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AFP/Getty Images

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Poucos, mas atentos. Os gregos que vivem em Portugal não votam, mas dizem o que pensam

Elias, George e Zacharoula vieram parar a Portugal por “amor”. São gregos que moram cá, mas com os olhos e coração no "Olimpo", nas eleições do próximo domingo.

Os deuses podem estar loucos, mas os gregos não. Portugal não é, nem nunca foi, um país atrativo para a emigração helénica. Não existe sequer uma associação de gregos no país – o mais próximo disso é um grupo no Facebook. São cerca de 200 e, de acordo com os testemunhos que o Observador recolheu, estão totalmente integrados. A grande maioria ocupa cargos de liderança ou desempenha profissões altamente especializadas.

Dados estes argumentos, a verdade é que Elias, George e Zacharoula vieram parar a Portugal por “amor”. Foram seduzidos, podemos dizer.

Entretanto, o “Olimpo” está num rebuliço. No domingo, dia 25 de janeiro, os gregos vão a votos. Alexis Tsipras, líder do partido de esquerda Syriza, é anunciado por muitos como o salvador da pátria. Mas nem todos estão convertidos à sua “retórica”. Será que o partido Nova Democracia, a direita grega, ou o PASOK, a esquerda, vão ser capazes de voltar a inspirar?

Quando conheci o Tsipras…

Tsipras (de óculos de sol) e George, em Atenas, em 2008.

Quando George Daskaloulis conheceu Alexis Tsipras, em 2008, durante uma manifestação em Atenas, não ficou convencido. “Achei que era uma pessoa sem carisma, sem inteligência, mas com muita ambição”, lembra. Na época, o atual líder do Syriza era um desconhecido em ascensão.

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Em sete anos, Tsipras catapultou-se para a liderança de um partido e se tudo correr de acordo com as últimas sondagens, é muito provável que venha a liderar a Grécia, depois de domingo.

Hoje, George continua a não confiar no líder do Syriza. Tsipras é um líder sem “formação”, “incongruente”, e o Syriza parece-lhe um “partido Frankenstein” – acolheu membros de vários partidos “antagónicos”. “Currículo: zero. Capacidade de fazer manobras: 100%.” A falta de experiência profissional de Tsipras é mesmo um dos pontos que mais revolta George. Saltar para a liderança de um país “depois de trabalhar na empresa do pai” pode ser um erro: “A tua prática vai ser às minhas costas [dos gregos].” E as dificuldades do líder grego na língua inglesa deixam-no embaraçado, com vergonha. “Como é que alguém assim pode negociar e líder os memorandos da Troika? Google Tradutor?”

Mesmo assim, admite que nenhum dos outros partidos mais “tradicionais” o convence. Por lei, os gregos a morar fora do país não podem votar nas eleições legislativas, e isto pode vir a fazer a diferença no resultado final, afirma George. A Grécia tem uma população de cerca de 11 milhões de habitantes e o equivalente em diáspora. Quem está de fora, tem outra perspetiva, defende.

George Daskaloulis

A crise económica na Grécia proporcionou o surgimento de partidos populistas como o Syriza. “Em Atenas, o Aurora Dourada cresceu como uma erva daninha”, conta.

George, 34 anos, é gestor na empresa naval Starport, em Lisboa. Conheceu a esposa, enquanto estudava em Inglaterra. Em 2009, o casal mudou-se para Portugal. No escritório da empresa que hoje dirige, George tem o diploma em Direito da Universidade de Liverpool afixado logo à entrada. Quando fala, quando argumenta, gosta de se levantar. Fica com a face ruborizada quando se entusiasma a falar.

Para George, os problemas políticos da Grécia não surgiram nos últimos seis anos. “A própria guerra da independência da Grécia foi um desastre”, diz, como se existisse um fator genético que predispõe uma nação a sofrer de uma determinada doença. E para fundamentar a sua teoria, faz uma incursão pela história do país, passando pelo Império Romano, o nascimento da República Helénica. A Grécia está “sempre a viver num estado de revolução constante”, resume.

A família do gestor grego a morar em Portugal não passou ao lado da crise que se abateu sobre o país. Para sobreviver, a irmã de George tem três empregos: contabilista, fotógrafa e documentarista. Em 2013, realizou um documentário sobre a ascensão do Aurora Dourada em Atenas.

http://vimeo.com/80664811

E a mãe de George, que foi diretora técnica da televisão pública grega ERT, ficou sem trabalho quando o canal televisivo foi encerrado pelo Governo. Foi forçada a reformar-se e só ficou a receber 40% do que era esperado.

“Não dá para viver na Grécia. Mas viver em Portugal é difícil.”

Elias Soukiadis é professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra há 34 anos. Tal como George, Elias, 60 anos, conheceu a esposa quando estava a estudar em Inglaterra. E foi esta que encontrou o anúncio de emprego no jornal para a posição de professor que ocupa. No primeiro ano deu as aulas em inglês, mas hoje fala um português que só falha na acentuação de certas palavras.

Através da internet, como muitos outros gregos, segue o que se passa no seu país natal. Tem lá amigos e um irmão. “A vida política [da Grécia] foi dominada por duas famílias durante muitos anos, quase como que uma dinastia”, afirma, em declarações ao Observador. É por isso que os gregos “estão à procura de uma alternativa”. O Syriza? “É uma alternativa, apesar de não dar garantias que as coisas vão melhorar.”

À distância, a Grécia parece estar a reinventar-se. Elias admite que a população grega vê no Syriza uma “força política capaz de adaptar-se à nova realidade do país, contra a austeridade”. “Toda gente sabe que isso não pode continuar”, acrescenta. Mas poderá o partido ter respostas concretas para o problema do país? “O Syriza quer dizer que a dívida não é um problema do país, mas mais um problema da Europa.”

Elias Soukiadis

Então, está a propor uma cimeira para discutir o problema da dívida, com representantes de todos os países da União Europeia, o que já pode ser considerada “uma primeira vitória” do Syriza, porque alguns economistas alemães já começaram a “simpatizar” com esta ideia.“Uma restruturação da dívida, como foi feita com a Alemanha em 1953, na cimeira em Londres”, afirma Elias. Enquanto economista, Elias afirma que “só crescendo se pode pagar a dívida. Não com austeridade”.

Elias conhece alguns gregos em Portugal, apesar de quase não manter contacto com estes – estão espalhados ao longo do país. Na câmara municipal de Évora, no setor cultural ou em embaixadas. “Os gregos que ficam [em Portugal], ficam porque gostaram imenso.” Sendo assim, recomendaria que os gregos emigrassem para Portugal? “Não dá para viver na Grécia. Mas viver em Portugal é difícil.”

“O que os gregos fizeram ao Sócrates? Obrigaram-no a suicidar-se”

A médica Zacharoula Sidiropoulou, 44 anos, aparece de bata branca no bar do Hospital da Luz, em Lisboa. A especialista em cirurgia geral vive em Portugal, desde 2002, por causa do marido português. “Não foi emigração económica”, diz, a rir-se.

Na sua opinião, devido aos gregos serem tão poucos no país, estão “completamente inseridos na sociedade portuguesa”, quando comparados com o caso dos “brasileiros” ou “italianos”. “Pode estar sentado aqui um grego e não tenho noção”, diz, ao apontar para a mesa do lado. Os gregos que conhece no país, “na maioria são pessoas diferenciadas”. Trabalham em cargos da União Europeia ou da NATO. Existem também os estudantes de Erasmus, mas esses estão só de passagem.

Não existe nenhuma associação de gregos em Portugal, só um grupo no Facebook que faz encontros de três em três meses. “Honestamente, não sei se faz falta”, afirma.

Apesar da “excelente” adaptação ao país, Zacharoula sente falta da “agitação”, “das rotinas mais dinâmicas” da Grécia. “Aqui as pessoas são muito calmas, muito blasé, como dizem os franceses.” Quando tem saudades da “agitação”, dá uma “escapadinha” até Madrid.

Todos os dias, Zacharoula lê os jornais gregos na internet, mas o verdadeiro “barómetro” da situação no país é a mãe. “Faz-me relatórios, ao telefone, do que se passa no parlamento”, diz. Como está a situação? “Um bocadinho desesperante, esta instabilidade política não faz bem ao mercado interno.”

A Nova Democracia, a direita, “afogou o país”, e o PASOK “também tem 50% das culpas e 50% dos escândalos”. “Não estou a ver o que é que as pessoas possam votar para lá do Syriza”, diz, apesar de admitir que a opção em que consideraria ter mais confiança seria uma coligação entre os partidos históricos do país. “Como é que se diz em Portugal? Pobre por um, pobre por mil.” É, como se sabe, “perdido”, mas a frase ilustra perfeitamente o sentimento desta grega.

O “terrorismo” mediático de parte dos países exteriores,”as mensagens da senhora Merkel”, não estão a ser muito bem recebidos pelos gregos. Sair do euro?“A União Europeia precisa de um grande estalo. E pode ser o Syriza a dá-lo.”

Ainda assim, não deixa de estar preocupada quanto ao futuro político do país. “A nossa história é uma roda e repete-se, e repete-se, e repete-se”, diz, ao mesmo tempo que desenha com a mão um círculo na mesa. “Já viram o que os gregos fizeram ao Sócrates? Obrigaram-no a suicidar-se.”

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