Uma pergunta tornou-se viral no último mês, com vários utilizadores do Facebook a questionarem o motivo pelo qual a Austrália — país com fortes restrições para viajantes desde o início da pandemia e, agora, em particular, para os não vacinados — tem a nova variante dentro de fronteiras. Há duas respostas claras para esta questão.

Esta é uma das muitas publicações partilhadas no Facebook (e não só) por vários utilizadores. O formato é sempre diferente, mas a suspeita deixada é a mesma. “Como é que a nova variante foi parar à Austrália se os não vacinados não podem nem entrar nem sair?” Este utilizador em concreto recorre à ironia para deixar dúvidas no ar sobre a eficácia de medidas restritivas e, também, sobre a vacinação contra a Covid-19. “E agora já se sentem gozados?”, questiona. Nas entrelinhas fica lançada a dúvida sobre a vacinação contra a doença que fez a Organização Mundial de Saúde declarar pandemia em março de 2020.

É verdade que a nova variante Ómicron entrou no país que, nos últimos dias, enfrenta um pico no número de novos casos, tendo até sido registada a primeira morte relacionada com esta nova variante. Também é verdade que, desde que começou a pandemia, a Austrália fechou fronteiras — sendo apenas possível viajar em condições excecionais e sendo exigida quarentena a quem entrava. Mas as regras foram sendo gradualmente retiradas e, no início de novembro, houve até levantamento de quarentena em alguns estados do país. Aliás, este pico de casos agora verificado tem sido apontado como uma consequência disso mesmo. 

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Sydney e Melbourne removem a quarentena de chegada para os australianos vacinados

Neste momento, segundo o site oficial da autoridade de saúde australiana, quem “tiver a vacinação completa, pode sair da Austrália sem necessitar de uma autorização” específica e também pode entrar em alguns estados do país, vindo do estrangeiro, “sem precisar de quarentena, se estiver totalmente vacinado” (ou seja, quem completou o esquema vacinal contra a Covid-19). As restrições mantiveram-se, no entanto, para os não vacinados, que continuam a ter de pedir uma autorização especial para saírem. Mas isso pode concedido, por exemplo, caso seja uma viagem de negócios, ou se estiver a viajar para receber tratamento médico urgente, ou ainda se for residente num país que não seja a Austrália.

O outro facto é que, mesmo com limitações apenas aplicadas a não vacinados, a nova variante entrou no país. Isso deve-se à redução da efetividade da vacina ao longo do tempo para a infeção sintomática por Covid-19. Ainda a meio da novembro, em Portugal, os peritos apresentaram resultados sobre a taxa de efetividade (capacidade de proteção) das vacinas contra a Covid-19 e mostraram um ritmo diferente de redução da proteção para infeção e para o desenvolvimento de doença grave.

Na altura, Ausenda Machado, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), explicou detalhadamente que, nos diferentes grupos etários, foi verificado que “o decaimento é mais suave” para a prevenção de hospitalização ou óbito por Covid-19, quando comparado com a prevenção de infeção sintomática. Isto quer dizer que a proteção é mais longa para evitar o desenvolvimento de doença grave por quem está totalmente vacinado do que para evitar que seja infetado. Pode ouvir toda a explicação aqui.

Também a Organização Mundial de Saúde já preveniu que “as vacinas salvam vidas, mas não previnem totalmente a transmissão”. Aliás, em relação à variante Delta, os dados recolhidos e divulgados pelo diretor-geral da OMS deram conta de uma queda da efetividade das vacinas para a transmissão da doença de 60% para 40%. Mais recentemente, a mesma OMS veio alertar que, de acordo com dados ainda preliminares, as vacinas podem ser menos eficazes contra a infeção e transmissão associada à variante Ómicron.

A Organização Mundial de Saúde mantém, em todos os casos, que as atuais vacinas continuam a ser efetivas para a “redução da doença grave ou morte” por Covid-19. Aguardam-se ainda estudos mais completos sobre a proteção da vacina quando está em causa a variante Ómicron.

Conclusão

A Austrália está entre os países com medidas mais restritivas para viagens. No entanto, essas regras foram substancialmente alteradas no início de novembro para quem tem o esquema vacinal completo. As restrições mantêm-se para não vacinados, mas com exceções que permitem que saiam e entrem no país em algumas situações como, por exemplo, viagens de trabalho. Importa ainda acrescentar que mesmo os vacinados podem transmitir e ser infetados com o vírus que provoca a Covid-19, um dado já comprovado pela verificação de dados relativos à vacinação em todo o mundo que evidenciam, no entanto, que as vacinas têm mostrado ser importantes na prevenção da doença grave.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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