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Romance, crónica, biografia e banda desenhada: estas são as nossas 42 sugestões de livros para o verão

É inescapável: chega a época alta das férias, chegamos nós com os títulos. Para fazer planos e encher malas, depois logo se vê como a leitura acontece. O que importa é não viajar sem companhia.

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Há coisas que se repetem de ano para ano e que não são agradáveis. Os impostos e o pagamento dos seguros. Aquele encontro com a família TODA no qual marcamos presença com o melhor dos falsos sorrisos. O caos à saída do festival de verão. E a frase “nunca mais, é a última vez”, que dizemos interior e exteriormente, durante o caos à saída do festival de verão.

Depois, há outras coisas que nunca falham e pelas quais vale a pena esperar. Poderíamos elencar várias (que as há), mas vamos abreviar caminho e fiquemo-nos pelas sugestões de leitura para as férias (para quem as pode gozar, sejamos realistas), apresentadas aqui pelos jornalistas, críticos e habituais colaboradores do Observador. É uma lista longa, variada, que tem cada vez mais semelhanças com as propostas dos vendedores de bolas de berlim pelas praias deste país, que já têm nutella e já são feitas com alfarroba (e nem é preciso ter dinheiro vivo para pagar).

Livros de História, biografias e literatura infantil, romances, thrillers e escritos filosóficos. É a Feira do Relógio da sugestões literárias, um sortido de letras sem regras, a não ser o bom gosto. Resta escolher e encontrar lugar no saco ou na mala de viagem, entre os ecrãs, cabos e outros periféricos digitais que vai insistir certamente em levar consigo, porque “nunca se sabe”.

Alexandre Borges

“Contra a Amazon”
Jorge Carrión (tradução de Margarida Amado Costa)
(Quetzal)

Do cadáver das lojas desaparecidas de Barcelona ou Nova Iorque, à descoberta das livrarias híbridas de cafés, ateliers, lojas de roupa, de Tóquio ou Seul. Viajamos pelo mundo a bordo dos ensaios, crónicas e entrevistas do professor e colunista espanhol Jorge Carrión, autor do aclamado Livrarias, de 2013, carregando o estandarte de uma certa ideia de civilização, contra o hipermercado de Jeff Bezos, e sempre bem-assombrados pelo fantasma de Borges. Inclui várias passagens por Portugal, nomeadamente pela Lello, Ler Devagar e futura biblioteca “Atlântida”, de Alberto Manguel.

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“A Vida por Escrito”
Ruy Castro
(Tinta da China)

De um livro sobre a leitura para um acerca da escrita. Para quem trabalha nestas oficinas, e uma vez que passa o resto do ano a escrever, o Verão é “a” altura para aprender com os mestres. E Ruy Castro é, indiscutivelmente, isso mesmo. Aos 74 anos, o autor de O Anjo Pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues, ou Chega de Saudade, a história da Bossa Nova, senta-se a partilhar connosco o que aprendeu em todos estes anos de labor na “ciência e arte da biografia”. E nós tiramos notas e viramos a página. E damos mais um mergulho. E viramos mais uma página. E tiramos mais notas.

“Morte a Crédito”
Louis-Ferdinand Céline (tradução de Luiza Neto Jorge)
(Livros do Brasil)

Preocupado que o tomem por alguém “na moda”? Nervoso com a ideia de gastar o subsídio de férias – e as férias – em novidades, quando há tanta coisa para ler que sobreviveu ao teste do tempo? Nada tema. Que tal uma nova edição do clássico de 1936 de Céline, envolvido naquele design démodé da coleção “Dois Mundos”? Nada como um bom romance semi-autobiográfico sobre miséria, imundície, doença e morte, escrito por um dos mais controversos autores do século XX, para garantir que ninguém o chateia com convites para sunsets e rooftops.

As escolhas de Alexandre Borges

André Almeida Santos

Mrs. March
Virginia Feito (tradução de Alda Rodrigues)
(Alfaguara)

Mrs. March, a protagonista, arrecada todos os prémios de personagem mais aborrecida do ano. Tanto que, a dado momento, um desvio para thriller deixa o leitor empolgado para, depois, ficar ainda mais entusiasmado por ter ido ao engano. Virgina Feito troça do leitor? Sim. E muito bem. O tédio de Mrs. March, mulher de um escritor famoso, que passa os dias a ocupar-se com os macaquinhos na cabeça, fechada em casa, é um tédio muito humano, reconhecível, comum, até pelo pressuposto do “e se”: o que faria numa situação em que se revê como protagonista do romance do cônjuge? Tudo fica por acontecer, em suspensão, sem trair o leitor. Uma estreia em jeito de armadilha bem elaborada.

Sobre Isto Ninguém Fala
Patricia Lockwood
(Bertrand)

Parte história da vivência global na internet através de um portal online semelhante ao Twitter, parte partilha intensa de uma experiência familiar próxima, a estreia da norte-americana Patricia Lockwood desmonta uma forma de estar global (ou assim se entende no mundo ocidental), entre teoria e prática. Uma partilha de medos, manias e desadequação, no fundo, um espelho sobre o existir na intensidade do momento, entre as opiniões e as procuras online e o contrarrelógio da vida real.

Crónicas de Fora de Jogo
Patrícia Portela
(Caminho)

Há toda uma vida nas crónicas de Patrícia Portela, seja as que gravou para a Antena 1, “O Fio da Meada”, ou as que escreve para o Jornal de Letras desde 2017. Este livro reúne algumas delas, têm em comum uma partilha exemplar da vivência quotidiana, de como integrar as banalidades de uma rotina movimentada, atribulada, num contexto universal e presente. Corpo e espírito partilham experiências em simultâneo, sobre o que se controla e o que não se controla. Ao ler estes textos percebe-se a exatidão e a confiança que inscreve nos romances, em particular Dias Úteis.

As escolhas de André Almeida Santos

Ana Bárbara Pedrosa

O perigo de estar no meu perfeito juízo
Rosa Montero (tradução de Helena Pitta)
(Porto Editora)

Para o verão ou para o inverno, tanto faz. O que importa é mergulhar neste livro de Rosa Montero. O ritmo é de pressa constante, a leitura é uma ansiedade. Enfrentando o caos, Rosa Montero encontra a ordem: ao passear entre a divagação e o relato, toca naquele ponto mágico que faz nascer a escrita. Nas mãos, a autora põe o mistério insondável dos criadores, e com isto dá uma voz narrativa que é um sussurro empático. Dos escritores, sabe-se que metem a mesma pata na mesma poça. Ninguém delineia o motivo, mas todos procuram o momento e o motivo enquanto se perguntam se foram atingidos por uma seta de Cupido que obceca a vida inteira ou se é uma obsessão que dura toda a vida que inventa um Cupido.

Os Perigos do Imperador
Ruy Castro
(Tinta da China)

Ruy Castro sabe sempre a verão, talvez por ser tão fácil pensar nele a escrever de hawaianas. Este livro é um projeto mais amplo do que a história de um atentado contra D. Pedro II, imperador no Brasil. O foguete é a realidade, mas a literatura é a fogo-de-artifício. A leitura suspende a realidade, e com isso também suspende a ficção. Ao ler, o leitor esperto não tenta distinguir vida de escrita – em vez disso, o que lê é o que existe, e é inútil balizar os detalhes com o panorama da vida.

O Árabe do Futuro 5
Riad Satouff (tradução de Helena Guimarães)
(Teorema)

É um monumento em banda desenhada, e ainda lhe falta um volume. Seguimos a vida de Riad, que é vida que não é coisa pouca: com a família, o miúdo vai saltando entre países e, do sofá, o leitor mete a cabeça na Líbia de Kadafi, na Síria de Hafez Al-Assad, na Bretanha, na França de Miterrand, na Arábia Saudita dominada pela família real. Na sala de estar de uma casa, veem-se os movimentos do mundo, as diferenças culturais, a forma como o poder político se mete nos detalhes. Da mesma forma, o poder religioso impõe-se, molda os costumes, os hábitos, as relações. Fugir ao fanatismo é uma quebra na tensão e é no contexto democrático que se vai atenuando a importância do contexto político.

As escolhas de Ana Bárbara Pedrosa

Carlos Maria Bobone

Uma família monárquica na guerra da República
Lívia Franco
(Dom Quixote)

Um livro que ajuda a perceber não só o quotidiano da Grande Guerra através de testemunhos na primeira pessoa, mas que também permite ver o modo como a sociedade monárquica se foi integrando na vida da República e, com isso, moldou a sua mentalidade a ponto de preparar alguns pressupostos ideológicos do Estado Novo.

Epistolário Magno de Luís de Camões – Volume I
Filipe de Saavedra
(Canto Redondo)

Uma exegese ultra pormenorizada das cartas de Camões, que começa por recuperar uma carta quase incompreensivelmente descartada do epistolário camoniano. Filipe de Saavedra contesta José Maria Rodrigues e devolve às cartas de Camões um papel central, quer para a biografia de Camões, quer como documentos literários.

Rumo à Estação da Finlândia
Edmund Wilson
(Imprensa da Universidade de Lisboa)

Não é habitual vê-los nas livrarias, mas os livros editados pela Imprensa da Universidade de Lisboa têm uma enorme qualidade. Este Rumo à Estação da Finlândia é uma história do socialismo, dos primórdios à chegada de Lenine à estação evocada no título, que se lê como um romance. Ao mesmo tempo sistemático e imprevisível, numa boa conjugação entre o facto histórico e o pensamento doutrinário.

As escolhas de Carlos Maria Bobone

Cláudia Marques Santos

Outra Autobiografia
Rita Lee
(Contraponto)

Depois de Uma Autobiografia, publicado em Portugal em 2017, este segundo registo na primeira pessoa da rainha do rock brasileiro, que morreu em maio, relata os dias menos bons, a última fase da sua vida. A Rita despiu-se da persona dos palcos e fala com honestidade, ora dura ora humorada – como sempre –, sobre a pandemia, sobre a descoberta de que tinha cancro do pulmão, sobre a violência dos tratamentos oncológicos.

Perder-se
Annie Ernaux (tradução de Maria Etelvina Santos)
(Livros do Brasil)

Uma espécie de caderno de trabalho, este diário íntimo aponta de forma crua os momentos que vão servir a história de Uma Paixão Simples, editado por cá em novembro último. No registo autobiográfico a que nos habituou, a Nobel da Literatura do ano passado é aqui uma mulher divorciada, filhos adultos, a viver nos arredores de Paris, que não consegue escrever o seu próximo romance. Anseia dia e noite pelo amante, um diplomata russo, casado e mais novo.

O Arquipélago da Insónia
António Lobo Antunes
(reedição D. Quixote)

Um redemoinho de pensamentos encadeados numa fluidez muito própria, tanto fragmentada como circular, a escrita de Lobo Antunes conta aqui a história de uma casa, aquela que em tempos foi uma herdade, símbolo de uma estratificação social bem vincada: a família latifundiária de um lado e os empregados do outro, numa época em que as “criadas” até na satisfação do coito serviam o patriarca. Em dois tempos, relata-se a memória, aquilo que a casa é hoje – nada mais do que um conjunto de fotografias e objetos.

As escolhas de Cláudia Marques Santos

Guilherme P. Henriques

Nove Contos
J.D. Salinger (tradução de José Lima)
(Relógio D’ Água)

O facto de o primeiro dos nove contos decorrer numa praia é apenas a razão menos óbvia para que a leitura deste livro faça parte das recomendações de verão. Especialmente reconhecido pela escrita do romance À Espera no Centeio, Salinger foi também, e antes disso, um contista de relevo. Esta coleção de pequenas ficções reúne todas as qualidades que costumamos associar ao escritor norte-americano, entre elas a de nos pôr a pensar sobre coisas profundas, como o trauma ou a busca pela inocência perdida, através de episódios prosaicos, simultaneamente trágicos e cómicos, como a pesca de um peixe-banana.

A Trombeta Vaga
Simão Lucas Pires
(Quetzal)

Juntar um estreante contista português e um célebre contista norte-americano na mesma lista de recomendações pode parecer um exercício arriscado, sobretudo para quem ainda não leu este primeiro livro de contos de Simão Lucas Pires. Através de personagens demasiado vagas para enfrentar os problemas demasiado concretos da vida, esta trombeta anuncia a chegada de um novo escritor cuja elegância reside no engenho, muito próprio de alguns célebres, que consiste em converter a complexidade de questões filosóficas e espirituais (ou a pompa de palavas como “Verdade” e “Deus”) numa ficção aparentemente simples. Escrever bem é uma proeza de muitos; escrever bem dizendo mais do que se escreve está ao alcance de poucos, e as mais das vezes não é nas estreias que os encontramos.

A Mais Secreta Memória dos Homens
Mohamed Mbougar Sarr (tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra)
(Quetzal)

Há poucos romances publicados em Portugal nos últimos meses tão recomendáveis quanto este, sobretudo para os leitores que aproveitam o verão para viajar por aventuras narrativas mais longas. O protagonista é Diégane Latir Faye, e a sua aventura passa pela procura de T.C. Elimane, um escritor obscuro “que desapareceu sem deixar rasto”. Vencedor do Prémio Goncourt 2021, este A Mais Secreta Memória dos Homens torna Mohamed Mbougar Sarr num legítimo herdeiro de Roberto Bolaño — o que, sendo hoje um elogio audacioso, corre o risco de alcançar, um dia, a categoria de clichê.

As escolhas de Guilherme P. Henriques

Joana Emídio Marques

A Quinta dos Animais
George Orwell
(Antígona, Porto Editora, Penguin)

Os dias de férias, as tardes quentes que aos mais novos parecem infinitas e os mais velhos se acham na obrigação de fazer tudo para ter as crianças “entretidas” são bons para seguir o sábio conselho de José Saramago: “as crianças precisam de sentir tédio”, pois com o tédio nasce e cresce a imaginação, abre-se espaço para a lentidão da literatura, para a contemplação curiosa do mundo em redor. Ler ou ouvir ler são das experiências mais encantadoras da infância que, na vida adulta tendem a perder-se. Mas todos podem resgatar este prazer e tal como os pais leem para os filhos, os  filhos podem ler para os país, até para estimular a capacidade da leitura em voz alta. Sabemos que as tendências educativas disseminada em Portugal, nas últimas décadas, tendem a retirar o mundo da sua complexidade, alegando que as crianças e os adolescentes “não são capazes de entender”. Porém, como o experienciam muitos pais e educadores menos amestrados, quando devidamente enquadrados, há muitos livros escritos para pessoas sem idade que podem ser um riquíssimo objeto de partilha e um pretexto para conversas desafiantes que criam laços e boas memórias.

A Quinta dos Animais, de George Orwell, é um bom exemplo de um clássico da literatura que pode ser lido por adultos, adolescentes ou lido a crianças a partir dos 7 ou 8 anos. O livro é curto, não tem grandes trechos descritivos e, se for lido ao longo de vários dias, poder-se-á ir conversando com as crianças para lhes explicar as partes mais simbólicas que elas ainda não terão maturidade para entender. A Quinta dos Animais conta a história de uma quinta onde os animais se revoltam contra os homens, os expulsam para sempre parecem poder enfim realizar a utopia de viverem livres. Porém, quando escolhem os porcos Bola-de-Neve e Napoleão são escolhidos para liderar a quinta, coisas muito estranhas começam a acontecer.

Escrita com o tom melancólico e encantatório dos contos de fadas, esta é uma história sobre a humanidade, a crueldade, a ambição, as escolhas e, nesse sentido, é um livro de educação política e construção de sentido critico perante o mundo. Aquele que todos precisam para se orientarem neste mundo e do qual os currículos escolares se têm demitido. Publicado pela primeira vez em 1945, na Inglaterra do pós-guerra, e entendido como uma crítica aos regimes estalinistas, este livro é muito mais do que isso: é um livro sobre o poder e a forma como ele se usa, sobre o sentido de comunidade e a dignidade dos que sofrem. Em Portugal o livro circulou durante vários anos sob o título O Triunfo dos Porcos, mas as novas edições, da Antígona, da Porto Editora e da Penguin retomaram o título original.

Micromegas
Voltaire (tradução de Rui Tavares)
(Tinta-da-China)

Micromegas, um conto filosófico, escrito por Voltaire, no século XVIII, não só não é filosofia pura e dura, como é um livro que pode ser lido e entendido tanto por adultos como por crianças em idade escolar. Mesmo os que julgam ter poucas inclinações para a Filosofia vão gostar deste conto que vive daquela sabedoria que nasce da experiência humana e não do estudo de esquemas conceptuais. O ponto de partida é simples: Micromegas é um filósofo gigante, oriundo da estrela Sirius, que nas suas investigações científicas chega a Saturno onde conhece outro filósofo muito mais pequeno, quase um anão. Sedentos de sabedoria ambos decidem partir juntos em busca de conhecimento e um dia chegam a um planeta tão pequeno, tão pequeno que os seus habitantes só podem ser vistos com uma lente de aumentar: é o planeta Terra.

Traduzido e posfaciado por Rui Tavares, para a extinta editora Iman, em 2001, o livro foi agora recuperado e posto  à venda pela Tinta-da- China, que recupera também as ilustrações de Vera Tavares. Micromegas é uma viagem filosófica e um pequeno tratado sobre a importância do conhecimento, a importância do saber como a principal arma para nos auto determinarmos neste mundo. Ou, como escreve o tradutor: “um ignorante é sempre aquele que julga saber tudo, e um sábio é sempre aquele que aceita ser surpreendido e que compreende que nunca chegará a deter, conhecer ou comunicar quase nada da incomensurável riqueza que nos rodeia (…).”

O Coelho de Peluche
Margery Williams (tradução de Vladimiro Nunes)
(Travesso)

Continuando na senda de histórias para ler em família, este é um livro escrito para crianças, mas que qualquer adulto pode e deve ler. Foi escrito há cem anos por Margery Williams e foi considerado um dos 100 melhores livros para crianças pela Associação de Educadores Americanos. A recém- criada chancela Travesso (da editora Ponto-de-Fuga) avançou com a primeira tradução jamais feita em Portugal, deste clássico infantil.

Num tempo de sofisticação tecnológica, onde os brinquedos e os jogos parecem ter que ser todos informatizados ou mecanizados para satisfazerem as crianças, o que pode um coelho de peluche? Um simples coelho de peluche, tímido e inadaptado? Quando, em 1922, Margery Williams escreveu esta história não poderia adivinhar como seriam os brinquedos no século XXI. Mas percebeu de imediato que, através dos brinquedos as crianças reproduziam o mundo dos adultos: consumista, sempre em busca de novos objetos de adoração e crente que quanto mais tecnologia melhor a vida.

A Travesso, apostada em traduzir e editar clássicos da literatura infanto-juvenil nunca publicados em Portugal, está também a publicar a obra de Tom-Seidmann-Freud, a sobrinha do psicanalista Sigmund Freud, que escreveu e ilustrou vários livros infantis que se tornaram verdadeiros clássicos. Em 2018, a editora-mãe, a Ponto-de-Fuga já tinha editado livros infantis escritos pelos poetas Ted Hughs, e.e. cummings e pelos romancistas William Faulkner,  Margaret Atwood e Gine Vitor, esta última numa tradução feita por Herberto Helder.

As escolhas de Joana Emídio Marques

Joana Moreira

Limpa
Alia Trabucco Zerán (tradução de Isabel Pettermann)
(Elsinore)

Nova e entusiasmante voz da literatura contemporânea em língua espanhola, Alia Trabucco  Zerán chegou finalmente a Portugal. A estreia acontece com a sua terceira obra, “Limpa”, um romance na forma de monólogo (“É basicamente uma mulher a falar, sem parar”, diz). No relato do dia-a-dia de Estela, empregada doméstica que trabalha numa casa burguesa no Chile, entre camas por lavar, comida por fazer e chão por limpar, descobre-se uma voz marcada pela sua condição, dura pela sua simplicidade e incómoda pela sua naturalidade. Um livro sobre violência, sexismo, pobreza e solidão, cujo sucesso se augura que motive a tradução portuguesa dos restantes títulos da autora chilena, “La Resta” (2015) e “Las Homicidas” (2019).

Estendais
Gisela Casimiro
(Caminho)

“E a menina, escreve sobre Portugal ou sobre África?”, perguntam-lhe. “Sobre o mundo”, responde. No livro de crónicas Estendais, a escritora, poeta e ativista portuguesa Gisela Casimiro condensa parte do seu mundo em textos, alguns deles pequeníssimos, que denotam, por um lado, a habilidade da autora em ler a poesia do mundano (a felicidade de apanhar o autocarro, as músicas de Mariah Carey) e, por outro, uma vontade clara e política de denúncia — com o racismo e sexismo como temas âncoras. Diz o músico brasileiro Emicida sobre a sua poesia: “sua caneta pode ser uma navalha, ou uma folha que suavemente passeia junto ao vento”.

“Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro”
Susana Moreira Marques
(Companhia das Letras)

Depois do poderoso Agora e na Hora da Nossa Morte (Tinta-da-china, 2013), Susana Moreira Marques torna a escrever um livro de não-ficção literária. Guiada pela mítica obra As Mulheres do Meu País, escrita no final da década de 1940 por Maria Lamas, e à boleia da escrita do argumento para o documentário “Um Nome Para o Que Sou”(2022), sobre a mesma autora, a jornalista e escritora encheu cadernos com notas e reflexões que foi colecionando nesse mesmo périplo por Portugal. Seguimos-lhe as pisadas neste ensaio livre que mescla a narrativa autobiográfica com aquela que observou. É um livro-herança que revisita o passado, nos confronta com o presente e dá pistas para o futuro: escutemos as mulheres.

As escolhas de Joana Moreira

José Carlos Fernandes

Os Gregos: Uma história global
Roderick Beaton (tradução de João Coles)
(Edições 70)

Idealmente, este livro deveria ser lido numa praia de imaculada areia branca sob um céu de anil, numa ilha grega do Mar Egeu, mas estas estão quase todas descaracterizadas pelo turismo de massas e corre-se o risco de a paz estival ser perturbada pela descoberta, na linha de maré, de um cadáver de um dos muitos naturais dos países pobres de África e da Ásia que tentam chegar ao El Dorado europeu amontoados em embarcações periclitantes. Em 400 páginas, Beaton oferece uma síntese de quase três mil anos de uma história riquíssima, tratando não só dos eventos na Grécia “metropolitana” como da diáspora grega e lembrando-nos que, embora a Grécia desempenhe hoje um modesto papel no “concerto das nações”, a ela devemos boa parte das fundações da civilização ocidental.

Como o mundo realmente funciona
Vaclav Smil (tradução Luís Santos)
(Crítica)

Há dias, nas “cartas ao diretor” de um jornal nacional de referência, um leitor indignava-se por haver quem tivesse o topete de relacionar o aumento dos preços dos produtos agrícolas com a subida do preço dos combustíveis, como se as alfaces precisassem de petróleo para crescer. A verdade é que, no século XXI, ainda há quem, como este abespinhado opinador, conceba os labores agrícolas tal como são representados nas iluminuras das Très riches heures du Duc de Berry e não possua ideias muito mais atuais e precisas sobre os restantes domínios da civilização moderna. Foi para desfazer este tipo de equívocos e denunciar, simultaneamente, o alarmismo dos fiéis de Santa Greta que creem que o apocalipse está por dias e a sobranceria dos desenvolvimentistas que garantem que o planeta está de excelente saúde e que suportará (“Ai aguenta, aguenta!”) mais emissões de dióxido de carbono, mais plásticos nos oceanos e mais desflorestação, que Vaclav Smil escreveu Como o mundo realmente funciona, um livro exemplarmente lúcido, conciso e claro, que dá a ver as engrenagens do mundo moderno e os requisitos necessários para que estas continuem a girar.

A destruição do espírito americano
Allan Bloom (tradução de Maria José Batista)
(Guerra & Paz)

Os tumultos em França após um rapaz de 17 anos ter sido morto pela polícia por ter ignorado a intimação para parar o automóvel que conduzia; o fim, decretado pelo Supremo Tribunal dos EUA, com base na sua inconstitucionalidade, dos programas de “affirmative action” (discriminação positiva) nas universidades; o aprofundamento dos fossos entre gerações decorrente da irrupção de novos meios de comunicação na vida quotidiana; os crescentes conflitos entre liberdade de expressão e “correção política”; o confronto entre o movimento “woke” e as forças conservadoras da sociedade, com o seu rosário de acusações mútuas de “cancelamento” – tudo isto são temas escaldantes da atualidade e todos eles são tratados, de uma forma ou de outra, num livro escrito há 36 anos. A destruição do espírito americano está longe de ser um livro equilibrado e assente em argumentação inatacável e Alan Bloom soa, por vezes, como um pedante, mas a sua leitura é uma preciosa ajuda para compreender o mundo em que vivemos.

Cartas a Lucílio
Lúcio Aneu Séneca

A argumentação, explanada em A destruição do espírito americano, em prol da reinstalação das grandes obras dos autores clássicos, nomeadamente os da Antiguidade Greco-Latina, no centro dos curricula e da formação moral da sociedade ganha ainda mais pertinência neste tempo de desnorte civilizacional, em que a governação da polis se faz ao sabor das reações nas redes sociais, em que influencers e YouTubers com o discernimento de um cágado são escutados com o respeito que dantes era dispensado aos filósofos e em que uma parte considerável da população, atormentada pela depressão, pela ansiedade e pela frustração, busca salvação em life coaches, palestras motivacionais, manuais de auto-ajuda, “espiritualidades” de sabor oriental e terapias “holísticas”. Haverá quem objete que um autor como Lucius Annaeus Seneca (c.4 a.C.-65 d.C.) possa ter algo a dizer sobre o mundo do século XXI, mas a natureza humana mantém-se, na sua essência, inalterada e os conselhos contidos nas Epistulae Morales ad Lucilium (Cartas a Lucílio ou Cartas de um Estóico), redigidas c.62-65 d.C., parecem ter sido redigidos como resposta às mais candentes questões do nosso tempo. Fosse Portugal um país civilizado, o pretexto para esta sugestão seria a aparição de uma nova tradução das Cartas a Lucílio, mas, vivendo nós em semi-barbárie, há muito que não se encontra no mercado nacional uma tradução portuguesa desta obra, pelo que servem estas linhas para apelar a que um editor colmate esta clamorosa lacuna. Enquanto tal não acontece, sugere-se ao leitor que busque uma edição na língua estrangeira que melhor domine, de preferência na versão integral, pois a maioria das edições opta por fazer uma seleção das 124 cartas de Séneca. Cada um destes mini-ensaios filosóficos estende-se apenas por uma ou duas páginas, mas são tão densos e ricos em ensinamentos que a sua leitura e assimilação poderá consumir todo o verão. Ou toda a vida.

As escolhas de José Carlos Fernandes

Nuno Costa Santos

Montevideu
Enrique Vila-Matas (tradução de J. Teixeira de Aguiar)
(Dom Quixote)

Vila-Matas volta com uma reflexão, entre a ficção e a realidade, sobre a arte do romance, em particular, e sobre o gesto de escrever literariamente, em geral. Deambulando entre lugares, como é seu hábito, faz de portas e quartos pretextos para pensar a literatura e convocar alguns dos seus melhores cultores. Antonio Tabucchi anda muito por aqui. Cortázar também. Um livro para quem, a encontrar-se numa história normativa, prefere perder-se em labirintos, suscitados pelas dúvidas criativas, identitárias, do autor de O Mal de Montano.

“W.B. Yeats: Onde Vão Morrer os Poetas – Romance Biográfico”
Cristina Carvalho
(Relógio d’Água)

Não se trata de uma biografia ficcionada de Yeats, figura maior do Renascimento Literário irlandês, mas sim de uma digressão literária, livre,  experimentada, própria de quem já trabalhou outras figuras, sobre o percurso – artístico, cultural, geográfico — do autor. O leitor ganha: em 176 páginas, fica a saber dos passos do trilho múltiplo de um poeta e de um dramaturgo que estudou e celebrou a cultura do seu país, escrevendo, fundando teatros, servindo na política, cumprindo uma vocação ora romântica ora mística ora modernista.

“O Dever de Deslumbrar – Biografia de Natália Correia”
Filipa Martins
(Contraponto)

Em ano de centenário, um livro, filho de demorada pesquisa, que traz todas as Natálias – da Natália criadora à Natália cívico-política, passando pela Natália anfitriã do sempre celebrado Botequim. O estilo revela um equilíbrio raro entre virtuosismo e fluência. Não emerge aqui uma deusa a merecer uma estátua sem defeitos, mas sim uma pessoa maior, contraditória, em toda a sua densidade. Figura de entusiasmos, ruturas, empenhamentos, erupções. Açorianamente vulcânica.

As escolhas de Nuno Costa Santos

Rita Cipriano

Salvar o Fogo
Itamar Vieira Júnior
(Dom Quixote)

O segundo romance de Itamar Vieira Júnior passa-se na localidade fictícia de Tapera do Paraguaçu, na Bahia, e acompanha a história de uma família de origem afro-indígina marcada pelo duro contexto social em que vive. A par dos diferentes membros da família, o romance tem como personagem principal a Igreja, aqui representada por um antigo convento do século XVI que domina a região. O convento serve a Vieira Júnior para refletir sobre o impacto do catolicismo, levado para o Brasil pelos portugueses e outros europeus, nas comunidades indígenas e suas crenças e como essa influência ainda se faz sentir no país. O romance recupera ainda temas abordados pelo escritor no seu romance anterior, Torto Arado, como a vida nas comunidades rurais da Bahia, o racismo, o preconceito contra as mulheres e a violência, neste caso sexual. Um livro de grande sensibilidade e beleza, Salvar o Fogo é uma obra de grande fôlego que olha para o passado à procura de explicações sobre o estado atual do Brasil.

Lapvona
Ottessa Moshfeg (tradução de Marta Mendonça)
(Relógio d’Água)

Numa localidade isolada no leste da Europa medieval, marcada pela dureza e violência do dia a dia, uma súbita mudança climática faz com que os seus habitantes sejam obrigados a viver uma situação de seca extrema e de escassez de alimento. O desespero faz vir ao de cima o pior e o melhor de cada um. Passada a provação, nada é como antes — tal como aconteceu após a pandemia de Covid-19, o evento “terrível” que inspirou a escritora norte-americana Ottessa Moshfeg a criar um conto de fadas negro, que aborda de maneira pouco convencional, e por isso mesmo interessante, temas clássicos, como o poder, as relações familiares, a verdade e a mentira. Uma forma diferente de refletir sobre o passado tendo como ponto de partida uma história perturbadora sobre como as pessoas reagem perante situações extremas.

A Joia das Sete Estrelas
Bram Stoker (tradução de Jorge Almeida e Pinho)
(Minotauro)

A Joia das Sete Estrelas é considerado por muitos o melhor romance de Bram Stoker a seguir a Drácula. O oitavo romance de Stoker gira em torno da tentativa, levada a cabo por um lorde inglês com a ajuda de um grupo de amigos, de ressuscitar uma antiga rainha e feiticeira egípcia, Tera, cuja múmia foi descoberta num túmulo secreto no deserto. A obra denota o fascínio pelo oculto e por todas as coisas egípcias que tomou conta da sociedade inglesa a partir do final do século XIX. Explora temas comuns na literatura gótica do período, como o imperialismo, o progresso social e o papel da mulher na sociedade. O romance, que teve pelo menos duas edições em Portugal, pela Europa-América e pela Estampa, foi recentemente recuperado pela Minotauro, numa tradução de Jorge Almeida e Pinto, que (felizmente) seguiu a primeira edição de 1903, com o final ainda inalterado.

We Don’t Know Ourselves: A Personal History of Modern Ireland
Fintan O’Toole
(Head of Zeus)

Poucas pessoas são capazes de pensar a história moderna da Irlanda com tanta clareza como o jornalista e crítico literário Fintan O’Toole. No seu mais recente livro, que não se encontra publicado em Portugal, o autor revisita a história irlandesa tendo como ponto de partida o ano do seu nascimento, 1958, uma mera casualidade que fez com que O’Toole assistisse a alguns dos momentos mais importantes da história do seu país, como a visita de João Paulo II, os conflitos na Irlanda do Norte ou o referendo do aborto. O facto de O’Toole ter nascido, crescido e vivido sempre na Irlanda, quando muitos jovens optavam por emigrar, faz com que seja um repositório de histórias e anedotas que tornam o livro mais vívido e pessoal, mas sem que se aproxime demasiado do registo autobiográfico (a sua vida não é assim tão interessante para valer uma autobiografia, considera o autor). As histórias da sua infância, juventude e maioridade são apenas um apontamento na história maior da tragédia que foi a Irlanda moderna.

As escolhas de Rita Cipriano

Susana Romana

As Primas
Aurora Venturini (tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas)
(Alfaguara)

A própria vida de Venturini, consagrada com uns frescos 85 anos, daria um livro (o prólogo desta edição da Alfaguara, sobre o momento em que a escritora é descoberta num concurso literário, vale a pena por si só). Em As Primas é possível reconhecer alguns laivos autobiográficos do que foi ser uma mulher na Argentina dos anos 40, mas com uma camada de grotesco e de crueldade que nem por isso lhe retiram humanidade. As primas são Yuni e Petra, duas mulheres em nada normais, que lutam pela sua autonomia num contexto de homens abusadores ou ausentes — uma luta que pode ir até à vingança. Um livro descomplexado e com uma voz absolutamente autoral. É possível aos 85 anos ser-se abundantemente rock’n’roll.

Yellowface
R.F. Kuang
(livro ainda não publicado em Portugal, restantes da mesma autora são da Desrotina)

R.F. Kuang é o nome literário de Rebecca Kuang, uma escritora sino-americana de 27 anos que é um fenómeno com os livros de fantasia A Guerra das Papoilas e Babel (editados por cá). Porém, este ano a autora-fenómeno resolveu atirar-se para fora de pé com uma comédia negra, com alguns laivos de thriller, que é uma crítica visceral e bem gozona ao mundo editorial, às redes sociais e à relação tóxica entre ambos. “Yellowface” conta a história de duas escritoras, June Hayward e Athena Liu. A primeira nunca encontrou o sucesso; a segunda é respeitada pelo público e crítica e acabou de vender direitos de adaptação à Netflix. Quando Athena morre de modo imprevisível, June resolve pegar no manuscrito desconhecido que a amiga deixou para trás e editá-lo em nome próprio. A partir daí, paira sempre o medo de ser descoberta. “Yellowface” lê-se num trago e brinca com a sua meta-moralidade.

“Leite Derramado”
Chico Buarque, ilustrações de Juan Cavia
(Companhia das Letras)

Livro original de 2009, foi reeditado agora em edição especial, a reboque do Prémio Camões 2019, o tal que Buarque demorou quatro anos a receber porque Bolsonaro se recusou a documentação necessária. “Leite Derramado” é um relato na primeira pessoa de um homem velho que aguarda a morte numa cama de hospital, enquanto nos sussurra os detalhes da sua vida, numa narração nem sempre coesa e fidedigna, ao ritmo da alma que se prepara para abandonar o corpo. Mais do que a vida de Lalinho, é uma obra que nos confronta com os nossos maiores medos: a certeza da morte e a incapacidade da velhice. A edição é acompanhada por extraordinárias ilustrações de Juan Cavia, por cá mais conhecido como o parceiro de banda desenhada de Filipe Melo.

As escolhas de Susana Romana

Vasco Rosa

Nenhum Sítio é Deserto e Partilhar Memórias: Piscina de Marés (1960-2021), 2 vols. 
Álvaro Siza
(Edições Afrontamento e Universidade do Porto)

Uma obra em versão dupla que merece toda a nossa atenção — e, sem dúvida, também um prémio editorial — porquanto conta a história da construção, receção crítica e depois reabilitação da piscina oceânica de Leça da Palmeira. Além do vasto arquivo documental e da fotografia contemporânea, a versão bilingue, incluindo o indispensável inglês, é outro benefício dado à divulgação desta notabilíssima obra de Álvaro Siza Vieira. Um livro perfeito para uma arquitetura de exceção.

O Espelho do Mar
Joseph Conrad (tradução de Beatriz Figueiredo e João Maria Lourenço)
(Guerra e Paz)

Henry James emocionou-se ao ler este livro de 1906, e nós também, mais de um século depois, e entretanto muitos outros, como a apresentação dos editores identifica e transcreve. De facto, ninguém escreve sobre o mar — e a vida humana no mar — como Joseph Conrad: “nenhum homem à face da terra e honesto consigo próprio poderia declarar que alguma vez viu o mar com um aspeto tão jovial quando o da terra na Primavera. Mas alguns de entre nós, olhando o oceano com compreensão e carinho, vimo-lo com um aspeto envelhecido […]. Pois é um temporal que faz o mar parecer velho” (p. 95). Boa tradução.

‘Planta Sapiens’. A Inteligência Secreta das Plantas
Paco Calvo, com Natalie Lawrence (tradução de João Cardoso)
(Editorial Presença)

Um livro fascinante e de uma atualidade sem limites. A necessária re-aproximação dos humanos ao mundo natural colocará este livro numa prateleira em destaque em qualquer biblioteca essencial sobre tema tão determinante para o futuro. Vale a pena lê-lo nesta pausa entre um antes e um depois, que se espera não seja pior…

Das Paradas Agrícolas aos Cortejos Etnográficos em Portugal
José Luís Mingote Calderón
(Edições Afrontamento)

Importantíssimo trabalho, que importava ter sido feito e foi feito para mostrar as origens e a perenidade de tradições — sobretudo nortenhas, é certo, mas não só — que muito explicam o país seccionado que somos. Um índice onomástico, que falta, ajudaria a mapear melhor a complexidade panorâmica do acervo historiográfico levado a cabo por Mingote Calderón, que a componente iconográfica deixa, todavia, em destaque, mostrando que este pequeno país é — ou foi — grande no vigor das suas manifestações populares, rurais ou urbanas, populares ou académicas. À margem das grandes influências mediáticas, a editora Afrontamento faz aqui um enorme serviço público. Um livro invulgar, sem dúvida.

O Dever de Deslumbrar: Biografia de Natália Correia
Filipa Martins
(Contraponto)

Incluída numa coleção importante — na qual recebeu, mais do que outros já publicados, um inesperado e superlativo destaque na imprensa, em festivais literários, no parlamento e em eventos em bibliotecas municipais (toda uma máquina de propaganda comercial em movimento!) —, esta biografia da escritora micaelense (1923-93) pela escritora lisboeta Filipa Martins nascida em 1983 merece elogios, pese embora o facto de ter deixado de parte o enquadramento açoriano da receção e da crítica da escritora-ícone daquelas ilhas. É também um bom retrato do que foi para muitos — com a inaudita perplexidade de quem apenas buscou ou sonhou liberdade — o contraste entre o Estado Novo e o regime de abuso revolucionário instituído em 1974-75. Única ressalva, aliás evidente: a decadência física de Natália não devia ter sido exposta como foi.

As escolhas de Vasco Rosa

 
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