Foram, durante largo tempo, entendidos como dois séculos de contrastes: o século XVII da fé, das guerras religiosas e do barroco; o século XVIII da razão, da ciência, do Iluminismo, das revoluções e da arte neoclássica. Mas hoje, esse contraste já não faz sentido: afinal, o século XVII também teve as suas revoluções e no século seguinte aconteceram revivalismos religiosos como o Great Awakening protestante.

Faz mais sentido olhar para estes dois séculos como um todo, um todo recheado de conflitos entre potências e de diferentes conceções do mundo. São dois séculos em que a Europa se estendeu ao mundo através do comércio e da colonização, dois séculos de colisão e movimento que resultaram num continente mais próspero, aberto e plural. E isto influenciou, obviamente, a produção artística da época.

Pese o desenvolvimento de todas as artes, nesta época a pintura a óleo sobre tela adquire uma importância notável. Entre os artistas europeus mais relevantes desta época estão grandes mestres da pintura como Rubens ou Rembrandt, que marcam presença na galeria de arte europeia dos séculos XVII a XVIII do Museu Calouste Gulbenkian.

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De Rubens, destaque para o retrato virtuoso de Helena Fourment, sua mulher, obra central da coleção de Gulbenkian, que a exibia na sala da sua casa no número 51 da Avenue d’Iéna, em Paris. Já de Rembrandt, Palas Atena e Figura de Ancião, duas obras de grande impacto e intensidade visual que pertenceram à coleção imperial russa e que foram adquiridas por Gulbenkian ao Museu Hermitage de São Petersburgo.

Palas Atena e Figura de Velho de Rembrandt Harmenszoon van Rijn na Coleção Gulbenkian

Outro mestre neerlandês também representado na coleção é Jacob Van Ruisdael, que ao contrário de Rubens e Rembrandt, pintava sobretudo paisagens. É disso exemplo Paisagem Fluvial com Igreja, de meados da década de 1660, em que a figura humana é um mero pormenor e as nuvens, aprimoradas, conferem grandiosidade à obra.

Rembrandt Harmenszoon van Rijn, «Figura de Ancião». Holanda, 1645. Óleo sobre tela. Museu Calouste Gulbenkian. Foto: Catarina Gomes Ferreira

Encontramos, também na coleção, outras paisagens menos bucólicas mas igualmente encantadoras provenientes desta época, como A Festa da Ascensão na Praça de São Marcos, de Francesco Guardi, uma pintura de 1775, cheia de detalhe, movimento e personagens, entre eles, quem sabe, o grande aventureiro seu contemporâneo Giacomo Casanova. De notar que esta é apenas uma das 19 obras que Gulbenkian adquiriu de Guardi, o que revela o seu interesse pela obra deste pintor e pela Veneza do século XVIII.

Francesco Guardi, «A Festa da Ascensão na Praça de São Marcos». Veneza, c. 1775. Óleo sobre tela. Museu Calouste Gulbenkian. Foto: Catarina Gomes Ferreira

Além da arte proveniente dos Países Baixos e de Itália, nas galerias do Museu encontram-se também algumas obras de pintores franceses desta época que retrataram diferentes figuras da sociedade de então. Um desses exemplos é o retrato de Duval de L’Épinoy, Senhor de Saint-Vrain, secretário e conselheiro do rei Luís XV, da autoria de Maurice-Quentin de La Tour, uma das figuras maiores dos retratos a pastel. Apesar da pose aparentemente descontraída do retratado, sentado à secretária, encontram-se na obra várias referências à geografia e às letras, refletindo assim a ideia que se tem do século XVIII como “século das luzes”.