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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

Era todos contra todos, mas o debate acabou por ser entre os blocos da esquerda e da direita

Pedro Nuno foi o mais atacado, mas a uma curtÍssima distância de Montenegro. De resto, no duelo a oito, esquerda e direita atacaram-se mutuamente, com os hemisférios políticos a ficarem bem evidentes.

Num debate a oito, os blocos definiram-se: à esquerda, PS, Bloco, PCP, Livre (e até o PAN), apesar de alguns galhardetes trocados, compuseram uma frente; à direita, e apesar do cordão sanitário traçado em torno de André Ventura, que não se coibiu de criticar abertamente Luís Montenegro, PSD, IL e Chega apontaram baterias aos oito anos de governação socialista, tentando atingir Pedro Nuno Santos. No final, e apesar do formato não permitir um frente a frente mais evidente, os dois protagonistas acabaram por ser, sem grande surpresa, os líderes dos dois maiores partidos.

Contas feitas, a matemática dos ataques comprova precisamente esta dinâmica: os blocos pouparam-se, concentrando-se em atacar o outro lado do espectro político. Como é habitual nestes formatos, Pedro Nuno Santos (aqui no papel de incumbente) foi o mais atingido, tendo sofrido 34 ataques, sendo que só seis vieram da esquerda; e o marcador de Luís Montenegro mostra um resultado quase igual — em 33 ataques sofridos, só oito foram da direita. Ventura só não foi atacado por Montenegro, e Rocha foi totalmente imune a ataques dos partidos vizinhos. À esquerda, um retrato em espelho: os partidos que ficam à esquerda do PS foram os alvos menos atingidos (ou mais ignorados) e nunca apontaram a mira uns aos outros.

Pedro Nuno concentrou-se na disputa com Montenegro e poupou totalmente a esquerda

Pedro Nuno Santos foi o mais atacado

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Luís Montenegro: 10
Ataques a André Ventura: 3
Ataques a Rui Rocha: 3
Ataques a Mariana Mortágua: 0
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

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O quadro final dos ataques de Pedro Nuno Santos durante o debate com todos os candidatos na RTP é uma boa síntese da sua estratégia para o debate. Entrou pressionado por duas sondagens a colocarem a AD à frente do PS e isso teve impacto na gestão do combate em que se concentrou sobretudo em entrar em confronto mais direto com o líder do PSD. Não houve um único tema abordado no debate em que Pedro Nuno Santos não tenha aproveitado para atirar a Luís Montenegro, ao todos foram dez os ataques que lhe dirigiu. A esquerda e o PAN saíram sem mácula, do ponto de vista socialista.

Na questão da governabilidade — que clarificou e entretanto já complicou para voltar a clarificar, o que não foi deixado de lado pelos seus adversários da direita — repetiu que a sua posição é que “não governará se ficar em segundo no quadro de uma maioria de direita”, mas que, nesse caso, “o PS não provocará nenhum impasse constitucional”. Ou seja, “não apresentará nem viabilizará nenhuma moção de rejeição” a um programa de governo da AD. Logo depois acusou Montenegro de “esconder-se atrás de um biombo com medo de dizer o que vai fazer”, explorando o “tabu” que diz que o líder do PSD mantém sobre se viabilizará ou não um Governo minoritário do PS, caso os socialistas fiquem à frente nas eleições de 10 de março.

Na parte da Justiça, voltou a atirar a Luís Montenegro e à “falta de frontalidade e incoerência” na reação à demissão do primeiro-ministro quando comparada com a demissão do presidente do Governo Regional da Madeira — e sublinhou mesmo que o PSD ainda nada fez por Miguel Albuquerque que continua a ser presidente da Mesa do Congresso do partido. Depois também aproveitou para falar na sua medida para clarificar “a relação hierárquica” dentro do Ministério Público que, defendeu, “não é um poder que esteja acima da lei”.

Aqui foi instado por André Ventura a explicar o que queria dizer com a clarificação, não fazendo mais do que dizer que o “litígio que existe atualmente” que tem de ser resolvido. E atirou uma necessidade genérica de “olhar para a reforma da Justiça, sem pôr causa a independência judicial que é sagrada no Estado de Direito”. Ventura foi o segundo mais atacado pelo socialista (foram três vezes) e este foi o tema em que mais se irritou com André Ventura por o líder do Chega estar a dizer que o PS quer interferir na Justiça. Respondeu acusando-o de “gostar de misturar tudo e mostrar que toda a gente é corrupto menos ele” e que essa “forma de estar na política” também tem de ser “combatida”.

Até confrontado com os protestos na Saúde, Educação e dos polícias, Pedro Nuno Santos tentou virar o ataque para o PSD. Apontou a “recuperação salarial” que garante ter sido feito pelo Governo socialista, admitiu que “infelizmente não se conseguiu ainda atingir o patamar que permita aos trabalhadores do Estado sentirem-se devidamente valorizados”, mas acabou a dizer que o PS, “ao contrário da AD que quer apostar tudo no choque fiscal, quer também apostar no choque salarial”. Aqui aproveitou para namorar a esquerda à sua esquerda, referindo que concordam nessa matéria: “O choque fiscal que a direita toda junta propõe é ineficaz (…) O choque salarial que defendem os partidos à esquerda — e nós também — alimenta um choque de produtividade” — disse num debate onde não teve uma única palavra hostil para a esquerda e PAN.

A tentativa de agigantar a mancha de esquerda foi um dos pontos que o socialista aproveitou, mas sobretudo tentar confrontar-se com Montenegro. Tentou contrapor o seu cenário macroecónomico feito “com precaução”, mas com “ambição”, a um “aventureirismo fiscal da direita, sobretudo da AD” — ouvindo Montenegro ripostar que o PS “a falar em rombo é uma anedota”. E também contrapor a “ambição salarial” do PS,voltando a uma arma que usou no frente a frente com Montenegro, ao dizer que o social-democrata propõe como salário médio em 2030 1.750 euros, valor que será atingido em 2027 com o atual acordo de rendimentos. E sobre este acordo que juntou patrões e UGT ainda acusou Montenegro de defender, num encontro com empresário, que seja revisto: “O que está a fazer é reduzir os compromissos em matéria salarial”, acusou.

Também houve picardia com a Iniciativa Liberal, na mesma medida em que houve com o Chega (também três ataques), com o mais significativo a surgir por causa das acusações que Rui Rocha lhe dirigiu em matéria de respostas para a Saúde. Com o refrão “não funciona, Pedro”, o líder da IL foi enumerando os vários problemas no sector. A resposta de Pedro Nuno foi ideológica: “A solução não está no setor privado, Rui.” Depois de uma longa defesa da aposta dos últimos governos da valorização salarial, que espera poder ajudar a fixar profissionais de saúde no SNS, mas que também quer apostar numa reforma organizacional.  Sempre recusando que a resposta passe por “desviar recursos públicos para o sector privado na Saúde e que isso sim vai intensificar a saída de médicos do SNS” — uma acusação que atira sempre à direita. Mais uma vez.

Montenegro não respondeu a Ventura; Pedro Nuno foi o alvo

Montenegro foi alvo de 33 ataques

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 11
Ataques a André Ventura: 0
Ataques a Rui Rocha: 0
Ataques a Mariana Mortágua: 1
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 1

Luís Montenegro teve um arranque de debate ingrato. A começar, foi desafiado a desfazer um tabu que entretanto criou: o que fará se ficar em segundo lugar e existir uma maioria de direita. Neste duelo a oito, e mantendo o que tem feito até aqui, o líder do PSD não quis responder – mesmo confrontando com as suas próprias declarações à CNN, a 30 de janeiro, em que disse claramente que não viabilizaria um governo minoritário de Pedro Nuno Santos.

A seguir, e desafiado a falar sobre o estado da Justiça, a com do Ministério Público com o poder político, e os processos que levaram à queda dos governos de António Costa e Miguel Albuquerques, Montenegro repetiu algumas das ideias da Aliança Democrática – criminalizar o enriquecimento ilícito e regulamentar o lóbi –, mas negou qualquer dualidade de critérios do PSD sobre as demissões que ocorreram. Mais: Montenegro chegou a lembrar que nunca pediu a demissão de António Costa; sobre Miguel Albuquerque, defendeu que o social-democrata mantém intactos todos os seus direitos políticos, admitindo, ainda assim, que, no lugar do madeirense, talvez não se candidatasse à liderança do PSD-Madeira – como pretende fazer Albuquerque.

Pressionado aqui e acolá por Ventura, e à exceção de um bate boca com Mariana Mortágua, Montenegro foi tentando manter um duelo particular com Pedro Nuno Santos. Acusou o socialista de ter contribuído para o estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde, corresponsabilizando-o, e defendeu a receita fiscal da Aliança Democrática para garantir crescimento económico, recusando a ideia de “aventureirismo” que os socialistas vão tentando colar à coligação, e dizendo que o PS desistiu de crescer para lá da mediocridade.

Chega e o foco em competir com os grandes

Ventura não poupou críticas à indefinição de Montenegro

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 7
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a Rui Rocha: 0
Ataques a Mariana Mortágua: 2
Ataques a Paulo Raimundo: 2
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

No meio de oito, André Ventura esteve longe de conseguir impor o ritmo do debate a que costuma ser associado, mas foi aproveitando os apartes para atirar aos adversários, com Pedro Nuno Santos à cabeça, logo seguido de Luís Montenegro. Focado em intrometer-se no campeonato dos grandes, Ventura foi forçado a jogar ao ataque e à defesa, desde logo ao reiterar a ideia de que as sondagens demonstram que o partido que lidera tem “estabilizado entre 17% e os 20%” e que isso significa que “com toda a probabilidade não haverá maioria à direita sem o Chega”. Além de todos os partidos manterem o cordão sanitário, Ventura não só permanece isolado como tem nas costas um alvo que permite à esquerda acusar a direita de não se entender e que Mortágua resumiu: “À direita não se entendem e ofendem-se entre si.”

Se a preocupação de Ventura foi usar os ataques a Montenegro para mostrar que não tem saída sem ser negociar com o Chega, o líder do Chega aproveitou para acusar o presidente do PSD de se preparar para viabilizar um governo do PS com “o segundo rosto mais importante do Governo”, cavalgando o tabu sobre o que fará o líder social-democrata no pós-eleições. No sentido inverso, também não deixou escapar as hipóteses de criticar a esquerda sempre que possível, com farpas ao facto de Bloco de Esquerda e PCP terem contribuído, ao lado do PS, para o atual estado do país. Na justiça, teve espaço para segurar uma das grandes bandeiras do Chega, a corrupção, ao trazer os casos de António Costa e Miguel Albuquerque para cima da mesa e ao atacar Luís Montenegro de ter atuado “muito mal” e por fazer uma distinção entre “boa e má corrupção”. Pelo caminho, uma crítica geral para dizer que há uma tentativa de “silenciar a justiça” quando são afetados políticos.

Se na Saúde assumiu que Pedro Nuno Santos precisava de fazer “mea culpa” sobre o estado do SNS, na economia culpou o PS por ter levado o país a um “choque fiscal”, sentindo-se agora “incomodado com a palavra”. Num balanço geral, Ventura procurou um equilíbrio entre quem está à procura dos votos de todos os lados: atirou para onde pôde sempre que pôde, mas fez questão de não usar a agressividade que muitas vezes lhe está colada à pele nos debates e focou-se naqueles que não dispensa como adversários: os que estão acima do Chega.

Rui Rocha à defesa de uma solução à direita e ao ataque ao PS

Rui Rocha focado no ataque ao PS

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 6
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a Mariana Mortágua: 0
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Rui Rocha vinha preparado para fazer o que fez em toda a ronda de debates: focar-se num ataque constante ao PS, não descurar que o PSD tem culpas no cartório e reconhecer que a IL está disponível para colaborar numa solução com o PSD. Só e unicamente com o PSD e sem o Chega. E essa clareza, em oposição com o silêncio de Montenegro, deu espaço para o primeiro ataque do debate, em que o líder liberal fez questão de se distanciar do presidente do PSD, criticando-o por não ser capaz de verbalizar o que fará se ficar em segundo lugar. Para não ser acusado de dúvidas nem silêncios, foi peremptório: “A IL não viabiliza um governo minoritário do PS.”

Nos casos de António Costa e Miguel Albuquerque não fez distinções, reiterou a posição de nenhum dos dois tinha condições para continuar em funções — e ainda deixou a certeza de que a IL não deixa a porta aberta a qualquer solução que envolva o nome do ainda presidente do governo regional da Madeira. Ainda sobre a justiça, foi um dos que recuperou nomes do passado para um ataque, neste caso ao PS, para justificar uma medida da IL (as nomeações por mérito) para criticar a saída de Mário Centeno do governo e a entrada no Banco de Portugal.

Tanto na Saúde como nos impostos, Rui Rocha focou-se nos ataques diretos ao PS e PSD, com uma narrativa que alimentou ao longo dos debates: o que o PS tem para oferecer é um espelho do país real e o que o PSD sugere é poucochinho. Depois de atirar com o exemplo dos impostos que tem vindo a repetir, dirigiu-se diretamente a Pedro Nuno Santos, recordando o momento “o que é que não funciona?”: “Não funciona, Pedro” — e o que levou até a uma interrupção do líder do PS nos mesmos termos: “A solução não está no setor privado, Rui.” No mesmo sentido, e mais uma vez contra o socialista, recuperou uma metáfora futebolística para acusar o PS de se “entusiasmar com o crescimento do último trimestres” e ouviu Pedro Nuno Santos a dizer que “é velha”. No final do debate, Rocha foi Rocha, usou os mesmos exemplos dos últimos tempos, e aproveitou, sempre que possível, para apontar o dedo ao PS e contrapor o liberalismo ao socialismo.

Paulo Raimundo: disparar contra a direita sem poupar o PS

Raimundo foi atacado três vezes, nenhuma pela esquerda

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 4
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a André Ventura: 2
Ataques a Rui Rocha: 1
Ataques a Mariana Mortágua: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

No caso de Paulo Raimundo, houve uma referência breve à hipótese de dialogar com o PS – não vale a pena falar em “contas geométricas”, mas sim em “conteúdos”, os mesmos que abriram caminho à geringonça, sentenciou logo de início. E distribuiu críticas a ambos os lados do “centrão”: o PCP estará “na primeira linha” para travar PSD, IL e Chega e o regresso aos “tempos sombrios da troika”, um fantasma que não hesitou em trazer para o debate; mas também não vai permitir (se isso estiver nas suas mãos) que as respostas aos problemas do país sejam as mesmas que em tempos de maioria absoluta.

Durante o debate, Raimundo defendeu o aumento geral de salários que propõe (15%), garantindo que há uma “brutal injustiça” na distribuição de riqueza e criando os benefícios fiscais atribuídos às maiores empresas, incluindo no atual Orçamento – ou seja, a farpa também se dirigia ao PS. Para os comunistas, é preciso garantir que o consumo interno mexe – as pessoas precisam de “dinheiro no bolso” – e que as empresas mais pequenas são apoiadas, em vez de se darem apoios e cortes de impostos ao “1% que toma conta disto tudo”.

Será essa a principal causa do PCP nestas eleições, mas Raimundo também aproveitou para fazer a defesa do SNS, mais uma vez distribuindo ataques ao PS e à direita – o PS está apostado em “dar continuidade” ao caminho que tem traçado, a direita quer acabar “com o resto” do SNS, atirou. Foi um padrão recorrente durante o confronto a oito, no final do qual também se juntou à amena cavaqueira entre os líderes da esquerda.

Os ataques contra o PS tinham sido dirigidos sobretudo à maioria absoluta, embora a farpa sobre a “continuidade” no atual programa do PS não passe despercebida. O PCP quer deixar claro que será exigente com o novo PS de Pedro Nuno – tenha deputados e força para isso. Aliás, se as sondagens mostram o partido a cair e até a ser ultrapassado pelo Livre, Raimundo tratou de as desvalorizar e de perguntar ao moderador por que dirigiu a questão sobre uma possível queda eleitoral ao PCP. É preciso contrariar a ideia de um definhamento do partido.

Mortágua: ataque cerrado à direita, geringonça protegida

Mortágua não foi atacada nenhuma vez pela esquerda

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 2
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a Rui Rocha: 3
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Os argumentos em concreto podem variar consoante os temas que estão em discussão, mas toda a estratégia que Mariana Mortágua levava para o debate – e que leva para a campanha – ficou clara na resposta que deu logo à primeira questão, sobre a governabilidade do país.

Ponto um: as conversas sobre o assunto não devem ser sobre as viabilizações que PS e PSD podem garantir um ao outro, mas sobre “maiorias” estáveis. Ponto dois: essa maioria (teórica, e que nas sondagens não existe, até ver) só será estável à esquerda, porque a direita passa o tempo a “ofender-se” e a mostrar que não se entende entre si. Ponto três: ainda assim, é preciso não deixar passar os erros da maioria absoluta – para garantir que, sendo condicionado pelo Bloco de Esquerda, o PS dará finalmente resposta a problemas do país, a começar pela Habitação, Saúde ou baixos salários.

Foi nestas teclas que Mortágua bateu durante todo o debate, focando-se especialmente nos ataques à direita, uma vez que não está particularmente interessada em entrar numa guerra à esquerda nem em dar sinais de que esse lado do espectro político seja instável – daí que se tenha mostrado em paz e harmonia com Livre e PCP durante todo o debate. Distribuiu ataques à IL por querer “estralhaçar” o SNS, desviando mais recursos para os privados, ou ao PSD e à direita como um todo, acusando estes partidos de não terem uma solução para fazer crescer a economia que não passe apenas por baixar o IRC às maiores empresas. E, sobre Justiça, encontrou forma de criticar os regimes que continuam a permitir que o dinheiro com origem duvidosa seja depositado em offshores, o que não pode acontecer – uma causa antiga do Bloco.

Contas feitas, houve ataques à direita, defesas da geringonça – lembrou que foi a governação mais “estável”, deixando votos de que possa repetir-se – e promessas de que, se puder, influenciará positivamente o PS. A imagem que mostrou os líderes da esquerda todos juntos a conversar no final do debate pode parecer promissora para os desejos de Mortágua, mas para ser relevante falta o mais importante: assegurar que conquista mais votos.

Inês Sousa Real. O ataque maior foi ao inimigo voto útil

Inês Sousa Real esquivou-se a todos os ataques, fora os apartes

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 4
Ataques a Luís Montenegro: 3
Ataques a André Ventura: 1
Ataques a Rui Rocha: 2
Ataques a Mariana Mortágua: 1
Ataques a Paulo Raimundo: 1
Ataques a Rui Tavares: 0

A líder do PAN aproveitou todos os momentos do debate, incluindo a invasão do local por ativistas do clima, para atirar aos seus adversários, com PS e PSD à cabeça, quase empatados como alvo de Inês Sousa Real. Dos ataques só livrou Rui Tavares — que, por acaso, foi um dos que também referiu o preocupação ambiental dos jovens — e entrou logo a criticar os que não referiram o problema do clima ali trazido pelo ativistas. Neste tema disparou muito concretamente a Chega e IL que disse apoiarem “teorias de negacionismo ambiental” — Rui Rocha negou. Mas o seu ataque maior foi mesmo ao voto útil.

Inês Sousa Real sabe que é o eventual pragmatismo de última hora dos eleitores que pode tirar votos ao seu partido, por isso apontou para as legislativas de 2022 e para a maioria que o PS conquistou para argumentar que afinal “o apelo ao voto útil verificou-se inútil”. Depois de feita essa defesa, Sousa Real virou-se para PCP e BE que responsabilizou pela “instabilidade política” atual — ainda a apontar o dedo para o chumbo do Orçamento para 2022, colocando-se como o parceiro estável. Mas foi o único ataque que fez à esquerda.

A concentração de investidas de Inês Sousa Real foi sobretudo no PS e PSD, chegando mesmo a colar a AD à defesa das touradas e os dois juntos como responsáveis pelo estado da Justiça. “O PS e o PSD nem sempre acompanham o PAN em sugestões como o reforço dos gabinetes do DCIAP”, uma medida de reforço da Justiça que, afirmou a porta-voz do PAN, só custava 50 milhões de euros.

Saiu a dizer que ficou “claro que há causas que só alguns partidos como o PAN levam para a Assembleia da República” e que, por isso, “não será um voto no PS ou no PSD que fará a diferença” no dia 10 de março.

Rui Tavares: o sonho da geringonça e as farpas contra Ventura

Rui Tavares focou-se em atacar direita e Ventura

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ataques a Pedro Nuno Santos: 1
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a André Ventura: 3
Ataques a Rui Rocha: 1
Ataques a Mariana Mortágua: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Rui Tavares já sonhava com o conceito da geringonça antes de esta existir, e se houver maioria de esquerda – um cenário que as sondagens até agora não antecipam – estará mais do que pronto para participar ativamente nela. Começou, aliás, por oferecer uma explicação sobre os cenários pós-eleitorais, concluindo que à direita a hipótese de o país mergulhar num estado de ingovernabilidade é “mais agravada”. À direita há “canibalização”, à esquerda um “certo alinhamento programático”, argumentou.

Mais empenhado do que a restante esquerda em atacar diretamente André Ventura, o porta-voz do Livre aproveitou o tema da Justiça, e em particular o caso da Madeira, para atirar que “André Ventura convidou Miguel Albuquerque para ser o seu pilar da candidatura presidencial”. E propôs que se construam consensos interpartidários e “negociações à luz do dia” sobre a matéria.

No resto do tempo, esteve muito focado em defender propostas do seu programa, mas sobretudo propostas que acredita que poderia implementar integrando uma maioria de esquerda, dos planos para “garantir harmonia na Saúde e Educação” (e com os seus profissionais) durante os primeiros 100 dias de Governo à ideia, a mais ambiciosa entre todos os partidos, de aumentar o salário mínimo para 1150 euros já em 2028. Rejeitando, como o resto da esquerda, “aventuras de fiscalidade” ou “sistemas mistos” na Saúde. Há um “certo alinhamento programático” desse lado do espectro, como disse; falta o resto.

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