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Lula Continues Campaign Agenda Despite Escalate in Pre-Election Political Violence
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Lula candidata-se para ocupar o cargo de presidente do Brasil pela segunda vez

Getty Images

Lula candidata-se para ocupar o cargo de presidente do Brasil pela segunda vez

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Lula quer voltar a investir no Brasil e deixar escândalos para trás: "A corrupção só aparece quando se permite que seja investigada"

O ex-presidente brasileiro foi o terceiro candidato a participar na ronda de entrevistas desta semana na TV Globo e defendeu-se dos escândalos de corrupção que ainda pesam sobre ele.

Quando se sentou, na noite desta quinta-feira, nos estúdios da TV Globo para uma entrevista de 40 minutos a propósito da campanha eleitoral para as presidenciais brasileiras de 2 de outubro, Lula da Silva trazia consigo um historial longo e controverso: dois mandatos como presidente do Brasil, entre 2003 e 2011, marcados pelo crescimento económico (o seu grande trunfo eleitoral) e 580 dias na prisão devido a uma condenação por corrupção e branqueamento de capitais que, apesar de já ter sido revertida, continua a ser a sua grande fragilidade.

Por isso mesmo, o combate à corrupção e os escândalos que envolveram o seu partido e o próprio Lula nos últimos anos foram um dos tópicos centrais da entrevista no Jornal Nacional da Globo — a terceira de uma ronda de entrevistas aos candidatos mais bem colocados nas sondagens (Jair Bolsonaro e Ciro Gomes já foram entrevistados no início da semana). O tema da corrupção obrigou Lula da Silva, que vai à frente em todas as sondagens, a passar grande parte da entrevista a defender-se.

Presidenciais brasileiras. Lula da Silva, que lidera as sondagens, é entrevistado hoje na TV Globo

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Mas a entrevista ficou também marcada por duras críticas de Lula da Silva a Jair Bolsonaro a propósito da prática do “orçamento secreto”, pela admissão de erros na gestão económica durante o governo de Dilma Rousseff, pela defesa da polarização e por vários apelos de Lula da Silva à memória dos brasileiros em relação aos seus mandatos presidenciais de há uma década.

À defesa: o combate à corrupção

A questão da corrupção foi justamente a primeira a ser abordada pelos jornalistas. Lula da Silva, que foi libertado depois de o Supremo Tribunal Federal ter anulado as decisões do juiz Sergio Moro (e, posteriormente, a justiça brasileira viria a determinar o arquivamento do caso), continua a carregar consigo o peso de ter estado envolvido numa teia de corrupção que, em muitos casos, ficou efetivamente provada.

“Durante cinco anos eu fui massacrado e estou tendo hoje a primeira oportunidade de poder falar disso abertamente ao vivo com o povo brasileiro”, afirmou Lula da Silva, para logo de seguida se defender dizendo que foi no seu mandato que o Brasil começou a investigar de modo mais intenso o problema da corrupção. “A corrupção, ela só aparece quando você permite que ela seja investigada.”

“Foi no meu governo que a gente criou o portal da transparência”, acrescentou, lembrando que foram criadas leis contra a corrupção e contra a lavagem de dinheiro.

A pandemia, a credibilidade dos resultados eleitorais e a economia. Jair Bolsonaro jogou à defesa na primeira entrevista da campanha

“Em 2005, quando surgiu a questão do Mensalão, eu cheguei e disse o seguinte: ‘Só existe uma maneira de alguém não ser investigado nesse país: é não cometer erro’. Se cometer erro, vai ser investigado. E foi isso que nós fizemos. Se alguém comete um erro, alguém comete um delito, investiga-se, apura, julga, condena ou absolve e está resolvido o problema”, afirmou ainda Lula, referindo-se ao caso que surgiu no início do seu mandato presidencial e que envolvia a compra de votos de deputados.

Lula da Silva criticou também aquilo que considerou “o equívoco da Lava Jato”, o maior processo de corrupção da história do Brasil, que o levaria à prisão. “A Lava Jato enveredou para um caminho político delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política. E o objetivo era o Lula. O objetivo era tentar condenar o Lula.”

“Aqui no Brasil as pessoas são condenadas pelas manchetes de jornal”, acrescentou Lula da Silva.

Ao ataque: a interferência governativa no poder judicial e o “orçamento secreto”

Também mereceu destaque na entrevista a relação entre o poder político e o poder judicial, numa altura em que no Brasil há denúncias de interferência governativa na Polícia Federal. Lula da Silva lembrou que, quando teve de escolher um procurador-geral da República, escolheu de entre as opções apresentadas e não optou por nomear um “amigo”.

“Eu poderia ter escolhido um Procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe e que nenhum processo vai para a frente? Eu poderia ter feito isso e não fiz”, disse Lula da Silva. “Eu poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. E permiti que as coisas efetivamente acontecessem do jeito que precisava acontecer.”

Lula da Silva atirou diretamente ao atual presidente, Jair Bolsonaro, que em 2020 demitiu o diretor-geral da Polícia Federal, que investigava figuras próximas do presidente. “O Bolsonaro troca qualquer diretor, basta ele não gostar. Eu nunca fiz isso, nem vou fazer”, disse Lula. O ex-presidente disse ainda que não quer procuradores leais a si, mas leais ao povo brasileiro. “Não quero amigos no Ministério Público nem na polícia.”

O antigo presidente do Brasil, Lula da Silva num seminário em Madrid

Lula da Silva quer deixar os escândalos de corrupção no passado

LUCA PIERGIOVANNI/EPA

Lula também deixou duras críticas à prática do “orçamento secreto“, expressão com que foi batizado um esquema de alocação de uma parte significativa do orçamento brasileiro à decisão direta do Congresso Nacional, que pode decidir diretamente sobre a atribuição de verbas.

Para Lula da Silva, o escândalo do “mensalão” (caso de compra de votos de deputados que veio a público no seu mandato) não é pior do que este caso do “orçamento secreto”. É, considera Lula, uma “usurpação do presidencialismo”. “Bolsonaro não manda nada, está refém do Congresso Nacional”, disse.

As promessas: repetir o que fez entre 2003 e 2011

Embora Lula da Silva não surja na corrida eleitoral no papel do incumbente que tem de defender as suas políticas e convencer os eleitores a renovar a confiança em si, a verdade é que representa o PT, partido que governou o Brasil durante quase todo o tempo das últimas duas décadas — e, durante oito anos, foi mesmo ele o presidente brasileiro.

Por isso, uma grande parte da entrevista foi aproveitada por Lula da Silva para puxar dos galões da sua presidência e para prometer aos brasileiros um regresso aos tempos do crescimento económico. Lula lembrou os indicadores económicos crescentes do seu mandato e até admitiu que durante o mandato de Dilma Rousseff, sua sucessora, foram cometidos erros na economia, mas pediu aos brasileiros que voltem a confiar no PT.

Ciro Gomes quer “reconciliar” o Brasil e transformar país “num Portugal”. Na entrevista à Globo, tentou ir buscar votos a Bolsonaro e a Lula

No minuto final que lhe foi dado para se dirigir aos eleitores brasileiros, Lula da Silva voltou a puxar dos galões da sua governação: “Nós já provámos que é possível cuidar do povo brasileiro.” Resumindo esta missão de “cuidar” com a colocação do “pobre no orçamento do país”, Lula da Silva lembrou que quando tomou posse havia 3,5 milhões de estudantes universitários no país e que, quando deixou a presidência, o número tinha subido para 8 milhões.

Lula terminou, dizendo que pretende “voltar” para continuar o investimento no povo brasileiro.

Sobre a política ambiental e a desflorestação da Amazónia — um tema quente da campanha, sobretudo tendo em conta a abordagem polémica de Bolsonaro a este assunto —, Lula da Silva acusou Bolsonaro de galvanizar o apoio dos agricultores dando-lhes armas. “Agora, o Bolsonaro está ganhando o fazendeiro porque está liberando arma, tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém. Não, o que nós queremos é pacificar esse país”, disse Lula, depois de considerar que a exploração económica dos recursos naturais não é incompatível com a preservação do ambiente e que é necessário explorar “cientificamente” a Amazónia.

A frase: “Não tem polarização no Partido Comunista Chinês”

As eleições presidenciais brasileiras deste ano estão irremediavelmente polarizadas entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva — e o tema da polarização surgiu na entrevista, com os jornalistas a perguntarem a Lula se a sua retórica de “nós vs. eles” usada em tempos em relação ao seu atual aliado Geraldo Alckmin (PSB) não contribuiu também para a polarização que o país vive hoje.

Lula da Silva desvalorizou as críticas e disse que a polarização não é um problema numa democracia — comparando até a militância partidária com as claques de futebol. Lembrando que nunca tratou os seus oponentes políticos como inimigos, Lula disse que a polarização é “saudável” numa democracia. “Faz a militância ir para a rua”, diz, acrescentando que “é importante que não se confunda com o incentivo ao ódio”.

E lembrou onde é que não existe polarização: “Não tem polarização no Partido Comunista Chinês nem no Partido Comunista Cubano.”

Lula da Silva é a figura destas eleições brasileiras, regressando em força depois de anos a braços com a justiça e polarizando ainda mais um país já profundamente dividido, atravessado pelas dificuldades económicas, devastado pela pandemia da Covid-19 e fragmentado no que toca à avaliação da governação de direita radical de Jair Bolsonaro. De acordo com as sondagens mais recentes, Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, está perto de voltar a liderar o Brasil, reunindo 44% das intenções de voto na sondagem da revista Exame publicada esta quinta-feira, contra 36% para Jair Bolsonaro e 9% para Ciro Gomes.

Os números das sondagens mais recentes apontam todos para uma vitória de Lula da Silva (embora a distância para Bolsonaro tenha caído) na primeira e na segunda volta, mas o passado do candidato do PT, que foi presidente do Brasil de 2003 a 2011, persegue-o na campanha eleitoral, polarizada entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, que se vê com a espinhosa missão de defender quatro anos de governação polémica (incluindo no toca à pandemia da Covid-19, amplamente desvalorizada por Bolsonaro, que matou quase 700 mil brasileiros), e Lula da Silva, cujo envolvimento em casos de justiça no passado contribuiu para a perda de credibilidade do PT na governação do país. O terceiro candidato nas sondagens, Ciro Gomes, que se assume como uma terceira via contra a polarização e oferece uma alternativa de centro-esquerda para a oposição a Bolsonaro, não tem, de resto, poupado nas críticas a Lula da Silva, classificando os escândalos de corrupção no PT como a grande causa da eleição de Bolsonaro em 2018.

As eleições presidenciais brasileiras deste ano estão agendadas para o dia 2 de outubro. À semelhança do sistema eleitoral português, no caso de nenhum dos candidatos conseguir obter mais de 50% dos votos, haverá lugar a uma segunda volta entre os dois mais votados no dia 30 de outubro. Esta sexta-feira, é a vez de a candidata Simone Tebet, do MDB, ser entrevistada no Jornal Nacional da TV Globo.

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