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Lula and Bolsonaro Face to Face in First Presidential Debate
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O debate contou com a participação de seis candidatos

Getty Images

O debate contou com a participação de seis candidatos

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Presidenciais no Brasil. Primeiro debate marcado por trocas de acusações e por ataque de Bolsonaro a jornalista

Foi um debate longo e tenso, que refletiu o panorama político brasileiro atual: polarizado em Bolsonaro e Lula. Ataque do presidente a uma das moderadoras marcou debate e lançou tema do feminismo.

“Corrupto”, “mentiroso” e “ex-presidiário” — e ainda uma discussão acesa sobre as mulheres. O primeiro debate para as eleições presidenciais brasileiras de 2 de outubro foi a seis vozes, mas foram os dois candidatos que até ao último momento mantiveram dúvidas a sua participação — Jair Bolsonaro e Lula da Silva — que dominaram a discussão de praticamente três horas travada na noite de domingo e organizada por um conjunto de meios de comunicação brasileiros, incluindo o jornal Folha de São Paulo, o portal UOL e as televisões Bandeirantes e Cultura.

O debate podia até nem ter acontecido, caso se tivessem concretizado as ameaças feitas na sexta-feira pelo atual presidente brasileiro. Jair Bolsonaro desistiu de participar no debate após uma semana que ficou marcada por uma série de entrevistas aos candidatos no Jornal Nacional da TV Globo, com fontes da sua candidatura a argumentarem que, com a passagem à segunda volta assegurada, Bolsonaro — que está em segundo lugar nas sondagens, com 32% das intenções de voto, atrás dos 47% de Lula da Silva — não se pretendia expor aos ataques dos adversários. O recuo de Bolsonaro levou Lula da Silva a avisar que, sendo assim, também não deveria ir ao debate. Em poucas horas, a relevância do debate ficou por um fio — mas Bolsonaro acabaria por voltar atrás e decidir participar.

A pandemia, a credibilidade dos resultados eleitorais e a economia. Jair Bolsonaro jogou à defesa na primeira entrevista da campanha

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O debate aconteceu mesmo, na noite de domingo, com a participação de Jair Bolsonaro (atual presidente, recandidato pelo PL), Lula da Silva (ex-presidente, candidato pelo PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Luiz Felipe D’Ávila (Novo).

Lula and Bolsonaro Face to Face in First Presidential Debate

Lula da Silva, ex-presidente e candidato pelo PT, vai à frente nas sondagens

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Numa eleição profundamente polarizada em Jair Bolsonaro e Lula da Silva, os restantes candidatos — especialmente Ciro Gomes, o terceiro mais bem colocado nas sondagens, mas com menos de 10% de intenções de voto — têm tentado romper com esta polarização e oferecer alternativas a Lula da Silva para a oposição a Bolsonaro. Mas com relativo sucesso, já que as sondagens continuam a mostrar uma disputa eleitoral altamente polarizada entre o atual e o antigo presidentes — e o mesmo sucedeu no debate de domingo, com os dois a trocarem acusações e insultos violentos. Jair Bolsonaro foi o alvo preferido de todos os candidatos durante o debate — e Lula foi o alvo escolhido por Bolsonaro, que acusou até o ex-presidente de ter liderado o governo “mais corrupto da história do Brasil”.

Debate marcado por ataque de Bolsonaro a jornalista

Mas o debate ficaria sobretudo marcado por um ataque de Jair Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, uma das moderadoras — e que evoluiu para uma discussão acesa sobre os direitos das mulheres.

Tudo começou quando Vera Magalhães fez uma pergunta ao candidato Ciro Gomes sobre a pandemia da Covid-19 e campanha de vacinação no Brasil. Na formulação da pergunta, a jornalista citou alguns dados sobre a pandemia no Brasil (onde morreram quase 700 mil pessoas), salientou que muitas mortes poderiam ter sido evitadas com a vacinação e lembrou como em diversos momentos houve declarações por parte das autoridades brasileiras que lançaram dúvidas sobre a eficácia das vacinas. A pergunta deu a Ciro Gomes o pretexto para acusar a atual liderança brasileira de repetir “mentiras” e de propagar o “ódio” — mas inflamou Bolsonaro, que não perdeu tempo até atacar a própria jornalista.

“Vera, eu não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro, mas tudo bem”, disse Bolsonaro, quando foi chamado a comentar a resposta de Ciro Gomes. E acrescentou: “Não venha com a historinha atacar a mulher. De se vitimizar, Vera. Você realmente foi fantástica, não é?

A intervenção de Bolsonaro levou a uma discussão acesa sobre os direitos das mulheres e a presença feminina na política brasileira. As duas mulheres presentes no debate, Simone Tebet e Soraya Thronicke, saíram em defesa da jornalista e atacaram duramente Bolsonaro pelas palavras. “Quando vejo o que aconteceu com a Vera, eu realmente fico extremamente chateada”, disse Thronicke. “Aí eu fico brava, sim, e digo mais para você. Lá no meu estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento e, acima de tudo, disseminar ódio entre os brasileiros e nos dividir.”

A senadora Simone Tebet, candidata pelo MDB, por seu turno, também repreendeu Bolsonaro pelas palavras contra a jornalista, mas acabou por ser igualmente criticada pelo atual presidente brasileiro: “A senhora é uma vergonha para o Senado. E não estou atacando mulheres, não.

Ciro Gomes associou-se aos protestos e lembrou uma polémica de Bolsonaro de 2017, que já tinha vindo a público na campanha eleitoral de 2018. Na altura, num discurso no Rio de Janeiro, o então deputado federal deu a entender que teve uma filha mulher devido a uma fraqueza sua. “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, à quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”, disse Bolsonaro. Mas o presidente brasileiro retorquiu contra Ciro Gomes e lembrou que o próprio candidato do PDT já tinha protagonizado uma situação semelhante quando, em 2002, afirmou que a sua então esposa tinha “um dos papéis mais importantes”: dormir consigo. Ambas as situações obrigariam mais tarde os candidatos a pedir desculpa.

Lula da Silva, o candidato mais bem colocado nas sondagens, mostrou-se solidário “com a jornalista que foi agredida” por Bolsonaro, mas foi mais contido no discurso feminista. Questionado sobre se pretende formar um governo paritário se for eleito, convidando homens e mulheres em igual proporção para liderar os ministérios, Lula da Silva diz que não vai assumir um compromisso “numérico” e garantiu que pretende escolher “as pessoas que têm capacidade para assumir determinados cargos”.

“O que não dá é para assumir o compromisso numericamente”, acrescentou. “Não vou assumir compromisso, porque se não for possível passarei por mentiroso.

Bolsonaro acusou Lula de liderar “o governo mais corrupto da história do Brasil”

Numa eleição presidencial marcada pelo regresso de Lula da Silva após anos a braços com a justiça, com o célebre caso Lava Jato a levar o ex-presidente a passar 580 dias na prisão por corrupção e lavagem de dinheiro antes de o Supremo Tribunal Federal ter revertido a condenação, o tema da corrupção é claramente a maior fragilidade eleitoral de Lula e Bolsonaro tem aproveitado todas as ocasiões para colar o ex-presidente aos escândalos de corrupção que minaram a esfera política brasileira nos últimos anos. Já o fez na entrevista à TV Globo na última segunda-feira — e voltou a fazê-lo agora no debate.

Bolsonaro aproveitou a parte do debate em que os candidatos puderam fazer perguntas uns aos outros para se dirigir a Lula da Silva chamando-lhe “presidente” e fazendo-lhe uma pergunta direta: se pretende voltar ao poder “para fazer a mesma coisa na Petrobras“.

Lula da Silva respondeu dizendo que já esperava que o tema surgisse. “A gente tem que acreditar que nada acontece por acaso. Era preciso ser ele a me perguntar e sabia que essa pergunta viria”, disse Lula da Silva, repetindo aquilo que já tinha dito na sua entrevista à TV Globo, na quinta-feira: que foi durante o seu governo que o Brasil intensificou o combate à corrupção, aprovando leis e medidas que aumentaram a transparência das instituições. Aliás, Lula da Silva tem dito inclusivamente que foi a aprovação dessas leis e medidas que permitiram a investigação de casos de corrupção que fez com que, nos anos seguintes, tantas investigações tivessem visto a luz do dia.

Lula quer voltar a investir no Brasil e deixar escândalos para trás: “A corrupção só aparece quando se permite que seja investigada”

O peso de 580 dias na prisão continua sobre os ombros de Lula da Silva, que pretende deixar os escândalos de corrupção no passado e focar-se no futuro. Mas Bolsonaro não deixou o passado de Lula cair no esquecimento e chamou “ex-presidiário” ao antigo presidente. “O que vai acontecer com nosso Brasil se esse ex-presidiário voltar para a cena do crime?“, questionou Bolsonaro, acusando Lula da Silva e o PT de empobrecer deliberadamente o povo brasileiro para fazer “política em cima disso”.

Seu governo foi o mais corrupto da história do Brasil“, atirou mesmo Bolsonaro para Lula da Silva. “O seu governo foi marcado pela cleptocracia. Ou seja, um governo feito à base de roubo. E essa roubalheira era para conseguir apoio dentro do parlamento. Não era apenas para o ex-presidente Lula. Era para ele também conseguir apoio dentro do parlamento.”

Lula and Bolsonaro Face to Face in First Presidential Debate

Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil, é recandidato pelo PL

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Bolsonaro forçou o ex-presidente a partir para a defesa dos seus mandatos presidenciais, lembrando que foi durante o seu governo que o país cresceu economicamente, gerando emprego e inclusão social. Lula da Silva afirmou também que foi no seu governo que se registou a menor taxa de desflorestação de sempre na Amazónia — algo que não é verdade, como apontou entretanto a Folha de São Paulo, lembrando que a menor taxa de desflorestação da Amazónia foi registada no governo de Dilma Rousseff. Lula da Silva disse também que foi preso justamente para que Bolsonaro fosse eleito sem oposição e garantiu estar “mais limpo do que ele”.

No momento em que se debatia corrupção no palco do estúdio, registaram-se momentos de tensão nos bastidores, onde as comitivas dos vários candidatos assistiam ao debate. O deputado André Janones, apoiante de Lula da Silva, e o ex-ministro de Bolsonaro Ricardo Salles envolveram-se em confrontos verbais que estiveram perto de evoluir para confrontos físicos, mas foram separados pelos seguranças presentes no estúdio, que estabeleceram um cordão de segurança entre as duas comitivas.

“O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro”

O candidato do PDT, Ciro Gomes, que se tem afirmado como a terceira via numa eleição polarizada em Jair Bolsonaro e Lula da Silva, procurou ir buscar eleitores aos dois campos políticos, atacando ambos os candidatos e classificando a eleição de Bolsonaro como um “protesto” do povo brasileiro contra a crise económica resultante da governação de Lula da Silva. Para Ciro Gomes, Lula e Bolsonaro estão “dividindo a nossa nação“.

“O que mais está me chocando e vendo esse nível de alienação e de ódio, coisas assim. Mentira para lá, mentira para cá. Esse é o Brasil que essa gente tá produzindo, dividindo a nossa nação, e eu quero conciliar“, disse Ciro Gomes. “Eu atribuo ao Lula a contradição económica do país. À contradição moral do Lula e do PT. O Bolsonaro desceu de Marte com essas contradições todas. O Bolsonaro foi um um protesto absolutamente reconhecido, respeitosamente por mim, quanto à devastadora crise económica que o Lula e o PT produziram.”

Ciro Gomes afirmou também que tem apoiado várias iniciativa do governo de Bolsonaro no que toca ao desenvolvimento económico do país, mas acusou o presidente de não conseguir responder à crise que o Brasil enfrenta. “O seu governo não conseguiu responder nem à questão económica trágica que herdou, porque é verdade que o senhor herdou uma tragédia económica do PT, nem conseguiu mudar aquilo que foi promessa solene, a governança política do país”, disse Ciro Gomes.

Os outros candidatos juntaram-se às críticas à polarização da eleição entre Lula e Bolsonaro. “O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro“, disse Simone Tebet, acusando os dois candidatos de alimentarem o “ódio” e de dividirem “famílias”.

Luiz Felipe D’Ávila, candidato pelo Novo, partido que alinha pelo liberalismo económico, também atirou tanto a Bolsonaro como a Lula da Silva.

Atirando a Bosonaro, embora sem mencionar o presidente pelo nome, Luiz Felipe D’Ávila disse que o Brasil precisa de recuperar a credibilidade internacional, especialmente no que toca à questão climática. “Eu tenho certeza absoluta de que o Brasil vai ser um exemplo em ser esse país que vai capturar 50% do carbono do mundo, dar uma lição para o mundo. E isso vai ser fundamental para recuperar a credibilidade internacional do Brasil. O Brasil jamais vai voltar a ser um país confiável nas relações internacionais se continuar tratando o meio ambiente com o descaso que vem tratando nos últimos anos”, disse.

Luiz Felipe D’Ávila foi mais duro com Lula da Silva, acusando o PT de olhar com desconfiança para o mercado livre. “Parece que o PT não gosta de empresários e do mercado“, disse o candidato. “Temos que olhar o mercado com juízo, porque ele vai ajudar o Brasil na questão do meio ambiente.”

As eleições presidenciais brasileiras estão marcadas para o dia 2 de outubro. Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos, haverá uma segunda volta entre os dois mais votados no dia 30 de outubro.

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