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Aparato policial é grande por Paris mas teve um primeiro ponto alto na estreia de Israel na competição. Segue-se o maior "desafio": a cerimónia de abertura no rio Sena
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Aparato policial é grande por Paris mas teve um primeiro ponto alto na estreia de Israel na competição. Segue-se o maior "desafio": a cerimónia de abertura no rio Sena

FRANCK FIFE

Aparato policial é grande por Paris mas teve um primeiro ponto alto na estreia de Israel na competição. Segue-se o maior "desafio": a cerimónia de abertura no rio Sena

FRANCK FIFE

Unidades anti-terrorismo, atiradores na pala, um helicóptero, muita tensão e a tocha: como o jogo de Israel se transformou numa war zone

Jogos são desporto sem política? Não, há jogos em que os Jogos são política com pouco de desporto. Foi assim a estreia de Israel em Paris, entre bandeiras da Palestina e a presença de Gérald Darmanin.

Enviado especial do Observador em Paris, França

As entradas retardadas para os 12 encontros inaugurais do quadro masculino do râguebi de sevens no Stade de France tinham sido um bom retrato de como a segurança está acima de tudo nesta edição dos Jogos de Paris. Um exemplo prático: quando faltava apenas 1h15 para o jogo inaugural entre Austrália e Samoa, numa altura onde havia filas com centenas de pessoas para acederem ao recinto, focámos apenas numa das muitas portas para perceber que existiam dez seguranças de colete amarelo, mais outros tantos apenas com um polo preto (todos de luvas pretas para fazerem as revistas), mais um supervisor de colete laranja mais dois polícias do Corpo de intervenção. Isto apenas e só numa porta, sendo que até polícia a cavalo marcava presença num dispositivo com várias ruas cortadas até aos acessos pedonais ao recinto e dezenas e dezenas de efetivos policiais espalhados (quase tantos como voluntários). Muito mesmo. Nada perante o que iríamos ver.

O caminho entre o Stade de France e o Parque dos Príncipes não é a coisa mais fácil em hora de ponta entre as trocas de comboios (neste caso, mais rápidos do que utilizar o Metro) mas quando se arrisca seguir todas as indicações sem verificar distâncias acaba-se a andar mais dois quilómetros até ao palco que umas horas antes tinha recebido a vitória da Espanha frente ao Usbequistão. Os pés chateiam-se, o corpo ressente-se, os olhos e os ouvidos cruzam-se com uma panóplia de histórias e de nacionalidades num caminho que é acima de tudo intuitivo até à “casa” de Nuno Mendes, Danilo Pereira, Vitinha e Gonçalo Ramos (e ao que parece de João Neves em breve). Há camisolas de Espanha, várias mesmo, umas quantas bandeiras usbeques, muitos adereços de Paris-2024. Caminho certo. Ali era quase a zona neutra até uma espécie de war zone.

A maneira como a primeira barreira de polícias que pareciam ter sido escolhidos a dedo para terem acima de 1,80 metros, já com inúmeras zonas de bloqueio à passagem de viaturas, fazia a revista a todos os que iam aceder ao estádio era de tal forma que quase nos obrigou a parar para ter a mochila toda pronta para revista. Afinal, não foi necessário – coisas boas de ter uma acreditação de jornalista ao pescoço. No entanto, logo ao virar da esquina, o cenário adensava-se com polícias atrás de polícias e uma fila de várias viaturas incluindo Corpo de Intervenção para resposta mais rápida. O aparato era tanto, com helicópteros a sobrevoarem todo o espaço aéreo a ajudar na pintura do cenário, que o facto de venderem copos de cerveja de 40ml a nove euros (e sem fatura) quase passava ao lado. Um pouco mais à frente, perto da loja do PSG, a explicação.

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A segurança de Paris queria fazer um verdadeiro statement em relação a este momento. É certo que, mais à frente, e pela primeira vez nestes Jogos, vimos a credencial ser passada no scan por segurança especial num estilo fato escuro, gravata, acreditação de cor diferente, auricular no ouvido e olhos para qualquer pormenor que pudesse parecer suspeito. Era isso que estava gizado, ninguém se “safava”: quando nos aproximámos de uma zona onde estavam em formatura elementos que incluíam até a unidade anti-terrorista com golas a tapar tudo menos os olhos e vários repórteres fotográficos e câmaras, fomos de imediato abordados por um polícia. “Quem és? O que estás aqui a fazer?”. O tom era brusco, o tom mudou – o casaco que sem qualquer necessidade levámos para uma noite que estava tudo menos fria estava a tapar a acreditação.

Unidade anti-terrorismo foi também destacada entre os milhares de oficiais presentes na estreia de Israel nos Jogos

Por ali ficámos, alguma razão teria de haver para tamanha apresentação entre todas as dezenas de forças policiais espalhadas pela zona. A razão chamava-se Gérald Darmanin, o ministro da Administração Interna que teve um papel importante através da tutela na parte da segurança nos Jogos Olímpicos. Chegou rodeado ainda mais de oficiais, cumprimentou todos os elementos perfilados, esteve à conversa com mais alguns responsáveis, falou aos jornalistas. E falou logo para a comentar não só tudo o que envolvia a comitiva de Israel, garantindo que a segurança era avaliada mediante a delegação mas com essa premissa era de que o mais importante passava pela inexistência de incidentes, mas também a invasão de campo no jogo entre a Argentina e Marrocos em Saint-Étienne no futebol e as aberturas tardias de portas nos recintos. “São questões que iremos melhorar mas queremos que todos estejam seguros e desfrutem”, apontou Darmanin. “Temos de tirar conclusões rápidas do que aconteceu, fazer um balanço e melhorar já amanhã”, salientou.

Só depois de tudo isto havia tempo para aquilo que nos tinha levado ao Parque dos Príncipes. Ou melhor, uma das coisas que nos tinha levado ao Parque dos Príncipes. É certo que o encontro entre Israel e Mali que encerrava a primeira jornada no torneio de futebol masculino era o foco da noite mas a própria situação do recinto que tem em Pauleta uma das maiores figuras (algo que se vê nas paredes interiores) poderia ser um tema de conversa, tendo em conta que a Câmara de Paris não quer vender o recinto nem fazer obras e o PSG começa a dar corpo à ideia de construir o seu próprio estádio. Ficará para outras núpcias, com uma garantia: apesar de, já com a administração do Qatar, terem sido feitas muitas melhorias, o Parque dos Príncipes está a anos luz dos recintos mais modernos na Europa e corre o risco de tornar-se um “elefante branco”.

Quando as equipas entraram para aquecimento ao som do famoso “Samba de Janeiro”, havia ainda mais adeptos israelitas do que malianos dentro do estádio. Sim, aí já se ouviam alguns assobios, mas era notório um maior apoio ao conjunto que concentrava todas as atenções por tudo menos futebol. Com o passar dos minutos, o cenário foi mudando à semelhança do ambiente até aí tranquilo. Naquele que pareceu ser um primeiro episódio mais aceso nas bancadas, dezenas de Assistentes de Recinto Desportivo formaram um cordão de segurança numa zona onde estavam adeptos israelitas que estavam a ser insultados e ameaçados, tendo mesmo existido uma passagem de outras pessoas para esse bloco para acautelar mais situações. Era como um apito inicial para uma série de pequenos episódios nas bancadas. Era aí que estava o “jogo”.

Na cerimónia dos hinos, o de Israel foi assobiado e muito enquanto se começavam a ver as primeiras imagens de bandeiras e camisolas da Palestina. Mais: um grupo de indivíduos que estava no topo atrás de uma das balizas, todos de cara tapada com máscaras que pareciam ser ainda dos tempos da pandemia, colocaram-se em linha na primeira fila com uma letra cada na t-shirt para escreverem a frase “Free Palestina” antes de ficarem “pegados” com israelitas que estavam na central, acenderem uma tocha vermelha, atirarem a mesma para o fosso e provocarem uma onda de fumo enquanto deixavam aquele espaço de forma rápida. Estava dado o mote para um ambiente sempre tenso, ainda que sem agressões físicas, ao longo de 90 minutos.

Operação para o jogo de Israel no Parque dos Príncipes contou com atiradores na pala do estádio

Mesmo à nossa frente, ainda que numa bancada abaixo, aconteceu aquilo que se foi dando em vários pontos do recinto. Mais: a forma de repararmos no que estava a acontecer foi a celeridade com que os voluntários e responsáveis pela parte da imprensa vieram a correr dizer que quem não tinha os direitos não podia fazer qualquer tipo de vídeo, algo que todos sabem mas que nunca é recordado. O que aconteceu? Um casal de pessoas entre os seus 40 e 50 anos que tinha uma bandeira grande de Israel viu logo na fila abaixo quatro pessoas, uma delas com o equipamento do Mali, sacarem de bandeiras da Palestina e gritarem pelo país enquanto eram vigiados também a partir da pala do estádio por atiradores presentes de forma discreta.

Dois israelitas mais exaltados desceram dez a 15 filas para protestarem com a situação mas os seguranças que estavam naquela zona, também para afastarem dentro do que era possível câmaras e máquinas fotográficas, tentaram serenar a situação. Houve ameaças dos israelitas, uma tentativa de roubo da bandeira, mas só numa ocasião os protestos vindos agora desse casal que entretanto mudara de lugar surtiram efeito, com os seguranças a obrigarem duas pessoas com bandeira da Palestina a retirarem autocolantes que entretanto tinham colado nas costas que defendiam a liberdade para o país e o fim do extermínio em Gaza. Pouco depois do intervalo, num outro ponto, um israelita conseguiu mesmo arrancar uma bandeira palestiniana antes de deitar a mesma fora mas as manifestações contra ficaram sobretudo pelos cânticos (com uma musicalidade quase “estranha”, com grupos que começavam a gritar “Pali, Pali, Pali” e outros que diziam “Mali, Mali”).

Resumo: bandeiras da Palestina sim, mensagens políticas não, assobios e cânticos não tinham forma de controlar. Pelo menos do que nos foi possível ver, o ambiente de tensão, que se sentiu desde a antecâmara da partida (que por curiosidade acabou com um empate a um, com ambos os golos no segundo tempo), ficou por aí. Aliás, cá fora, já depois de um momento em que um grupo israelita cantava aos saltos perante várias câmaras dizendo a certa altura “Libertem os reféns” e outro com malianos e indivíduos de outros países respondia com “Assassinos, assassinos”, houve somente um momento em que a polícia teve de atuar, com a dispersão de dois grupos que estavam a escalar nas ameaças e agressões verbais. Para quem dizia que Jogos era desporto e não política, esta foi a noite em que os Jogos foram política e quase nada de desporto.

Entre muitas bandeiras que se foram levantando no estádio, um grupo deixou uma mensagem: "Free Palestina"

Tudo à mesma hora em que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pedia no Congresso dos EUA “ferramentas mais rápidas” para acabar com o conflito “de forma mais rápida”. Tudo à mesma hora em que a delegação australiana dava conta do roubo de carteiras, dinheiro, anéis e demais pertences quando se encontravam num treino, com o carro de transporte a ficar de vidro partido e algumas malas a serem vistas uns metros mais à frente num parque, abertas mas sem os valores que foram levados.

Esta terça-feira, um vídeo colocado nas redes sociais por um indivíduo de cara tapada que ameaçava tornar o Sena num rio de sangue caso os franceses continuassem a apoiar o regime israelita e “todos os seus crimes de guerra contra o povo da Palestina” funcionou como novo alerta para uma das grandes preocupações de toda a organização destes Jogos Olímpicos (apesar de não ter as habituais cores que se conseguem ver neste tipo de mensagens quando são feitas pelo Hamas), sendo que, de acordo com vários meios internacionais, estarão destacados diariamente 35.000 efetivos por todos os locais de treino e competição (mais 10.000 na sexta-feira, quando se realizar a cerimónia de abertura). Apesar de toda essa operação sem precedentes, a delegação de Israel comentou o ambiente que tem sido vivido nos últimos dias.

“A nossa primeira vitória é estarmos aqui e continuar, não desistimos e continuámos a lutar e a competir em centenas de competições desde o 7 de outubro. Não é segredo que estes Jogos Olímpicos serão um pouco mais difíceis para todos nós mas estamos totalmente confiantes na segurança da organização”, referiu Yael Arad, presidente do Comité Olímpico de Israel. No entanto, de acordo com fontes diplomáticas ligadas ao mesmo Comité que falaram à EFE, têm existido ameaças. “Querem assustar os nossos atletas mas estávamos à espera de receber este tipo de mensagens. Não tomamos qualquer ameaça como séria”, referiu, tendo em conta as ameaças recebidas por telefone e/ou email por parte de pelo menos 15 atletas.

Da parte da Palestina, sobraram pedidos para que Israel não fosse aceite nos Jogos. “Há alguns membros da delegação israelita que até participaram em campanhas racistas anti-Palestina, anti-árabes e islamófobas, além de fomentarem os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade e o genocídio. Na Assembleia Geral da ONU de novembro do ano passado foi aprovada uma trégua olímpica, entre 19 de julho e 15 de setembro, mas em 24 horas Israel rompeu a mesma com bombardeamentos em Gaza que provocaram 70 mortos”, defendeu. “Se o próprio Comité Olímpico Internacional vetou a participação de russos pela invasão à Ucrânia, devia fazer o mesmo com Israel”, defendeu a Associação de Futebol da Palestina junto da FIFA. Para já, arrancou apenas o futebol e o râguebi de sevens mas já existe uma certeza: a política há muito que entrou nos Jogos Olímpicos e Paris-2024 não fugirá a essa regra. Pelo contrário, confirma-a ainda mais.

 
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