Várias imagens de dezenas de doentes espalhados em macas no Serviço de Urgência do Hospital de Faro têm vindo a ser partilhadas massivamente no Facebook nos últimos dias. Nas partilhas, as fotografias do alegado caos naquela unidade vêm muitas vezes acompanhadas de comentários depreciativos sobre o hospital, a Saúde no país e o Governo. Problema: as fotografias já têm mais de dois anos e não são uma situação atual, como procura transmitir a publicação em causa.

O post do movimento cívico “Democracia21 – Faro”, que começa com “O estado da saúde em Portugal”, atingiu mais de mil partilhas desde o dia 7 de janeiro. Nos parágrafos seguintes, os administradores da página expõem um texto da autoria dos enfermeiros daquele hospital do sul do país que denuncia a situação nas urgências.

Publicação na página do movimento Democracia-21

“A equipa de enfermagem do serviço de urgência do Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro vem por este meio divulgar a todos os meios de comunicação a crescente degradação das condições assistenciais aos seus utilizadores. Esta situação arrasta-se há mais de dois anos, com conhecimento e conivências do CA [Conselho de Administração], que nada tem feito até ao momento […]”, lê-se na publicação, que dá a conhecer “a falta de condições de utentes e profissionais do serviço de urgência”.

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As fotografias, prosseguem, mostram a “normalidade quotidiana do SU [Serviço de Urgência]”, onde existe “uma média de utentes muitas vezes superior a 60 podendo inclusive ultrapassar os 80 doentes numa sala com capacidade para 24. O rácio de enfermeiros nunca é ajustado”.

Esta publicação, que levou centenas de pessoas a comentar, queixando-se do serviço, da administração e dos decisores políticos, tem como base um texto que circulou nas redes sociais em janeiro de 2018. Na mesma altura, noticiava a agência Lusa, os enfermeiros enviavam uma missiva à presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Na carta, que foi partilhada na comunicação social, os enfermeiros do Serviço de Urgência do Hospital de Faro denunciavam a incapacidade de resposta daquela unidade, que diziam estar a colocar a segurança dos utentes e profissionais em risco, e avisavam que o número de enfermeiros era insuficiente.

Contactado pelo Observador, o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar Universitário do Algarve confirma que “a referida publicação que agora, em 2020, voltou a circular na rede social Facebook resulta da republicação da publicação com a mesma mensagem efetuada em semelhante período há precisamente dois anos, ou seja nos primeiros dias do ano de 2018”.

“A referida republicação, dois anos depois, só pode ser encarada como uma tentativa de descredibilização do trabalho das instituições públicas, neste caso em concreto do Hospital de Faro, alinhada com interesses e agendas que desconhecemos”, diz a mesma fonte.

Naquela altura, recorda o gabinete de comunicação, o Centro Hospitalar referiu que “(…) os factos descritos no referido comunicado, ilustrados com fotografias claramente de outra altura do ano, em nada se coadunam com a situação vivenciada nestes últimos meses, sendo por isso falsos (…)”.

Questionado sobre a afluência ao serviço de urgência, o Centro Hospitalar adianta que “tem-se registado uma afluência expectável para a altura do ano em que estamos, semelhante a períodos homólogos”.

Conclusão

As publicações que retratam o alegado caos no serviço de urgência do Hospital de Faro são autênticas, mas resultam da republicação de um conteúdo que foi partilhado, pela primeira vez, em janeiro de 2018. Sabe-se que as imagens foram capturadas naquele serviço, mas não é conhecida a data das fotografias.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

Enganador

De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

MISTO: as alegações do conteúdo são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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