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Através da Monade já editaram livros com textos de arquitetos premiados com um Pritzker, como Álvaro Siza e Paulo Mendes da Rocha, ensaios fotográficos sobre museus portugueses como a Fundação Calouste Gulbenkian (por André Cepeda), e uma compilação – Civitas – dedicada a São Paulo © Matilde Travessos

Através da Monade já editaram livros com textos de arquitetos premiados com um Pritzker, como Álvaro Siza e Paulo Mendes da Rocha, ensaios fotográficos sobre museus portugueses como a Fundação Calouste Gulbenkian (por André Cepeda), e uma compilação – Civitas – dedicada a São Paulo © Matilde Travessos

Monade. Arquitetura ao quadrado

Daniela Sá e João Carmo Simões fazem casas e também as partilham através dos livros que publicam na Monade, uma editora independente especializada em arquitetura.

Nas paredes estão fotografias de edifícios construídos com milénios de distância, do Supremo Tribunal Federal, desenhado por Oscar Niemeyer em Brasília, à Acrópole de Atenas. “Tanto gostamos de uma coisa de há cinco séculos como de ontem”, diz a arquiteta Daniela Sá, de 38 anos, enquanto mostra estes e outros quadros pendurados na casa que partilha com o marido – e também arquiteto – João Carmo Simões, de 35. “É uma das coisas fascinantes na arquitetura: não tem uma prescrição temporal, como têm algumas ciências. Não vamos a um dentista de há 200 anos, mas adoramos viver numa casa dessa altura.”

A casa em questão é anterior ao grande terramoto de 1755 e era um antigo palacete numa rua de saída de Lisboa – hoje absolutamente central –, que pertencia a uma só família e foi sendo dividido por pisos. “Nós estamos num andar, que anda à volta de uma escada de pedra muito grande, o que faz com que os espaços se relacionem todos uns com os outros, sucessivamente”, explica João. “A casa é quadrada e não há corredor, que é uma invenção do século XIX”, acrescenta Daniela. “As divisões comunicam entre elas e cada compartimento não é óbvio o que seja. Há uma flexibilidade dos espaços e também vamos experimentando.” A biblioteca já foi um quarto, por exemplo, o escritório também, sendo hoje as duas divisões que ladeiam a sala – todas com um pé direito enorme, molduras de pedra nas janelas, azulejos antigos nos rodapés e chão de tábua corrida com falhas que fazem parte do charme.

Para além de serem “dois arquitetos contemporâneos num edifício do século XVIII”, João e Daniela são os fundadores da Monade, uma editora independente e internacional de “arquitetura, arte e pensamento”. Através dos projetos próprios, assinados pelo ateliê de arquitetura João Carmo Simões (fundado em 2012), e através dos livros, dedicam-se a pensar, partilhar ou construir edifícios específicos, sempre com a ideia de que “a arquitetura é das coisas mais perenes e mais complexas que existe” – logo, com maior responsabilidade. “Quando corre mal, é um monumento ao erro.”

© Matilde Travassos

Enquanto não chega “o momento certo para construírem algo dos dois”, vão melhorando esta casa arrendada aos poucos e enchendo-a com os objetos e as obras de arte de que gostam: um arquivador antigo que ganhou uns novos pés em mármore, semelhantes a lombadas, para aguentar o peso dos livros; uma mesa de jantar desenhada por João a partir de um grande bloco de cedro maciço (que deu também dois bancos/mesas de apoio); um candeeiro de pé do designer Arne Jacobsen; fotografias de Robert Frank, Sara de Campos e Daniela Ângelo, entre outras; serigrafias de Siza Vieira editadas pela Monade ou ainda grandes ampliações de imagens captadas por João, de edifícios como a Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, também lançadas pela editora em edições limitadas de 50.

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Depois do ateliê e da editora, o projeto mais recente do casal é a filha Maria, de seis meses – mas a bebé não é a habitante mais recente da casa. “A mais recente é uma árvore que pusemos no varandim do quarto”, brinca Daniela. “Agora, quando olhamos lá para fora, parece que há ali um jardim.”

Este é apenas um exemplo das várias melhorias que foram fazendo no apartamento sempre que resolveram “inventar um bocadinho”. Outro que salta à vista é a porta do escritório, espelhada num tom entre o amarelo e o dourado: “Era uma porta sem grande interesse, não como as originais, que são incríveis, e percebemos que precisávamos de fazer alguma coisa de agora, diferente”, explica Daniela. “Como aquele espaço tinha pouca luz, resolvemos divertir-nos.” Outra invenção é a versão “muito rápida, simples e barata de um armário” que montaram numa das paredes do quarto: duas cómodas de madeira compradas num antiquário com um varão por cima e duas cortinas de linho. Outra ainda são as portadas e molduras das portas, que resolveram pintar no mesmo azul acinzentado de Hydra, a ilha grega que visitaram depois de se casarem, em 2019, quando João tinha acabado de tirar a carta de marinheiro.

© Matilde Travassos

Ambos cresceram perto do mar, João em Cascais e Daniela em Aveiro – ele tirou arquitetura em Lisboa, ela no Porto, e conheceram-se numa visita de estudo na capital. Talvez por isso gostem tanto de ilhas e têm vários pedaços de pedras vulcânicas de várias que já visitaram: Sicília, Faial, Pico, Aegina, Porto Santo. “No fundo são os nossos materiais de trabalho.”

As pedras estão espalhadas pela casa mas a maior concentração está na longa estante preta da biblioteca, ao lado de alguns vinis de Miles Davis e Chet Baker, máquinas fotográficas – o outro grande interesse de João – e centenas de livros de arquitetura, arte, poesia, filosofia e estética, mais uma vez de diferentes épocas.

“É-nos sempre interessante ou útil estudar obras de arquitetos e artistas de há muito tempo”, explica Daniela. “Porque as questões são sempre as mesmas, nos tempos todos: como é que vivemos o melhor possível? Como é que somos felizes aqui? Acho que isso acontece um bocadinho no domínio da arte, ou na poesia. Estamos sempre a tentar encontrar a nossa resposta para uma pergunta que é sempre igual.”

Através da Monade já editaram livros com textos de arquitetos premiados com um Pritzker, como Álvaro Siza e Paulo Mendes da Rocha, ensaios fotográficos sobre museus portugueses como a Fundação Calouste Gulbenkian (por André Cepeda), e uma compilação – Civitas – dedicada a São Paulo, com 19 edifícios fotografados por João e vistos à lupa ao longo de 350 páginas. “Fazemos a condução do livro desde o início, desde a ideia, montar a equipa, até ao final – a escolha do tecido, do papel, o que também nos interessa do ponto de vista tectónico”, resume Daniela. “A nossa idiossincrasia é tentar fazer com que os livros transmitam a arquitetura, nos ajudem a perceber os espaços e a chegar a coisas que se calhar, numa viagem mais rápida, não veríamos”, completa João. “No fundo são um outro desenvolvimento do nosso interesse pela arquitetura para além do ateliê, e uma forma de partilha”, continua Daniela, atualmente a trabalhar num novo título, The Order of Landscape, “sobre a paisagem como construção”. “Eu sou filha única e os livros sempre me salvaram bastante. Isto é uma espécie de retribuição.”

© Matilde Travassos

Na “grande mesa de trabalho” do casal, onde estão “maquetes, projetos de arquitetura, livros e catálogos de papéis e tecidos”, há obras que se destacam. Como a Casa Azul, na Costa Nova, uma casa de madeira dos anos 60 elevada sobre as dunas, que foi reabilitada em co-autoria; a Villa Sombra, uma vivenda desenhada de raiz no Alentejo que tira partido das enormes pedras graníticas do terreno para apoiar “um enorme chapéu que é a cobertura e que permite abrir a casa sem a tornar quente”, ainda por construir; ou o recente apartamento Monochrome, onde a necessidade de dar um novo caráter a um espaço sem grande história e com um orçamento muito limitado levou a pintar tudo de azul, do chão às torneiras.

“A arquitetura é uma coisa muito complexa, que lida com realidades muito tangíveis – o budget de um cliente, as leis, os materiais de construção –, mas também com uma parte menos tangível da condição humana: o nosso bem-estar”, defende João. “Queiramos ou não, construir tem um lado cultural. Podemos aproveitar esse momento para tentar transmitir valores que nos interessem. E nesse sentido temos uma responsabilidade extra.”

Entre esses valores estão muitas perguntas de partida: “Como é que a família se relaciona? Como é feita a gestão? Qual é o caráter que vamos transmitir a este espaço? Ou como é que a luz entra no meu quarto? Como é que me apercebo das estações a passar? Como é que consigo relacionar-me com a natureza lá fora e perceber-me cá dentro?”, exemplificam. “Apanhamos imensos projetos que têm este problema de que a cozinha está fechada num sítio, ou o quarto principal está virado para a frente da casa para controlar toda a gente que entra e sai – uma ideia um bocadinho antiquada”, continua João. “Nós tentamos desmontar essas coisas e que a família viva toda no mesmo espaço, que o espaço permita receber pessoas e permita ter descontração e liberdade no dia-a-dia.” Foi o que aconteceu por exemplo na Costa Nova: “A Casa Azul tinha um quarto virado para a frente, tinha um corredor escuro, tinha uma cozinha muito fechada, uma casa de banho sem luz natural. E de repente nós mudámos isso tudo, sem que essas alterações se evidenciassem, como se sempre tivessem feito parte da arquitetura que lá estava. Passámos a ver o tecto inclinado que não víamos. Abrimos a sala para a varanda e para a ria. Alargámos o corredor para ter luz a passar. Integrámos a cozinha no espaço da sala, porque é uma casa de férias para receber pessoas, e demos-lhe um ar festivo, quase de bar, com a bancada em latão que também é uma referência aos barcos que há na zona”, explica o arquiteto.

© Matilde Travassos

Em cima da mesa da sala estão os cadernos com as fotografias e as plantas desses projetos já feitos e de outros em desenvolvimento, como o Colégio Infante D. Henrique, no Funchal, uma obra de fôlego que implica a requalificação de uma construção colonial e a criação de outros sete edifícios, “sempre em relação com o exterior, a vegetação tropical e o oceano”, avança João. “Gostamos desta mudança de escala. Tanto nos interessa desenhar um apartamento como um museu ou uma escola. É tudo complementar e tudo uma forma de contribuirmos para termos um espaço mais inclusivo para todos.”

“Também não nos desgosta ir à Madeira”, brinca Daniela, em jeito de conclusão. “Como é uma ilha, trazemos mais uma pedrinha.”

Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle n.º19, lançada em março de 2023.

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