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Iuri Leitão considera a medalha de prata no Mundial o "feito mais alto" da sua carreira
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Iuri Leitão considera a medalha de prata no Mundial o "feito mais alto" da sua carreira

Iuri Leitão considera a medalha de prata no Mundial o "feito mais alto" da sua carreira

Iuri Leitão, o devorador de medalhas que aprendeu a pedalar num "evento da paróquia" e a olhar para Contador, Cavendish e Martin

Aos 23 anos, jovem de Viana de Castelo tem estado em destaque no ciclismo de pista entre Mundiais e Europeus. Últimos anos foram atípicos mas com várias medalhas na modalidade em que Portugal cresce.

O pai tinha sido ciclista na juventude, “aos 15 ou 16 anos”, mas não foi por isso que tentou forçar a paixão pelo ciclismo no filho. Essa nasceria de forma natural e gradual, sendo que no início da adolescência Iuri Leitão já sabia que queria fazer carreira num desporto que de certa forma já tinha no sangue. Aos 23 anos, são já várias as medalhas que o natural de Viana do Castelo tem no currículo e, além das prestações enquanto sprinter na estrada, são mesmo os resultados no ciclismo de pista que têm tornado a carreira de Iuri mais mediática.

O jovem tem chegado invariavelmente dos velódromos, onde corre com a camisola da seleção portuguesa, com resultados acima do esperado e do planeado ou, como tem acontecido nos últimos tempos, medalhas no pescoço. A mais recente foi conquistada em Roubaix, no norte de França, com Iuri Leitão a sagrar-se vice-campeão do mundo na prova de eliminação em ciclismo de pista. No mesmo Mundial, realizado já no final do mês de outubro, o ciclista do norte de Portugal tinha conseguido antes da medalha um honroso quarto lugar na prova de omnium que só não valeu pódio no último sprint.

Para o atleta, em declarações aos jornalistas na chega ao Aeroporto Sá Carneiro, o tamanho do seu feito, a seu ver, era claro: “Ter sido campeão da Europa [em 2020] foi um dos grandes pontos da minha carreira, mas o Campeonato do Mundo tem um nível de exigência muito elevado, e fazer segundo lugar numa prova desta dimensão é o feito mais alto da minha carreira”.

Sim, esta prata agora conquistada em Roubaix não vai ficar sozinha na vitrina de Iuri, que em 2020, em Plovdiv, na Bulgária, além de se ter sagrado campeão europeu em scratch, fez o pleno dos metais ao conseguir ainda a prata em eliminação e um terceiro lugar em omnium.  No mesmo ano, mas ainda na sua categoria, a de Sub-23, tomou por medalhas de prata as provas de eliminação, corrida por prontos e scratch.

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Esta titulada carreira, apesar da juventude do atleta, começou com este ainda petiz, “aos seis anos”, explicou ao Observador. Como referido, o pai nem insistiu visto que foi, inclusivamente, enganado.

“Um dos amigos do meu pai da altura do ciclismo, que viria a ser diretor da equipa da minha terra [Escola de Ciclismo Santa Marta], o Vítor Pedreira, que acabou por ser meu mentor, inventou uma desculpa. Disse ao meu pai, que acreditou no amigo, claro, que ia haver um evento na paróquia. Quando o meu pai chegou para me ir buscar já lá estavam os papéis para eu ser federado e eu a treinar, a fazer uma gincana”, explicou. “Eu era nova demais para saber o que queria e o meu pai nunca me quis impingir. Depois fui-me apaixonando pelo ciclismo”, acrescentou.

O atleta começou aos seis anos no ciclismo

Sobre a modalidade, desde cedo que apresentou “espírito competitivo”, levando as coisas “muito a sério e sempre com a ambição de ser dos melhores”. “Na escola já tentava fazer os melhores tempos e etc.”. “Com o passar do tempo fui-me tornando mais profissional e levar o ciclismo ainda mais a sério. Aos 13 ou 14 anos já sabia que era o que eu queria fazer da minha vida. Por volta de 2011 dediquei-me mesmo a sério”, declarou, admitindo que “a altura mais complicada foi o secundário, porque era difícil conciliar”.

“Mas acontecia comigo e com os adversários, portanto era igual para todos. Foi difícil, mas com força de vontade consegui”, frisou. Em 2017, quando terminou o 12.º ano, Iuri estava na equipa Miranda-Mortágua, onde chegou depois de ter passado pelo Clube de Ciclismo da Bairrada. Após dois anos no Sicasal e um ano no Froiz [Espanha], terminou o primeiro ano de profissional na Tavfer-Measindot-Mortágua.

Mas não só da pista vive a carreira do jovem vianense, que alterna, como tantos, com a vida no ciclismo de estada, onde começou: “Na altura não existia nenhum velódromo em Portugal, mas eu via na televisão o que os grandes sprinters faziam. Quando fui para o Clube de Ciclismo da Bairrada, onde o velódromo foi construido [em Anadia] comecei a treinar e competir. Não tive logo sucesso e competi em Sub-23 com apoio dos meus pais, quase como um hobby ou uma paixão. Ia sozinho e tinha de organizar-me. Em 2019 cheguei à seleção. Viram potencial em mim”. Iuri Leitão referiu ainda que a preparação entre a estrada e a pista “é bastante parecida”, apesar de “existirem adaptações e trabalho específico de força e velocidade que a pista exige”.

“É 95% igual à preparação da estrada. Mas olhando o calendário, falando com a equipa e tendo tudo muito organizado é possível fazer as duas vertentes”, explicou, acrescentando que gosta “igualmente” das duas vertentes: “Não conseguia fazer uma sem a outra, são as duas grandes paixões da minha vida”.

  • Iuri é sprinter no ciclismo de estrada. Aqui, a vencer uma etapa ainda ao serviço da Sicasal
  • Vestiu de amarelo na Volta ao Alentejo deste ano

Iuri Leitão admite que o ano de 2020 deu um grande boost na sua carreira, provavelmente fazendo com que as recentes conquistas sejam ainda mais reconhecidas, mas disse que não foram tempos nada fáceis, porque não se sabia bem o que ia acontecer ao certo devido à Covid-19.

“O ano passado foi estranho e atípico. Não tivemos calendário nenhum, basicamente, com duas ou três corridas de estrada. Depois ficamos sem currículo, ninguém nos quer contratar e este ano [2021] nem sabia se ia competir, porque não tive oportunidade de mostrar o meu valor. Foi trabalhar para não sei bem o quê. Não havia datas para o Campeonato da Europa, nem sabia muito bem para o que estava a trabalhar. Mas foi que acabou por catapultar a minha carreira“, garantiu sobre o que alcançou no Europeu do ano passado.

A nível mental as coisas foram “difíceis”, mas o “apoio em casa”, não só da sua “família próxima”, mas também da “namorada e da família dela”, ajudou. “Nunca deixaram que faltasse motivação e o selecionador sempre disse que podíamos fazer bons campeonatos apesar do que estava a acontecer”, explicou. Fisicamente, Iuri Leitão referiu que “foi uma experiência nova”, até porque “não sabia as datas ou sequer se ia acontecer”.

“Mas fui-me preparando da melhor forma, para tentar estar cada vez melhor e, se houvesse um esboço para os Europeus, estaríamos prontos. Houve três ou quatro datas e velódromos mas continuámos a trabalhar, evoluir e chegámos em boas condições. Era para ser no verão de 2020 em Portugal e foi no final de outubro, em Itália. Houve mais espaço para me preparar e acabou por ser bom para mim a nível físico“, disse ainda sobre as conquistas do ano passado.

No embalo de um estranho, mas bom, 2020, Iuri acelerou para mais uns quantos excelentes resultados. Além do já referido segundo lugar do pódio no mundial, o Europeu, que se disputou poucas semanas antes do Mundial, em Grenchen, na Suíça, viu o português fazer segundo na prova por pontos e conquistar o bronze na prova de madison, com Rui Oliveira.

Ciclista Iuri Leitão vice-campeão do mundo na prova de eliminação

“Fiz a preparação para os Campeonatos da Europa e do Mundo ainda sem terem data. Depois da época de estrada, em agosto, preparei-me a 100% para o Europeu e Mundial, mas não sabia bem até onde queria chegar. Foi treinar da melhor forma, descansar, alimentar-me, com a consciência tranquila de que tinha feito tudo. O objetivo era chegar ao meio da tabela [12 primeiros]. Era o nosso segundo Campeonato do Mundo e ficar em décimo ou 12.º já era um ponto de partida ambicioso. Mas sair de uma prova olímpica com um quarto lugar e depois conseguir um segundo…”, confessou. Sobre o que significa para ele o resultado, mais cautela no discurso: “Ainda não sei bem. Mas ver os adversários que tive e ter alcançado algo tão bom é mais motivação para continuar”.

Sobre o reconhecimento que os atletas têm no seu país, explicou que é como se estes não fizessem mais que a sua obrigação, na medida em que têm trazido títulos de forma contínua. Ser recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, é algo que, neste caso felizmente, já não faz sentido para o jovem de Viana do Castelo.

“Acho que já não faz sentido sermos recebidos pelo Presidente da República porque estamos só a manter resultados, não estamos a fazer novidades. São medalhas que chegam consecutivamente. O reconhecimento é sempre bom para nós e sinto que somos reconhecidos pelo nosso trabalho. Ainda não existe muita tradição no ciclismo de pista e não havia o reconhecimento devido porque achavam que era fácil. Mas hoje em dia vemos que os grandes atletas de pista são exemplos na estrada e é impossível ignorar isso. Não é qualquer um que faz o que fazemos e conciliar a pista com a estrada. Nas férias estamos a preparar os campeonatos do mundo e da Europa. Mas a nossa época é mesmo assim”, frisou.

E, no seguimento da conversa, chegados aos resultados nacionais, ficavam as questões sobre o ciclismo de pista em Portugal. Para Iuri, ainda estão bastantes coisas em falha, mas a culpa (muito entre aspas) é dos atletas, que conseguiram os resultados antes dos investimentos.

“Falta muita coisa. A pista é recente, o velódromo é de 2009 e em 2013 surge a primeira medalha. Agora temos 51. A modalidade evoluiu demasiado rápida e os apoios não acompanharam. Falta muita coisa de que precisamos a nível logístico, staff, apoios e tudo o que envolve preparar uma competição. O que muitas seleções têm e que a nós nos falta. A nossa história é muito curta. Há países que competem há décadas e nós temos 12 anos, mas com o tempo isso vai-se resolver. As pessoas vão começar a olhar para a pista de outra forma, porque somos cada vez mais uma potência mundial no ciclismo de pista. Somos uma seleção em crescendo e vão começar a olhar para nós”, explicou.

E continuou: “Geralmente temos investimento e depois resultados. Nós temos resultados e faltam os investimentos. O selecionador Gabriel Mendes começou no ciclismo de pista sem saber nada, aprendeu, evoluiu e hoje em dia tem uma das seleções mais capazes da Europa e do Mundo. Ele organiza, desdobra-se e faz de nós quem nós somos. Leva tudo às costas, mesmo sem condições. Falta tudo e mais alguma coisa e ele dá a volta ao texto”.

Iúri Leitão sagra-se vice-campeão europeu de pontos nos Europeus de pista

Iuri Leitão vai agora representar a equipa de estrada espanhola Caja Rural e tem para si objetivos claros: “Os sonhos de qualquer ciclista são dois: estar nos Jogos Olímpicos e ser campeão do mundo. Se um dia conseguisse cumprir os dois ou um seria muito bom. Quer em estrada, quer em pista”. E estes objetivos surgiram ao ver os ídolos durante a infância.

Neste caso “os grandes ciclistas” como Alberto Contador, “pela determinação e maneira de contribuir, porque nunca desistia mesmo que o cenário não fosse favorável”, Mark Cavendish e Tony Martin, que “foram dominadores” e os que o português mais admirou enquanto jovem ciclista a olhar para o topo.

Tal como Cavendish, Iuri Leitão é sprinter na estrada, explicando ao Observador que não é o ciclismo de pista que ajuda a estrada, mas o inverso: “Eu nasci sprinter. É uma característica inata. Pode ser trabalhada, mas é essa característica, mais a velocidade e a explosão, que me fizeram adaptar bem à pista”.

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