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DIRETAS PSD: Luís Montenegro, vence as eleições internas do partido para Jorge Moreira da Silva, e é eleito lider do PSD (Partido Social Democrata). Hotel Sol Verde, Espinho 28 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Unir o partido, ganhar as europeias e sobreviver até às legislativas. Os doze trabalhos de Montenegro

Unir o partido, relançar o PSD, recuperar nas sondagens, ganhar as europeias, resolver a relação com o grupo parlamentar e sobreviver para durar até às legislativas. Os próximos desafios de Montenegro

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Depois de arrumar Jorge Moreira da Silva sem apelo nem agravo, Luís Montenegro está finalmente onde há muito queria estar: no trono do PSD. Mas herda um partido esmagado nas sondagens, sem bases, sem país e sem espaço político, ensanduichado entre um PS maioritário e uma direita com vontade de crescer (também) à custa do partido incumbente. Recuperar um PSD moribundo e condenado a uma longa travessia no deserto da oposição é, portanto, o grande desafio do novo líder social-democrata.

A tarefa é delicada. Montenegro terá de estar à altura das expectativas que criou e alimentar a máquina que lhe deu a vitória esmagadora de sábado. Lidar com um grupo parlamentar potencialmente hostil, coabitar pacificamente com Rui Rio e ser escutado mesmo estando fora do Parlamento.

No meio de tudo isto, ainda terá de resolver a relação com o Chega e encontrar a forma mais eficaz de fazer oposição a António Costa. A culminar, tem de sobreviver às europeias sabendo que uma parte do partido olha para ele como um líder a prazo e suspira por um novo D. Sebastião.

Fazer escolhas difíceis

“O fim de Luís Montenegro vai começar no Congresso do PSD”, antecipava há dias um influente dirigente social-democrata ao Observador. O raciocínio é o seguinte: depois de ter conseguido agremiar tantos apoios, juntar tantos líderes regionais e tantas sensibilidades diferentes, Montenegro vai necessariamente ter de deixar muita gente de fora quando for escolher a equipa que o vai acompanhar durante os próximos dois anos. E essas escolhas vão abrir brechas.

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É uma regra não escrita nos maiores partidos: quem se atravessa por determinado candidato em eleições internas espera ver a sua lealdade recompensada com um cargo à altura das suas ambições pessoais. Mas depois de ter recebido o apoio da esmagadora maioria das estruturas, Montenegro, que já levou para estas eleições (tal como para as de 2020) um grupo de indefetíveis, não terá espaço para todos. Aspirações frustradas são, regra geral, o rastilho que acende as fogueiras onde são queimados os líderes partidários.

DIRETAS PSD: Luís Montenegro, vence as eleições internas do partido para Jorge Moreira da Silva, e é eleito lider do PSD (Partido Social Democrata). Hotel Sol Verde, Espinho 28 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Unir o partido

O espaço para acolher todos aqueles que o apoiaram será ainda mais exíguo se Montenegro quiser fazer de facto aquilo que prometeu durante toda a campanha: convocar os adversários internos para ajudarem na reconstrução do partido.

É certo que já deu sinais de querer estar à altura daquilo que anunciou – a escolha de Joaquim Miranda Sarmento, o “Centeno de Rui Rio” para coordenar a moção estratégica global, ou a recuperação de figuras como Carlos Coelho, antigo eurodeputado dispensado por Rio, foram provas disso mesmo. Mas não bastará.

Quando venceu as primeiras eleições diretas, Rui Rio chamou Pedro Santana Lopes e dividiu com ele uma lista conjunta ao Conselho Nacional do PSD, o parlamento do partido. Arrependeu-se para a vida e nunca deixou de recordar isso mesmo sempre que era acusado de não ter feito nada para unir a família social-democrata.

Teoricamente, Montenegro não está obrigado a esforço semelhante. A vitória esmagadora de sábado (72 contra 28%) deu-lhe margem para ser autossuficiente. Mas os números escondem a realidade: o partido está longe de estar unido porque são muitos os que apostam que Montenegro é apenas um líder a prazo.

Se quiser segurar essas pontas soltas e condicionar à nascença qualquer centelha de uma futura rebelião interna, Montenegro terá de procurar no rioísmo (e não só) adversários para integrar. Na noite eleitoral, o novo líder social-democrata prometeu não desperdiçar o “talento” de Jorge Moreira da Silva e daqueles que estiveram com o rival. “São nossos companheiros e merecedores do nosso respeito”, reforçou. O tempo dirá se pensa isso mesmo.

“O fim de Luís Montenegro vai começar no Congresso do PSD”, antecipava há dias um influente dirigente social-democrata ao Observador. O raciocínio é o seguinte: depois de ter conseguido agremiar tantos apoios, juntar tantos líderes regionais e tantas sensibilidades diferentes, Montenegro vai necessariamente ter de deixar muita gente de fora quando for escolher a equipa que o vai acompanhar durante os próximos dois anos. E essas escolhas vão abrir brechas.

Crescer nas sondagens

Conquistado o partido, Montenegro precisará de começar a inverter a perceção pública criada em torno do PSD. A última sondagem, feita já durante umas eleições diretas pouco mediáticas e incapazes de despertarem a atenção da opinião pública, punham o PSD na casa de uns catastróficos 19%, valor muito abaixo dos mínimos conseguidos por Rui Rio em eleições legislativas.

Se for incapaz de inverter a tendência registada nas sondagens, Montenegro terá um problema. Basta lembrar que, ainda antes de Rio ter oportunidade de disputar qualquer tipo de eleição, as fracas sondagens foram em parte o pretexto para exigir a cabeça do então presidente social-democrata. Demorando a alavancar o partido nas intenções de voto, além do efeito que isso terá na moral das tropas montenegristas, não faltará quem recorde isso mesmo a Montenegro e ao partido.

Dominar o Parlamento e a agenda política

Para ser percecionado como verdadeiro líder da oposição, Montenegro terá de ultrapassar a barreira mediática que resulta, em parte, de não estar no Parlamento para medir forças diretamente com António Costa. O novo líder do PSD tem relativizado o assunto, prometendo ser presença constante na Assembleia da República, com gabinete parlamentar e intervenções mais do que pontuais nos corredores do Parlamento.

Além disso, os homens de Montenegro acreditam que sendo ele o novo líder da oposição e tendo um perfil mais interventivo do que o antecessor, isso vai provocar um efeito de arrastamento da comunicação social, equilibrando o tabuleiro mediático.

No entanto, as experiências recentes (Rio no primeiro mandato, Francisco Rodrigues dos Santos e agora Nuno Melo, no CDS) têm demonstrado o contrário: estar no Parlamento é um fator importante para a afirmação de um líder; Montenegro tentará provar o contrário.

Se quiser segurar essas pontas soltas e condicionar à nascença qualquer centelha de qualquer futura rebelião interna, Montenegro terá de procurar no rioísmo (e não só) adversários para integrar. Na noite eleitoral, o novo líder social-democrata prometeu não desperdiçar o “talento” de Jorge Moreira da Silva e daqueles que estiveram com o rival. O tempo dirá se pensa isso mesmo.

Articular com o grupo parlamentar

Mais difícil será se a articulação com os deputados falhar – que o diga Rui Rio, durante o seu primeiro mandato. O grupo parlamentar resta agora como o último reduto do rioísmo e Montenegro terá de encontrar formas de garantir a lealdade dos deputados para evitar as primeiras fraturas. Qualquer sinal de dessintonia contaminará a afirmação da mensagem política.

De resto, Paulo Mota Pinto foi eleito líder da bancada social-democrata por votações quase norte-coreanas, o que foi interpretado como um sinal inequívoco de que os deputados, escolhidos a dedo pelo núcleo duro de Rui Rio, não vão aceitar de ânimo leve uma nova direção que queira afastar a direção do grupo parlamentar.

Na noite eleitoral, Montenegro voltou a ser ambíguo sobre a continuidade de Paulo Mota Pinto à frente da bancada parlamentar. O novo líder social-democrata deixou apenas palavras vagas e o anúncio de uma reunião de trabalho para afinar a melhor forma de articular trabalho.

Em 2018, Rui Rio decidiu despachar Hugo Soares, um dos apoiantes mais próximos de Montenegro, e, depois disso, as relações com os deputados escolhidos ainda por Pedro Passos Coelho nunca mais voltaram a ser as mesmas; se Montenegro decidir fazer o mesmo com Mota Pinto, saberá bem o que o futuro lhe reserva.

DIRETAS PSD: Luís Montenegro, vence as eleições internas do partido para Jorge Moreira da Silva, e é eleito lider do PSD (Partido Social Democrata). Hotel Sol Verde, Espinho 28 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Coabitar com Rui Rio

A relação com o grupo parlamentar não é o único motivo de preocupação. Além de estar confrontado com a bizarria de ter dividir o palco com o Rui Rio durante mais um mês – pelos regulamentos internos, o novo líder do PSD só entra verdadeiramente em funções no congresso de julho. Ou seja: Montenegro terá de conviver com Rio até setembro de 2022.

O ex-presidente da Câmara do Porto quererá manter-se em funções como deputado – direito que lhe assiste, uma vez que foi eleito – pelo menos até à discussão do próximo Orçamento do Estado para 2023. Além disso, há uma série de dossiês em aberto – como a proposta de referendo à eutanásia (tema que dividiu os dois no passado) ou a realização ou não de uma comissão de inquérito ao caso dos refugiados ucranianos em Setúbal que obrigarão a uma articulação delicada entre os dois.

Na noite eleitoral, Montenegro relativizou a questão: “Vamo-nos articular à moda dos homens bons: conversando uns com os outros. Cada um sabe qual é o seu papel e a sua responsabilidade”. Apesar da aproximação recente (e surpreendente) nas últimas legislativas, os próximos meses dirão se a conversa vai fluir assim tão bem como Montenegro perspetivou.

Lidar com André Ventura

Além de ter de lidar com os obstáculos internos, Luís Montenegro terá de responder à concorrência vocal de André Ventura. Os dois, de resto, têm um passado comum: em 2018, quando o agora líder do Chega tentou criar um movimento para derrubar Rui Rio, contava com ajuda de Montenegro para o efeito; o novo presidente do PSD desautorizou-o e Ventura acabou por romper e criar um novo partido. Nascia assim o Chega, que começou, precisamente, por ser um movimento dentro do próprio PSD.

Daí para cá, já se passaram quase quatro anos. Ventura é hoje o líder do terceiro maior partido do Parlamento e procurou, desde o minuto zero, condicionar a corrida eleitoral do PSD. Primeiro, ao manifestar sem reserva que preferia uma vitória de Montenegro. Depois, ao deixar um desafio público para que os dois se entendessem numa alternativa ao socialismo – repto recusado pelo novo presidente social-democrata.

Por fim, neste mesmo sábado, quando se tentou colar à vitória de Montenegro. “Felicito Luís Montenegro pela vitória eleitoral no PSD. Que seja o início de um novo ciclo em que o PSD seja capaz de se juntar ao CHEGA na verdadeira oposição ao PS e à extrema-esquerda!”, escreveu Ventura no Twitter.

No plano político, Montenegro terá de encontrar uma fórmula para travar Ventura. Durante toda a campanha interna, o social-democrata foi dando respostas ambíguas sobre o que pretende fazer em matéria de alianças, deixando propositadamente abertos todos os cenários. A sua moção, de resto, encerra esse mesmo espírito.

“O PSD não se vai descaraterizar, mas também não será cúmplice da perpetuação do PS no poder”, escreveu o antigo líder parlamentar. A ideia tem latitude suficiente para ser lida como uma hipótese, pelo menos teórica, de governar com um entendimento com o Chega se existir uma maioria de direita no Parlamento — maioria que, olhando para o cenário atual, precisaria sempre do partido de André Ventura.

Nas dezenas de entrevistas que deu antes e depois disso, Montenegro nunca afastou por completo esse cenário. A noite eleitoral, de resto, ficou marcada por alguma tensão dos apoiantes de Montenegro com a comunicação social no momento em que um jornalista desafiou o novo líder a falar sobre a futura relação com o Chega. Ouviram-se alguns ensaios de apupos, mas travados à nascença pela resposta (muito aplaudida) do candidato vitorioso.

“Nunca foi o meu tema de campanha, jamais será o meu tema de campanha. O tema da minha campanha é acreditar: nas pessoas, no meu partido e no meu país. E acreditar que somos alternativa para governar Portugal. Escusam de me fazer sempre essa pergunta”, despachou Montenegro.

De todo o modo, com ou sem perspetivas de alianças futuras, o novo líder social-democrata terá de garantir que o seu partido se consegue afirmar ao ponto de não existirem dúvidas sobre quem é o partido maioritário no espaço político não socialista. E isso implica conquistar eleitorado roubado pelo Chega, mas também pela Iniciativa Liberal.

Os dois partidos estão a crescer entre os mais velhos e os mais jovens, os mais e menos instruídos, no litoral e na zona raiana, pressionando o PSD. A estratégia, as ideias e tom que escolher para a condução do partido serão determinantes para inverter a marcha de definhamento do PSD.

Montenegro e Ventura têm um passado comum: em 2018, quando o agora líder do Chega tentou criar um movimento para derrubar Rui Rio, contava com ajuda de Montenegro para o efeito; o novo presidente do PSD desautorizou-o e Ventura acabou por romper e criar um novo partido. Nascia assim o Chega, que começou, precisamente, por ser um movimento dentro do próprio PSD.

Encontrar o tom na oposição

Para isso será instrumental acertar no tom da oposição ao governo de António Costa. Nos últimos quatro anos, Montenegro – e não só – acusou Rui Rio de querer ser cúmplice do socialista, de querer transformar o PSD num PS-B, numa muleta do adversário, incapaz de oferecer uma oposição firme e uma alternativa clara e inequívoca ao país.

Agora, chegou a vez dele de mostrar como se faz oposição, com a agravante de ter de enfrentar um PS maioritário não estando no Parlamento. Ao longo da campanha interna, Montenegro foi ensaiando uma estratégia que representa uma mudança de chip no passismo: deixar de falar quase exclusivamente sobre dívida, défice e crescimento, e passar a falar também de condições concretas das vidas dos portugueses.

“Vamos ser a voz das pessoas que têm rendimentos mais baixos. Vamos ser a voz daqueles que precisam de ter voz. Mas não vamos ser apenas a voz da oposição. Vamos ser a voz da esperança e do futuro. Vamos colocar Portugal na linha da frente da Europa”, prometeu na noite eleitoral.

Conjugar uma oposição mais vocal – “a marca de água do Governo de António Costa e dos seus delfins é o empobrecimento de Portugal”, disse no sábado – com a apresentação de alternativas concretas e de um discurso menos contabilístico e mais social-democrata (uma espécie de regresso às origens do PPD, como se propôs) é a receita de Montenegro para precipitar “o fim da hegemonia” do PS. Conseguirá ter sucesso onde Rio falhou?

DIRETAS PSD: Luís Montenegro, vence as eleições internas do partido para Jorge Moreira da Silva, e é eleito lider do PSD (Partido Social Democrata). Hotel Sol Verde, Espinho 28 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Regionais da Madeira e dos Açores

Até chegar o momento de enfrentar o PS, Montenegro terá de revalidar o mandato de líder do PSD teoricamente em 2024 e 2026. E precisará de apresentar resultados eleitorais se quiser sobreviver como presidente do partido para se submeter à vontade popular.

Excluindo as autárquicas (2025) e as presidenciais (início de 2026), que acontecem já depois deste primeiro ciclo de dois anos para o qual está mandatado, Montenegro tem de preparar e vencer três eleições: as regionais da Madeira (2023); as dos Açores (2024) e as europeias (também em 2024).

À exceção destas últimas, as eleições madeirenses e açorianas não devem ser obstáculos de maior para Montenegro. Não há nada no horizonte que perspetive uma derrota na Madeira, onde Miguel Albuquerque é líder incontestado e o PS, depois da experiência Paulo Cafôfo, continua à procura de soluções; nem nos Açores, região recuperada ao PS através de uma aliança com o Chega, e que, apesar de toda a turbulência, José Manuel Bolieiro tem conseguido aguentar.

Aberto o precedente, nem mesmo uma eventual revalidação do acordo com o Chega em futuras eleições criará dores de cabeça a Montenegro. E será ouro sobre azul se o PSD conseguir crescer nesta região ao ponto de estar em condições de dispensar a ajuda do partido de André Ventura.

Montenegro, que ainda durante a campanha validou a opção de Bolieiro, aproveitará a oportunidade para defender a sua narrativa: acordos com o Chega, desde que devidamente balizados, em nada beliscam o PSD e acabam por recompensar o maior partido. Um bom argumentário para levar para as legislativas de 2026.

Conjugar uma oposição mais vocal – “A marca de água do Governo de António Costa e dos seus delfins é o empobrecimento de Portugal”, disse no sábado – com a apresentação de alternativas concretas e de um discurso menos contabilístico e mais social-democrata (uma espécie de regresso às origens do PPD, como se propôs) é a receita de Montenegro para precipitar “o fim da hegemonia” do PS. Conseguirá ter sucesso onde Rio falhou?

Ultrapassar as Europeias

Mas se as duas eleições regionais não representam perigos substantivos para Montenegro, até porque não dependem necessariamente da dinâmica nacional, nem do desempenho da direção nacional, a história das eleições europeias é muito diferente: um resultado aquém das expectativas pode precipitar o fim de Montenegro à frente do PSD.

Há dias, em conversa com o Observador, o antigo líder parlamentar reconheceu que o risco de dispersão de votos, um certo sentimento anti-União Europeia e a elevada taxa de abstenção tornam tudo mais imprevisível. Ao mesmo tempo, contra-argumentou que pode ser beneficiado por eventual cartão amarelo que os eleitores queiram dar a António Costa em 2026 – historicamente, as eleições europeias já se prestaram a esse tipo de leituras políticas.

Daí, a resistência em dar respostas fechadas ou em desenhar cenários tremendistas. “Ganhar é o objetivo e é viável e atingível. Não vou é dizer que é o tudo ou nada. Claro que não é. Ainda ficámos a uma diferença muito significativa nas últimas eleições. Vamos ver”, disse então ao Observador.

Mais uma vez, na noite eleitoral, Montenegro não deu respostas fechadas sobre que consequências retirará de um eventual mau resultado nessas eleições. Preferiu antes frisar que acabara de ter uma “maioria expressiva” e que a nova direção teria “vida mais facilitada” depois de ter esmagado o adversário que foi a votos. Uma outra forma de dizer que, independentemente do score que venha a ter, o resultado deste sábado deu-lhe um fôlego extra para enfrentar um eventual revés nas europeias.

Mas as contas não são fáceis para os sociais-democratas. Numas eleições em que o voto descomprometido tem tradicionalmente um grande impacto, os partidos à direita do PSD – que ainda não têm representação no Parlamento Europeu – tenderão a ser beneficiados.

Além disso, mesmo que exista um cartão amarelo para António Costa servirá, em teoria, para alimentar o reencontro dos eleitores de esquerda que penalizaram Bloco e PCP nas últimas legislativas para votarem de forma útil no PS. Nesta equação, que tem demasiados imponderáveis para ser tida como ciência exata, o PSD ficaria mais uma vez encurralado.

PSD. Os bastidores da campanha de Luís Montenegro. O enterrar do rioísmo, os fantasmas do futuro e a inspiração de Guterres

Travar o novo sebastianismo

É por isso, aliás, que no PSD corre a tese de que Montenegro se vai estampar já nas europeias (maio de 2024) e que o melhor que há a fazer é cozê-lo lentamente durante dois anos para o fritar mais à frente. E é também essa convicção de que qualquer líder que fosse eleito no sábado estaria sempre a prazo que explicam a ausência de maior concorrência nesta campanha.

Na antecâmara destas diretas, quando já se sabia que Montenegro ia avançar e quando ainda se discutiam possíveis alternativas, houve um movimento para criar a candidatura de Carlos Moedas. O presidente da Câmara de Lisboa foi muito pressionado para avançar, existia a convicção generalizada de que ganharia contra qualquer candidato, mas o autarca resistiu ao canto de sereia e passou a vez. Ainda assim, o ano de 2024 (pós-europeias, portanto) é apontado pelos mais próximos de Moedas como decisivo para reacender a discussão.

Também é de assinalar que Moedas tenha optado pelo silêncio nestas diretas. Ao contrário da disputa entre Rui Rio e Paulo Rangel, em que o autarca fez questão de almoçar com o eurodeputado num sinal inequívoco de apoio, desta vez Moedas não abriu a boca sobre as eleições que iam escolher o próximo líder do partido. E o silêncio tem um peso político relevante.

Contados os votos, Moedas usou o Twitter para parabenizar publicamente Montenegro. “Parabéns presidente Luís Montenegro. Uma grande vitória que permite voltar a unir o nosso PPD/PSD em torno de um projeto vencedor de crescimento para o nosso país. Podem contar sempre comigo”, escreveu o social-democrata. Estavam cumpridos os mínimos olímpicos.

O núcleo duro de Montenegro não ignora os suspiros em torno de uma eventual e futura candidatura de Moedas à liderança do PSD. “Isso não me preocupa nada”, dizia Montenegro há dias ao Observador, sem nunca nomear Moedas.

“Sei que existe isso tudo, ando aqui há muitos anos, já vi isso sob as mais variadas formas. Mas há uma coisa que tenho a certeza: se fizer bem as coisas, daqui a dois anos esse problema não existe. Só depende de mim, da equipa que está comigo e dos nossos desempenhos.”

Seja como for, os 72% de sábado obrigarão Moedas – ou outros, como Jorge Moreira da Silva, claro, Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz ou Poiares Maduro – a preparem-se desde já se quiserem um dia contestar o trono de Luís Montenegro. Serão dois anos em que o incumbente terá tempo suficiente para blindar ainda mais o partido.

DIRETAS PSD: Luís Montenegro, vence as eleições internas do partido para Jorge Moreira da Silva, e é eleito lider do PSD (Partido Social Democrata). Hotel Sol Verde, Espinho 28 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Preparar as Presidenciais

Quando estiver perto de concluir o seu primeiro mandato como líder do PSD, ultrapassadas as regionais e europeias, o país político começará a olhar para as presidenciais que vão definir o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa – o próprio, de resto, já vai fazendo contas e comentando em privado que vê em Paulo Portas e Luís Marques Mendes os mais sérios candidatos ao lugar.

Quando chegar à altura, o PSD terá de começar a pensar que escolhas quer fazer. Quando Marcelo Rebelo de Sousa chegar ao final do mandato, os socialistas vão completar 20 anos longe do Palácio de Belém e tentarão, naturalmente, alimentar uma candidatura forte vinda do seu espaço político.

O PSD não quererá perder essa corrida, mas a multiplicação de candidaturas à direita é um risco real, ainda que minimizado pela existência de uma segunda volta, para as pretensões dos sociais-democratas. Iniciativa Liberal e Chega deverão querer fazer novamente prova de vida, e Montenegro terá de começar a pensar numa candidatura que represente o partido nessas eleições.

Recentemente, em entrevista ao Observador, teceu rasgados elogios a Paulo Portas e disse não excluir vir a apoiar uma candidatura de alguém que não seja do PSD. Mas a relação de cumplicidade com Luís Marques Mendes é muito mais antiga – quando era ainda um jovem relativamente desconhecido do PSD/Espinho fez campanha ao lado dele então um paraquedista em Aveiro que ninguém no PSD regional via com bons olhos. Nada que o impedisse de apoiar Luís Filipe Menezes numa disputa fratricida entre os dois, em 2007. No futuro, pode voltar a ser confrontado com escolhas difíceis. E não apenas esta.

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