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Querem um movimento de reforma europeia com um núcleo forte no centro da Europa para lutar contra as lideranças e as instituições europeias que não compreenderam o desejo dos eleitores nas últimas eleições europeias. Este domingo, as forças de extrema-direita da Hungria, Áustria e República Checa uniram-se num novo grupo — os Patriotas da Europa. Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, anunciou a formação da nova força política, que, antecipou, “será em breve a maior formação de direita no Parlamento Europeu”.

No momento da assinatura de um “Manifesto Patriótico” em Viena, na Áustria, Herbert Kickl, presidente do Partido da Liberdade Austríaco (FPO) classificou este 30 de junho como um “dia histórico”. “O objetivo é garantir um futuro melhor para a Europa. Espera-se também que outros partidos se juntem a esta aliança”, sublinhou. O político austríaco revelou algumas das bandeiras que serão acenadas pela recém-criada família europeia: defenderá a simplificação da administração pública europeia e lutará pela “paz, liberdade e prosperidade para todos os cidadãos do continente”.

Na génese da união política está a referida “necessidade de reavivar o caráter pluralista da Europa“, bem como garantir que as nações da União Europeia (UE) possam “preservar as suas peculiaridades”.

O Chega foi convidado para integrar a nova família, como revelado por André Ventura, que pareceu favorável à troca da Identidade e Democracia (ID) pelo novo grupo europeu.

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Ventura foi convidado por Orbán, vê com “bons olhos” entrada no “Patritotas da Europa” e convoca órgãos do partido

“Make Europe Great Again”. A janela mediática da presidência rotativa que Orbán quer usar para entrar na esfera de influência europeia

É com um slogan familiar aos norte-americanos que Viktor Orbán define a linha política dos próximos seis meses, em que ocupa a presidência da União Europeia (UE). O primeiro-ministro húngaro assume esta segunda-feira, 1 de julho, a liderança rotativa europeia e escolheu a mesma formulação do lema que Donald Trump, em 2016, utilizou nas eleições norte-americanas: “Tornar a América grande outra vez”. Oito anos depois, decide aplicá-lo à União Europeia, e mesmo que negue a referência direta, são conhecidas as boas relações entre o primeiro-ministro europeu e o ex-presidente norte-americano, bem como as suas semelhanças na ideologia política.

“Os cidadãos europeus querem três coisas: paz, ordem e desenvolvimento. Tudo o que obtém da atual elite de Bruxelas é guerra, migração e estagnação“, afirmou Orbán este domingo, depois de assinar, em Viena, o manifesto com vista à criação do novo grupo parlamentar europeu, os Patriotas pela Europa.

Órban cria novo grupo que junta direita radical e extrema-direita, os “Patriotas da Europa”. Ventura diz esta tarde se fica na ID

Como destaca a imprensa húngara, o novo grupo também pode ser útil para ajudar o trabalho da nova presidência da Hungria na UE, garantindo uma representação mais alargada e unificada das bandeiras dos partidos de extrema-direita que já se juntaram e que se venham a juntar à família.

Mesmo que não seja expectável que se oponha a tudo e todos na presidência europeia, como preveem diplomatas europeus em declarações ao The Guardian, Orbán deverá apostar nas lutas que envolvam assuntos externos — com destaque para o bloqueio de ajuda militar à Ucrânia, caminho que tem sido feito por Budapeste nos últimos meses.

Na semana passada, Viktor Orbán voltou a usar o veto para fazer descarrilar a política externa da União Europeia. A Hungria bloqueou uma declaração conjunta que denunciava a recente decisão do Kremlin de proibir 81 meios de comunicação social europeus na Rússia.

Os embates entre a Hungria e os restantes 26 Estados-membros na União Europeia sucederam-se nos últimos anos, quase sempre em relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Em maio de 2023, a Hungria bloqueou desembolsos do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP) para entregar munições às forças armadas ucranianas, por não concordar com este apoio e pela “atitude cada vez mais hostil da Ucrânia”. Recentemente, o Politico destacou a indignação de vários diplomatas europeus esperavam ter um novo pacote de 6,6 mil milhões de euros pronto para apoiar a Ucrânia. O acordo incluía 860 milhões de euros para aquisição de armas e acabou bloqueado mais uma vez pela Hungria.

No início do ano, o Tribunal da UE multou, em 200 milhões de euros, o país governado por Orbán por infração “extremamente grave” ao direito de asilo na União. Em 2021, a Comissão Europeia lançou processos de infração à Hungria e à Polónia para “proteger os direitos fundamentais” europeus, após os dois países terem introduzido medidas que colocavam em causa os direitos das pessoas LGBTQI+.

Bruxelas abre processos de infração à Hungria e Polónia devido a direitos LGBTIQ

Le Pen e Meloni não se uniram, mas Orbán não desistiu do sonho

Há pouco mais de duas semanas, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, repreendia publicamente as duas líderes dos partidos de extrema-direita na Itália e em França por não chegarem a um acordo para unirem forças no próximo Parlamento Europeu, após os seus partidos terem alcançado resultados favoráveis nas eleições europeias. A aliança, à qual tinha intenção de se juntar, “seria a maior fação parlamentar da Europa”, disse Orbán.

“Costumávamos sonhar com isto, e depois acordamos e descobrimos que as duas senhoras não conseguem chegar a um acordo”, acrescentou, dirigindo-se a Marine Le Pen que endereçou um convite para uma frente unida europeia a Georgia Meloni.

Na ausência do entendimento desejado pelo primeiro-ministro húngaro, foi o próprio a chegar-se à frente para criar um grupo alternativo. Ao Fidesz, partido que lidera, unem-se a extrema-direita da Áustria e o partido populista checo ANO, liderado por Andrej Babis. Os três criam uma nova aliança política, tendo endereçado convites a vários partidos europeus dentro e fora de famílias já existentes. O Chega, que pertence à Identidade e Democracia (ID), foi convidado e vai decidir a mudança nos próximos dias.

Nas declarações que já deu, André Ventura revelou que já falou com Le Pen sobre o tema do novo grupo europeu — já que são partidos irmãos na ID. Para já, com Marine Le Pen mais preocupada com as legislativas em França e Giorgia Meloni a não ter acedido a uma união entre as forças francesa e italiana, está em aberto a movimentação dos dois partidos de direita dentro das famílias europeias.

O partido de Orbán, o Fidesz, foi membro da Internacional Liberal até 2000 no Parlamento Europeu, depois disso aderiu ao PPE. Manteve-se como membro deste partido até 2021 e, desde então, faz parte do grupo dos Não-Inscritos no Parlamento Europeu.

Chega pode contribuir com dois lugares para a “maior aliança partidária da direita europeia”

“Ainda existem muitos partidos de direita na Europa que se enquadram na aliança”, garante Levente Szikra, analista político ao jornal húngaro Magyar Nemzet. Para já, os três partidos fundadores somam 24 deputados (11 do húngaro Fidesz, 6 do FPÖ e 7 do checo ANO 2011). Todos ficaram à frente nas eleições europeias nos respetivos países. Mas se o objetivo é, como referido por Orbán este domingo, “estabelecer a maior aliança partidária da direita europeia”, então serão necessárias mais forças a juntar-se ao grupo, ainda que mais pequenas — como o Chega.

Distribuição dos eurodeputados por grupos parlamentares. Site oficial da União Europeia: https://results.elections.europa.eu/en/index.html

Para formar um grupo político, é necessário um mínimo de 25 deputados europeus, eleitos em, pelo menos, um quarto (atualmente sete) dos Estados-membros da UE, de acordo com as regras do Parlamento Europeu.

A Identidade e Democracia (ID), que conta com a representação de 58 eurodeputados — dois deles do partido liderado por André Ventura –, deverá, com grande probabilidade, registar saídas nos próximos dias. Resta saber se a iniciativa dos três países consegue preencher os requisitos para ver o grupo formalizado — precisa de recrutar mais quatro partidos de quatro países. Em maio, a ID decidiu excluir a delegação do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) — após o seu líder, Maximiliam Krah, ter considerado ser “errado” afirmar que todos os membros das Schutzstaffel (SS, organização paramilitar ligada ao regime nazi liderado por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial) eram “criminosos”. O partido que atualmente figura entre os não-inscritos já demonstrou interesse em pertencer à nova família europeia.

Este domingo, Ventura revelou que “foi convidado para integrar este grupo [Patriotas da Europa], sabendo que é hoje um dos principais integrantes do ID.” Não escondeu que viu com “bons olhos” a criação deste grupo. Decidiu “convocar a direção nacional do partido para uma reunião da direção nacional do Chega com vista à convocação de conselho nacional também ele alargado com um único objetivo: discutir a presença e a integração do Chega neste grupo.” Ventura entende que este “é um caminho de unidade e de consenso” no momento em que a “Europa se volta a dividir e que o combate ao socialismo é mais importante do que nunca”.

Durante a campanha eleitoral para as europeias, nem André Ventura nem Tânger Corrêa se comprometeram com um futuro fechado para o Chega após as eleições que decidiram a nova configuração do Parlamento Europeu. Na altura, existiam quatro cenários em cima da mesa: ficar no ID, alinhar com os conservadores do ECR, tentar contribuir para um sonho antigo do partido que incluía ser uma “ponte” entre os dois, ou integrar uma nova família política, opção levantada pelo candidato do Chega. “E se de repente aparecer outra família política?”, questionou Tânger Corrêa, frisando que “em política internacional o preto e branco não existe, existe o cinzento” e dizendo que não pode “aprofundar temas que não podem ser aprofundados” pela incerteza. E foi mesmo o que aconteceu.

Direita radical em movimento na Europa e Chega a “assistir de bancada”. Ventura espera momento certo para decidir futuro

Durante a campanha eleitoral, Tânger Corrêa e André Ventura tentaram distanciar-se de alguns dos parceiros europeus em temas sensíveis, nomeadamente o posicionamento sobre a Rússia. “Não temos que esclarecer o eleitorado, porque a nossa posição é imutável. Apoiamos a Ucrânia, não somos putinistas”, assegurou o eurodeputado eleito pelo Chega. Agora, o líder do partido parece favorável à integração de uma família partidária fundada por Orbán — que repetidamente tem vindo a bloquear ajuda militar à Ucrânia e é considerado como aliado da Rússia, tendo vindo a criticar as sanções europeias aplicadas a Moscovo desde a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022.