nem era bem-vindo na participação política mais ativa. Isso tinha-me sido de algum modo transmitido num congresso a que concorri e era presidente o dr. Paulo Portas. Mas o CDS é um partido necessário e essencial à afirmação política, e este regresso a casa é no fundo um dizer ‘presente’, mostrar que estou disponível dentro das minhas possibilidades e das minhas vontades. Mais do que isso não.

Os últimos resultados eleitorais do CDS, nas europeias e legislativas, não foram muito animadores. Porque é que acha que isso aconteceu? Porque o CDS não estava no caminho do Partido Popular? O que é que o CDS precisa de fazer para reconquistar eleitores?
A doutora Assunção Cristas creio que foi penalizada pelo facto de existir uma percentagem significa de eleitores do CDS que, perante a iminência de uma vitória do PS com maioria absoluta, preferiram votar PSD.

O problema foi o voto útil, então?
O velho problema de que o CDS sempre padeceu, a partir da Aliança Democrática de Sá Carneiro. Há um pragmatismo muito grande no eleitorado da direita, apesar de haver sempre uma direita mais ideológica agarrada aos princípios e valores, com a qual eu me identifico, e depois há uma direita muito fria, muito pragmática, muito objetiva, que não está prisioneira de um voto. A ideia de um eleitorado fixo é um erro, porque hoje há um eleitorado muito oscilante que tanto pode ir do BE ao CDS, ou outros partidos. As circunstâncias mudaram por completo. Mas a política é isso mesmo. A doutora Assunção Cristas tinha beneficiado, nas autárquicas, de um mau processo de candidatura do PSD à câmara municipal de Lisboa, e depois aconteceu o contrário. É a vida, como dizia o engenheiro António Guterres.

E antevê uma mudança de rumo do CDS com a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos, vai caminhar para a direita dos princípios e valores? Que balanço faz do mandato?
Ainda é muito cedo para fazermos um balanço, até atendendo às circunstâncias em que todos estamos envolvidos desde março. E a dinâmica que eu sei que ele quer imprimir ao partido numa lógica de contacto de rua, de auscultação das pessoas, isso ficou completamente tolhido. Não deixa de ser significativo que ele tenha sido o primeiro líder partidário, não governamental, a ter tido já esta semana uma ação de rua. Ainda é cedo.

Mas conhece as ideias dele.
Lendo a moção de estratégia e tendo presente algumas (não muitas) conversas que tenho mantido com ele, penso que ele é um líder jovem, arejado, e sem medo de dizer que é de direita e que é conservador. Num certo sentido, estamos a regressar a uma época do PREC, que vivi quando era muito jovem, em que ser do contra ou ter um pensamento distinto da lógica dominante na altura era considerado fascista, e hoje é considerado anti-patriótico. Por exemplo, quem não é a favor da conversa da igualdade de género é considerado anti-patriótico. Isso é profundamente negativo, e há cada vez mais pessoas desiludidas com a atividade política por essa razão. Tenho a esperança, e a expectativa, que o doutor Francisco Rodrigues dos Santos rompa com esse colete de forças e seja uma voz autêntica dentro dos parâmetros da democracia e do humanismo cristão para afirmar um pensamento popular de direita, não populista, e claramente conservador.

Sendo que já foi líder do partido, e até em circunstâncias similares, Francisco Rodrigues dos Santos já lhe pediu alguma vez algum conselho? Costumam falar?
O principal conselho que lhe posso dar é que não cometa os erros que eu cometi, isso parece-me fundamental.

Que erros?
Foram vários. Eu tinha uma juventude muito aguerrida, era muito combativo, nem sempre ouvia quando devia ouvir, e ouvir em política é muito importante. Sei que hoje vivemos num frenesim em que todas as pessoas falam de tudo, mas, como eu costumo dizer, falam de tudo em 5 minutos, não têm conversa para 6. Não há densidade, não há profundidade. Porque vivemos uma época de muita informação mas de pouca formação. Isso leva a que a vida política esteja frenética, mas no mau sentido. Penso que há aqui uma fragilidade muito grande no discurso político e a densidade de combate político deixou de existir: vivemos cada vez mais para os soundbites, estamos preocupados cada vez mais com o título do jornal, esquecendo que o título do jornal as 10h da manhã já não é o mesmo às 10h15. As lideranças políticas deviam ter essa perspetiva em atenção, e deviam ouvir e ouvir quem mais sabe. O que não significa seguir quem ouviu.

Francisco Rodrigues dos Santos sabe ouvir?
Penso que sim. Ao contrário do que se possa pensar, eu não estou muitas vezes com o doutor Francisco Rodrigues dos Santos. Estive algumas vezes, e não me posso esquecer que a primeira pessoa a convidar-me para me reaproximar do CDS foi ele, quando me convidou, na qualidade de presidente da Juventude Centrista, para participar num aniversário da Juventude Centrista. Não me esqueço disso, mas não somos convivas permanentes.

Quando falava da importância de saber ouvir, também acha que é importante saber escolher quem é que se deve ouvir?
Claro. Mas as pessoas são uma caixa de surpresa permanente. Podemos confiar muito numa pessoa e ao longo da vida ficar desiludido com essas pessoas, ou essas pessoas ficarem desiludidas connosco. Não podemos ter a perceção de que quando há uma zanga, quando há um mau-entendimento, que a culpa é só dos outros e não é nossa.

Acha que esse também foi um erro que cometeu?
Quem age, quem faz coisas, tem de estar sempre predisposto a perceber que pode errar. Portanto, quem não quer cometer erros não faz rigorosamente nada. Havia um líder partidário e político, Cavaco Silva, que teve a grande coragem de dizer que nunca se engana e raramente tem dúvidas. Nem todos temos essa iluminação, eu não sou assim, e penso que a esmagadora maioria do ser humano sabe que quem age, erra. Quem pensa, umas vezes acerta e outras não. Grave é quando se erra e não se reconhece o erro, e grave é quando esse erro é lesivo dos interesses dos outros e é cometido à custa do erário público ou prejudicando a esmagadora maioria das pessoas, isso é que é grave.

Manuel Monteiro a conversar com Paulo Portas Parlamento no tempo em que era líder do CDS

Marcos Borga

Em que partido se tornou o CDS nos anos Portas e depois Cristas? Já não era um verdadeiro partido de direita?
Quem estuda o pensamento político, como é o meu caso, sabe que nunca há um rigor objetivo entre o que é a direita e a esquerda, muito menos hoje com novos dados que todos os dias nos entram pela frente. Um exemplo prático: antes do doutor Paulo Portas, na política em geral, ser liberal significava libertar a economia do Estado, significava ser contra as nacionalizações, significava defender a iniciativa privada, portanto nesse contexto um liberal e um conservador estavam em plena sintonia. Francisco Lucas Pires era um pensador liberal, mas nunca o viram defender o que hoje, com toda a legitimidade, o liberalismo que hoje existe defende em matéria de costumes sociais.

Acha que a tarefa do CDS-PP, como o imagina e o defende, seria mais ou menos difícil com a concorrência que hoje existe com outros partidos mais à direita, como por exemplo o Chega? Ou ainda há espaço dentro do CDS para essa direita que quis construir?
Penso que há cada vez mais espaço, e creio que o presidente do CDS tem esse entendimento, ele já mo disse. Mas ser liberal na década de 80 não tem nada a ver com ser liberal hoje. Hoje há quem se diga de direita, e com toda a legitimidade, mas não é a minha direita. Portanto, ver alguém de direita que diz que é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou da possibilidade de eutanásia, ou da interrupção voluntária da gravidez, tem a sua legitimidade, tem o direito de o defender, mas não é uma direita com a qual eu me identifico. Nesse aspeto, há uma mudança objetiva entre a direita que existiu, e com a qual eu me revejo, que englobava conservadores e liberais, e a direita de hoje, onde nessa matéria, que para mim é estruturante, estão muito próximos do Bloco de Esquerda. Não têm o direito de defender o que pensam? Têm todo o direito. Têm toda a legitimidade. Têm direito a estar no CDS? Admito que sim, isso já não me diz respeito. Mas a linha orientadora de um partido democrata-cristão e conservador, liberal no plano da liberdade das ideias e da iniciativa privada, não é exatamente essa.

"Hoje há quem se diga de direita, e com toda a legitimidade, mas não é a minha direita. Ver alguém de direita que diz que é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou da possibilidade de eutanásia, ou da IVG, tem a sua legitimidade, mas não é uma direita com a qual eu me identifico."

Portanto, esse espaço existe.
Penso que nunca como agora, e estou à vontade porque disse isto uma vez ao dr. Francisco Rodrigues dos Santos e penso que ele está de acordo com isso — e se não estiver a liberdade é dele, é ele que tem de conduzir o partido — nunca como agora houve tanto espaço para a afirmação do CDS-Partido Popular. Dois aspetos práticos: falta reintroduzir a decência na vida política. Perdeu-se a vergonha. Recordo-me do tempo em que havia ministros que se demitiam porque não tinham pagado a Sisa [referência a António Vitorino]. As pessoas não estavam à espera dos processos ou coisa que o valha. Isso acabou. E isso tem de ser recuperado porque antes do debate ideológico — esquerda-direita, liberal-conservador — tem de existir um princípio fundamental que é o princípio da decência e do bom senso. Não podemos aceitar que existam pessoas que  de manhã estão na vida política e à tarde estão ao telefone com o ministro para tratar dos seus negócios, porque isso não pode ser. Essa mistura não pode ser. Não podemos aceitar que os portugueses estejam a injetar dinheiro, o dr. Rui Rio já falou nisso e eu falo também, no Novo Banco e que o presidente do Conselho de Administração se esteja repetidamente a aumentar. Não podemos aceitar empresas nas quais o Estado está presente como acionista, como a Galp, que despedem trabalhadores e depois os acionistas repartem lucros entre si. Esse discurso não pode ser o discurso da esquerda.

Esse discurso da moralidade era algo que um candidato presidencial poderia trazer para a agenda. Em janeiro dizia que não seria candidato presidencial. Mantém essa posição,  não admite ser candidato?
Não, não admito. Eu não vou fugir à sua pergunta, as deixe-me só falar do segundo ponto de afirmação do CDS-Partido Popular. Eu recordo-me que caíram trovões em cima de mim quando defendi em dado momento em Portugal a produção nacional. E quando disse que era um erro político que o país iria pagar estar a receber dinheiro de fundos comunitários para não produzir na agricultura, para abater os barcos e para fechar as fábricas. Pasme-se, aquele que era o anti-europeu, aquele que era o nacionalista retrógrado, hoje vê o primeiro-ministro de Portugal dizer aos portugueses: ‘Apostem na produção nacional e não se habituem apenas a consumir aquilo que importam da China’. Ainda bem. É caso para dizer ao Dr. António Costa: Seja bem vindo. Mas, de facto, este discurso de defesa da produção nacional e da capacidade do país se afirmar produzindo e consumindo essencialmente aquilo que produz é um discurso que, melhor do que ninguém, e com maior legitimidade do que ninguém, o CDS partido popular vai fazer. Sei que esse é também o pensamento do presidente do CDS e não duvido que ele o irá fazer. Veja aqui duas questões práticas e concretas: a moralidade da vida pública, a decência, a ética, o respeito pelo próximo e a defesa da produção nacional. Para além, obviamente, da perceção que um partido de direita humanista-cristão.

É nesse espaço que podia aparecer um candidato presidencial e, segundo diz, até seria útil. Manuel Monteiro é hipótese ou não?
Não. Não sou hipótese. Isso está completamente fora de questão desde que essa “hipótese” foi equacionada.

"Não sou hipótese [para uma candidatura à Presidência da República] Isso está completamente fora de questão desde que essa entre-aspas hipótese foi equacionada."

Mas o CDS deveria ter o seu candidato?
O CDS, a seu tempo, com os órgãos próprios, tomará uma posição sobre isso, que eu saiba não tomou. Não creio também, com sinceridade, que esse seja um tema da agenda imediata da esmagadora maioria dos portugueses, o que não significa que não seja importante.

Mas o CDS devia ter um candidato próprio ou não?
Essa pergunta não é fácil para mim por variadíssimas razões. Eu não votei nas últimas eleições presidenciais, pura e simplesmente não fui votar. Se tivesse ido votar por necessidade votaria em Marcelo Rebelo de Sousa.

Isso significa que, por necessidade, o CDS também poderia eventualmente apoiar um candidato que julgaria não apoiar?
A necessidade é algo que, muitas vezes, também determina o comportamento político em nome de interesses superiores. Mas isso não sei. A direção do CDS, a seu tempo, no seu timing, com a sua vontade e a sua capacidade, decidirá. Eu tenho uma estima imensa pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa e sei que ele é naturalmente aquilo que mostra ser. É efetivamente um Presidente dos afetos. E não tenho a menor dúvida que o Presidente da República ou candidato Marcelo Rebelo de Sousa terá uma votação histórica em Portugal. E penso que os partidos políticos devem ter essa consciência. Marcelo Rebelo de Sousa é neste momento sob o ponto de vista formal apenas o candidato ou pré-candidato do Partido Socialista. Portanto, o dr. António Costa, enquanto líder político, foi o único que se chegou à frente e disse: espero voltar aqui com o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Vamos ser claros: há uma direita que não gosta de muitas das coisas que são feitas pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, justa ou injustamente.

É o seu caso?
Às vezes há coisas que eu não consigo entender. Como julgo conhecer Marcelo Rebelo de Sousa, julgo interpretar aquilo que ele faz. Agora repare: a direita não gosta muito não é que o Presidente seja o partido da direita contra a esquerda ou da esquerda contra a direita. O Presidente é Presidente de todos os portugueses. Agora, às vezes há a sensação, provavelmente errada, de que o colo mais confortável que o primeiro-ministro de Portugal possui é dado pelo Presidente da República. E isso tolhe muitas das vezes os movimentos e a capacidade de ação à direita que, quando vai criticar o primeiro-ministro, parece que também está a criticar o Presidente da República. Qual é a solução para isto? A solução para isto é que a direita não tem de ter medo. Significa isto que tem de ter um candidato? Não obrigatoriamente.

"Marcelo Rebelo de Sousa é neste momento sob o ponto de vista formal apenas o pré-candidato do Partido Socialista."

Então devia apoiar quem?
Pode até apoiar o professor Marcelo Rebelo de Sousa, sem prescindir por um segundo que seja de o criticar quando entender que o deve fazer.

"O CDS ode até apoiar o professor Marcelo Rebelo de Sousa, sem prescindir por um segundo que seja de o criticar quando entender que o deve fazer."

E como vê uma eventual candidatura de Adolfo Mesquita Nunes? Se ele avançasse desta vez votaria? Ou votaria, mas em Marcelo Rebelo de Sousa?
Respeito a sua pergunta, mas se o próprio não disse nada quem sou eu para estar a falar de uma hipótese que o próprio nem sequer equacionou. Portanto, era uma questão que teria de se colocar se ele efetivamente manifestasse essa intenção. Ou então se me tivesse dito: ‘Olhe, eu vou lançar a pista o que as pessoas dizem e, portanto, se puder, diga que está de acordo’. Isso não aconteceu e, portanto, no meu caso pessoal só me poderei pronunciar sobre essa eventualidade se ela se concretizar. Voltando ao professor Marcelo Rebelo de Sousa, penso que a forma de sairmos deste círculo vicioso e de um certo colete de forças em que parece que estamos todos envolvidos é que a direita demonstra que não é pelo facto de querer o professor Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República, não é pelo facto de vir a apoiar o professor Marcelo para candidato à Presidência da República que ele está isento de crítica. Porque, em democracia, e essa é a essência do regime democrático, nenhum de nós pode estar acima da crítica. E criticar em democracia é fundamental para a vivificação e para o dinamismo da própria democracia. É evidente que nós temos às vezes aqui uma lógica de primas-donas em que a crítica política é imediatamente vista como crítica pessoal. Portanto, não se pode dizer nada que fica tudo ofendido. O que teria sido se aqueles que lutaram para a afirmação da liberdade e da democracia em Portugal tivessem ficado tolhidos cada vez que eram atacados na rua sempre que criticavam os condutores da política de então. E portanto, a direita tem de se libertar. Mas essa libertação e essa liberdade pressupõe um princípio de independência. E é isso que me agrada em Francisco Rodrigues dos Santos.

O princípio de independência?
Sim. O Francisco Rodrigues dos Santos é uma pessoa independente. Ou seja: ele não está dependente. Eu sei que ele tem muitos problemas. Até porque os herdou. Herdar uma casa com dívidas e cheia de problemas nesse sentido não é fácil, como devem calcular. Mas isso terá de ser ele a falar do assunto. Agora, agrada-me esse sentido de independência dele. Porque em política não se podem servir vários senhores, se eu quero servir a causa pública e atacar verdadeiramente a essência do sistema e não apenas a espuma do sistema. Porque anda muita gente preocupada que o CDS não vai ter espaço porque tem o partido liberal e tem o Chega e portanto vai ter mais dificuldade em se afirmar. Eu penso que não. Primeiro porque o CDS tem um património em termos de discurso, nomeadamente naquelas áreas em que lhe falei, que pede meças a quem quer que seja. E em segundo lugar porque uma coisa é querer cavalgar a espuma dos dias e vir dizer quando morre uma criança que quem matou deve ir preso para toda a vida. Ok, é um espaço político, mas isso tanto vem como vai.

E o CDS pode ser contraponto a isso.
Outra coisa é ter a capacidade para analisar se as bases que orientam penal continuam a estar corretas e se as bases que orientam o sistema educativo tantos anos depois do 25 de Abril continuam ou não a estar corretas. Depois há aí um amplo espaço. Depois na questão liberal, eu não sou liberal, mas respeito quem é. Ainda estou para ver quando é que surgirá um liberal que, por exemplo, propõe a alteração do direito sucessório, de dizer: ‘Os pais devem poder deixar os bens a quem querem e não existir uma quota indisponível’. Isso corresponde a um verdadeiro pensamento liberal. Ainda estou para ver alguém que venha dizer que não têm de existir descontos acima de determinado montante porque cada um trata da sua vida. Isso corresponde a um pensamento verdadeiramente liberal. Eu não sou, porque entendo que o Estado deve ter uma intervenção e uma capacidade de intervenção. Agora vir dizer que o Estado gere mal o dinheiro, estamos todos de acordo com isso. O problema é que o regime democrático corre sérios riscos se não tivermos capacidade de implodir o sistema. O sistema no comportamento, no exemplo. Não podemos pedir uma coisa às pessoas e fazer outra. E depois as bases que nos aprisionaram em muitas circunstâncias. E eu tenho, como lhes disse, uma expectativa muito positiva nesta liberdade e nesta independência do presidente do CDS. E espero que o meu regresso não seja para acicatar o que quer que seja com o passado porque penso que todos aqueles que foram presidentes do CDS e que estão vivos, se puderem, independentemente das suas divergências no passado, colaborar para em conjunto contribuir para ajudar o atual presidente do partido, eu penso que todos faremos bem.

Avançamos para a fase o carne ou peixe em que é pedido que o convidado escolha uma das opções:

Qual foi o seu maior erro político? Ter ouvido Paulo Portas ou ter fundado um novo partido?
Palavra de honra que me ia mesmo perguntar sobre comida, já estava a pensar nos jaquinzinhos e na carne deporco à alentejana. Essa é uma maldade. Se fosse hoje, nas mesmas circunstâncias, teria ouvido na mesma o dr. Paulo Portas

O que faria com mais convicção? Participar num congresso do Partido Popular Europeu, do qual o CDS chegou até ser expulso durante a sua liderança, ou participar num comício ao lado de Jerónimo de Sousa a favor da soberania nacional no quadro da União Europeia?
Provavelmente iria ao congresso do Partido Popular Europeu sujeitando-me novamente a ser expulso dizer que eles estavam errados e que continuam errados na defesa do federalismo europeu.

Num cenário de apenas dois candidatos presidenciais à direita apoiaria mais depressa Marcelo Rebelo de Sousa ou Adolfo Mesquita Nunes?
Em termos de pensamento estaria mais próximo de Marcelo Rebelo de Sousa.

Quem convidaria para almoçar na sua casa sem ser para falar de política, o seu antigo colega de escola António Costa ou o líder do seu partido Francisco Rodrigues dos Santos?
De preferência os dois. Sou amigo de António Costa. Convidaria os dois. Até para que Francisco Rodrigues dos Santos visse dois amigos de lados completamente opostos a conversar sobre livros.

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