Um vídeo de vinte e nove segundos voltou a circular, mais de quatro anos depois de ter sido registado pela primeira vez, com um discurso do antigo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, num comício em Nova Iguaçu (Rio de Janeiro). No excerto, Lula parece estar a defender o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que fora preso numa operação que já vinha da Lava Jato.

O vídeo partilhado é apenas uma parte do discurso que, na integra, está disponível na página oficial de Lula no Facebook e foi proferido num comício a 17 de dezembro de 2017. Ouvindo a intervenção completa é possível tirar a limpo se o antigo presidente brasileiro disse mesmo que “o governador do Rio não merece estar preso só porque roubou o povo… só porque roubou dinheiro público”, como diz a publicação em análise.

O arranque da intervenção é sobre o legado de Lula no Brasil, com o próprio a aquecer, nessa altura, uma candidatura às presidenciais de 2018 que chegou mesmo a ser formalizada. Como Lula estava preso e condenado em duas instâncias da Justiça, também no âmbito da Lava Jato, a sua candidatura foi declarada inelegível, pelo Tribunal Superior Eleitoral — a decisão foi mais tarde revertida possibilitando candidaturas futuras, como a que foi recentemente lançada para as presidenciais de outubro.

E nesse comício Lula desculpabilizou o ex-governador do Rio de Janeiro, como indica a publicação? Não. Basta ouvir o discurso inteiro. A publicação retira uma frase do contexto, o que resulta numa conclusão errada. O que Lula disse foi (e pode ouvir-se a partir dos 33:47 do vídeo) que estava “triste” com o que estava a acontecer com o Rio de Janeiro”, que “não merece a crise que está a viver, não merece que governadores que governaram este estado e eleitos democraticamente pelo povo estejam presos porque roubaram o povo brasileiro e dinheiro público”.

Naquela data, Sérgio Cabral — cuja eleição Lula apoiara, por exemplo, em 2010 — estava preso com a maior pena aplicada a um político brasileiro (45 anos de prisão) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e chefia de organização criminosa. Lula da Silva dizia, nesse comício: “Eu nem sei se é verdade, que eu não acredito em tudo o que a imprensa fala, mas é importante que haja investigação para saber se aconteceu. E se aconteceu, quem roubou, seja pequeno, médio ou grande tem de estar preso. Porque este país não pode apenas ter trabalhadores que roubam para comer sendo presos e as pessoas que roubam milhões estão soltas por aí.”

Sobre a Lava Jato, Lula disse ainda, logo de seguida, que a sua “divergência” com os resultados da investigação é que “o dono da Samsung está preso mas a empresa continua gerando emprego. Aqui não, aqui resolveram quebrar a Petrobras, quebrar as empresas que forneciam trabalho para a Petrobras, acabar com a indústria naval e petroquímica”. Naquela altura, diz, “a gente fez uma lei do petróleo e a gente decidiu que o petróleo ia ser do povo brasileiro , referindo-se à regulação de 2010 com novas regras para a exploração do petróleo.

Recorde-se que Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, foi preso em 2018 após condenação num processo por suborno (teria aceitado um apartamento) em troca de contratos com a petrolífera Petrobras. Foi libertado em novembro de 2019 e, quatro meses depois, o Supremo Tribunal Federal brasileiro anulou todos as condenações do antigo presidente do Brasil com Lula a recuperar os direitos políticos. É agora novamente candidato à Presidência.

Conclusão

O antigo presidente do Brasil não defendeu que o antigo governador do Rio de Janeiro não merecia estar preso “só porque roubou o povo”. O vídeo exibido na publicação tem apenas 29 segundos, quando a intervenção completa de Lula da Silva, em dezembro de 2017, tem mais de meia hora sem que esta linha de raciocínio seja apresentada. O que o antigo presidente fez nessa intervenção foi lamentar que um político esteja preso, mostrando-se “triste” pelo Rio de Janeiro que, dizia então, “não merec[ia]” a crise que estava a viver. Nas palavras do antigo presidente, era o Rio que não merecia e não Sérgio Cabral. Lula defendeu até a investigação e que os mais poderosos sejam punidos.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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