A notícia foi publicada no site Semanário Extra sem qualquer indicação da data ou local exato de onde aconteceu e terá sido publicada na rede social Facebook, pela primeira vez, em janeiro de 2018. Nessa publicação dá-se conta de que alunos do primeiro ano da escola superior Náutica Infante D. Henrique estariam a fazer uma praxe, levando várias pessoas a contactarem as autoridades. Esta praxe seria idêntica aquela que um grupo de estudantes da Universidade Lusófona fez em dezembro de 2013 e resultou na morte de seis estudantes.

O Semanário Extra descreve o que já tinha sido noticiado pelo Correio da Manhã em outubro de 2016, que perante este episódio “várias pessoas ” contactaram as autoridades. “Foi por volta das 18 horas que os estudantes foram vistos a ir buscar baldes de água à zona de rebentação e a rastejar no areal”, lê-se. E que a policia marítima foi chamada ao local e ali permaneceu até que todos abandonassem o local.

Contactada pelo Observador, a Autoridade Marítima Nacional esclareceu que este caso aconteceu, de facto, a 27 de outubro de 2016, numa praia de Paço de Arcos, onde dois elementos da Polícia Marítima chegaram pelas 18h35 depois de terem sido alertados. De facto na praia estavam cerca de 50 alunos trajados com fatos académicos de uma universidade, enquanto um grupo de cerca de 20 estavam de calções e a aproveitar a praia, com banhos de sol e de mar.

Segundo o auto feito pelos dois polícias que foram ao local, à ordem de alguns alunos, outros “rastejavam pela areia e faziam alguns movimentos coreografados”, enquanto dois ou três iam à água e molhavam a cara ou enchiam baldes de água, que traziam para o areal.

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A polícia pediu esclarecimentos aos responsáveis pelo grupo, que explicaram serem alunos da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique. Estavam ali a fazer uma praxe a um grupo de 20 caloiros e que dois ou três alunos decidiram ir ao mar, por iniciativa própria, por estar “calor e mar calmo”. Garantiram também que o único pedido aos caloiros relacionado com água era que enchessem baldes de água. Por precaução, os alunos disseram ter levado uma boia e ter uma equipa na linha e água a controlar quem estava na água.

Com o pôr-do-sol, a polícia recomendou que terminassem a atividade, por uma questão de segurança. Os alunos disseram que só demorariam meia hora e terminaram a praxe pelas 19h15. Só depois a Polícia Marítima abandonou o local, lê-se no auto daquela autoridade policial.

O caso do Meco remonta à madrugada de 15 dezembro de 2013, quando sete estudantes da Universidade Lusófona arrendaram uma vivenda na zona do Meco e dirigiram à praia durante a noite para uma praxe. Entre eles estava João Gouveia, o “dux” (líder da praxe), que acabaria por ser o único sobrevivente daquela noite.

Os seis estudantes que estavam a ser submetidos à praxe foram arrastados pelas ondas do mar, acabando por morrer. Os cadáveres foram encontrados nos dias seguintes. Foi aberto um inquérito às circunstâncias da morte dos jovens, que viria a ser arquivado em julho de 2014 e reaberto três meses depois, com o “dux” João Gouveia a ser constituído arguido.

Em 2015, porém, o tribunal decidiu não enviar o caso para julgamento. O tribunal da Relação de Évora concordou: as vítimas eram adultas e não tinham sido privados da sua liberdade durante a praxe, pelo que não havia responsabilidade criminal sobre João Gouveia.

A 27 de maio de 2016, o pai de Tiago Campos, uma as vítimas, apresentou uma queixa ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem com a alegação de que Portugal tinha violado o Artigo 2 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem durante a investigação. E o Estado português foi condenado a pagar-lhe uma indemnização de 13 mil euros já neste ano de 2020.

Na verdade, o mistério sobre o que aconteceu naquela noite no Meco continua por resolver. O advogado que tem representado as famílias das vítimas até agora já chamou a atenção para o facto de esta não ser uma praxe comum, feita aos caloiros que chegam à Universidade. No caso do Meco, aquele grupo pertencia ao Conselho Oficial da Praxe Académica (COPA). “Não estamos a falar de caloiros, estamos a falar de uma organização hierárquica [o COPA], de uma organização que tinha uma função. Só chegava a representante do curso quem revelasse todas estas características. Por isso estes jovens chegaram a este ponto”, afirmou o advogado Vitor Parente Ribeiro à rádio Observador. “[As vítimas] estariam naquilo a se chamaria uma fase terminal da sua iniciação, neste caso académica, mas [que] podia ser iniciação para outra coisa. Não sou eu que digo, foram professores da própria universidade que o escreveram”, salientou. O advogado referia-se a organizações como a Maçonaria, como alguns professores daquela Universidade já chegaram a afirmar.

Conclusão:

A praxe que aconteceu durante a madrugada na Praia do Meco (em Sesimbra), e durante a qual seis estudantes da Universidade Lusófona, no Campo Grande, perderam a vida, aconteceu três anos antes desta. A praxe referida na notícia que analisamos foi feita numa praia de Paço de Arcos, Oeiras, e os alunos pertenciam a um politécnico ali próximo: a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique.

A praxe do Meco foi feita durante a madrugada, numa noite de inverno, parecendo ser intenção do grupo querer fazer aquele ritual com um certo secretismo. Os alunos praxados terão mesmo deixado os telemóveis em casa, já prevendo ter atividades na água. Já a praxe na praia de Paço de Arcos foi feita num dia de sol e calor, à tarde, perante o testemunho de outros banhistas. E a única atividade que envolvia o mar nesta praxe era o facto de irem buscar alguns baldes de água. Também o mar apresentava nos dois casos características bem diferentes: no Meco, estavam apenas sete pessoas. Em Paço de Arcos, estavam 50, com um grupo na linha do mar numa posição de controlo.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta;

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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