“Sou judia e nenhuma quantia de dinheiro no mundo me tentará a ir contra Israel.” É esta a frase, colocada entre aspas, que várias publicações nas redes sociais atribuem à atriz norte-americana e judia Scarlett Johansson.

Mais: segundo as mesmas publicações, a frase teria sido dita pela atriz para justificar a sua recusa em “assinar um grande contrato com uma empresa que lhe pedia para boicotar Israel”.

O problema é que não existe qualquer registo de que Scarlett Johansson alguma vez tenha dito estas palavras, fazendo uma pesquisa por notícias em órgãos de comunicação social. Também não se pronunciou nas redes sociais, uma vez que a atriz não tem conta oficial em nenhuma.

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A segunda parte da frase, que se refere a um “grande contrato com uma empresa que lhe pedia para boicotar Israel”, também não será verdade, embora pareça referir-se a uma polémica que envolveu Johansson — não recentemente, mas em 2014.

Nesse ano, a atriz, que era então embaixadora da Oxfam — uma organização humanitária presente em mais de 90 países –, demitiu-se dessas funções. Tudo porque Johansson tinha assumido, ao mesmo tempo, o compromisso de ser a porta-voz da marca SodaStream, uma empresa de águas com gás que assume como sua missão “liderar uma revolução contra as garrafas de plástico de uso único”, e que operava no colonato israelita de Maale Adumim, na Cisjordânia.

As opiniões sobre a escolha da localização dividiam-se: a empresa dizia que empregar israelitas e palestinianos lado a lado mostrava que este seria um “modelo de paz” e que os palestinianos encontrariam ali os empregos mais bem pagos a que teriam acesso, enquanto os seus críticos atacavam a opção de instalar uma fábrica num colonato.

Nessa altura, Johansson disse, através de um porta-voz, que tinha uma “diferença de opiniões de fundo” em relação à Oxfam e ao movimento de “boicote e sanções” a Israel, optando por abdicar do seu lugar como embaixadora da organização e continuar a trabalhar como porta-voz da empresa, apesar de se dizer “muito orgulhosa” do trabalho feito com a Oxfam, citava a BBC.

“A SodaStream é uma empresa que não só está comprometida com o meio ambiente, mas também com construir uma ponte para a paz entre Israel e a Palestina, apoiando vizinhos que trabalham lado a lado, a receber os mesmos salários e os mesmos direitos”, dizia o comunicado da atriz.

Já a organização humanitária publicou um comunicado em que dizia respeitar a “independência” dos seus embaixadores, mas considerar “incompatível” que Johansson mantivesse os dois cargos: “A Oxfam acredita que negócios como a SodaStream, que operam em colonatos, agravam a pobreza e a recusa dos direitos das comunidades palestinianos que trabalhamos para apoiar”.

Em 2015, o CEO da SodaStream, Daniel Birnbaum, anunciou que a fábrica seria transferida para o deserto de Negev, em Israel, por razões financeiras, e acusou os críticos que fizeram pressão sobre a empresa de espalharem “mentiras” sobre as condições laborais dos palestinianos e de acabarem por prejudicá-los por “propaganda, política, ódio e antissemitismo”, uma vez que Israel não concederia vistos a todos os trabalhadores palestinianos para que pudessem trabalhar na nova localização.

Conclusão

Não há qualquer registo de que Scarlett Johansson alguma vez tenha dito a frase citada. Também não foi noticiada a recusa de nenhum contrato para “boicotar Israel”. O que a atriz fez, em 2014, foi precisamente manter o contrato com a empresa SodaStream e deixar de ser embaixadora da Oxfam, devido a divergências relacionadas com a localização da fábrica da empresa, num colonato israelita na Cisjordânia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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